- Vamos para algum lugar menos barulhento? – Sussurrava em seu ouvido uma linda desconhecida que acabara de goz*r em sua mão, num banheiro de uma boate qualquer. – Precisamos fazer isso novamente...
- Pode ser pra minha casa? – Falava, Clara, sentindo um tesão enorme percorrer-lhe o corpo.
- Pra onde você quiser...

Sarah tivera um dia estressante, estava largada no sofá, quando ouviu algumas risadas no corredor, uma delas lhe parecia muito familiar.

- É a Clara! Só pode ser ela!!! Com quem desta vez? - Tentou observar mas não conseguiu saber quem era... Se torturou praticamente a noite inteira, tentado decifrar em qual momento do sex*, as duas fogosas amantes do apartamento ao lado se encontravam... “Meu Deus, que tipo de tortura é esta? Por quê? O que eu não daria para estar no lugar desta outra mulher e desfrutar os beijos dela? Pra esquecida no dia seguinte”. - Sua consciência tentava lhe dar esta espécie de consolo, inútil, pois sua mente teimava em lhe torturar tentando ouvir gemidos...

Num determinado momento encontrou-se chorando a perda de um amor, que nunca tivera. Como doía este sentimento. Dera-se conta do quão fora de alcance Clara estava. Sua dor era profunda. “Tenho que me afastar dela, não dá pra ficar assim”. Já vencida, foi pra cama e tentou dormir.

No apartamento ao lado:

- Menina, você é um estrondo! Que delícia. - Clara sorriu. - Quando nos veremos novamente? – Perguntou Sabrina já se vestindo.
- Assim que pudermos!!! – Trocaram telefone. “Já está na hora de tentar me acertar com alguém, e quem sabe o sentimento vem depois?!”. Se despediu da desconhecida e foi descansar o corpo depois de mais uma aventura prazerosa.

Sarah encaminhou-se para atender a campainha e tremeu ao ver Clara com os braços apoiados no batente da porta. “Que poder é esse que você exerce sobre mim?”

- Olá dorminhoca!!! – Beijou-lhe a face e sorriu.
- Oi, não estava dormindo, mas meditando... Entra! – Disse dando passagem para Clara
- Perfume novo?
- Sim. Ganhei do Ricardo, ontem!
- Ah, do Ricardo, é claro. “O nome deste sujeito está começando a me incomodar, por quê?”. Sobre o que meditava?
- Sobre a vida!

Clara já chegou se espalhando, Sarah adorava aquela cena, que era suficiente para esquecer tudo o que sofrera na noite passada.

- Queria conversar um pouco! – Disse com desânimo.
- Estou aqui, vamos tomar café? – Percebera o desânimo da amiga e preocupou-se.
- Vamos!!!

Enquanto de dirigiam para a cozinha, Sarah pensou “É sempre assim, já vi que sobrará pra mim todas as lamúrias enquanto os prazeres ela desfruta com outras por aí” Estava triste, porém disposta a ouvir que Clara havia se apaixonado por alguma destas mulheres com quem saía.

- O que houve? – Olhou-a nos olhos. Clara estremeceu ao sentir o contato, mas não se esquivou afinal Sarah era sua amiga.
- Preciso te confessar uma coisa!!! – Sussurrou.
- Pode falar, aliás, não me diga que se apaixonou por alguma destas mulheres com quem sai? – Disse certa de que este era o assunto a ser tratado e sentiu seu coração se contrair “Acho que vou infartar”.
- Não! - Clara respondeu, como se aquele pensamento fosse a coisa mais improvável do mundo. Encheu-se de coragem e desabafou à amiga - Eu nunca tive um orgasmo!
- Como assim? – Sarah estava visivelmente aliviada e ao mesmo tempo curiosa...
- Eu nunca permiti que elas me tocassem, não consigo fazer isto sem sentir nada. – Clara tombou a cabeça sobre os braços que estavam apoiados na mesa.
- Então você não trans* com estas mulheres? – Estava bestificada, nunca passara por sua cabeça algo do gênero.
- Transo, só que não deixo que me toquem!!! – Soltou num bufo.
- Proporciona prazer sem exigir o mesmo em troca?
- Quase isso! Ah, não me olha com essa cara... Sei lá, não consigo deixá-las me tocar, não acompanho a trans*, entende?
- Mas por quê? - Sarah ainda estava de boca aberta.
- Não consigo, deve ser um trauma, ou sei lá o quê!!!
- Talvez porque não se apaixonou ainda... “Meu Deus, será que tenho chances... Ai, pensamento impróprio, ela está sofrendo por conta disto e eu pensando em me aproveitar da situação... Mas ter esperanças não é pecado”.

