Quando segurei em sua mão, pude sentir algo diferente, era uma espécie de "choque", de frio na barriga, de calor... E continuamos caminhando pela praia; logo avistamos um grupo de pessoas reunidas e conforme nos aproximávamos deles ouvíamos o som de violão... Era um sarau na praia, tinha vários poetas, escritores recitando seus textos, e nós sentamos pra apreciar... Enquanto Camila prestava atenção nos poemas que eram lidos, eu observava a sua beleza, o brilho dos seus olhos, o formato de sua boca, o delicado tom do seu esmalte e ficava o mais próximo de seu corpo, para respirar o seu doce perfume. Depois, educadamente um rapaz do grupo falou que se quiséssemos recitar algo, era aberto a qualquer pessoa. Camila pediu para eu aguardar ali, que ela voltaria em uns minutos, e então, se dirigiu até o centro do ambiente que estivera formado, abriu um livro, se apresentou a todos, respirou fundo, e começou:

 

"ALMAS QUE SE ENCONTRAM”

Dizem que para o amor chegar

Não há dia

Não há hora

E nem momento marcado para acontecer. 

Ele vem de repente e se instala

No mais sensível dos nossos órgãos, 

O coração.

Começo a acreditar que sim,

Mas percebo também,

Que pelo fato deste momento

Não ser determinado pelas pessoas

Quando chega, quase sempre

Os sintomas são arrebatadores 

Vira tudo às avessas

E a bagunça feliz se faz instalada.

(...)

Elas se compreendem... 

E sentem falta uma da outra

Se entristecem

Por não terem se encontrado antes,

Afinal tudo poderia ser tão diferente.

Quando almas afins se entrelaçam

Passam a sentir saudade uma da outra

Em um processo contínuo de reaproximação 

Até a consumação. 

(...)

Desejam coisas que se tornam quase impossíveis.

Mas que são tão simples de viver

Como ver o pôr-do-sol

Ou de caminhar

Por uma estrada com lindas árvores

Ver a noite chegar

Ir ao cinema e comer pipocas

Rir e brincar

Brigar às vezes,

Mas fazer as pazes

Com um jeitinho muito especial. 

Amar e amar, muitas vezes... 

Sabendo que logo depois

Poderão estar juntas de novo 

Sem que a despedida se faça presente. 

Mas depois que se encontram

Ficam marcadas, tatuadas.

E ainda que nunca venham a caminhar

Para sempre juntas

Elas jamais conseguirão se separar.

E o mais importante,

Terão de se encontrar em algum lugar. 

Almas que se encontram

Jamais se sentirão sozinhas

Porquanto entenderão, por si só,

A infinita necessidade

Que têm uma da outra para toda a eternidade  .

(PAULO FUENTES)

 

Eu estava intacta, apenas observando mais um lado de Camila que me surpreendeu! Que alma, que delicadeza, e quando ela terminou de ler, olhou em meus olhos, deu um sorriso de canto e apontando pra mim, falou: “Este poema eu dedico a ela, a Carolina!”

Ela veio em minha direção, me olhou meio que envergonhada e eu falei:

-Uau! Por essa, eu juro que não esperava, não sabia do seu gosto por literatura, por poesias.

- Essa é uma das minhas preferidas, eu gostaria de tê-lo escrito, mas  Paulo Fontes escreveu primeiro que eu! (e riu)

-Eu amei!  Muito obrigada, sou infinitamente grata!

Nós Ficamos mais um tempo lá, aproveitando uma boa música o romantismo dos poetas, não existia lugar mais perfeito para estar naquele momento, ela não sabia, mas eu nunca havia vivenciado algo assim, nunca tinha me sentido tão especial para alguém, como eu me senti ali.

O sarau chegou ao fim e Camila me levou até a porta de casa em seu carro e antes de deixa-la ir, eu a abracei e falei o quanto adorei o nosso passeio.

Eu peguei o elevador pensando em tudo, em todos os detalhes e instantes maravilhosos ao lado de Camila, eu tinha a sensação que a conhecia a tempos, quem sabe de outra vida mesmo... Certamente Camila entrou na minha vida, sem se quer imaginar e se tornou a mais doce surpresa que as férias na casa da minha madrinha me trouxe.

Cheguei cansada, foi uma noite e tanto. Pensei em mandar uma mensagem, mas fiquei com receio de ser inconveniente e resolvi ficar na minha.

