• Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Cadastro
  • Publicar história
Logo
Login
Cadastrar
  • Home
  • Histórias
    • Recentes
    • Finalizadas
    • Top Listas - Rankings
    • Desafios
    • Degustações
  • Comunidade
    • Autores
    • Membros
  • Promoções
  • Sobre o Lettera
    • Regras do site
    • Ajuda
    • Quem Somos
    • Revista Léssica
    • Wallpapers
    • Notícias
  • Como doar
  • Loja
  • Livros
  • Finalizadas
  • Contato
  • Home
  • Histórias
  • Renascimento
  • Renascimento - capítulo único

Info

Membros ativos: 9524
Membros inativos: 1634
Histórias: 1969
Capítulos: 20,491
Palavras: 51,957,181
Autores: 780
Comentários: 106,291
Comentaristas: 2559
Membro recente: Thalita31

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Notícias

  • 10 anos de Lettera
    Em 15/09/2025
  • Livro 2121 já à venda
    Em 30/07/2025

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Recentes

  • Entre nos - Sussurros de magia
    Entre nos - Sussurros de magia
    Por anifahell
  • 34
    34
    Por Luciane Ribeiro

Redes Sociais

  • Página do Lettera

  • Grupo do Lettera

  • Site Schwinden

Finalizadas

  • Recomeço
    Recomeço
    Por Van Rodrigues
  • Amor
    Amor sempre vence? Segunda temporada
    Por Esantos

Saiba como ajudar o Lettera

Ajude o Lettera

Categorias

  • Romances (855)
  • Contos (471)
  • Poemas (236)
  • Cronicas (224)
  • Desafios (182)
  • Degustações (29)
  • Natal (7)
  • Resenhas (1)

Renascimento por histrionica

Ver comentários: 1

Ver lista de capítulos

Palavras: 3961
Acessos: 1300   |  Postado em: 00/00/0000

Notas iniciais:

Essa história escrita há seis anos... Por favor, perdoem por ser tão raso.

Renascimento - capítulo único

     A mulher estava em sua cama. A noite estava fria e já passava da 01h. Ela havia despachado com delicadeza o homem com quem, usualmente, tinha sex* e agora o calor de seu corpo se dissipava, assim como o calor do outro lado de sua cama. Joana pegou o maço de cigarros que se encontrava debaixo do travesseiro, escolheu um não muito amassado e o acendeu com o isqueiro que ficava no criado-mudo. Enrolou-se no lençol e foi até o espelho para ver os estragos que a boca e as unhas de Leonardo haviam lhe causado. Deu um sorriso meio torto, enquanto o cigarro pendia de seus dedos e deixava cair um bocado de cinzas em sua cômoda.
     Com Leonardo, sex* havia deixado de ser bom. Havia se tornado prático. Apenas uma necessidade do ser humano – uma das milhares que se pode sentir. Era como precisar de água - como a sede era saciada num copo de água, sua necessidade de sex* era saciada em Leonardo. “Ele não serve para namorado”, ela costumava dizer com um sorriso debochado.
     Joana voltou para a cama e, encarando o teto, percebeu que não dormiria com facilidade. Pensou em ligar para o homem, ele não estaria longe – mas ela não o queria mais, não aquela noite. O cigarro ela já havia apagado antes de deitar-se novamente na cama e não sentia vontade de acender outro. Por fim, ela se levantou e foi até o banheiro. Tomou um banho frio e voltou para o quarto. Seus lençóis cheiravam a sex* e ela tinha preguiça de trocar a roupa de cama. Pegou seu cobertor e aquele urso de pelúcia que ganhara de seus pais e se deitou no sofá. O sono não tardou e logo Joana dormia um sono sem sonhos, tão vazio quanto sua vida.

