@mor.com por Carla Gentil
Capítulo 45 - PENÚLTIMO CAPÍTULO
“Conte com isto”.
Não podia impedir que resquícios de sua velha inquietação voltassem a assombrar. Promessas. Já tinha passado por isto antes, sabia as opções que teria.
Antes escolhera ficar eufórica e jogar nos outros toda a responsabilidade de suas expectativas. Desta vez, entretanto, estava ciente que era sua decisão – portanto, sua responsabilidade - confiar. Decidiu saborear o momento com tudo o que tinha de doce e amargo, porque valia a pena, porque era por seu amor.
A mágoa de antes tinha se transformado. Aprendeu que as promessas de Laura e de sua mãe não puderam ser cumpridas literalmente, porém, atrás das palavras estava a intenção de continuar amando, de se importar, de proteger... E tinha certeza que mesmo na ausência, elas o fizeram.
Não duvidava da sinceridade dos sentimentos tanto de uma quanto da outra. E era isto o que importava, era apenas isto o que restaria quando tudo mais deixasse de existir. Um dia, a beleza se transforma em rugas, a saúde em fragilidade, o colorido em escuro e, como aconteceu com sua mãe, a juventude se torna em morte.
De todas as promessas, de todos os sonhos, apenas o amor restou. E isto ela tinha, era indiscutível.
* * *
Naquele começo de noite, Sam esperou e Laura não apareceu na hora marcada. Pelo cenário que tinha descrito, seria normal atrasos. Para controlar a ansiedade que insistia em marcar presença, foi ver seus e-mails, arrumar sua caixa de entrada. Voltava ao MSN, mas sabia que não adiantaria, a plaquinha do único contato para quem estava online não tinha subido.
Foi então para sua homepage, ler as notícias do dia. A manchete mostrava as primeiras fotos e notícias de um fortíssimo terremoto. A compreensão do lugar chegou aos poucos até ela. Ficou paralisada em frente ao computador olhando as poucas imagens que já estavam disponíveis. Despertando de sua letargia, ligou a TV, procurou outros sites. Todos eles ainda com poucas, mas assustadoras notícias. Pelo visto, a destruição havia sido grande, a falta de estrutura e pobreza do país complicando ainda mais a situação.
De repente, uma janela abriu no MSN de Sam, fazendo seu coração disparar. Não era Laura, o nome “Pestinhas” com a foto dos dois garotos muito parecidos é quem estava se comunicando.
Pestinhas: Sam, fica online pra gente
Ela obedeceu.
Pestinha 1: ela naum veio msmo? Te ligou?
Sam: não... ligou pra vcs?
Pestinha 1: n tb, a gent tava aki de tocaia kdo o povo de casa endoidou
Pestinha 2: parece q aconteceu uma coisa c ela
Sam: eles falaram isto ai? Eles tem alguma notícia?
Pestinha 2: naum, tao tentando ligar, mas ela naum atende, a vó já tah cos ovo virado
Pestinha 1: rezando pra tudo os santo dela, jah fez promessa pra td mundo paga
Pestinha 2: por isso a gent resolveu perguntar pra vc, pq vcs iam se encontrar agora, neh
Sam: sim, ela falou com vcs?
Pestinha 1: naum, a gent rakeou vcs
Sam: ai, meninos... dá pra vcs usarem esta esperteza pra descobrir alguma coisa?
Pestinha 1: tipo oq?
Sam: noticia, qualquer notícia
Sam: vcs sabem com quem ela estava trabalhando? Tem o telefone de mais alguém além do dela?
Pestinha 1: naum, a gent soh viu a conversa de vcs
Pestinha 2: mas fik de boa, gatah q nunk acontece nada c a tia
Pestinha 1: msm ela sendo meio desparafusada sempre volta inteira
Pestinha 2: soh com alguma coisa kebrada
Pestinha 1: fik ai q a gent vai descobrir noticias pra vc tah
Sam: por favor, meninos... notícias boas, por favor
As notícias não chegaram naquela noite, os meninos relataram as tentativas que os pais fizeram. A suspeita de morte de uma importante missionária brasileira, e depois a confirmação do fato, apavorou ainda mais a todos. Laura havia comentado que faria a cobertura das palestras, pois era com aquelas crianças que vinha trabalhando.
O Dr Rafael foi ao apartamento da filha assim que soube da notícia. Transferiu para os outros advogados seus compromissos e não arredou o pé de lá enquanto ela estava sozinha. Logo os amigos começaram a chegar, praticamente acampando na sala, numa espera muda, cada um com seu notebook escarafunchando sites de vários países, em busca de qualquer informação, atentos a todas as fotos. Mais de vinte e quatro horas se passaram e nem um sinal de fumaça chegou. A TV informava que a comunicação no país estava totalmente comprometida e os aeroportos, ainda fechados, abririam apenas para voos militares ou oficiais, que chegariam com ajuda humanitária.
