V- Eu não posso, mas eu quero e ela é uma mulher.
V- Eu não posso, mas eu quero e ela é uma mulher.
Estela chorava muito, chegou à sua casa e foi direto para o seu quarto. Não queria conversar com ninguém e precisava ficar sozinha. Ela se questionava: será que sou lésbica ou sou bissexual? Como não percebi? Por que ela se veste igual homem? Fiquei tão encantada que não notei que Alex é uma mulher.
Eu sempre beijei apenas homens, já senti atração por mulheres, mas nunca cheguei a me envolver com nenhuma e de repente em uma balada do nada acontece isso. Eu não posso, eu não sou assim, não saberia lidar com tanto preconceito, mas eu quero e ela é uma mulher.
Lembrar daqueles olhos claros, dos cabelos loiros, dos beijos e de todas as conversas, era uma tortura para Estela.
- Por isso que ela escreveu na mensagem duas (pensou Estela em voz alta).
Como sou lenta e tola. Claro que ela é uma mulher sempre toda atenciosa, a forma delicada que me beijava, o jeito carinhoso e ela me tratou diferente de todos os homens que fiquei.
Estela lutava consigo mesma, não estava brava com Alex, pois a outra não teve culpa alguma, o problema era com ela, que não notou o óbvio.
Durante a sua adolescência Estela se sentia diferente, mas sempre foi contida, cuidadosa com suas atitudes, ela olhava diferente para as mulheres, porém quando surgia algum interesse forte rapidamente fugia. Algumas noites até sonhava com algumas moças bonitas, mas logo espantava esses pensamentos. Até deixou de lado muitas amizades, pois tinha receio de misturar as coisas, procurava manter certo distanciamento do sex* feminino. Namorava e beijava exclusivamente homens, porém nunca se sentiu a vontade para se relacionar sexualmente com os rapazes que se envolveu. Ela não se sentia preparada e nenhum daqueles homens que conheceu despertou grandes desejos.
Estela preferia pensar que ainda não tinha conhecido o homem certo e depois daquela quinta-feira começou a acreditar que talvez Alex fosse a pessoa certa.
Quando entrou na faculdade sua curiosidade de saber como era beijar outra menina foi intensificada, ela morria de vontade, pensava sobre a diferença, mas nunca chegou a ter coragem, fugia de todas as oportunidades.
Em uma viagem que fez para o litoral com seus primos em uma das suas férias, há uns três anos atrás, ela conheceu uma moça muito interessante, lésbica assumida, que mostrou grandioso interesse nela. A atração foi imediata e em um lual, elas se divertiam, davam risada, brincavam uma com a outra, mas quando quase ocorreu um beijo, Estela foi estúpida, empurrou a outra e avisou que beijava apenas homens. Depois disso cada uma foi para o seu lado e Estela preferiu agir como se nada tivesse acontecido. Ela até evitava amizades com lésbicas, pois tinha receio de acabar cedendo em algum momento, tinha medo do desejo falar mais alto que a razão e tinha até mesmo pavor de acabar apaixonada por alguma mulher. Tinha como amigos mais próximos os homens, era este seu mecanismo de defesa e não se sentia segura próximo das mulheres, pois elas despertavam vontades que Estela não compreendia. Ela não era uma pessoa preconceituosa, aceita e respeita os homossexuais, só não queria para ela essa vida.
Seus pais lhe deram uma boa educação e imaginava que eles não aceitariam tranquilamente uma filha gay, nem mesmo ela se aceitava desta forma. Preferiu fugir ao invés de se aceitar.
Já tinha frequentado baladas LGBT antes, por duas vezes, sempre acompanhada de algum amigo da faculdade, ela observava quando duas mulheres se beijavam e admirava muito a cena, ficava encantada. Mas sempre procurava por algum homem hétero ou bissexual, nunca permitiu uma maior proximidade com as mulheres ainda mais naqueles ambientes.
