CapÃtulo 43
Entre Lambidas e Mordidas -- Capítulo 43
-- Daniela, meu amor, que falta de educação! Apresente-me essa bela jovem -- os olhos de Yasmin faiscaram e, por um segundo, parecia que ia atirar uma cadeira na cabeça da bela mulher.
Daniela entrou em desespero. O que Luíza estava fazendo ali?
-- Meu nome é Luíza -- não esperou pela apresentação de Daniela. Foi logo estendendo a mão para Yasmin -- Sou a namorada da Daniela.
-- Namorada? -- atônitos e perplexos, todos perguntaram juntos.
-- Namorada? -- perguntou Yasmin, cruzando os braços sobre o peito -- Desde quando? -- quis saber, relanceando um olhar para Daniela.
-- Desde os quinze anos, eu acho -- fez uma expressão de quem não tinha bem certeza.
A garota de quem Daniela aprendera a gostar como uma irmã, a amiga para quem não tinha segredos, agora estava ali, reclamando o posto de namorada. Daniela suspirou fundo. Não era sua intenção magoá-la, mas não teria outra opção.
-- Estou muito feliz em revê-la, Luíza. Feliz mesmo -- o rosto de Daniela tinha uma expressão triste, mas ela forçou um sorriso -- Muita coisa aconteceu desde que saí de Canoinhas.
Daniela ficou em silêncio por um instante. Depois, ergueu um pouco a cabeça e afastou os cabelos loiros que lhe caíam sobre o rosto.
Surpresa com a hesitação de Daniela, Luíza decidiu perguntar:
-- O que houve? Está querendo me dizer alguma coisa, Dani? Termine logo o que estava dizendo -- Luíza estava começando a ficar irritada com os rodeios da loira.
-- O que a Dani está querendo dizer é que agora, ela é uma mulher casada e com dois filhos a caminho - Yasmin fez questão de passar a mão pela barriga.
Luíza caiu sentada na cadeira. Levantou-se e tornou a se sentar. Isso era impensável!
-- Casada? -- indagou Luíza com os olhos arregalados -- Não, não é possível! -- abriu a boca perplexa, sem poder aceitar a notícia -- Você prometeu que voltaria.
-- Eu prometi que voltaria, e vou voltar, mas você sabe perfeitamente que entre nós duas nunca existirá nada mais que uma grande amizade -- Daniela deu um sorriso meio forçado -- Sinto muito, Luiza, mas eramos praticamente crianças...
-- Não sou uma boba. Já entendi -- Luíza falou irritada -- Você mentiu para mim, me iludiu.
Daniela apertou os lábios, engolindo a resposta que adoraria ter dado, mas controlou-se e disse calmamente:
-- Vamos comer alguma coisa? -- sorriu e seus olhos verdes brilharam.
-- Fazer o que né? -- Luíza olhou de lado para Yasmin e depois para Daniela -- Como foi capaz de deixar que eu fizesse uma cena dessas na frente de seus amigos? Devia ter me contado.
-- Na adolescência fazemos tantas promessas, planos e sonhos. Planejamos tantas coisas. Juramos amor eterno... que geralmente terminam em nada -- disse Matias que parecia estar se divertindo loucamente com a situação - Essa juventude é mesmo transviada.
- No seu caso, viada também - Bianca caiu na gargalhada.
- Engraçadinha! - Matias resmungou.
-- Como você me encontrou aqui? -- Daniela perguntou franzindo o cenho.
-- Eu a trouxe aqui -- soou a voz de Roberta atrás de Daniela -- Luíza me contou coisas nada boas de Canoinhas -- com um suspiro, ela sentou-se na cadeira ao lado de Lavínia -- Acho melhor vocês tomarem alguma providência.
-- O que está acontecendo? -- perguntou Yasmin, achando estranho -- Não temos nenhuma notícia a respeito daquela filial. Para nós tudo parecia correr perfeitamente.