***

     Carolina sorriu para a mulher ao seu lado. A outra trazia um buquê de grandes rosas vermelhas e uma caixa de bombons delicados - parecia muito nervosa. Ela pediu que deixasse as flores e os bombons na mesa e a acompanhasse, pela primeira vez, ao ateliê. Ali, muitas telas inacabadas.
     Todas mostravam uma moça de cabelos claros, olhos de um verde penetrante, mãos delicadas, nenhum sorriso. Marina, curiosa , quis entender o motivo de nenhuma das pinturas trazer lábios e dentes. “Não consigo me lembrar”, Carolina respondeu num sussurro, “não consigo me lembrar de como ela sorria...”. A outra a abraçou e disse que sentia muito em saber que a namorada sofria por um amor impossível e confessou que a violência também havia lhe roubado alguém especial. Carolina se deixou abraçar e por um segundo acreditou na mentira que havia inventado dois anos antes e que sempre contava a si mesma quando a saudade apertava. A namorada a aconselhou uma boa noite de sono, mas ela sabia que se dormisse teria o mesmo horrível pesadelo. Acordaria banhada em suor e precisaria engolir comprimidos para adormecer novamente. Carolina sentiu-se sufocar e quis sair do ateliê. Puxou Marina para fora do cômodo que tanto lhe lembrava a outra.
     A namorada tentou convencê-la a dormir, mas ela não cederia com facilidade. “Quero dar uma volta...”, pediu educadamente.
     Andou a esmo pelo bairro escuro e viu quando um homem louro, com a roupa amassada e o rosto manchado de batom abandonou a casa de Joana. Era o que mais lhe doía: tiros não haviam lhe tirado ninguém.

                                                                    ***             

     Joana acordou com o sol batendo em seu rosto e percebeu que não havia fechado as cortinas antes de se deitar. De qualquer forma, ela havia acordado e estava com fome - não adormeceria novamente. Foi até a cozinha tropeçando nas roupas que Leonardo e ela própria haviam deixado pelo chão e fez um sanduiche com os poucos alimentos ainda dentro do prazo de validade, anotando mentalmente que precisava arrumar a casa, lavar as roupas e fazer compras.
     Tomou seu café da manhã rapidamente e acendeu seu primeiro cigarro daquela manhã, enquanto recolhia as roupas do chão e prometia a si mesma que pararia de fumar até o final daquele ano. Pegou o telefone e discou o número da diarista que sempre arrumava sua casa quando Carolina viajava à trabalho.

- Glorinha? É Joana, como vai? – pausa – Ah, vou bem também, obrigada! Quando estará livre para me dar uma mãozinha aqui em casa? – pausa – Hoje? Ótimo, minha querida! Te espero no horário de sempre... Até mais! – e desligou antes que Glória começasse a tagarelar.

     Colocou as roupas sujas em uma cesta, incluindo os lençóis da ultima noite e depositou a cesta ao lado da porta. Jogou os alimentos vencidos num saco de lixo, e ligou para uma amiga pedindo-lhe que fosse ao mercado e comprasse tudo o que julgava importante. Deixou o lixo na rua quando o caminhão já se aproximava, e correu com as roupas sujas até a lavanderia do bairro. Depois de algum tempo, Joana foi ao mercado se encontrar com a dita amiga e pagar as compras. Ao chegar a sua casa, arrumou os mantimentos nos armários e geladeira, e se ajeitou antes de Glória chegar. Ela devia aparentar o equilíbrio perfeito.
     Recebeu a diarista com falsa alegria, e a ouviu sussurrar “Coitada, ela nunca mais foi a mesma depois de D. Carolina...” É, nunca mais.

***

     Carolina voltou para casa mais deprimida que jamais esteve. Destrancou e abriu a porta silenciosamente, entrou pé ante pé, na ponta dos dedos, para não acordar Marina, que dormia desajeitadamente em uma poltrona. Era óbvio que tinha ali adormecido esperando a namorada voltar. Carolina foi até a mesa e não conteve um sorriso ao ver as rosas e os chocolates. Colocou as flores em um vaso com água, e abriu a caixa de bombons apenas por curiosidade – Marina tinha um gosto muito peculiar para doces.
     Se deparou com pequenos bombons em formato de coração e uma aliança fina e delicada em ouro branco. Lembrou que a namorada estava nervosa ao chegar em casa e percebeu que havia estragado o que seria um momento bonito. E mesmo com isso, Marina não demonstrara raiva ou nervosismo, apenas preocupação. Fechou a caixa de bombons e a colocou na mesa da cozinha.
     Carolina se aproximou da poltrona e acariciou os cabelos da namorada até que esta se mexesse. Depositou um beijo no pescoço de Marina, e seguiu dando mordidas leves até que seus lábios encontrassem os da moça adormecida. Sentiu que Marina abria os olhos e sorriu, feliz.