Na última quinta aquele DJ tinha prendido sua atenção já quando tocava, depois quando ficou sozinha pensou em ir embora, mas já que estava ali mesmo resolveu beber um pouco e dançar. Ao ver Alex se aproximar ficou toda contente e achou que estava com sorte. Ela não parecia nada com Théo, se ele não tivesse contado jamais saberia que eles eram primos, mas e agora o que ela faria?
Estela se preocupa muito com o julgamento das outras pessoas, não estava disposta a enfrentar a sociedade e naquele instante percebeu que estava sendo preconceituosa consigo mesma. Ela não conseguiu almoçar, falou para sua mãe que estava com dor de cabeça e permaneceu sozinha no seu quarto o dia todo, por lá pensou excessivamente, chorou muito e acabou adormecendo.
Duas horas depois Estela acordou chorando, tinha sonhado com Alex, ela tinha voltado de viagem e elas se beijavam. Estela chorava por saber que não teria coragem para realizar tal sonho e seu sofrimento só aumentou quando leu o sms que tinha recebido.
Anjo, boa noite!
Tudo bem? Como foi seu dia?
“Estou morrendo/ De saudades de você/
Estou morrendo/ De vontade de te ver”.
Beijos, A.
Estela queria responder que também sentia saudades, queria contar como foi seu dia, gostaria também de saber se Alex estava bem e a vontade de ver a outra só aumentava. Porém ela não respondeu nada, não conseguia e para aumentar seu sofrimento Alex ligou. A cada toque do celular sua angustia só aumentava, o telefone tocava e seu desespero era ampliado e ela acabou desligando o aparelho.
Alex tinha despertado em Estela novos sentimentos e inúmeras dúvidas.
Descobrir um amor lésbico para algumas mulheres pode ser traumático. Infelizmente diversas questões complicadas podem ocorrer, como preconceito, repressão e fuga. Esse sentimento atormentava Estela que precisava entender o que estava sentindo, porém ela se cobrava muito, preferia fugir e manter uma vida de aparências.
O desalento de Estela se expandia, ela resolveu tomar um calmante e rapidamente adormeceu.
Em MG, Alex estava triste, pois não conseguia contato com Estela, ligou três vezes, mas o telefone só chamava e caia na caixa postal. Também não recebeu nenhuma resposta da mensagem que enviou e uma insegurança começou a atormentar a loira.
Seu celular tocou e ela correu para atender, imaginando que fosse Estela. Mas na verdade era seu primo ligando.
- Alô!
- Prima, boa noite! Tudo bem?
- Théo, tudo sim e com vocês?
- É... também. Você esta em casa? Podemos passar ai para conversar?
- Eu estou em MG.
- Poxa, sério que você não esta em São Paulo?
- Eu vim trabalhar, mas amanhã já retorno.
- Você chega que horas?
- No período da tarde já estarei em sampa. Mas aconteceu alguma coisa?
- Então amanhã à noite nós vamos para sua casa e conversamos ok?
- Ok! Mas agora estou preocupada, algum problema primo?
- Eu prefiro falar contigo pessoalmente, amanhã nos falamos com mais calma.
- Tudo bem, até amanhã então e fica bem.
- Fica bem você também. Um beijo e eu te amo!
- Também te amo! Beijos
Alex desligou e ficou confusa, o que será que aconteceu? Estou sem sorte hoje, Estela não me atende e nem mesmo responde minhas mensagens. Théo me liga todo estranho. Quero voltar logo para SP.
Antes de dormir Alex mandou uma nova mensagem para Estela.
Anjo, boa noite!
Tentei te ligar algumas vezes, mas minhas ligações não completaram.
Espero que você esteja bem. Amanhã no período da tarde já estarei em SP.
Bom descanso e estou com saudade.
Beijos, A.
Na terça-feira Estela não foi para a faculdade, estava muito triste e perturbada. Falou para sua mãe que não estava bem para ir à aula e que o seu desempenho na matéria daquele dia era muito bom. Antônia percebendo a tristeza e angústia no rosto da filha nada comentou.
Estela tentou se distrair a manhã toda, aventurou-se nas leituras, mas não conseguiu ler nada e acabou sem compreender as palavras. Começou assistir um filme, porém logo apareceu um casal, o que a deixou deprimida. Também tentou ouvir músicas, mas a todo o momento lembrava-se de Alex.
