Psiquiatras
São Paulo, 11 de janeiro de 2016. 17h30mim
Tenho minhas ressalvas quanto a médicos. Não gosto.
Mas como nem tudo na vida é como nós queremos, tive que me acostumar.
O primeiro psiquiatra que conheci me atendeu no pronto-socorro do Hospital Vila Celeste e me tratou como se eu estivesse ali apenas para conseguir um atestado médico.
A segunda psiquiatra me atendeu já no ambulatório e foi bastante boazinha. Boazinha - o que significa que me tratou como uma boba. Falou comigo como quem fala com uma criança: "Vai ficar tudo bem, sim? Eu prometo que vai!".
O terceiro psiquiatra foi o que me internou e eu não tenho muitas lembranças dele porque estava chorando muito, confusa demais para perceber qualquer coisa.
Com o psiquiatra da internação eu aprendi a lidar. Descobri, com o passar dos dias, exatamente o que ele queria ouvir.
Rogério era o nome dele e ele era completamente antimanicomial. Eu também sou. Logo que retomei um pouco da minha consciência, dois ou três dias após a entrada no hospital, já sabia que precisava sair. É completamente errado tomar banhos em banheiros sem trinco na porta. Percebi que não precisavam nos conter na cama porque já nos continham com a medicação.
E percebi também que meu novo psiquiatra não gostava de nada daquilo. Ele também achava tudo aquilo errado e mantinha as doses da minha medicação as mais baixas que podia.
"Doutor Rogério, eu percebi que é bom estar aqui. Mas que minha vida está lá fora. Aqui eu estou protegida, tranquila, mas meus problemas estão lá fora esperando que eu saia para resolvê-los. Eu acho que estou pronta pra ir."
E ele concordou.
(Meu analista só concordou porque eu continuei a terapia com ele do lado de fora.)
Conheci outros dois psiquiatras no pronto-atendimento, mas não dei continuidade ao tratamento com eles devido à distância.
Mas a minha nova psiquiatra, a que conheci hoje, me tratou igual gente.
Sinto falta disso, sabe?
Ela olhou pra mim e me enxergou. Doutora Thaís me tirou todas as dúvidas.
Explicou que é absolutamente normal que eu não sinta vontade de fazer sex*, porque um dos meus remédios é o que mais tira a libido, e se comprometeu a trocar a medicação.
Deixou que eu decidisse diminuir a dose da quetiapina pela metade.
É disso que precisamos: que nos deixem participar das decisões sobre a nossa vida, que falem conosco como pessoas inteiras, que olhem nos nossos olhos e procurem nos ajudar de verdade.
Hoje estou grata e confiante.
Fim do capítulo
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Ana_Clara
Em: 18/02/2016
Eu realmente tenho vontade de entrar nessa história e ajudar a Betina, mas será que ela quer ser ajudada? Uma pessoa como ela apenas precisa de atenção e amor ou realmente ela tem um distúrbio e precisa de tratamento?
Resposta do autor em 24/02/2016:
Ela tem o distúrbio e precisa do tratamento. A questão é que apenas o tratamento não é suficiente para a cura.
É essencial que exista uma forte rede de apoio para as pessoas que lutam contra esses transtornos. Amor e atenção são muito importantes para a recuperação dessas pessoas.
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