Quando já estava a quase pegando no sono, meu celular vibrou.

Era uma mensagem dela que dizia: “Carol, obrigada por aceitar o convite hoje, nosso passeio foi muito bom e eu espero que os próximos sejam melhores ainda, se isso for possível, é claro! Boa noite, beijinhos!”.

-Se todos forem bem parecidos com esse, já estarei com a vida ganha, eu respondi.

- Por Falar em ganhar, o que eu ia dizer é que o beijo não era brincadeira, era mais pura verdade.

- Hum... E por que não me falou quando teve oportunidade?

 - Esqueci de ser ousada... rs

- Uau! Adoro, mas isso não se pode esquecer jamais! Da próxima vez pode ser ousada, eu deixo!

- Tá certo, você que manda Carolzita!

- Tô começando a gostar dessa ideia!

- Carol, eu tive receio de expor meu desejo...

- Não precisa ter receio, dizem que as boas amizades beijam na boca, então... 

- Somos amigas, claro, sempre! Ufa!

-Sempre!

Acabei apagando, dormi tão bem naquela noite e no outro dia acordei super animada, tudo por causa da minha nova “amiga”. Minha intenção era a de não me envolver com ninguém nessas férias e não a de me apaixonar por outra mulher.

Passamos praticamente um mês inteiro conhecendo Lisboa e suas festas, shows...  E entre um encontro e outro, longas conversas e alguns segredos compartilhados, ficavam evidenciados que formaríamos um lindo casal, aliás, já parecíamos um belo casal, só que até aquele momento, nossos corpos ainda não se conheciam, nossos lábios não haviam se encontrado e os nossos desejos, por mais que existissem, eram ocultos.

Depois de um mês e meio em Lisboa, Camila me convidou pra ver o apartamento dela, que estava em reforma. Fomos até lá e pude apreciar o seu perfeito apartamento, ele era bem espaçoso, tinha uma vista linda para a praia e um requinte que só poderia vir dela! Ela me contava animada aonde tudo iria ficar e o plano de ter um lugar todo especial para ela mais gostava de fazer: pintar! A previsão do término na reforma seria no próximo mês e nada animava mais do que a festa que ela iria fazer para comemorar com os amigos a sua nova moradia. O apartamento não era meu, mas eu sempre amei festas e estava tão animada quanto ela para elaborarmos um Open House inesquecível. Por um momento eu sai até sacada e ela foi pegar um vinho para nós.

Ela me serviu e disse: Beba e me diga se esse vinho não é o melhor de todos os vinhos?! Pode degustar sem pressa, e depois me responda - ela olhou para mim e sorriu docemente.

Eu olhei para ela, e disse que não ia beber, fiz cara de séria e falei que só depois que ela bebesse o vinho, eu iria provar.

Ela me olhou, meio sem entender o porquê eu tinha me recusado a beber.

Ela se pôs na minha frente, e quando ela aproximou a taça de seus lábios, eu a interrompi, e pedi com um tom suave para ela fechar os olhos, e disse: Beba e me diga o que você achou!

Ela riu, fechou os olhos e disse que estava bom, que estava delicioso!

