Capítulo 20
Amélia
Estava alinhada nos braços de Elena pensando a respeito no que havia sonhado. Meu corpo já não doía tanto mas o cansaço era evidente, tive receio em adormecer novamente.
- A sua febre abaixo, o antitérmico fez efeito rápido. - conferindo o termômetro - Precisa dormir querida, você está cansada. - falou carinhosamente.
- Aquele pesadelo foi tão real - suspirei.
- Está com medo de tê-lo novamente?
Abaixei meu olhos envergonhada. Elena sorriu acariciando o meu rosto.
- Não tem que sentir vergonha, acredito quando diz o quão forte foi. - pensou - Deve ser efeito do cansaço acumulado, e o estresse emocional.
Assenti. Teria apresentação do meu TCC no meio da semana, a correria constante e o confronto com Esther tudo isso poderia ter causado tamanho estresse.
- Farei um chá de camomila para você, procure descansar.
- Obrigada.
- Agradeça mais tarde. - piscou, sorrindo sedutoramente.
***
Esther
Assim que retornamos Daniele estava deixando o escritório com Lúcia. Percebi que a conversa havia sido séria, imaginei o teor. A loira se despediu alegando que precisava resolver alguns assuntos. Conversei com Manuela combinando ir na manhã seguinte a sua casa, Lúcia precisava de companhia. Os gêmeos pediram para ficar pois queriam curtir a "tia" deles, Lúcia sorria concordando. Por sorte treinei muito com Victor, consegui tirar de letra e curtir aqueles pirralhos. Dormiram no antigo quarto de Eduardo, finalmente pude conversar com ela.
- Você vai mesmo seguir em frente com isso? - aceitei a xícara de café.
- Sim! Daniele aconselhou-me bem. - sentou bebericando da sua xícara.
- Mia ficara arrasada. - lamentei.
- Já está! Henrique mudou da água para o vinho. Em seis anos nem de longe é mais o pai e marido atencioso e presente. - suspirou - Tentei diversas formas de mudar a nossa situação, voltarmos ao que era antes mas ele simplesmente não consegue separar o que houve comigo no passado com o que Mia vive no presente.
- Sinto muito! - toquei a sua mão com carinho.
- Eu também! - passou a mão pelo pescoço como se procura-se algo - Ele está tendo um caso com Marjorie. - disse com um olhar vago.
- A mãe de Eduardo?! - assustei com a revelação.
Assentiu.
- Como descobriu?
- Faturas do cartão de crédito, as ligações, constantes viagens... Juntei os pontos. Não foi a primeira vez.
- É simplesmente inacreditável! - disse triste - Eduardo sabe?
- Não. Talvez desconfie de algo, mas dúvido que saiba, ou já teria questionado.
- Mia? - perguntei com receio.
- Nem sonha com isso.
- Meu Deus! Como será quando ela descobrir? - sussurrei para mim.
- Prefiro poupa-lá disso. Ela já se culpa pelas atitudes mesquinhas de Henrique, isso só pioraria o que restou da relação deles.
Mesmo entendendo não concordava. A reação de Mia poderia ser pior descobrindo por terceiros. Prestei atenção na expressão cansada de Lúcia, senti-me péssima por ter estado tão ausente em um momento tão delicado na mulher que criou como filha. Levantei abraçando-a, assim como ela fazia quando éramos crianças. Sorriu deixando-se envolver no embalo do meu abraço.
- Perdoe-me por ter cometido tantos erros, e consequentemente ter me afastado de vocês.
- A minha estrelinha voltou a brilhar! - brincou - Apenas faça a minha filha feliz! - pediu tocando o meu rosto com carinho.
- É o que eu pretendo! - sorrimos.
***
Depois de anos, pela primeira vez dei colo para aquela mulher forte esperando que adormecesse. Deixei o seu quarto com cuidado e fui tomar uma ducha rápida. Entrei no meu antigo quarto e tranquei a porta, encostei nela fechando os meus olhos e aspirando os vestígios de seu cheiro nele. Sorri olhando com carinho naquele lugar, aproximei da minha cama passando a ponta de meus dedos. Olhei por um instante a cômoda onde costumava ficar o retrato de mamãe. Pude ouvir as nossas risadas, e as nossas conversas. A saudade bateu forte. As imagens de nós duas brincando. Mia fazendo caretas e mostrando a língua para aborrecer-me enquanto eu me preocupava com ela. Nossas guerras de travesseiros. As noitadas com as meninas. Quando eu estava doente ou tendo pesadelo ela vinha no meio da noite e aconchegava em meu corpo cantarolando em meu ouvido. Aproximei de sua cama, pegando o travesseiro que havia usado, abracei aspirando o perfume de seus cabelos que estava impregnado nele. Deite-me em sua cama, o meu corpo relaxou, adormeci desejando voltar a ser dela.