Sem muita explicação, mentalmente Clara mudara o ambiente entre elas, estavam na cama aos suspiros de prazer, e numa esfregação sem fim. Clara estava gostando muito e como sempre dava as cartas conduzia Sarah por caminhos delirantes, o mais estranho é que pela primeira vez acompanhava o trajeto.

- Clara você está sonhando acordada? – Perguntou sorrindo.
- Não – Tentou se recuperar, e se culpou pelo pensamento impróprio com uma pessoa querida. Estava sem chão. – Preciso ir embora!
- Mas você acabou de chegar, nem tomamos café! – Não estava entendendo a reação de Clara.
- Fica para depois.

Clara foi embora sem entender o que estava se passando com ela. Como podia ter aqueles pensamentos com Sarah, e se ela descobrisse terminaria a amizade na mesma hora, e definitivamente não estava disposta a perder a amizade. Mas percebera que não estava conseguindo se controlar mais. Teria que se afastar um pouco de Sarah, para que não causasse um estrago, mas como se afastar de uma pessoa tão querida e tão importante?
Mal desconfiava que o dia seguinte prometia surpresas transformadoras.

Na hora do almoço:

- Clara você está bem?
- Sim, estou sim!
- Saiu lá de casa de uma maneira estranha, pela manhã.
- Desculpa, foi mais um daqueles surtos que tenho de falta de educação.
- Está acontecendo alguma coisa? Posso te ajudar. – Estava visivelmente preocupada.
- Nem eu estou entendendo o que está acontecendo comigo.
- Vamos ao cinema?
- Que filme? – Talvez se distraíssem um pouco a fizesse relaxar.
- Amor Medieval!
- Mas, ele é lésbico!
- Eu sei, tô louca pra vê-lo!

Clara achou graça, essa mulher a surpreendia e como gostava de estar na companhia dela, como era agradável.

Foram ao cinema, antes da sessão começar, ainda deu tempo de conversar numa lanchonete.

- Você me faz um bem incrível!
- Esta é minha função, Clara! Embora ache que não devo estar cumprindo- a como se deve, pois, agora é muito comum você viajar enquanto falo contigo.
- Eu? – “Viajo contigo, queria dizer. Afinal o que está acontecendo comigo?”
- Está vendo? Acabou de viajar!

De repente um rapaz se aproxima, todo sorridente para o lado de Sarah. Clara observou a cena com certo desconforto – “E se este for o tal Ricardo?”

- Sarah, meu amor! Você continua linda. Está perdida por aqui?
- Olá Romeu, há quanto tempo?
- Claro... Esqueceu-se dos amigos!!!

O papo entre eles foi breve, porém muito animado, Clara cumprimentou o sujeito, meio contrariada. Não via a hora de ele ir embora para que pudesse perguntar para Sarah, que tipo de afeto sentia por ele... “Meu Deus o que está acontecendo comigo, tá certo que já sai com muitas pessoas diferentes, mas seria castigo me apaixonar por uma hetero a esta altura da minha vida”.

- Deixe-me participar também?
- Ah?
- Do seu pensamento, Clara! Você está apaixonada?
- “Você nem imagina por quem...” – Como, eu apaixonada? Imagina!
- Ok!!! Vamos assistir ao filme, está na hora!

Foram em silencio, todas ali estavam de mãos dadas. Queria fazer o mesmo com Clara, queria colocá-la no colo e dizer-lhe o quanto a amava... Mas não podia. Estava com medo de agir por impulso em relação a ela, a qualquer momento tentar beija-la, mas se achava racional e controlada, então não poderia sequer pensar naquilo.

Ambas estavam com frio na barriga e envoltas numa magia estranha, porém muito gostosa.

Fim do capítulo