@mor.com por Carla Gentil
Capítulo 28
Aquela foi uma tarde em que o tempo tentou enlouquecer Sam. Ela desejou com todas as forças que os segundos passassem voando. Contou as horas, os minutos... Em menos de vinte horas, ela estaria abrindo os braços para receber alguém em sua vida. Faltavam apenas mil cento e quarenta e seis minutos para que dividisse sua casa com outra pessoa. Sessenta e oito mil, setecentos e sessenta segundos... E então, abriria o coração para que ditasse o rumo que caminharia.
O som de mensagem no celular chamou sua atenção novamente: “Por favor, não pegue nenhum avião, é só para ir ao aeroporto”.
- Palhaça! – falou sozinha, rindo.
Pelas mensagens que trocaram durante o dia, soube que Laura não tinha avisado aos pais que chegaria. Queria aproveitar os dias antes do Ano Novo para ficarem sozinhas. Soube também que Laura não tinha encontrado o seu “chefe”, mas que como tinham conversado antes, ela iria embora assim mesmo.
“Laura está vindo! Ela está vindo para mim!”
Voltou para sua casa e cuidou de cada detalhe várias vezes. A rede, que voltou da lavanderia aquela tarde, estava a postos na varanda. O tapete da sala tinha sido rearrumado incontáveis vezes. Todos os objetos de decoração tinham mudado de posição até que ela achasse tudo perfeito.
E enfim, depois de brigar com a ansiedade e a insônia a noite toda, o dia seguinte chegou. Sam não esperou clarear para pular da cama.
Trocou os lençóis, conferiu se o quarto estava mesmo impecável e saiu para buscar as flores que tinha encomendado, mas a floricultura ainda estava fechada. Ficou lá, sentada na porta resmungando: “deste jeito não tem progresso, onde já se viu, sete e três da manhã e tudo fechado!”.
Cansada de esperar, foi até a padaria, onde escolheu alguns doces e pãezinhos que Laura gostava muito. Voltou para a floricultura que ainda estava fechada... Praguejando, foi até a banca de jornais, não podia perder tempo ali.
“Será que ela gosta de ler jornais locais? Ela é tão atualizada”, pensou pegando um exemplar. “Larga mão de ser besta, Sam, você não pretende mesmo que ela fique lendo jornais”, altercou consigo mesma, devolvendo-o na banca. “Não, eu não pretendo, mas também não quero bancar a neurótica que quer atenção só pra si”, retrucou, pegando novamente o jornal.
- Moça, a senhora vai querer ou não levar este jornal? Ele já deve estar meio zonzo de tanto que a senhora pega e devolve.
- Hã?
- O jornal...
- Que jornal?
- Hum... Este que a senhora está pegando e devolvendo.
- Hã?
- Moça, a senhora tá bem? Parece meio confusa...
Sam realmente não conseguiu entender muito do que o jornaleiro falava e também já tinha perdido o fio de seu pensamento, já que tudo estava um caos em sua cabeça. “Ela está chegando!”. O pensamento fez nascer um sorriso em seu rosto. Ela abriu a bolsa, pegou uma nota de vinte reais, deu ao jornaleiro, pegou o jornal e foi embora, enquanto ele pegava o troco.
- Cada louco que me aparece! Pelo menos a gorjeta foi boa – falou feliz.
Enfim a floricultura estava aberta. Sam pegou as flores que tinha encomendado e se dirigiu apressada ao seu apartamento. Com uma olhada para o relógio percebeu que agora iria se atrasar! Bem, ao menos iria se atrasar para as duas horas antes que queria estar no aeroporto. “Vai que o avião adianta...”.
Mas o avião não adiantou. Nem atrasou. Chegou na hora prevista. Sam correu para o desembarque, quase saltitava de ansiedade.
Cada uma das pessoas recebia o olhar ansioso do par de olhos verdes. Em nenhum deles, ela encontrou o reflexo dos azuis tão esperados.