As notícias que jornais e sites davam sobre o tamanho da devastação e caos eram de abalar as esperanças. Angustiada demais para esperar a resposta do Itamarati sobre o paradeiro e situação dos brasileiros, Sam decidiu tentar ir a República Dominicana e de lá arrumar uma forma de entrar no Haiti.
-- Vou com você -- Gabriel se ofereceu. -- Médicos vão ser necessários por lá. Embora não tenha nem onde nem como tratar de tantos feridos ao mesmo tempo.
-- Tem certeza? É barra pesada.
-- Assustador, né! Mas eu sei que tenho que ir, já estava pensando nisto. Falei com um amigo da Cruz Vermelha, ele disse que estão aceitando voluntários. E depois, nós vamos achar a Lau, afinal, ela é a única mona que mexe comigo.
A companhia de Gabriel foi a única razão do Dr Rafael não prender a filha ao pé da mesa se fosse necessário para que não fizesse a viagem. Os argumentos, gastou todos, mas ela parecia inabalável. Firme e serena, com uma disposição que ele raramente tinha visto nela, não havia como impedir.
-- Boa viagem, Sam – Cássio falou ao abraça-la. – Não desista, só te vi feliz num período da sua vida, você precisa reconquistar isto – disse em seu ouvido, soando muito sincero e comovido, o suficiente para que ela apertasse os braços ao redor dele. Um abraço como nunca haviam dado, irmãos como nunca haviam sido até então.
Conseguir a passagem só foi possível pela presença de Gabriel, mesmo assim, apenas para a República Dominicana, de lá teriam que arrumar vaga nas precárias conduções que ligavam os dois países por terra.
-- Isto aqui tá mais feio que partilha de herança de conta no exterior de político corrupto – reagiu Gabriel ao caos no aeroporto, assim que aterrissaram.
Realmente, a quantidade de pessoas disputando passagens para sair dali e de equipes de voluntários chegando de várias partes do mundo, tornava o lugar uma Torre de Babel.
Pragmática, Sam não demorou muito a conseguir lugar para os dois em um caminhão que partiria para Porto Príncipe em algumas horas. Tinham levado apenas uma mochila, mas receberam orientação para que obtivessem provisões e água. Gabriel, que tinha se encarregado desta parte, saiu com algumas pessoas que os acompanhariam para providenciar as compras. Sam ficou no aeroporto, de onde sairia o pequeno comboio, para tentar alguma informação de Laura. A esperança que ela tivesse passado por ali era quase nula, mas estava disposta a bater em todas as portas possíveis. Mostrou fotos, peregrinou pelas companhias aéreas. O primeiro encontro delas perambulando pela memória, desequilibrando a disputa entre apreensão e obstinação.
-- Eu sei onde procurar.
Respondeu assim que chegaram a pergunta que Gabriel havia feito no início da viagem. Permanecera calada todo o difícil e agitado percurso, que mais parecia cenário de violenta guerra. Era a primeira vez que via algo assim, as imagens penet*ando pelos olhos, fixando-se por todos os outros sentidos, sem no entanto desviar a atenção do seu foco.
-- Não vai tentar andar sozinha por ai, Sam, gruda em mim... Tá bom, eu grudo em você, marrenta.
E era necessário andar grudado realmente. Pessoas vagavam perdidas pela rua, sem referência, sem parecer ter para onde ir. Gritos de desespero, de dor, de medo se intercruzando, nas ruas de caminhos desfeitos, repleta de corpos que, conforme eram removidos dos escombros, eram deixados pelo caminho. Era tudo poeira, destroços e destruição. O fantasma da fome e da sede davam volume à tragédia já gigantesca que se abatera sobre aquele povo.
-- Vamos achar a catedral.
-- Eu imprimi o mapa antes de virmos pra cá, mas não faço ideia de onde estamos.
Sam se aproximou para olhar o mapa nas mãos dele, depois de algum tempo tentando achar algum edifício em pé que pudessem reconhecer, se deram conta que não estavam muito longe.
Uma única cruz intacta na frente de um amontoado de entulho. Uma imagem que dizia claramente que estavam onde precisavam estar. Gabriel apertou a mão de Sam sem dizer nada. Ela balançou ligeiramente a cabeça em compreensão e agradecimento.
Várias pessoas andavam pela catedral destruída. Algumas rezavam de braços abertos, outras revolviam os grandes blocos de concreto e o restante do telhado que desabou. Ali havia sido encontrado o corpo da freira brasileira, muito provavelmente ali estava Laura no momento do terremoto. Sam estava com a foto na mão, mas naquele momento olhava para os lados, tentando identificar onde a fotógrafa poderia ter se posicionar para cobrir a palestra.
-- Laura.
O menino batia o dedo na foto, enquanto olhava para o rosto de Sam. Ela demorou alguns segundos antes de entender que ele falava exatamente o que ela queria ouvir.
-- Laura.