Eu me aproximei mais ainda dela, olhei no fundo de seus olhos e a beijei.  Naquele momento eu só queria provar o vinho nos lábios de Camila. Eu precisava matar toda minha sede e seus lábios eram tão doces, macios, gostosos... Eu me perdi naquele beijo, naquela doçura de mulher, eu precisava tê-la ali, naquele momento, de qualquer forma. Ela me deixou conduzi-la e quanto mais eu a beijava, mais o meu desejo aumentava, não só o meu, ela me parecia querer a mesma coisa que eu, e sem pressa, mas sedenta fui descendo minha boca, beijando seu queixo, seu pescoço cheiroso, ela acariciava meu cabelo e meu corpo e eu a beijava, mordiscava e delirava com os sussurros dela pedindo para que eu continuasse... A voz dela me levava ao delírio, eu mordia sua orelha, sussurrava o quanto ela era gostosa, o quanto eu amava estar com ela e ela gemia de prazer. Ela estava com um blazer e saia, eu fui desabotoando a sua roupa e beijando cada parte do seu corpo, e ela enlouquecida me pedia, quase que implorando pra eu continuar. Ela me deu um beijo, pegou minha mão e me levou a um cômodo que somente tinha uma poltrona e sussurrou no meu ouvido, para que eu a amasse ali, naquela poltrona. Eu sentei na poltrona e admirei-a em pé com aquele cabelo lindo e solto, só de sutiã e calcinha na minha frente. Ela me olhava como se quisesse ser minha totalmente, ela tirava sensualmente seu sutiã, eu não aguentei e tirei a sua bela calcinha branca enquanto minhas mãos apertavam suas coxas, sua cintura... Ela me Pôs sentada e sentou em meu colo. Nossos olhares se cruzavam, eu olhei para aqueles belos seios, acariciei e cai de boca neles, que prazer me dava em vê-los enrijecer enquanto eu os mordia, ch*pava e passava a ponta da minha língua neles. Camila não se intimidou se entregava inteiramente ao nosso momento, gemia, sussurrava e pediu para que eu a penetrasse. Ela colocou uma perna em cima da poltrona, e eu ali, enlouquecendo a toquei, ela estava muito molhada, meu dedo deslizava fácil e ela gemia, pedia mais, gemia, dizia pra eu continuar e eu obedecia, queria dar todo prazer pra ela... Realmente estava tão gostoso que eu g*zei só de olhar, de sentir e ouvir seus gemidos, de sentir o tremor do seu corpo pelo prazer que eu a proporcionava, mas houve algo muito além do prazer, havia carinho, desejo, respeito e safadeza, tudo junto! Eu amei o corpo dela, e mais do que isso, eu já amava o coração dela, foi um sentimento recíproco de amor e excitação. Amamo-nos por horas e nos perdemos no tempo e no espaço.  

Se eu pudesse nomear aquela noite, a nomearia de encontro de almas, de corpos e de coração. Depois de tanto prazer ficamos deitadas, uma ao lado da outra, de mãos dadas... em um momento fiquei calada, pensando... No que há pouco havia acontecido, ela se pôs em cima de mim, deitando no meu peito, e disse:

- Você está tão calada, está pensando em quê?

- Pensando no que aconteceu aqui.

- Foi bom pra você?

- Claro que sim, foi maravilhoso!

- Então isso que importa, pra mim foi perfeito!

-Não pensa em nada, ainda somos amigas...

-Muy amigas, ein? rs. Estou amando ser sua amiga...

- Amiga linda, me beija, vem?

Ela abriu um sorriso lindo pra mim... Como negar um beijo?! Então, nos beijamos lentamente, como se quiséssemos eternizar aquele momento.

Tudo que aconteceu depois foi resultado de uma paixão, daquelas que você não pensa em nada além de ficar com aquela pessoa pra sempre...

Depois de pouco tempo começamos a namorar e de ir tanto dormir com ela, acabamos morarmos juntas no apartamento onde fizemos amor pela primeira vez.

Minhas férias estavam acabando e eu precisava voltar ao Brasil, afinal, eu tinha uma vida aqui. Camila não suportava a ideia de que eu teria que voltar ao Brasil e ficar uns meses distante dela.  ela achava que eu não voltaria mais, que a abandonaria, eu pedi para que viesse comigo, mas por conta de seu trabalho ela não pode.

Assim que cheguei ao Brasil, ela me mandou mensagem, perguntando como tinha sido a viagem, falando que já estava com saudades, e que era pra eu voltar logo.

Liguei, pra ela, pedi que ela parasse de ficar chorando, que eu voltaria, só precisava resolver minha vida no Brasil... Depois de um mês, preparei  tudo fiz o que tinha que fazer, inventei a desculpa de que iria estudar em Portugal para os meus pais, eles de inicio não gostaram da ideia pelo fato de ficar muito tempo longe de casa, mas por minha madrinha morar em Lisboa, eles ficaram mais tranquilos.

Avisei a Camila que voltaria dia 02 de fevereiro, lembro que ela ficou super feliz, disse que estava contando as horas e os dias e que estaria me esperando.  Nos falávamos toda hora, tentando matar a saudade que existia em nossos corações e corpos.

Um dia antes de voltar, mandei uma mensagem, a Camilla dizendo:

-Camila, me perdoa, mas não vou poder ir a Portugal. Pensei melhor, acho que não posso abandonar minha vida aqui, isso é uma verdadeira loucura!