Como não era um voo direto, decidiu aguardar no aeroporto, era muito razoável que Laura, atrapalhada como era, perdesse a conexão. Meio-dia chegou e encontrou Sam esfregando os lábios uns nos outros, enquanto olhava pelos portões de desembarque. Uma hora, ela estava roendo os nós dos dedos, para não estragar os esmaltes. Duas da tarde, Sam andava de um lado para o outro, ligando novamente para o celular que só chamava.
- Sam, você por aqui?
- Arthur! O que você quer aqui? – perguntou na defensiva.
- Ei, calma! Eu vim trazer um amigo que pegou um voo pra São Paulo. Estava dando umas voltas e te vi... Está esperando alguém?
- Sim... – pensou um pouco. Sua amizade com ele havia se quebrado, mas nos últimos dias ele parecia bem mais razoável. E além do mais, ela iria explodir se não falasse com alguém. – Estou esperando a Laura... – a partir daí, sua ansiedade falou por si. - Deve ter acontecido alguma coisa, estes aeroportos estão uma droga. Ela deve estar retida em alguma droga de aeroporto. E eu estou morrendo de fome e estou aqui deste às nove horas e meu pé já está doendo de ficar em pé aqui e...
- Calma, vem cá, vamos ali no restaurante, eu espero com você.
- Não quero sair daqui e se ela desembarcar e não me encontrar?
- Sam... Aviões são um tanto quanto grandes e barulhentos. O aeroporto tem comunicação, a gente vai saber quando chegar.
- Eu não vou sair daqui sem ela – teimou resoluta...
- Que horas ela ia chegar?
- Onze... Ou eu entendi errado, já conferi a mensagem várias vezes... Ela disse onze, mas poderia ser horário de lá!
- Neste caso, ela teria chegado antes aqui.
- Sim... Mas vai que onze horas ela ia sair de lá!
- Já tentou ligar? Deixar mensagem?
- Claro, né! Várias vezes! – falou meio contrariada.
- E...?
- E nada! O celular dela deve estar desligado. Eu não vou sair daqui, ela está vindo, deve estar dentro do avião, por isto não atende. Não vou sair daqui...
- Tudo bem... Mas pode demorar, você sabe que está tudo muito demorado nos aeroportos... – ele suavizou o tom de voz. - Você tentou pedir informação?
- Não, ainda não.
- Ela ia descer onde? No Rio ou em São Paulo?
- No Rio, eu pesquisei. E tinha conexão às oito, para chegar aqui às onze horas.
- Vou tentar saber de alguma coisa. Pode guardar seu lugar aqui.
Arthur se encaminhou para os guichês, para ter informações, que ele sabia que seriam inúteis.
Pelo que conhecia sua amiga, sabia que a espera seria longa. Tinha vindo bem confortável já prevendo um dia no aeroporto.
“Se paulista se diverte passando o dia no aeroporto, vou ver qual é a graça, ainda mais que agora quem vai rir por último serei eu”.
****
Para Sam, Arthur ter chegado de surpresa ao aeroporto, foi sua salvação. Ele ficou ao seu lado o tempo todo e procurava distraí-la, deixá-la mais calma. Falaram sobre a tortura que estavam os aeroportos no Brasil. Fizeram cruzadas, jogaram xadrez, ouviram música, comeram sanduíches, sentaram no chão, olharam para a TV, caminharam incontáveis vezes até o balcão de informações. Arthur comprou um mapa e fizeram roteiros, imaginando que Laura poderia não ter pego um voo direto. Às vezes, com a intenção de chegar mais rápido se faz a escolha errada de conexão.
Por volta das oito da noite, depois de onze horas de espera, Sam já estava muito assustada, além de terrivelmente cansada. Tentou o celular de Laura o dia todo. Verificou sua caixa de mensagem incontáveis vezes, relendo a mensagem que Laura mandara, tentando achar algo subscrito, que indicasse que ela simplesmente errara a data.
Ligou para os Sanches, perguntou se tinham alguma informação de Laura, sem contar que a morena iria chegar, para não preocupá-los. Foi Lídia quem atendeu e disse que não, ela não tinha ligado naquele dia.