"A brisa suave acariciava o meu rosto, fazendo-me despertar aos poucos. Me vi deitada em um campo florido embaixo de uma árvore. Sentei-me devagar ainda sonolenta. O pequeno riacho ao lado chamou a minha atenção, aproximei devagar. Pensei em já ter visto aquele lugar quando ajoelhei próxima a beirada. Levantei o meu rosto sentindo o calor do sol. Abri os olhos ouvindo o relincho de um cavalo. Do outro lado no topo do monte havia um cavaleiro de sobretudo negro e chapéu que cobria-lhe a face. O animal andava em circulos agitado e empinando muito. Mesmo não vendo o seu rosto, sentia o seu olhar. Uma ventania se fez presente, um arrepio intenso envolveu o meu corpo. Ouvi algo caindo na água, foi quando reparei no meu reflexo. Aproximei tendo os meus gestos emitados pelo rapaz de expressão triste. Seus cabelos eram um pouco mais claros que os meus, curtos e desalinhados. Sentia o meu coração acelerando. Levei a minha mão para tocar a água, quando o som estrondoso se fez presente. Assustei olhando para o monte, vendo o corpo do cavaleiro caindo. Meus olhos lacrimejaram e uma dor tão profunda atingiu a minha alma. Em um só fôlego gritei por ela."
- MIAA!!! - sentei na cama.
Ouvi as batidas na porta, chamando-me.
- Esther abra a porta! - Lúcia chamava - David corre até o meu quarto e pega a chave mestra, anda! Esther??
Olhei desnorteada sentindo fraqueza. Respirei fundo tentando controlar a minha respiração. A porta se abriu, Lúcia acolheu-me preocupada enquanto os meninos ficaram olhando-me assustados.
- Meus amores por favor, tragam um copo de água com açúcar.
Assentiram e foram rapidamente cumprir a tarefa.
- Estou aqui amor, respira fundo. - fechei os meus olhos, relaxando em seus braços.
***
Amélia
- Que foi? - questionei sem desgrudar os lábios do copo de suco.
- Nada! - sorria divertida.
Estreitei os olhos enquanto devorava os waffles, estava cheia de apetite.
- Fico feliz que tenha melhorado! - passou o dedo no cantinho da minha boca, retirando um pouquinho da calda - Percebesse pelo seu apetite voraz. - insinuou ch*pando o dedo.
- Mulher não me atente! - sorri, terminando de comer.
- Eu só não espalho essa calda pelo seu corpo, e devoro-te aqui mesmo por que eu tenho planos para nós. E isso exige que você esteja inteira! - acariciou a minha perna.
- O que está pretendendo Elena? - olhei curiosa.
- Termine o seu banquete minha morena, e deixe o resto comigo. - piscou dando-me um selinho e saindo em seguida.
***
Antes de deixar Elena fazer o que planejava, fomos nos despedir de Daniele que voltaria para o Rio de Janeiro. Não sabíamos quando nos viríamos novamente já que estávamos no final dos cursos e as provas finais chegando, o seu foco era passar no OAB. Trocamos um abraço apertado desejando boa sorte. Assim que o avião de Dani decolou fizemos uma pequena viagem até a estância "Recanto Azul" fiquei feliz adorava aquele lugar.
- Como ele cresceu! - toquei o potro negro - Será tão belo quanto Trovão! - sorri para o animal.
- Dê um nome - Elena estava abraçada a minha cintura, sorrindo para nós.
- Sério? - assentiu.
Olhei em seus olhos tão negro quanto a sua cor, sorri com o nome que veio em mente.
- Eros!
- Hmmm... forte e bonito, adorei! - indicou para o domador - Ponha nos registros. A partir de hoje ele será chamado de Eros, o corcel Montenegro! - falou orgulhosa.
- O QUÊ?
- Isso mesmo querida. - sorria tranquilamente - Ele é o meu presente para você.
- Eu não posso aceitar!
- Claro que pode, e deve! Já está em seu nome.
- Eu não preciso ser comprada Elena! - soltei dela e caminhei até o chalé.
***
Mesmo adorando a surpresa eu não podia aceitar e também não havia gostado do jeito que ela impôs "o presente". Envolveu a minha cintura beijando as minhas costas, por um instante pensei em Esther virei sentindo desconforto.
- Não gostou dele? - falou preocupada.
- Dele eu gostei! O que eu desaprovo foi o jeito que você impôs o presente. Nem sequer perguntou se eu aprovava isso.
- Quis fazer uma surpresa. - olhou-me triste - Você estava tão empolgada e envolvida com a criação que fazemos aqui, não vi mal em presentea-lá. - falou sincera.
- Mas Elena será que não percebe que não é um presentinho comum? - passei as mãos em meus cabelos - Eu não tenho condições de custear a criação desse cavalo, mesmo que eu tivesse, ele é filho de um campeão, vale uma pequena fortuna.
- Sua única preocupação deve ser apenas vir vê-lo e montá-lo!
Suspirei andando pelo quarto. "Como fazê-la entender que a rica aqui é ela?!".
- Elena eu não vou aceitá-lo.
- Está deixando o seu orgulho falar!
- E você está simplificando as coisas.
Elena respirou fundo, e foi até o escritório trazendo um pasta em mãos, entregando-me. Folhiei reconhecendo o conteúdo. Era um manuscrito de um projeto que eu havia comentado com ela, olhei sem entender.
- O que significa isso?
Sorria divertida.
- A minha outra surpresa. Tem em mãos a renda que pode custear os cuidados do animal, e além. Termine o relatório. - sentou-se cruzando as pernas.
Respirei fundo e li com atenção cada parágrafo. Sentei na cama digerindo tudo.
- Nunca imaginei que você fosse tão ardilosa.
Sua risada gostosa ecoou pelo quarto, aproximou-se sentando ao meu lado.
- Eu diria empreendedora. - tocou a minha face - Sempre soube que você tinha um futuro brilhante. E isso... - indicou os papéis - e somente uma prova de tantas outras que está indo pelo caminho certo. - olhava-me orgulhosa.
- Quando iníciou o projeto?
- Assim que averiguei os pós e contras. Está sendo aplicado na fazenda principal e em breve iniciaremos no hotel fazenda.
Era muita informação de uma só vez. Aquele pequeno projeto era um rascunho de alternativas bio sustentáveis, agora entendia por que ela questionava tanto.
- Meus advogados já estão com os papéis prontos para você verificar se o valor está de acordo com o retorno que isso está gerando.
Não sabia o que dizer estava processando tudo. Olhei para Elena que sorria se deliciando com as minhas reações. Pensei em tudo o que até então fez por mim. Os seus cuidados, a sua dedicação, os puxões de orelha, e mais uma vez me surpreendendo. Percebi pela primeira vez que ali estava alguém que eu poderia me apaixonar.
- Então... quando vou poder montá-lo? - brinquei quebrando o clima.
- Assim que eu te ensinar como uma verdadeira amazona monta. - aproximou tirando a documentação das minhas mãos.
Deitou-me montando em meu ventre. Naquela tarde permiti ser amada por ela.
***
Esther
Bati os meus pés impaciente faziam dois dias que tentava entrar em contato com Mia e nada dela. Não tive mais pesadelos. Tentei desenhar o rosto daquele rapaz mas nunca ficava claro, aquele sonho era perturbador. Vi quando Manuela respondeu um sms, olhando-me em seguida. Não perdi mais tempo sai indo até o seu apartamento. Manu custou em alcançar-me alegando que eu não teria permissão de subir. Na portaria falou rapidamente com o rapaz que liberou a nossa entrada. Manu piscou e ficou entretida olhando um rapaz que conversava no celular, foi assim que a vi antes da porta do elevador fechar. Minhas mãos suaram, respirei fundo e bati suavemente em sua porta. Meu coração acelerava em ansiedade. Meus olhos vagaram rapidamente por seu corpo coberto por um roupão. Os seus estavam surpresos, ficando aborrecidos em seguida. Nada disse somente deu passagem. Entrei percebendo que havia mudado várias coisas do apartamento que ajudei a decorar.
- Seja rápida! - exigiu cruzando os braços.
O jeito que estava me tratando e o seu olhar frio, fiquei desnorteada. "Foco!" Pensei rápido.
- Sinto muito! - olhou-me confusa - Eu sinto muito por tudo! Você está completamente certa! Durante esses anos eu pensei somente em mim. Fui muito egoísta, prepotente, e muito preconceituosa. - pausa - Quando aquele homem te agrediu fiquei com tanto medo em te perder que achei que seria melhor vivermos o nosso amor em segredo sem que alguém pudesse maculá-lo com o seu ódio.