- Hora de ir para a cama! Já disse que não me precisa me esperar toda noite...
- Eu só... – Ela riu – Me preocupa quando sai por aí à noite!
- Só assim fico bem! - Carolina estendeu as mãos para Marina – Vem...

    A namorada segurou-lhe as mãos e a olhou sorrindo. E Carolina podia jurar que ouviu Joana, e não Marina, dizer “Eu te amo!”.

***

     Joana acendeu o... Qual era mesmo? Não importa, era apenas mais um cigarro. A sua dor de cabeça era terrível, e meu Deus, como Glória falava...!
    Quando ela se lembrava de como Carolina se entendia bem com a diarista, chegava a pensar que tinha algum problema de relacionamentos. Joana se lembrava de Carolina, encostada na entrada do corredor, fingindo (e tão bem que parecia verdade) estar interessada na história da filha do primo do vizinho que havia engravidado e não queria ou não sabia dizer quem era o pai. E lembrava-se de, à noite na cama, a ex-mulher comentar o fato rindo um riso aberto de criança. Inocente. Apaixonado.
     Se Joana se concentrasse podia descrever ao certo o modo sonolento com que Carolina piscava os olhos de manhã e quais as reações que o toque certo no lugar certo causava na ex-mulher quando o assunto era sex*. Ela se intitulava expert em Carolina – e mesmo com todo esse conhecimento sobre a morena, era Marina quem hoje dava os toques certos na hora do sex* e era com Marina ela comentava sobre a última fofoca da empregada, e ria um riso não tão aberto. Não tão inocente.
     Joana sabia que não importava se Marina era cheia de qualidades – Carolina ainda sentiria falta dos seus defeitos.
“Querida, não corte seus defeitos!”, a ex-mulher costumava dizer, “Você precisa deles, porque perfeição cansa!”

- E isso não é o cúmulo, D. Joana? – perguntou Glória após terminar de contar sua história.
 - Se é! – a loura apagou o cigarro e sorriu levemente para a mulher.

***

     Carolina acordou com o braço de Marina ao seu redor. Ela se sentia culpada por estar com a outra sem amá-la.

“- Eu não te amo, e não posso te enganar por mais tempo, Má!
- Você não está me enganando, porque eu sei que você não me ama como amou sua falecida esposa... Mas quero tentar!”

     A morena também se sentia culpada por enganá-la daquele modo, mas acreditava que para a namorada era mais fácil competir com os mortos do que com a mulher do outro bairro, cujo coração ainda pulsava com tanta força quanto o delas.

- Bom dia, meu amor! – Marina exclamou, com a voz arrastada de quem acaba de acordar.
- Oi, Má! – Carolina sorriu – Você estava tão torta no sofá...
- Queria ter certeza que você chegaria bem!
- Você me trata como um bebê!
- Ahã... O meu bebê! – a moça de cabelos encaracolados sorria – Carol, você é feliz?
- É claro que sim, Má! Você me faz feliz...
- Mesmo? – Marina parecia incerta – Digo... Você não precisa mentir!
- Não estou mentindo, Marina! – Carolina segurou o rosto da namorada com as duas mãos e sorriu – Você me faz feliz!

     Marina abriu um sorriso e seu rosto se iluminou. Ela se aproximou da namorada e beijou-lhe os lábios docemente. Segurou a mão de Carolina e colocou o anel que a morena havia visto na noite anterior em seu dedo anelar.

- O que acha de ser feliz para sempre? – Ela perguntou num sussurro. Carolina concordou sorridente e voltou a beijá-la.
- Minha noiva... - A morena corou e comentou – Você tem gosto de bala!