Ela não me respondeu! Imagino que tenha ficado arrasada, eu entendo, Eu no lugar dela, também estaria me sentindo péssima, por toda a expectativa que foi criada, mas, a verdade é que eu não ia desistir da Camila, não poderia deixar aquele amor passar, ela não merecia tal covardia. Tudo isso era apenas uma surpresa que eu iria fazer pra ela... Viagem confirmada, check-in feito, eu estava ansiosa demais para tê-la novamente em nossa cama, em nosso apartamento. Depois de horas de viagem, cheguei ao meu destino, ao encontro do meu amor.

Com flores, vinhos, chocolates e um anel, eu fui até o nosso lar, mas ela não estava e não atendia minhas ligações e não respondia minhas mensagens.

Pensei em onde ela poderia estar naquele fim de tarde e logo imaginei que ela pudesse estar na praia. Comecei a andar procurando ela, e nada... Quando estava quase no fim da praia, eu a vi, sentada na areia, olhando o mar. meu coração acelerou, cheguei por trás dela, e disse:

- Oi moça, essas flores, são pra você!

Ela olhou e quase não acreditando ela sorria e chorava ao mesmo tempo, eu abracei e a beijei com toda vontade... Ela me beijava vorazmente, me abraçava forte. Depois largou, e disse:

 -Eu vou te matar Carolina! O que você fez não se faz nem com seu pior inimigo, você não sabe o quanto eu chorei, eu estava te odiando!

-Fala sério, louquinha por mim, jamais vai conseguir me odiar, mais fácil você continuar me amando! Eu estou aqui amor, só pra você!

-Sua convencida! Rum...

 Ela me segurou e me deu uns papinhas no ombro...

- Bate vai, bate que eu fico mais louca por você. rs

- Eu te odeio, mesmo te amando, fique sabendo!

- E eu te amo tanto, que não tem espaço pra outro sentimento que não seja esse amor!

 

Um, dois, três anos e quatro meses se passaram até o dia em que marcaria para sempre nossas vidas. 

Eu amava a sutileza, a bondade e a forma que Camila levava a vida, mas já não me enquadrava mais ali, eu tinha a mulher perfeita ao meu lado, mas não me sentia a mulher perfeita para estar ao lado dela. Cai na rotina de um amor, e vi que precisava de mais para viver, eu precisava de novas experiências, precisa ter a coragem de dizer a ela que eu não poderia mais estar ali, mas não tive coragem por ela ser tão maravilhosa para mim. Eu a amava, mas simplesmente não sabia mais viver aquele amor, sentia falta de algo e sim, sou egoísta, não agi diferente, pensei só em mim ao deixar um bilhete que dizia:

 

Camila,

Desculpa, por fazer o seu mundo desabar.

Desculpa, por não poder te dar mais um amor à altura.

Por favor, perdoe a minha partida.

Eu te amo, mas não sei viver esse amor.

Na verdade, acho que não nasci pra amar.

Sou um erro, mas guarde todos os momentos que tivemos...

E acredite que eles foram verdadeiros e inesquecíveis

Você jamais morrerá em meu coração...

Eu só preciso ir!

 

“Se as duas pessoas se amam uma à outra, não pode haver final feliz”.

(Ernest Hemingway)

Acho que essa frase define bem o que eu sinto neste momento!

Perdão!

Peguei somente o necessário e voltei para o Brasil, eu já tinha comprado minhas passagens, em fração de horas voltaria para uma nova vida, eu não sabia o que me esperava. Era um mix de sentimentos,  meu coração estava partido por deixar Camila dormindo tranquilamente em nossa cama, ou melhor, na cama dela, mas me martirizava a ideia de viver ali, na mesma vida pacata de antes.  Ai! Meu coração precisava de uma aventura, queria meu sangue pulsando e fervendo, na verdade eu nem sei ao certo o que queria, só sabia que precisava viver novas histórias, ter novos prazeres e quem sabe um novo amor e eu simplesmente sumi da vida dela!

Para alguns amigos em comum, Camila dizia que jamais me procuraria e que eu fui a pessoa mais cruel que ela conheceu. Depois de três meses resolvi também deixar algumas amizades que me ligavam a ela para trás. A única certeza que eu tenho é que muitas vezes precisamos perder para ganhar.

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo