Um ano atrás Tabata tinha começado a superar a separação, era muito complicado para ela, estava acostumada com Fernando e demorou para entender quando que o casal desaprendera a viver juntos, mas devagar e com o tempo foi tomando as rédeas da sua vida. Conheceu outras pessoas, porém achava que tudo era muito recente para tentar algo sólido novamente. A viagem para Paraty era uma confirmação que ela tinha superado o término daquele relacionamento que tinha durado sete anos, ela estava adorando a cidade, conseguia escrever com facilidade, ela sentia que estava voltando a ser feliz e o principal estava em paz.

Tabata tinha voltado a trabalhar com eficiência e estava contente com sua produção nos últimos dias. O seu novo livro ganhava corpo, os capítulos surgiram sem muito esforço, sempre que enviava alguma poesia ou algum outro texto para o seu editor a resposta era positiva e Fábio estava aprovando tudo que ela escrevia, se continuasse naquele ritmo entregaria a obra antes do prazo.

 A recuperação do seu tornozelo foi excelente, sentiu dor somente no dia da torção, estava andando normalmente e usou a faixa elástica apenas por três dias.

Já tinha dois dias que não encontrava com Edwiges e para sua alegria soube que à noite a morena faria uma apresentação. Ela estava ansiosa, chegou ao restaurante bem antes do horário e não tirava os olhos da porta. Quando a morena entrou, Tabata acenou e a outra foi em sua direção.

- Tabata, boa noite! Tudo bem?

- Edwiges, boa noite! Tudo sim e você como vai? (elas se cumprimentaram com beijo no rosto e um abraço).

- Também estou bem. Então você já tirou a faixa do tornozelo.

- Sim, retirei hoje pela manhã e a recuperação foi ótima.

- Fico feliz. Vamos jantar?

- Vamos sim.

- Acho que tem uns dois dias que não nos encontramos e eu queria te entregar isso (falou Edwiges retirando um papel do bolso e entregando na sequência).

- Você não se esqueceu do que me prometeu (disse feliz lendo o papel).

- E até listei alguns passeios para nós, se você quiser podemos começar amanhã mesmo.

- Eu topo!

- Então amanhã depois do almoço eu te aguardo na recepção.

- Combinadas.

As duas jantaram e planejaram os passeios que fariam juntas. Em seguida Edwiges tocou e cantou. Novamente Tabata adorou e ficou maravilhada com a apresentação.

- Edwiges admiro muito seu talento, sua voz é perfeita e você é encantadora.

- Tabata deixa disso, é só um hobby mesmo, não tem nada demais.

- E além de bonita e talentosa, você ainda é humilde, como pode isso?

- Ruiva e você é um amor de pessoa.

- Posso te morder e te beijar? (perguntou Tabata aos risos).

- Que tal num local mais reservado? (questionou Edwiges rindo muito).

- Somos duas palhaças né

- Sim, duas bobas. Tudo certo para amanhã?

- Claro e estou empolgada.

- Então até amanhã, tenha uma ótima noite!

- Muito obrigada. Boa noite para você também e bom descanso.

 

As duas despediram-se, Tabata foi para o seu quarto feliz e Edwiges foi para a sua casa pensativa e esperançosa.

 

Tabata pegou seu notebook para escrever e notou que tinha um novo e-mail da sua irmã.

 

De: Tatiana Fyonjy

Para: Tabata Fyonjy

Assunto: Saudades e notícias

 

Olá! Irmã, tudo bem?

Minha linda e a vida por Paraty vai bem? Já conheceu vários locais?

Estou com saudades e lembre-se de mandar notícias. Eu ainda estou em Portugal e quero logo partir para outro local, você sabe que sou inquieta e já estou ficando entediada. Tenho uma novidade, conversei com o pessoal da agência e vou conseguir tirar uma semana de folga. Quero aproveitar para ir te visitar e também para ver nossos pais. Ainda não tenho datas, mas eu te aviso com antecedência. Um grande beijo! Tati.

Depois de ler ela começou a responder rapidamente, tinha ficado muito feliz com as notícias.

 

De: Tabata Fyonjy

Para: Tatiana Fyonjy

Assunto: Re: Saudades e notícias

Tati!

Que notícia maravilhosa, amei a novidade e espero que você consiga vir logo.

Fiquei muito feliz com seu e-mail. Eu estou bem. Você não vai acreditar, dia desses torci meu tornozelo, essas pedras daqui são um perigo, mas não foi nada grave e já estou 100%. Lembra da cantora que comentei? Então ela que me socorreu, descobri que ela também é dona daqui da pousada que estou hospedada e nós duas nos tornamos amigas. A cidade é de fato maravilhosa, estou produzindo bastante e tem sido muito bom. Beijos

 

Tabata foi dormir muitíssimo feliz, em breve receberia a visita da sua irmã e no outro dia passearia junto de sua nova amiga.

