Capítulo 9 - Desconstrução
- Sentiu saudades, sobrinha? Eu senti. Mas não irei matar as saudades hoje, quem sabe outro dia.
Theo se debateu o quanto pode, sua voz não saia, seu lado esquerdo estava parcialmente paralisado, não tinha forças, nem saída. Tentou buscar o botão que chamava atendimento, mas Elias segurou seu pulso com força.
- Está pensando que aqui tem botão azul? Esqueça, sua única chance de continuar viva é sendo uma boa garotinha, e me deixar fazer tudo que vim fazer.
Theo continuou se debatendo, em pânico. Elias usava roupas verdes de enfermagem, havia previamente adulterado as câmeras que podiam capturá-lo.
- Escute, vai ser rápido, só quero coletar seu sangue e sua medula óssea, por enquanto isso vai me bastar, mas eu volto outro dia para te buscar, você é uma garota preciosa. - Elias continuava segurando firmemente seu pulso.
- Posso te soltar? Colabore comigo e deixo você em paz em alguns minutos, eu prometo.
Theo balançou a cabeça, em positivo, sua mão tremia.
Elias colheu duas ampolas de sangue de seu braço, guardando cuidadosamente numa pequena maleta.
- Isso vai doer um pouco, mas você estará melhor amanhã. Consegue se virar? Preciso que fique de lado.
Theo virou-se com esforço, Elias tirou seu cobertor, baixando seu short e sua calcinha.
- Vou fazer uma punção na sua bacia, e remover um pouco de sua medula do interior do osso. - Elias preparava o local na lateral do seu corpo, um pouco abaixo da cintura. - Você vai ficar bem, não se preocupe, não lhe fará falta.
Theo se retraiu com a dor da grande agulha que lhe foi penetrada, até o interior do osso. Acoplou posteriormente uma seringa no encaixe do aparato da agulha, sugando lentamente um líquido viscoso avermelhado. Tentou gritar, mas não saia palavra alguma.
- É o suficiente. - Elias guardou também o conteúdo recolhido na maleta, a fechando. - Se eu fosse você, não contaria para ninguém que estive aqui, para sua própria segurança.
Theo voltou a posição inicial, Elias subiu sua calcinha, fazendo um gracejo malicioso.
- Se no nosso próximo encontro você estiver sem essa sonda urinária, acho que poderemos brincar um pouco. - Correu a mão por sua perna, subindo até seus seios.
Theo apenas respirava rápido, com um semblante de nojo e medo. Elias a cobriu, e saiu sorrateiramente, em silêncio, apagando a luz. Ela ficou ainda alguns minutos em choque, paralisada, não sabia o que fazer. Apertou o botão de emergência, quando a enfermeira chegou, fez o gesto com a mão que significa dor.
- Dor onde?
Theo descobriu-se, e mostrou a região onde havia sido perfurada.
- O que foi isso? - A enfermeira olhou de perto, sem entender. - Quem fez isso?
Ela saiu do quarto para chamar ajuda, quando voltou, encontrou Theo tendo uma convulsão.
Quando Sam chegou de manhã, lhe deu bom dia e um beijo na testa, mas Theo continuou dormindo. Sam logo começou a pintar ao seu lado, despreocupadamente. Assustou-se com a entrada afobada de Letícia no quarto.
- O que aconteceu com Theo? - Letícia a indagou, se aproximando da cama.
- Como assim? Ela está dormindo.
- Não, ela teve uma convulsão de madrugada, e apareceu com um furo na coxa.
- O que?? - Sam levantou-se abruptamente do sofá, descobrindo o cobertor de Theo. - Onde?
- Aqui. - Letícia mostrou o hematoma com a marca do furo no centro.
- Por que a furaram aqui? Eu não fui avisada desse procedimento. - Sam dizia irritada.
- Não sei, ninguém sabe de nada.
- Ninguém? Como ninguém? Que bagunça é esse hospital?
- Não foi ninguém do hospital, a princípio, eu li no prontuário que ela pediu ajuda de madrugada, disse que estava com dor e apontou esse furo, depois teve a convulsão.
- Ela teve uma convulsão?
- Você não sabia? - Letícia também estava agitada.
- Não, achei que estava dormindo. Temos que descobrir o que aconteceu, como pode essa menina aparecer com um furo no corpo assim do nada? E algo causou a convulsão, ela pode estar com alguma infecção!