Ele repetiu, ela confirmou olhando-o fixamente. Perguntou em francês se ele sabia onde ela estava. O menino fixou o olhar nos dois por um tempo até resolver puxar Sam pela camisa. “Vem”, disse apenas. Eles o seguiram com o coração aos pulos.
Há alguns passos de onde estavam, do lado de fora da catedral, havia uma praça com grande movimentação. O medo dos tremores subseqüentes ao principal fez com que praticamente toda a população abandonasse os edifícios, era mais seguro ficar na rua e ali, sob a sombra das árvores, improvisaram um pronto socorro bastante rudimentar, já que a ajuda humanitária prometida não parecia circular para a população.
O menino continuava puxando Sam, de vez em quando olhava para trás, como para se certificar que ela estava mesmo ali. Perto do centro da praça, ele subiu para a grama e se encaminhou para uma árvore com raízes semiexpostas. Ele apontou o dedo para a frente, repetindo:
-- Laura.
Fim do capítulo
Tem evento histórico citado nesse capítulo. Haiti ainda não se recuperou desse terremoto, mas na época em que estava terminando esse romance, eles precisavam de toda ajuda e divulgação, já que interessou pra mídia por pouco tempo.
Cruz Vermelha e Médicos Sem Fronteiras, assim como a Pastoral da Criança (fundada por Zilda Arns, morta no terremoto de 12 de janeiro de 2010 no Haiti), precisam de todo apoio possível.
Comentar este capítulo:
Zaha
Em: 07/06/2017
Oieee aí!
Nossa, adorei o capítulo! !
Que bom que Sam conseguiu fechar gestalt e claro que nao ia focar parada. Gostei mt das mudanças que vc fez e o que aconteceu com Laura (q ainda n sei, mas que o terremoto ta melhor que ficar na trincheira. .
Essa gente precisa de mt ajuda, pena que nem todo mundo pode ajudar ou não se sensibiliza.
Eu cheguei a me anotar pra ser voluntária na cruz vermelha, fiz o curso de primeiros socorros, mas n sou boa na área de saúde..n fui bem na parte teórica, na prática sim, mas..n te davam um material pra estudar e me custou internalizar a parte escrita. .aí vc pergunta: e como conseguiu fazer bem a prática. .bom, meu inconsciente sabia ou n sei. Eu sempre me dou melhor na prática doq na teoria em tudo.Assim q deixei pq disse q n era pra mim e q podia ajudar fazendo outro tipo de voluntariado pq até pra dar suporte emocional tem q fazer o curso pra primeiros socorros. .Acabei nao fazendo o curso para acampar e essas coisas.O simulacro que teve foi uma loucura, mas gostei mt! Porém cada um tem uma habilidade. Fico só com as crianças com câncer por agora. N tenho mt habilidade em nada. Rs.
Médicos sem fronteiras, eu colaboro tb, queria poder fazer mais, no entanto n posso. Mas o pouco pra mim é mt pra eles...
Beijos
Monica Franca
Em: 07/06/2017
Araque cardíaco em 3, 2, 1,,,
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NovaAqui
Em: 07/06/2017
Tenso esse capítulo
Claro que não seria tão fácil assim delas se reencontrarem. Teria que ter um incidente.
Meu trabalho faz missões para o Haiti e quando o pessoal volta de lá, voltam com uma nova visão do mundo e da vida.
Abraços fraternos procês!
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Zaha
Em: 07/06/2017
Oieee aí!
Nossa, adorei o capítulo! !
Que bom que Sam conseguiu fechar gestalt e claro que nao ia focar parada. Gostei mt das mudanças que vc fez e o que aconteceu com Laura (q ainda n sei, mas que o terremoto ta melhor que ficar na trincheira. .
Essa gente precisa de mt ajuda, pena que nem todo mundo pode ajudar ou não se sensibiliza.
Eu cheguei a me anotar pra ser voluntária na cruz vermelha, fiz o curso de primeiros socorros, mas n sou boa na área de saúde..n fui bem na parte teórica, na prática sim, mas..n te davam um material pra estudar e me custou internalizar a parte escrita. .aí vc pergunta: e como conseguiu fazer bem a prática. .bom, meu inconsciente sabia ou n sei. Eu sempre me dou melhor na prática doq na teoria em tudo.Assim q deixei pq disse q n era pra mim e q podia ajudar fazendo outro tipo de voluntariado pq até pra dar suporte emocional tem q fazer o curso pra primeiros socorros. .Acabei nao fazendo o curso para acampar e essas coisas.O simulacro que teve foi uma loucura, mas gostei mt! Porém cada um tem uma habilidade. Fico só com as crianças com câncer por agora. N tenho mt habilidade em nada. Rs.
Médicos sem fronteiras, eu colaboro tb, queria poder fazer mais, no entanto n posso. Mas o pouco pra mim é mt pra eles...
Beijos
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Monica Franca
Em: 06/06/2017
Até amanhã eu tenho um ataque cardíaco...
Resposta do autor:
Trata de se comportar, hein! Se morrer não falo mais com vc <o>
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