-- Engano seu! -- disse Luíza levantando a cabeça, e olhando para Yasmin e Daniela -- É óbvio que algo muito estranho está acontecendo, mesmo ainda não tendo certeza de nada, os acontecimentos recentes nos levam a acreditar nisso.
-- Poderia me falar sobre isso, Luíza? -- pediu Daniela.
-- Claro -- concordou ignorando uma vozinha que a prevenia dos perigos que corria ao falar sobre a empresa -- Uma amiga que trabalha lá, me contou que uma certa manhã ouviu uivos de cachorros e resolveu averiguar. Assim que pisou na sala, alguém deu um empurrão nas costas dela e fechou a porta com chave.
-- Que horror! -- Yasmin exclamou assustada.
-- Ela desesperada, começou a esmurrar a porta até que alguém a ouviu e a libertou.
-- Não entendo porque fizeram isso? -- Matias esbugalhou os olhos.
-- Com certeza impor medo -- disse Luíza, servindo-se de salada.
Os demais amigos respiraram com força, e tanto Yasmin como Daniela não entenderam o que estava acontecendo.
-- Eu também estive lá -- Lavínia soltou os talheres sobre o prato e dirigiu o olhar para Daniela -- Sabia que estava arriscando não só o meu emprego, mas principalmente a minha vida.
-- O que você viu de tão comprometedor, Lavínia? Fala logo! -- Yasmin estava angustiada.
-- Vou contar para vocês o que vi aquele dia:
Relembrando o capítulo 21 (Visita de Lavínia à filial de Canoinhas).
Lavínia parou diante de uma porta enorme. O barulho que vinha lá de dentro chamou a atenção da farmacêutica -- Latidos? Estou ouvindo bem? São cachorros?
O Diretor virou a cabeça morena para o lado e disfarçou.
-- O laboratório fica na outra porta.
-- Espera! -- segurou o braço dele -- Eu quero saber o que tem naquela sala.
-- Olha dona Lavínia. Acho melhor a gente se concentrar no treinamento da nova farmacêutica -- continuou a andar e abriu a outra porta -- Venha, vou lhe mostrar o lugar.
Lavínia olhou para trás, não estava convencida. Parou alguns instantes, refletindo, como se procurasse uma resposta, depois caminhou até Lauro.
-- Tudo bem. Vamos ao que interessa.
Mais tarde, assim que conseguiu livrar-se do Diretor, Lavínia retornou ao local proibido.
Olhou para o lado e para o outro e não vendo ninguém, encheu-se de coragem abriu a porta e entrou com cuidado.
A sala que Lauro não permitiu que ela entrasse, era enorme, ampla e arejada. O piso era branco com detalhes em bege. Havia uma estante enorme num dos lados da sala onde arquivos eram guardados em pastas. Na parede oposta a estante havia uma enorme lousa com anotações que pareciam de pesquisas recentes.
Em uma mesa, vários objetos de escritório comum em qualquer lugar como aquele. Lavínia virou-se desajeitadamente e bateu com o braço em uma cadeira giratória, que deslizou e bateu contra uma porta.
O ruído não foi tão alto, mas foi o suficiente para todos os cachorros começarem a latir ao mesmo tempo.
-- Então é aqui que vocês estão? -- a farmacêutica abriu a porta e o que viu a deixou destruída.
Retornando ao presente.
Yasmin ouviu o relato indignada e consumida pela revolta.
-- Nunca imaginei que estávamos utilizando animais em testes de produtos e medicamentos para consumo humano.
-- Foi bem essa a minha reação quando fiquei sabendo -- disse Matias.
-- Vocês estavam sabendo e não fizeram nada? -- disse Daniela chateada.
-- De que jeito? Logo depois disso fomos expulsos da empresa -- Matias disse sacudindo o ombro - E aconteceu tantas outras coisas tristes. Lembra?
-- Isso é verdade, Dani. Entretanto, tirei fotos dos animais e de documentos importantes. Tenho tudo registrado aqui -- Lavínia apontou para o celular que estava sobre a mesa.