Ela analisava as minhas palavras com cuidado, conhecia o seu jeito. Tentei aproximar mas levantou a mão indicando para eu ficar onde estava, prossegui:
- Mas fui eu que acabei o maculando com o meu medo, e incertezas. - sentia a minha voz embargando diante da verdade - Estava tão cega que te magoei inumeras vezes sem me dar conta. Você precisou sair da minha vida para que eu enxergasse todos os erros que cometi. - respirei fundo - Mia sem você a minha vida não tem sentido, eu apenas existo. Me deixa provar que eu mudei, que irei lutar pelo o nosso amor e enfrentar tudo com você ao meu lado. Preciso de você e do seu amor, eu não sei explicar mas sei que você também sente que o nosso amor vai muito além desse plano. Talvez de outras existências. A nossa conexão é muito forte para ser ignorada; isso vai além do que compreendemos. Por favor amor, me dá uma chance? Permita-me ser a sua esposa.
Ela pareceu surpresa por um instante, pressionou as mandíbulas falando:
- Então você soube... Bom isso já não faz mais diferença. - desdenhou.
Suspirou indo até o seu quarto, retornando em seguida com uma caixinha em mãos. Entregou-me prosseguindo:
- Pode ficar! - deu de ombros - Mantive como prova que eu pelo menos tentei de verdade, mas nunca fui o suficiente para ser a sua primeira opção. - sua voz estava abafada.
- Mia... - interrompeu-me.
- Agora por favor, vá embora! Estou cansada, e você já disse o que queria! - abriu a porta, sem olhar-me.
Jamais havia me tratado de maneira tão fria. "Isso não pode estar acontecendo!" Olhei para a delicada caixinha em minha mão, e fui em sua direção. Como não estava olhando-me não pode evitar o beijo que roubei. Pelo susto a princípio não correspondeu, invadi a sua boca buscando por sua língua. Aprofundei o beijo ao senti-lá suspirando em minha boca. Pressionei o seu corpo contra a porta, aproveitando que estava de roupão, posicionei minha perna entre as suas dando mais contato. Suas mãos ao mesmo tempo que tentavam me afastar, traziam o meu corpo para o seu envolvendo-me em um abraço apertado. A nossa sintonia é perfeita. Deixei a minha mão vagar saudosa por seu corpo que se arrepiava em contato. Gem*mos juntas ao sentir o quanto estava molhava, o seu beijo se tornou faminto. Os meus dedos entraram facilmente, o meu coração disparava a cada estocava que eu dava. "Como sentia falta do seu corpo, amor!" Fiquei emocionada quando gozou para mim. Sorri fisgando a sua boca, aquela era a prova que eu precisava. Foi tudo muito rápido, despertei com a porta batendo em minha cara. Levei um segundo para perceber o que havia feito, toquei a porta chamando-a:
- Mia?? - não houve resposta - Amor? - insisti por um tempo - Eu não vou desistir da gente! - bati na porta - Está ouvindo?!
Podia senti-lá atráves da porta, encostei minha testa nela. Queria dizer olhando em seus olhos, para que visse a verdade em minhas palavras.
- Eu te amo! Não desiste de nós Mia... Não desista do nosso amor! - implorei.
Deixei o meu corpo escorregar ficando sentada de costas para a porta, sem imaginar que ela fazia o mesmo.
“Amar não é desejar. É compreender sempre, dar de si mesmo, renunciar aos próprios caprichos e sacrificar-se para que a luz Divina do verdadeiro amor resplandeça.”
Chico Xavier
Continua...
Fim do capítulo
Próximo Capítulo: Decisões
Ótima semana meninas ;*
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lia-andrade
Em: 06/01/2016
Já estou ficando com pena da Esther.. já quero elas juntas.
Resposta do autor em 07/01/2016:
Mas já?? Rrsrsrs
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Ana_Clara
Em: 05/01/2016
Que 'Decisões' chegue logo, pois estou ficando desesperada junto com a Esther. kkkkkk Essa Elena consegue ser uma fofa, complicado! Será que ela demonstrará ser uma mulher do mal? Espero que não, assim a reconquista da estrelinha se torna mais gostosa. rsrsrs E essa cena do apartamento foi uma delícia, adorei!
Resposta do autor em 05/01/2016:
Rsrsrs
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