Edwiges demorou para dormir, uma certa ruiva de cabelos longos e olhos claros não saia da sua mente. Ela começou a notar que estava ficando muito interessada, não imaginava como seria o passeio e a ansiedade se fazia presente. Não sabia nem mesmo se Tabata também gostava de mulheres, ficou insegura e com receio de ser rejeitada. Adorava conversar com a ruiva, cantar para ela e há muito tempo não se sentia tão bem.

Já era madrugada quando Edwiges conseguiu dormir e no outro dia acordou tarde. Logo que levantou tomou banho, escolheu um macacão jeans para vestir, se arrumou, calçou um all star e foi para a pousada.

A manhã para Tabata não passava e ela não via a hora da tarde chegar. Estava tão ansiosa que perdeu a concentração diversas vezes, não conseguiu escrever nada. Optou por usar uma rasteirinha fechada, um vestido de tecido leve e estampado. Pegou sua pequena bolsa e o óculos escuro. Almoçou e ficou na recepção aguardando.

- Boa tarde! (falou Edwiges indo de encontro com a ruiva).

- Boa tarde! (respondeu Tabata beijando e abraçando a outra).

- Já esta pronta? Podemos ir?

- Sim! Vamos.

As duas entraram no carro e Edwiges deu partida.

- Hoje vamos para onde?

- Pensei nos três primeiros itens da lista, pode ser?

- Claro! (afirmou pegando o papel de dentro da bolsa) Então o nosso primeiro destino é o Centro histórico?

- Não nesta ordem, inicialmente o terceiro item, depois o segundo e por último o Centro histórico.

- Entendi então começaremos pelo Alambique da Cachaça Coqueiro. Correto?

- Exatamente. E você já conhece alguns destes locais da lista?

- Não. Andei por algumas ruas do centro, mas nem cheguei a ver tudo e é a primeira vez que viajo para Paraty. Também nunca fui em uma cachaçaria.

- Ótimo, então vou te levar para conhecer todos estes locais.

- Você acredita que fiquei ansiosa e até sonhei contigo na noite passada?

- Sério? O que você sonhou? Fiquei curiosa.

- Eu só lembro que estávamos em uma praia linda e caminhávamos juntas admirando a natureza.

- Confesso que não será difícil realizar seu sonho, o que mais tem por aqui são praias bonitas.

- Eu estou adorando a sua cidade.

- Que bom. Tabata, quantos anos você tem? Isso se você quiser responder.

- Claro que respondo já somos amigas e eu não ligo para isso de idade, tenho 24 anos e você?

- Eu sou mais velha, tenho 26.

- E você namora ou esta solteira?

- Sou viúva.

- Nossa Edwiges, desculpa se fui indelicada (falou receosa).

- Tabata, tudo bem, sem problemas. Têm uns três anos que a Sophia faleceu vítima de um câncer e o tempo ameniza a dor.

- Você é lésbica?

- Sou sim.

- Nossa eu nem imaginava.

- E você namora ou é solteira?

- Eu sou separada. Eu e meu ex-marido nos separamos tem uns dois anos.

- Já superou a separação?

- Sim superei, sofri no começo também foram sete anos de relacionamento, só de casamento quatro anos.

- Bastante tempo deve ter sido bem complicado.

- Foi sim, mas acabamos perdendo o interesse um no outro e eu acho que era mais paixão sabe, começamos a namorar na adolescência, ai quando chegou à fase adulta tudo foi mudando.

- E ele também superou?

- Sim e bem mais rápido do que eu. O Fernando casou novamente e já tem um filho.

- Entendi e vocês também tiveram filhos juntos?

- Não, eu descobri depois de dois anos casada que sou infértil.

- Foi um dos motivos da separação?

- Na realidade não, logo que descobri fiz tratamento e como éramos amigos conversávamos bastante, até mencionamos que mais para frente poderíamos adotar só que o casamento acabou antes disso.

- Sophia também falava em adoção antes de descobrir a doença.

- Nossa deve ter sido bem traumático para você.

- Foi sim e quando surgiu o problema ela passou por várias cirurgias, tentamos de tudo, porém a metástase foi aguda e ela não resistiu.

- Desculpa é que sou bem sensível, você se importa se mudarmos de assunto? É que já estou ficando deprimida e sinto muito por tudo que você passou.

- Obrigada! Vamos mudar de assunto sim porque eu já estava ficando melancólica. Como vai seu livro?

- Vai muito bem. Eu estava com muita dificuldade para escrever, então o Fábio meu editor, sugeriu uma viagem para buscar inspiração e segundo ele fugir da rotina me faria bem. Foi batata, ele acertou, se eu continuar neste ritmo termino o livro antes do prazo.

- Tabata que bom! Então Paraty tem te ajudado.

- Sim e muito.

- O papo foi tão bom que chegamos até mais rápido. Seja bem-vinda ao Alambique da Cachaça Coqueiro.

As duas passearam por todo o alambique conheceram a produção da cachaça e ainda provaram um dos diversos tipos da bebida. Na loja Tabata comprou uma garrafa para presentear seu pai. Após umas duas horas visitando a cachaçaria elas decidiram retornar.

- Que local bonito e quanta história.