-- E vocês estão pretendendo processar a vocês mesmos?
Todos olharam para Bianca.
-- Ei, por que vocês estão me olhando desse jeito? Falei alguma mentira, por acaso?
-- Nós não queremos processar a Vargas, queremos acabar com essa maldade de uma vez por todas -- Daniela virou-se para o irmão e falou com voz nostálgica -- Matias, lembra-se de quando ficávamos conversando junto à cerca? Dos Beagles que viviam no enorme galpão da empresa?
-- Lembro, maninha -- Matias permaneceu em silêncio durante alguns segundos, e no final, com o olhar fixo no prato, brincou com o garfo -- O senhor Lauro é o Diretor responsável pela filial, possivelmente vocês o conheçam.
-- Lauro? O capanga do seu pai? -- Daniela quase caiu da cadeira.
-- Sim! O capanga do nosso pai -- ele suspirou com tristeza - Nosso pai - enfatizou.
Daniela olhou para Roberta e sorriu com ar de desafio.
-- Que grande notícia, Matias -- jogou os cabelos para trás e olhou para ele com uma expressão engraçada -- Esse é o cara.
-- Não entendi -- Matias franziu a testa.
-- Esse tal de Lauro é a nossa caixa-preta -- Daniela falou com jeito confiante e entrelaçou os dedos nos de Yasmin -- Esse homem sabe de coisas que até Deus duvida.
-- Infelizmente já faz muitos anos, né Dani. Os crimes já devem ter prescritos.
-- Em caso de homicídio a prescrição máxima é de 20 anos. Mas há casos de imprescritibilidade previstos na própria Constituição. Isso Matias, depende muito do juiz responsável pelo caso.
-- O que faremos, Dani? -- Bianca perguntou curiosamente, olhando para os profundos olhos verdes, de Daniela.
-- Segunda-feira, logo cedo, partiremos para Canoinhas.
-- Eu vou com vocês -- disse Luiza, olhando de lado para Yasmin -- Tem outra coisa que vocês precisam saber -- ela olhou tristemente para Daniela, depois para Roberta -- Seu pai está morrendo, Roberta.
A segunda-feira amanheceu ensolarada, muito cedo o sol já ia alto e os pássaros cantavam animadamente. Em nada combinavam com o estado de espírito de Daniela.
-- Promete que não vai exagerar? Você precisa repousar, não vá fazer compras, não tome muito café, não fica comendo besteiras, vai deitar cedo...
-- Dani! -- Yasmin colocou um dedo sobre seus lábios -- Não se preocupe. Eu vou me cuidar direitinho -- falou docemente - Não farei nada que prejudique os bebês.
-- Minha mãe quando estava grávida de mim, cortava até lenha -- disse Luíza, com desdém.
-- Por isso que você parece que foi feita à machadada -- Daniela pensou em voz alta. Em seguida deu de ombros e murmurou: -- Canoinhas! Aí vamos nós.
-- Quero que me mantenha informada de tudo, Dani. Qualquer coisa ligue pra mim na hora, e comporte-se. Não quero você de papinho com essa aí -- deu de dedo em Bianca -- E você fique de olho nela.
-- Eu? -- Bianca corou ligeiramente.
-- Sim! Você mesma.
Sem dizer mais nada, Yasmin ergueu os ombros, suspirou e deu um beijo na boca de sua loira.
Ligando o carro, Daniela sentiu que estava retornando ao passado. Sentia-se deprimida, triste. Estava presa no passado. Por mais que tentasse seguir em frente, os golpes sofridos tornaram-se uma tormenta no presente.
Assistiu ao filme Forrest Gump: O Contador de Histórias, umas cinco vezes. Forrest Gump, no filme, parecia ter aprendido uma lição que muitas pessoas mais inteligentes e esclarecidas não assimilaram. Certamente muitas são as coisas que nos podem acontecer e que nos obrigam a termos que superá-las. Há situações óbvias que nos acontecem na vida que podemos considerar traumas devastadores, como doenças, mortes... A mãe dele sempre dizia: "Você tem que colocar o passado para trás antes que possa seguir em frente." Forrest Gump.
Partindo desse pressuposto é que Daniela precisava voltar. Precisava encarar a realidade de frente, arrancar de si todo o rancor, ressentimento, indignação, ódio, entre outros sentimentos negativos e a partir daí, pensar num futuro melhor.
-- A Roberta não vai com a gente, Dani? -- Luíza perguntou, ajeitando-se no banco de trás.
-- Não. A Roberta viajou ontem à noite. Ela estava com pressa, disse que tinha uma coisa muito importante para resolver -- Daniela Ajeitou-se melhor no assento confortável de seu carro e concentrou-se na estrada.
-- Espero que ela chegue a tempo de ver o pai ainda vivo -- Luíza colocou os fones de ouvido e fechou os olhos.
-- O destino nos prega cada peça -- Bianca adotou um semblante triste -- A Roberta estava mais angustiada que barata de barriga pra cima.
Daniela, com um sorriso leve entreabrindo os lábios cantou:
-- "Segura teu filho no colo, sorria e abraça teus pais enquanto estão aqui.
Que a vida é trem-bala, parceiro e a gente é só passageiro prestes a partir"
-- Boa, Dani!
-- "Não é sobre tudo que o seu dinheiro, é capaz de comprar
E sim sobre cada momento, sorriso a se compartilhar
Também não é sobre correr, contra o tempo pra ter sempre mais
Porque quando menos se espera, a vida já ficou pra trás...
Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá
Logo depois da curva, Roberta avistou a casa onde havia passado a infância e boa parte de sua adolescência. O corredor de árvores deixava um tapete de folhas secas. A veterinária parou o veículo ao lado da casa. Estendeu o braço para o banco de trás e pegou um embrulho, que tinha colocado lá.
Saiu do carro e subiu a escada que levava à porta de entrada. Parou do lado de dentro da sala espaçosa, e olhou em torno.
Fazia tempo, muito tempo, que havia deixado aquela casa, mas tudo parecia ainda tão familiar.
Os móveis eram novos, haviam duas poltronas bonitas e uma mesa redonda no centro da sala. As paredes estavam pintadas de verde e as cortinas floridas dançavam com o vento.
Roberta olhou rapidamente, de esguelha, e viu um vulto sentado em um banco nos fundos do quintal.
-- Pai?
Daniela colocou os óculos de sol e baixou os vidros do carro. São Paulo ficou para trás e a estrada tornou-se mais reta e o trânsito mais tranquilo.
-- A sua amante dormiu -- Bianca falou com a boca cheia de batata frita.
-- Se você falar isso novamente, te enfio no porta-luvas -- falou irritada -- Pensa se a Yasmin escuta isso?
-- Você acha que a nossa conversa pode estar sendo grampeada?
-- Sei lá. Me sinto vigiada o tempo todo.
-- Talvez estejamos sendo vigiadas por um drone -- Bianca colocou a cabeça para fora e olhou para cima.
-- Menos, né Bianca.
-- Onde estamos?
-- Na Rodovia Régis Bittencourt, BR 116, próximo à Curitiba.
A paisagem era deslumbrante em vários pontos. Muito verde, montanhas e rios. Além disso, era possível ver muitas plantações de banana, casinhas antigas e a Represa do Capivari. À distância, os raios brilhantes e amarelos do sol iluminavam as águas, que eram intensamente verdes.
Timóteo virou-se e encarou a filha. Ela permaneceu de pé, olhando para ele.
Durante sua infância, e boa parte da adolescência, Roberta nunca conheceu seu pai suficientemente. Ele era um homem duro que não manifestava carinho. Ainda muito jovem, foi embora de casa; na verdade foi expulsa de casa por ele. Durante anos evitou qualquer contato, pois desejava verdadeiramente superar os traumas da intolerância, longe daquele lugar.
-- Aproxime-se, minha filha -- disse Timóteo, apontando para um banco à sua frente.
Roberta hesitou, mas por fim, sentou-se.
-- Sabia que viria. "O bom filho a casa torna" -- Timóteo falou de cabeça baixa.
-- Falaram-me que o senhor estava muito doente. Pensei que estava internado. Mas pelo que percebo sua saúde está perfeita.
-- Estou muito bem, realmente. Nunca em toda minha vida estive tão bem como estou agora.
-- Espero não ter lhe aborrecido com minha visita, pensei que...
-- Estivesse morrendo? - completou -- Você não está me aborrecendo. Como já disse... estava lhe esperando.
Os olhos de Timóteo transmitiam uma paz e um carinho jamais visto por Roberta.
-- Eu com esse meu temperamento irracional e autoridade tirânica, sempre causei medo em você -- falou com voz quebrantada -- Como dizia Leo Buscaglia: "Ninguém pode dar aquilo que não possui. Para dar amor, você deve ter o amor." O amor parental deve ser algo tão natural e tão certo quanto o nascer do Sol.
Com muita dificuldade e com a voz embargada pelo choro, Timóteo contou da sua vida.
Com quem seus pais aprenderam a criar filhos? Em muitos casos, o único referencial que eles tiveram foram os pais deles, que os criaram. E no mundo insensível em que vivemos, onde a "afeição natural" é uma coisa tão rara, muitos pais cometem graves falhas na criação dos filhos. (2 Timóteo 3:1-5) Às vezes o resultado disso é uma triste reação em cadeia, em que os pais maltratam os filhos assim como eles mesmos foram maltratados na infância.
Timóteo, por exemplo, cresceu num lar em que o pai era alcoólatra. Era agressivo e batia quase todos os dias nele.
Saíram para passear pela fazenda, conversaram sobre temas cotidianos, sem nenhuma referência à complicada relação do passado. Não disfarçou o orgulho quando Roberta contou sobre sua profissão e tudo o que adquiriu com seu trabalho.
Timóteo se esforçou em ser bondoso e gentil com a filha e chorando muito, pediu perdão.
-- Não teve um dia sequer que acabou sem que eu pensasse em você e em como teria sido maravilhoso se você estivesse aqui comigo e com sua mãe.
Timóteo foi capaz de dar o que não havia recebido. Roberta abraçou-o com amor e gratidão.
Finalmente, Roberta decidiu perdoá-lo, como um importante degrau em sua superação espiritual.
-- O que tem naquele embrulho? -- perguntou quando entraram novamente no casarão.
-- É um presente para você, pai -- e, como uma menina sapeca, saiu correndo buscar o embrulho.
Daniela olhou rapidamente na direção de Bianca. Ela havia se ajeitado melhor no banco e estava com os olhos fechados. Provavelmente dormindo.
Sentia-se contente por dirigir, pois assim não teria tempo para ficar pensando em como seria sua volta à Canoinhas.
Já haviam passado por Curitiba e Araucária. Entrou no trevo que levava à autoestrada, dirigindo-se para uma das pistas que ia para a cidade de Lages.
-- Bianca! -- chamou pela amiga. O tráfego era intenso naquela hora do dia. Caminhões enormes passavam por eles em alta velocidade -- Bianca!
-- Oi? -- Bianca respondeu sonolenta -- Chegamos?
-- Ainda não. Estou com fome, vamos parar para fazermos um lanche?
-- Demorou! -- Bianca despertou rapidinho.
-- Acorda a Luíza -- com uma rápida olhada no espelho retrovisor, Daniela ligou o pisca para a direita e entrou no estacionamento de uma lanchonete.
-- Se eu fosse você não teria deixado a Dani viajar com essa garota -- Paula levantou-se da cadeira -- Ela não é confiável.
Débora deu uma gargalhada.
-- Não fala assim do meu bebê.
-- O seu bebê é uma safada -- Yasmin falou sorrindo -- Mas, eu confio nela.
-- Vai confiando, vai -- Paula ligou o fogão e pegou uma frigideira -- Vou preparar uma omelete bem fofa para nós.
-- Eu arrumo a mesa -- Yasmin pôs os pratos e os talheres sobre a mesa e sentou-se -- Como você está Débora?
-- Estou bem fisicamente, apenas minha memória que não anda muito boa.
-- Ela não lembra muito bem do acidente -- Paula serviu primeiro as amigas e em seguida serviu-se -- O médico já falou que isso é normal, mas ela parece que não entende.
-- O bandido estava sem capacete, olhei bem nos olhos dele, mas não consigo lembrar-me de seu rosto -- Pegou um garfo, olhou para a comida durante alguns instantes e balançou a cabeça, em desespero -- Deve ser algum tipo de bloqueio.
Yasmin segurou a mão dela e sorriu.
-- Procure não se preocupar com isso. Em breve todas as lembranças voltarão. Tenha paciência.
Quando o sinal abriu, Daniela virou à esquerda e finalmente entrou na cidade de Canoinhas. O tráfego era tranquilo, mas lento. Muitos pedestres e ciclistas atravessavam as ruas, crianças brincavam nas calçadas. Várias fábricas alinhavam-se à margem da estrada.
-- Caramba! Como isso aqui mudou! -- Daniela estava surpresa com o progresso de sua pequena cidade.
Logo na entrada uma placa anunciava: Canoinhas Capital Da Erva Mate.
-- Legal! Quero encher a cara de erva mate -- brincou Bianca.
-- Quero passar pelo hospital, antes de ir para o hotel.
-- Foi construído outro hospital, Dani. Diminui a velocidade e vire à direita e entre naquele portão -- explicou Luíza.
Cuidadosamente, e em baixa velocidade, Daniela cruzou o portão e estacionou o carro.
-- Eu e a Luíza vamos caminhar um pouco. Minhas pernas estão até adormecidas.
-- Ficaremos lá na praça, Dani -- avisou Luíza.
-- Tudo bem. Encontro vocês lá -- Daniela saiu do carro e caminhou em direção às portas de vidro. Parou do lado de dentro e olhou em torno.
Havia uma moça na recepção. Daniela aproximou-se do balcão e ela assim que a viu, sorriu gentilmente.
-- Boa tarde! Posso ajudá-la?
-- Boa tarde! Gostaria de visitar o meu avô. O nome dele é Timóteo.
A moça tornou-se séria e olhou-a com pesar.
-- O esposo da vó Dinda?
Daniela balançou a cabeça.
- Sinto muito, mas o senhor Timóteo faleceu ontem de manhã.
Daniela ficou pálida como cera.
-- O seu sepultamento será hoje, às 17:00. Acho melhor correr.
Timóteo colocou o chapéu de cowboy na cabeça e deu um sorriso.
-- É o melhor presente que ganhei até hoje. Obrigado, minha filha.
Na verdade o melhor presente, foi o abraço apertado que eles deram.
Faça hoje. Amanhã pode ser muito tarde para você dizer que quer tentar de novo...
Segura teu filho no colo
Sorria e abraça Seus pais
Enquanto estão aqui
Que a vida é trem-bala, parceiro
E a gente é só passageiro prestes a partir
Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá
Laiá, laiá, laiá, laiá, laiá...
Trem Bala
Ana Vilela
https://www.facebook.com/ojardim.dosanjos.5
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 24/02/2017
Ola Vandinha
Roberta e Timóteo se reconciliando dos erros do passado, enfim trouxe paz para os dois corações.
Será que teremos que ficar de olho na Luiza??? Ou ela vai superar que a Dani será uma amiga/irmã.
Encontro de Lauro com a Dani espero que esse Lauro não venha complicar a vida das meninas.
Bjus e até o próximo, um ótimo final de semana
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]