Relendo a mensagem, concluiu que as “onze horas”, poderia ser onze da noite. Este pensamento a tranquilizou. Era óbvio que Laura estava falando de onze da noite! “Como só agora fui pensar nisto? Gênio que eu sou! Agora ela vai chegar e vou estar fedida e cansada”.
Pediu para Arthur ficar esperando ali e foi até o hotel mais próximo. Por sorte, sempre tinha uma roupa de reserva no carro, já que era comum se sujar quando tirava fotos. Tomou banho, encostou o corpo na cama por quinze minutos, mas a agitação e o sentimento de que tinha algo terrivelmente errado acontecendo não lhe deu paz. Assim, menos de uma hora depois de ter entrado no hotel, já estava de saída, levando alguns sanduíches para Arthur.
- Ei, o que foi isto? Milagre da multiplicação? Deixei o Arthur sozinho e encontro a turma toda!
- Quase toda, está faltando só a sua deliciosa morena! - falou Gisele, que era uma verdadeira entusiasta de Laura.
- Pois é! Deu chá de banco na gente, essa maluca! Custava colocar PM depois do onze, que digitou?
- Ah, vai falar que você não curtiu passar o dia no aeroporto!
- Com certeza, Arthur! Era tudo o que eu queria pra esse domingão, ficar o dia sentada nestes bancos ultraconfortáveis! Foi para isto que me preparei tanto,
ontem!
- Mona! Não reclama, daqui a algumas horas, você vai fazer amor com aquela deusa imensa de olhos brilhantes, boca enorme, dentes fortes. Uuui! Ela é uma loucura!
- Vou nada! Vou deixar ela de castigo por ter me feito esperar quatorze horas!
- Castigo pra quem? Se tem um castigo que eu não dou pra Andréa é greve de sex*. Eu sei que vai ser pior pra mim.
- Ah é, não faz greve, mas quando você acha que tem razão é bem violentinha, viu dona Virna.
- Violenta? Ai, como é que é isto, mulher! Me conta tudo, que eu gosto de uma violência de vez em quando!
Enquanto Gabriel se sentava entre Andréa e Virna para adquirir novas técnicas, Arthur se aproximou de Sam e disse que o pessoal ligou perguntando onde estavam, ele contou e eles vieram. Sam não achou ruim, afinal a conversa estava ajudando a não ficar mais nervosa. Tinham levado violão, baralho, cerveja e uns aperitivos.
- Que bando de farofeiro! Daqui a pouco o pessoal da TV vai filmar vocês, eles andam doidos atrás de imagens de demora em aeroporto – Gabriel imediatamente tirou um pente do bolso e espetou mais seus cabelos.
- Se eu ficar famoso, ai ninguém me segura! - falou erguendo os braços.
Enfim, duas horas se passaram, mas a única notícia que chegou foi de que todos os voos nacionais estavam atrasados. Tinham parado de cantar para ouvir a notícia. Mas, percebendo o desânimo de Sam, voltaram imediatamente a soltar a voz.
- Droga! E eu nem sei por onde ela está vindo!
- Calma, Sam! Nossa primeira noitada no aeroporto, a gente tem que aproveitar.
Mas Sam estava longe de estar calma, ainda mais quando o relógio, mesmo se arrastando, já mostrava números tão distantes da hora esperada. Voos chegavam e, a cada um, alguém a acompanhava inutilmente até o portão de desembarque.
Sete da manhã e ela desistiu de esperar ali. Já fazia duas horas que Gabriel tinha levado as meninas embora. Arthur cochilava no chão. E ela achou melhor tentar descobrir o que tinha acontecido. Diversos voos tinham vindo do Rio e São Paulo. Se Laura tivesse feito conexão estaria em um deles. Passou a noite correndo os olhos para a tv, sentindo calafrios sempre que aparecia algum noticiário e se acalmando logo que via que estava tudo em paz nos céus. Nenhuma notícia sobre aviões, para seu alívio.
- Sam, acho melhor eu ficar com você. Se te conheço bem, você vai querer revirar o mundo até achar a sua garota. Vou te ajudar que ai você só precisa procurar em meio mundo.
- Não sei por onde começar, Arthur. E vou querer sua ajuda sim, mas não agora. Agora você vai pra sua casa, vai tomar banho, dormir e...
- Não, Sam, eu dormi o suficiente já, vou te ajudar a procurar.
- Vai pra casa, Arthur. Eu vou descansar um pouco também.
- Certeza? Você está bem?
Ela não respondeu, só se deixou abraçar, exatamente como a mãe fizera há alguns anos atrás.
Fim do capítulo
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Zaha
Em: 25/05/2017
Oiee
Engraçado, cadê o amigo de Arthur? Rs.
Sam inocente e agitava como tava nem lembrou. ..
Arthur nao deu o recado.Tb Lau n teve escolha, o tempo era curto
Cruela, vc nao se atreveu a escrever que Lupe lunática fosse pra África com Lau, né?!!!
Serenidade eu tenho,ainda que meu celular esteja travando!!!Estou muito serena ..Rs
"Prego na areia"...morri de sunga kkkkkkkk
IzaHass
Em: 25/05/2017
Eita gota! Tinha esperanças de que essa parte tivesse sofrido alterações que aliviassem a aflição (mesmo pra quem já leu... :/). Agora, haja coração e nervos, pra aturar o sonso do Arthur "tinha vindo bem confortável já prevendo um dia no aeroporto..." Ah, desgraçado! >.< Tenha dó, moça! Pega leve! (Sabe o olhar do gato pidão que tá lá no começo da estória?! Pronto...). #ApeloMesmo
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Sem cadastro
Em: 25/05/2017
Oiee
Engraçado, cadê o amigo de Arthur? Rs.
Sam inocente e agitava como tava nem lembrou. ..
Arthur nao deu o recado.Tb Lau n teve escolha, o tempo era curto
Cruela, vc nao se atreveu a escrever que Lupe lunática fosse pra África com Lau, né?!!!
Serenidade eu tenho,ainda que meu celular esteja travando!!!Estou muito serena ..Rs
"Prego na areia"...morri de sunga kkkkkkkk
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Tatta
Em: 25/05/2017
Olha... vamos conversar autora. Eu tô ansiosa. Como a gente faz?! É muita tortura pra quem sofre de ansiedade ler esse capítulo... socorro! Fiquei ansiosa e apreensiva junto com a Sam
Resposta do autor:
Daqui a pouquinho posto mais um que é pra acabar (ou aumentar) com a ansiedade. Deixa terminar de assistir Carinha de Anjo
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Milales
Em: 25/05/2017
Amando essa história. Mais ainda pq não preciso ficar em extrema ansiedade a espera dé um novo capítulo.
Mas cadê a morena? Esse final de capítulo não será previsão de desencontro não né, a comparação com a história dos pais é só pra deixar a gente com uma pulguinha atrás da orelha. Diz que sim!
Ah, e essa história de amizade das mães na juventude, sei não, será que a mãe da Sam era apaixonada pela amiga?
Tá, eu sei que minha curiosidade será esclarecida nos próximos capítulos.
Bj.
Resposta do autor:
Esse negócio de ansiedade é complicado mesmo, né. Eu estava fazendo revisão só do que postaria no dia, mas chegou nessa parte e nem aguentei, já estou quase no fim da história.
Essa história das mães é meu xodozinho, gosto das duas velhinhas. E até dos velhinhos. Coisas da vida.
Beijinhos, obrigada por comentar :-)
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Suzi
Em: 25/05/2017
Carla, Carla.....que maldade (:
Deixou todos esperando, que suplicio. O único que deve ter divertido foi Arthur. Tadinha da Sam.
Resposta do autor:
Tadinha mesmo. Essas autoras malvadonas sempre gostam de ver suas personagens tão bonitinhas sofrendo. Gente ruim <o>
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