- O mais bacana é que as outras gerações deram continuidade.

- Verdade, muito bom quando os herdeiros conseguem manter os negócios da família.

- Agora eu vou te levar para conhecer a Casa da cultura de Paraty.

- Lá vamos nós então. Edwiges você gosta de camarão?

- Sim, eu adoro.

- A noite podemos comer algumas porções? Estou com vontade, mas não queria comer sozinha.

- Claro que podemos, depois de passearmos pelo Centro histórico, te levo em um barzinho bem legal e podemos jantar por lá.

 - Obrigada! E amanhã qual será nosso destino?

- Que tal passeio de escuna e mergulho em aquários naturais?

- Eu vou amar.

- Amanhã precisamos sair mais cedo. A escuna sai do final do cais às onze horas, então precisamos deixar a pousada por volta das nove e meia e nosso retorno será no final da tarde.

- Então amanhã às nove e meia estarei a sua espera na recepção.

- Prontinho, eis a Casa de Cultura, vamos lá?

- Vamos sim. Que fachada bonita, gosto muito destes edifícios históricos.

- Este espaço é lindo, todo administrado pela comunidade e o local é responsável por preservar e divulgar a história da cidade.

As duas passearam pelo local, visitaram exposições, admiraram os trabalhos artesanais, tomaram um café na Cafeteria do espaço cultural e depois começaram a passear pelo Centro histórico.

- Tabata, por favor, muito cuidado com as pedras. Você não pode se machucar novamente.

- Pode deixar, serei cuidadosa e não vou me distrair. Estamos só no terceiro item da nossa lista e eu preciso estar bem para passearmos.

Com cautela as duas caminharam devagar pelo Centro histórico, passearam bastante e depois retornaram para o carro.

- Tabata, o Centro histórico de Paraty é considerado pela UNESCO como o conjunto arquitetônico colonial mais harmonioso.

- Muito justo e é um dos mais belos patrimônios nacionais.

- Concordo. O barzinho que nós vamos é bem próximo da pousada, você bebe?

- Bem pouco e você?

- Também bebo bem pouco, podemos tomar um drink juntas?

- Sim, claro que podemos.

- Então acho melhor deixar o carro na pousada, você se importa de ir a pé? É muito próximo.

- Eu não me importo. Já que vamos para a pousada vou aproveitar para tomar um banho, você me espera?

- Espero sim e farei o mesmo, também vou tomar uma ducha.

As duas chegaram na pousada, cada uma foi para um quarto e em quarenta minutos saiam novamente.

- Edwiges você fica muito bem de vestido.

- Obrigada! Você também e sempre te vejo com um vestido mais bonito que o outro. Você tem bom gosto.

- Muito obrigada!

Tabata usava um vestido tomara que caia amarelo claro e uma rasteirinha. Já Edwiges estava com um vestido longo e solto na cor azul. Elas caminharam até o barzinho e sentaram em uma das mesas que estavam vagas.

- Hoje tem música ao vivo?

- Sim. Um grupo vai tocar pop rock.

- Preferia uma apresentação sua.

- Ganhei mesmo uma fã?

- Não tenha dúvidas. Vamos pedir a porção?

- Sim (confirmou chamando o garçom).

- Boa noite! Já escolheram?

- Boa noite! Por favor, uma porção grande de camarão, eu quero também uma caipirinha de saquê sabor kiwi e você?

- Eu também quero uma caipirinha de saquê sabor morango.

O garçom anotou os pedidos e deixou a mesa.

- Você vai gostar do repertório musical amanhã na escuna.

- Você que vai cantar e tocar?

- Não. Um amigo meu que só canta MPB que se apresenta por lá.

- Entendi você comentou mesmo que só toca na pousada.

Logo a porção e as bebidas chegaram. Elas comeram e beberam, enquanto conversavam sobre o trabalho de Tabata como escritora. Depois que a música começou, elas trocavam poucas palavras, pediram uma porção de fritas e cada uma bebeu outro drink.

Quando a banda terminou de tocar, colocaram música sertaneja e um rapaz tirou Tabata para dançar. Edwiges não tirava os olhos dos dois e percebeu quando o homem tentava algo com a ruiva. Ela pegou as comandas foi até o caixa, pagou e quando estava saindo sentiu seu braço sendo puxado.

- Edwiges já vai embora? Por que não me chamou?

- Eu não queria te atrapalhar, já paguei nossas comandas e eu já vou indo.

- Não precisava pagar, eu que convidei, eu vim contigo e vou embora com você.

- Ainda esta cedo, vá se divertir e volte a dançar.

- Você chama aquilo de dança? Ele estava pisando no meu pé e você nem me salvou daquele sem noção (reclamou fazendo bico).

- Nossa eu não tinha percebido, tudo bem com seus pés?

- Tudo sim, só levei alguns pisões. Vamos então?

As duas caminharam em silêncio até a pousada, quando chegaram despediram-se e Edwiges resolveu dormir na pousada mesmo, já que no outro dia sairiam cedo para passear de escuna.

Fim do capítulo