Logo depois do almoço resolveu ir ao Parque Ibirapuera, tentou se convencer que na última quinta estava bêbada, mas sabia que na realidade tinha bebido pouco. Sempre preferiu tomar suco ao invés de bebidas alcoólicas.
No parque passeou por meia hora, o ar livre lhe fazia bem, decidiu visitar o museu e ao sair notou um casal, observou com admiração as duas lésbicas, ficou apavorada, saiu dali correndo para o seu carro e foi direto para sua casa.
Já no seu quarto voltou a chorar, a cada lembrança de Alex seu desespero amargava no seu íntimo. Não teve nem mesmo coragem de ligar seu celular, tinha receio das mensagens e principalmente das ligações.
Era um martírio toda aquela nova situação, justo ela que sempre buscou escapar de situações que colocavam em dúvida sua sexualidade, ela desacreditava de tudo aquilo e tinha esperança de acordar daquele pesadelo.
No horário do jantar seus pais acharam melhor respeitar o silêncio da filha, que comeu pouco e correu para o seu refúgio.
Após molhar a fronha do seu travesseio com muitas lágrimas, Estela adormeceu com excessiva tristeza.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Lea
Em: 20/08/2022
Estela fala que : " Seus pais lhe deram uma boa educação,imaginava que eles não aceitaram tranquilamente uma filha gay"! O preconceito velado e enrustido!
Não consigo entender esse preconceito sem fundamento que,os seres humanos tem uns contra os outros! O que ser gay implica com a educação em si? (Louco e estranho isso)
*
A aceitação da própria sexualidade é difícil.
Experiência própria.
Me privei por muito tempo da minha própria felicidade. Me aceitei já tinha 31 anos,hoje com 38 anos sou bem resolvida!
Resposta do autor:
Lidar com o próprio preconceito é complicado, eu demorei para me entender, acabei me machucando no processo e fui tirada do armário a força. Nada simples.
rhina
Em: 17/06/2016
Oi.
May.
Então a Estela sempre teve dúvidas sobre sua sexualidade. Pior nunca se aceitou.
Situação conflituosa e difícil.
Doe... angustia... deprime...
Confuso.
Beijos.
Mais uma vez autora me diz... realmente os beijos entre duas mulhere são extremamente diferentes em comparação aos entre um homem e uma mulher?
Resposta do autor:
Olá!
Toda cheia de dúvidas nossa personagem, bem complicado para ela.
Respondendo: no meu ponto de vista sim, muito diferente, eu particularmente não encontro comparações, algumas pessoas dizem que beijo é tudo igual e eu discordo, beijos são únicos e singulares, nunca serão iguais, e quando tem sentimento são incríveis.
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Silvia Moura
Em: 24/12/2015
Nossa...vai virar uma depressão... é o que dá deixar que todo mundo interfira nos seus pensamentos... vamos em frente...
Resposta do autor em 24/12/2015:
Silvia,
Obrigada pelo comentário e sim vamos em frente, em breve posto o VII.
Beijos e abraços, May.
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Catarina
Em: 23/12/2015
Meu deus quando a Alex voltar e descobrir o que se passa vai pirar, mas eu até tenho pena da Estela tá sozinha e não tem ninguém pra conversar, não é fácil. Adorandooo
Resposta do autor em 23/12/2015:
Olá! Catarina, no próximo Alex retorna.
Fico feliz por saber que você esta gostando.
Até breve! Beijos
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Mille
Em: 22/12/2015
Estela sofrendo sem ter ninguém para desabafar, é angustiante ela que sempre fugiu de qualquer atração por mulheres.
A Alex terá que ter muita paciência com ela, fiquei triste pela recusar da Estela em responder suas msg ou ligações.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor em 22/12/2015:
Olá! Mille, tudo bem?
Complicada a situação da Estelinha e a de Alex também não é nada fácil. Vamos ver como serão os próximos capítulos ;)
Beijos e até mais. May
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