- Fique aí, eu vou verificar, ok?
Uma hora depois, e nada de Letícia voltar. Sam andava pelo quarto, baratinada. Percebeu Theo de olhos abertos.
- Theo? Você está aí?
Theo balançou a cabeça negativamente.
- Me entende?
- Theo assentiu.
- O que aconteceu? O que aconteceu essa madrugada? - Sam tentava se controlar, para não a agitar.
Theo apenas moveu a cabeça para o lado, estava grogue por conta da convulsão.
- Amor, apenas responda sim ou não. Teve alguém estranho ou suspeita essa madrugada no seu quarto?
Theo ergueu o polegar.
- Essa pessoa estranha fez algo no seu quadril?
Ergueu novamente o polegar.
- Era alguém que trabalha aqui?
Theo negou.
- Era alguém que você conhece? Conseguiu identificar?
Theo concordou.
- Espera.
Sam colocou a tela sob sua mão, para que ela escrevesse.
Com dificuldade, Theo escreveu letra a letra.
"Elias"
Sam tomou um susto quando entendeu o que estava escrito, cobrindo a boca com espanto.
- Elias esteve aqui? Tem certeza?
Theo assentiu.
- Ele injetou algo em você?
Negativa.
- Por que ele te furou? Para te torturar?
Outra negativa. Theo estava sonolenta, os olhos queriam se fechar.
- Ok, descanse, Letícia já está verificando isso, vamos ver as imagens de vigilância e redobrar a segurança, fique tranquila, vou cuidar disso agora.
Theo procurou a mão de Sam, a segurando.
- Quer que eu fique?
Theo concordou.
- Eu ficarei, durma um pouco, eu prometo ficar o tempo todo aqui do seu lado, combinado?
Letícia retornou pouco depois, não trazia novidades.
- As câmeras foram desligadas, ninguém sabe o que aconteceu, só sabem que alguém coletou sangue e medula óssea.
- Medula?
- Sim, da crista ilíaca, na bacia. Quem faria uma maldade dessas? Isso dói pra caramba, geralmente é feito com anestesia geral ou epidural.
- Elias. - Sam ergueu a tela, mostrando o nome escrito.
- Você acha que foi ele?
- Theo me disse. Ela acordou ainda meio dopada, mas escreveu o nome dele na tela. Ele pode ter feito outras coisas com ela, temos que examiná-la.
- Ela já foi examinada, aparentemente foram apenas essas duas coisas, e o susto que essa menina deve ter levado. Mas por que raios esse louco quer sangue e medula de Theo?
- Lembra aquilo que eu falei sobre Theo ser um clone? Tem a ver com isso, mas é complexo demais para te explicar agora, e é melhor você nem entrar nisso, porque Elias é capaz de tudo, não quero envolver outras pessoas.
- Ok, ok, esse mistério de novo. - Letícia exasperou, e se atirou no sofá.
Sam continuava sentada na cadeira ao lado do leito, segurando a mão de Theo.
- Eu não quero sair daqui hoje, você pode me ajudar?
- Claro, vou tentar achar alguém para me substituir no plantão.
- Vou pedir para Claire aumentar a segurança. - Sam corria seus dedos pela testa e cabelos de Theo, a fitando. - E vou conversar com Doutor Franco, ele precisa fazer a cirurgia para que Theo recupere a voz.
***
Três dias após o incidente com Elias, e Theo voltava de uma nova neuro cirurgia, era esperada uma melhora não apenas na fala, mas também na mobilidade do lado esquerdo.
Letícia e Sam aguardavam que Theo acordasse, estavam espojadas no sofá cinza.
- O que você acha que será que primeira coisa que Theo vai falar? - Letícia perguntou, tentando espantar o sono.
- Fome? Café? Bife?
- É possível. Ou dor, ela ainda está com dor no local da punção que Elias fez.
- Nem me fale nesse homem. - Sam bufou. - Theo fica estranha quando toco nesse assunto, mas acho que ele a molestou, ou a ameaçou de algo.
- Pelas coisas que você me falou, eu não duvido. Sempre achei que esse tio Elias era um nojento, você precisava ver a forma como ele olhava para Theo.
- Ele frequentava a casa dela?
- Geralmente nas festas de família.
Theo acordou, se mexendo lentamente na cama.
- Bom dia, mocinha. - Letícia a cumprimentou, as duas se aproximaram do leito.
- É boa noite, Lê. - Sam a corrigiu.
- Nossa, é mesmo, eu nem percebi que havia anoitecido.
- Theo? Está aí?
A única reação de Theo foi franzir o cenho, parecia incomodada.
- Está com alguma dor?
- É a perna?
Theo apenas se mexia incomodada quando alguém falava algo.
- Tem algo estranho acontecendo. - Sam se dava conta.
- Ela está se irritando com nossa voz, venha aqui. - Letícia levou Sam para fora do quarto.
- O que você acha que aconteceu? - Sam perguntou, com preocupação.
- Talvez seja ainda efeito dos anestésicos, mas parece que algo deu errado.
- Precisamos falar com Doutor Franco. - Sam sacou o comunicador e tentou falar com o médico, mas não foi atendida, mandou uma mensagem.
- Nada?
- Vamos esperar ele responder. Se Deus quiser isso é apenas algo passageiro, daqui a pouco tudo volta ao normal.
O médico respondeu de madrugada, dizendo que iria ao hospital pela manhã. Quando chegou, ele a examinou, e suas feições não pareciam felizes com o resultado.
- Venham ao meu consultório. - O médico de cabelos grisalhos desgrenhados convocou.
As duas sentaram-se apreensivamente nas cadeiras em frente à mesa do médico, que conferia alguns exames em sua tela.
- Os nanobots agiram de forma desordenada, ainda não sabemos o que aconteceu. - Finalmente ele disse.
- Então não houve melhora?
- Na verdade houve uma piora, ela não consegue processar o meio externo, por isso fica agitada quando falam ao seu redor, ela ouve, mas não entende.
Sam correu a mão pelos cabelos, desapontada.
- Como isso pode ser possível? - Letícia se exaltava. - Vocês passaram dias e dias planejando essa cirurgia, e programando os nanobots, como pode dar tudo errado?
- Os engenheiros geneticistas estão verificando. - Doutor Franco dizia calmamente. - Confesso que nunca havia testemunhado tamanho problema com os nanobots.
- Espera... - Sam se dava conta de algo. - Os nanobots são programados baseados em que? No DNA de Theo?
- Sim.
- Deve ser isso. - Sam sacudia a cabeça. - O DNA dela é diferente.
- Como assim?
- Doutor, essa sala é um ambiente seguro?
- É sim, não há vigilância eletrônica aqui dentro. Mas o que você quer dizer com diferente?
- Não me pergunte como, mas Theo é um clone imperfeito, seu DNA é uma bagunça.
- Clone? A clonagem humana ainda é proibida na Nova Capital.
- Você sabe de quem ela é filha, não sabe?
- Isso explica várias coisas, Doutor Franco, inclusive o problema da imunidade e da coagulação. - Letícia completou.
- Digamos que isto seja verdade, onde está a original? O código original seria de grande ajuda, poderíamos programar os nanobots conhecendo o genoma original.
- Está morta. - Letícia respondeu desapontada.
- Mas eu sei onde estão os restos mortais.
- Onde?
- Lê, você iria comigo até lá? É em outro estado.
- Claro. Se for para consertar esse estrago, vou até a China plantando bananeiras.
Sam despediu-se de Theo no início da tarde, sem falar nada, para não a incomodar. Lhe deu apenas um longo beijo na testa, Theo seguia alheia ao mundo.
Duas horas depois, Sam e Letícia pousavam num luxuoso helicóptero da Archer na Ilha das Peças, com todas as credenciais e senhas necessárias para acessar aquela fatídica sala dos horrores. Era inevitável para Sam relembrar aquela noite de aventuras e revelações, a última antes do tiro.
- Letícia, acho que não tenho como preparar você suficientemente para o que você verá aqui dentro, é perturbador, o que eu vi aqui me assombra até hoje.
- Então você já esteve aqui?
- Eu e Theo, mas não posso me alongar nesse assunto. Além dos restos mortais numa gaveta, você verá cinco tubos com os clones de Theo, então prepare-se.
Entraram na sala fria sob os olhares dos seguranças, mal fecharam as portas e Letícia exclamou um grito assustado.
- Eu avisei que era perturbador. - Sam evitava olhar diretamente para os clones.
- Meu Deus... Estão todas vivas?
- Sim, e estou esperando Theo ter condições de conversar para decidirmos o que fazer com essas irmãzinhas.
Letícia andava pela sala, olhando cilindro por cilindro, boquiaberta.
- Você acha que elas sobreviveriam fora dos tubos?
- Acho que não, elas são mais defeituosas que Theo. - Sam respondeu.
- Você consegue se imaginar cercada por seis Theos? - Letícia riu.
- Acho que me apaixonaria por todas. - Sam também riu, quebrando o clima inicialmente tenso.
- Ok, vamos ao que viemos fazer, estou incomodada com esse monte de Theos nuas ao meu redor, onde fica a gaveta?
Sam foi até o final da sala, abrindo a gaveta que parecia um cofre. Ambas removeram o conteúdo que estava dentro de uma caixa acrílica. Guardaram em uma maleta térmica rapidamente, estavam desconfortáveis manuseando aquele pequeno cadáver.
- Tem algo mais aqui. - Letícia percebeu.
- É uma flash, deve ter informações importantes aqui dentro. - Sam abriu uma caixinha onde havia um pequeno chip.
- Vamos levar também, talvez tenha informações sobre o genoma original e sobre a clonagem.
- Ãhn, ok. - Sam guardou no bolso.
- Sam, você pode me responder uma coisa? - Letícia a fitava, pensativa.
- Não prometo responder.
- Por que isso tudo? - Ela correu a mão pelo ar, se referia aos clones.
- Ganância, Lê. Pura ganância do senhor Benjamin Archer.
- Uma pena você não ter conhecido seu sogro, era um amor de pessoa.
- Sério?
- Claro que não, Ben era um babaca egoísta. Vamos sair dessa sala, está me dando calafrios.
Enquanto voavam de volta para San Paolo, Sam resolveu verificar o conteúdo da flash com seu comunicador.
- Está criptografado. - Letícia percebeu.
- Espera, fiz alguns amigos no setor de TI da Archer. - Sam digitou algumas coisas no comunicador. - Pronto, agora é só esperar.
Onze minutos depois.
- Pronto, está decodificado. - Sam começava a ler as informações. - Eu sabia, eu sabia!
- O que?
- Todas as 14 crianças nasceram por cesariana no dia 17 de abril de 2098.
- Faz todo sentido.
- O que faz sentido?
- Você nunca desconfiou de nada? Faz muito mais sentido Theo ser ariana, ela não tem nada de peixes, ela tem toda aquela impulsividade e tal.
- Podemos voltar ao que realmente importa, ou quer conversar sobre astrologia?
- Prossiga.
- Imogen foi a barriga número 13, tem um parêntese ao lado de seu nome, "neutralizada", tem o nome das outras mães aqui, e quatro delas também tem essa observação ao lado. - Sam ia narrando.
- Você acha que neutralizada quer dizer...
- Sim, queima de arquivo. - Sam disse de forma séria.
- Então restam nove mães vivas, você quer tentar localizá-las?
- Não vejo utilidade no momento, vamos focar nessa questão do genoma, acho que já temos tudo que eles precisam para uma nova cirurgia.
- Mas talvez essas mulheres corram risco. - Letícia disse.
- Eu sei, e acho que Benjamin matou Imogen por conta disso, talvez ela estivesse ameaçando contar o que sabia sobre esse projeto.
- Hum.
Chegaram a noitinha em San Paolo, entregaram tudo ao setor responsável no hospital, Sam foi para casa, e Letícia para um plantão.
A nova cirurgia seria em quatro dias, no sábado à noite Letícia e Daniela visitaram a mansão de vidro, as três se reuniram ao redor da piscina, onde bebiam e conversavam descontraidamente.
- Como você aguenta morar com esse porco chauvinista? - Daniela indagou Sam, estavam nas espreguiçadeiras.
- Não é tão ruim assim, Mike é boa companhia na maior parte do tempo.
- Eu não consigo acreditar nisso, mas tudo bem, você namorou com ele por oito anos, deve estar anestesiada para tanto preconceito e machismo.
- Porque já fui como ele, então sei como a mente dele funciona. - Sam explicava.
- Você ainda tem muita coisa conservadora aí dentro, Samantha. Já tive vontade de te pegar pelos ombros e te sacudir algumas vezes. - Letícia brincou.
- É porque está arraigado aqui dentro, mas aos poucos estou desconstruindo.
- Desconstruindo? Essa é uma ótima palavra, foi Theo que te ensinou?
- Foi sim, ela foi o catalisador dessa minha evolução.
Um silêncio reflexivo tomou conta por alguns segundos, Letícia voltou a falar.
- E se não der certo de novo?
- Será apenas uma batalha perdida, e já perdemos tantas outras batalhas. - Sam respondeu, fitando a água calma na piscina.
- Se esse quadro não for revertido, Theo estará cega, muda, e tecnicamente surda, seria uma situação delicada.
Sam sentiu um nó esmagando sua garganta, e não conseguiu responder.
- Essa noite sonhei que estava assistindo um dos jogos de basquete de Theo. - Daniela disse.
- Ela não era uma das melhores do time, mas quando estava inspirada... Ninguém segurava. - Letícia comentou.
- Não mesmo, ela saia derrubando todo mundo que se metesse na sua frente. - Daniela riu, perceberam o semblante triste de Sam.
Letícia saiu de sua espreguiçadeira, e deitou-se ao lado de Sam.
- Venha cá, você está precisando de um abraço e um pouco de cafuné. - Letícia trouxe Sam para seu colo, afundando seus dedos em seus cabelos, carinhosamente.
Longos minutos depois, Sam voltou a falar.
- Está tudo errado, não está? - Sam disse, com a voz baixa.
- Sim, tudo de cabeça para baixo, Theo caprichou na reviravolta.
- Não foi culpa dela.
- Agora seria um bom momento para você contar por que ela tentou se matar.
Sam suspirou pesadamente, decidindo o que fazer.
- Ok, eu volto já.
Sam saiu da área da piscina, entrando em casa. Retornou com um papel em mãos, entregando à Letícia.
- Mas tem sangue nesse papel.
- Tem sim, é a carta de despedida de Theo. Acho que você vai ter uma ideia do que aconteceu lendo isso. Leia os dois lados.
Letícia leu tudo atenciosamente, Daniela aproximou-se, sentando ao lado. Ao final, Letícia estava boquiaberta.
- Foi por você. - Letícia concluía.
- Ela não queria morrer, ela não queria ir embora, vocês não imaginam o quanto essa menina chorou antes de fazer isso, mas eu não sabia dos seus planos, era uma despedida.
Daniela terminava de ler.
- Caramba, ela te ama mesmo.
- É recíproco, Dani..oi o catalisador dessa minha evolucaoucos estou desconstruindo.
preconceito e machismo.
- Amor, se seu coração estiver prestes a parar, vou te ligar numa tomada, ok? - Daniela brincou com Letícia.
- Ótimo, não aguentaria carregar essa culpa, não.
- Pelo menos ela sobreviveu, e você também. Dos males o menor, o resto é nanobots e fisioterapia. - Daniela finalizou.
Sam arranjou pijamas para todas, acabaram dormindo na enorme cama de Theo, após algumas horas conversando, até serem vencidas pelo sono.
Desavisado, Mike abriu a porta do quarto de Sam no dia seguinte, assustando-se com a presença delas. Sam era a única acordada, estava no banheiro.
- Que baixaria é essa? - Exclamou, acordando as duas ao mesmo tempo.
- Não te ensinaram a bater na porta, não? - Letícia resmungou.
- Eu posso entrar no quarto de Sam quando eu quiser.
- Não pode, não. - Sam vociferou ao sair do banheiro. - Agora deixe de ser mal-educado e nos deixe a sós, você está constrangendo as meninas.
- Meninas? - Mike riu irônico.
- Saia, Mike, faça essa gentileza, deixe de ser desagradável. - Sam pediu.
- Você ainda não conhece meu lado desagradável. - Rosnou e saiu.
***
O dia da quinta cirurgia chegou, Theo havia voltado para o quarto no início da noite. Na manhã seguinte Doutor Franco aguardava que ela acordasse, ao lado de Sam e Letícia.
- Deixem as expectativas baixas, é melhor assim. - Ele as orientava.
- Eu já nem rezo mais para que ela volte a falar, se ela voltar ao estado que estava antes daquela cirurgia, já estará ótimo. - Sam disse.
Minutos depois Theo mexeu-se na cama, abrindo os olhos.
- Opa, alguém acordou. - Todos levantaram.
- Bom dia, recruta. - Sam tomou sua mão, a cumprimentando, mas não houve resposta.
- Theo? Sou eu, seu adorado médico, consegue me ouvir?
Theo continuava com um olhar vazio, que mudava lentamente de foco de vez em quando.
- Amor, se me ouve aperte minha mão.
Nada aconteceu.
- Ela não está aqui, mas talvez acabe voltando em breve. - Letícia disse, com decepção.
- Theo, olhe na direção da minha voz. - Doutor Franco tentava.
- Não deu certo... - Sam constatava, com um suspiro triste.
- Theodora, você está aí? É bom começar a falar, estou achando você muito quieta. - Letícia brincou.
Não havia reação alguma, nem sequer desconforto.
- Não desanime, continuaremos tentando. - O médico afastou-se da cama. - Vou falar com minha equipe, começaremos a desenvolver novas soluções ainda hoje.
- Mas que droga... - Sam atirou-se no sofá.
- É só mais uma batalha, lembra? Ganharemos outras. - Letícia a confortava.
- Retornarei à tarde, irei fazer alguns testes e examiná-la de forma mais minuciosa. - O médico despediu-se abandonando o quarto.
Letícia também foi embora logo depois, estava atrasada para o plantão das oito.
Sam ficou alguns minutos com o rosto enfiado nas mãos, desolada, sentia a situação regredindo cada vez mais.
- Bom dia, oficial.
Desconstrução: s.f.: base da transformação humana, quebrando paradigmas, desconstruindo dogmas, e questionando regras sociais para que possamos ir para o próximo estágio de uma liberdade que desconhecemos.
Fim do capítulo
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Ada M Melo
Em: 14/12/2015
agora de presente queremos pra começar a cabeça do Elias numa bandeja!!! e Cris esse bom dia oficial foi a Theo certo? depois do Elias queremos o Mike levando um pé na bunda...

mtereza
Em: 13/12/2015
#CrisFazaSamExpulsaroMike
Então não era um pesadelo o que será que o monstro do Elias vai fazer com o material que ele colheu da Theo conhecendo a sorte dela deve ser algo bem pavoroso medo. E o Mike nada justifica a Sam ainda permiti esse idiota na casa delas será que ela esta pensando em obrigar a Theo a conviver com ele quando ela tiver alta isso seria o cumulo do absurdo ninguém pode ser assim sem noção bjs Cris a sua historia esta mais instigante a cada capitulo melhor impossível
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Laura Campos
Em: 13/12/2015
Olá, Cristiane!!
Venho acompanhando suas histórias desde o site anterior e também em seu blog, confesso que nunca tinha comentado em seus inscritos.
Gosto muito de sua escrita, o modo como você elenca os fatos, como traz os conflitos humanos, a maneira de descrever os lugares, situações e, acima de tudo, como descreve os sentimentos de inquietação e esperança que eclodem na alma humana.
Aguardei inquietamente a continuação de 2121, estou gostando muito, mas sinceramente não entendo a proximidade de Mike. Depois de todos os probelmas que Sam teve com ele , qual o motivo de quere-lo por perto e, acima de tudo, morando na casa da Theo, com direito a certos tipos de intimidades??
PS: Agora utlizado a linguagem informal rsrsrsr O Mike é um pé no saco, um babaca, idiota.
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Baiana
Em: 13/12/2015
Esse Elias cada vez mais sádico,ainda bem que a Sam foi o ser pensante da relação,peloenos uma vez. E por falar nessa sem noção,ela está esperando o que,para mandar o idiota embora? Ele mostrar seu lado desagradável para a Theo? Pois que eu me lembre ele sempre foi um poço de delicadeza com as duas.SQN
Ainda acho que a Michelle poderia entrar no páreo
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Ana_Clara
Em: 13/12/2015
Caraca, foi a Theo que cumprimentou a Sam certo? Quantas emoções para apenas um capítulo! Já não aguento mais ver a Theo sofrer. Foram tantas provações e ela está firme. Sou fã dessa garota! Aliás, será que esses clones todos não poderiam doar uma nova mão e novas córneas para a nossa guerreira?
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