***

“- Você tem gosto de cigarro! – Carolina comentou sorrindo, com a cabeça repousada na barriga de Joana.
- O que? – a loura perguntou rindo.
- Sua boca... – a mulher virou o rosto para a namorada – Tem gosto de cigarro.
- Isso é porque eu fumo...
- Fuma como uma louca! – Carolina retrucou. Não era uma crítica, apenas uma observação.
- Só existe uma coisa mais viciante que cigarro – Joana se mexeu fazendo a namorada se levantar.
- E o que é? – Carolina se acomodou novamente ao lado da namorada, repousando a cabeça no ombro da outra, passando o braço por sua cintura.
- Você... – a loura mordeu levemente a bochecha da namorada, fazendo-a rir.
- Para! – Carolina enrolou as pontas dos cabelos de Joana em seu dedo indicador.
- Parar o que, bobinha? – ela sorria – Não estou fazendo nada!
- É, não está! – a morena fechou os olhos e suspirou – É tão bom...
- O que é bom?
- Fica assim com você...
- E nós temos a vida inteira!
- Mesmo? – Carolina abriu apenas um olho e mordeu o lábio.
- Por que você duvida, meu amor?
- Porque seu ex-noivo está na cidade. – voltou a fechar o olho e ambas ficaram em silêncio por quase dois minutos.
- E só por isso você duvida do amor que sinto por você? Eu acredito que mereço um pouco mais de consideração!
- Sim...
- “Sim”? – Joana indagou.
- É. Talvez eu esteja exagerando!
- Você, definitivamente, está! – a loura tirou o braço da namorada de sua cintura e, sentando-se de costas para Carolina, pos-se a procurar o maço de cigarros.
- Está na segunda gaveta... – Carolina virou o rosto para a parede – Junto com o isqueiro.
 Joana suspirou e abriu a gaveta. Retirou de lá o maço de cigarros, pegou um ao acaso, o acendeu, e guardou tudo novamente. Levantou-se e foi até a janela. O dia estava nublado. Ventava muito, mas havia crianças brincando na rua.
Ela apagou o cigarro, voltou para a cama e aproximou sua boca do ouvido de Carolina.
- Vem comigo? – ela pediu.
Carolina se mexeu e lançou para a namorada um olhar cético.
- Prometo que não vai demorar!
A morena se levantou, e a loura tomou a dianteira. Joana desceu as escadas e abriu a porta que dava para a rua. Carolina a acompanhava, aborrecida.
Elas pararam no meio da rua. Não havia carros ali, e o vento fazia que seus cabelos voassem como as folhas caídas das árvores que bailavam soltas pelo ar.
Carolina se encolheu por causa do frio. Seu corpo tremia. Joana sorriu.
- Acho que vou em casa buscar um casaco... Quer que te traga um? – a morena se virou antes de receber uma resposta e começou a se dirigir ao prédio de onde tinham saído. Não pode continuar, pois os braços da outra envolveram seu corpo e ela sentiu o calor que emanava da loura.
- Melhor assim? – Joana perguntou.
Carolina não respondeu e a namorada riu. Joana encostou o nariz no pescoço da moça de cabelos escuros e mordeu-o suavemente, para depois depositar vários beijos, fazendo a namorada rir com ela.
- Me desculpe por ficar aborrecida! Tenho medo de te perder...
- Não tem importância, meu amor! – a loura sussurrou – Ainda está com frio?
- Não... Não sinto frio quando estou perto de você!
- Hm... – Joana abraçou a namorada com mais força e beijou a bochecha de Carolina – Então eu consegui...
- Conseguiu o que?
- Te provar que nunca vou deixar que nada te atinja...
Carolina sorriu e se soltou do abraço de Joana. A loura sorriu, puxou-a pela cintura novamente e beijou-a devagar.
- Hm... Cigarro! – a morena comentou, fazendo a namorada rir.
- Isso te incomoda? – Joana indagou, curiosa de repente.
- Não... Não incomoda mais! – Carolina sorriu e a puxou delicadamente de volta à casa.”

***

     Joana ficou deitada olhando o teto branco enquanto Glória limpava a sala. Ela hoje estava mais vazia do que jamais esteve. Às vezes a loura queria estar triste. Porque, bom, quando você está triste pelo menos você sente algo. Quando você é indiferente, como Joana costumava ser, o assunto é outro.
     Há uns dias, ela havia visto Carolina no shopping com a moça de cabelos cacheados. Sim, cachos formados e grandes – o tipo de cabelo que Carol não gostava. Mas agora parecia gostar.
     Os olhos dela brilhavam quando a mulher dos cachos sorria. Carolina parecia feliz. E então, seus olhares se cruzaram. A chama que brilhava segundos antes se apagou aos poucos, os olhos sorridentes se fecharam. Quando a namorada olhou, numa tentativa de entender o que acontecia, para o local em que Joana estava parada, a loura se virou e saiu andando sem olhar para trás. Nenhuma vez.
     A ausência daquele olhar a incomodava, pois ela sentira os olhares das moças queimando em suas costas – queria ter olhado. Mas, por outro lado, não ter retribuído salvou o namoro daquelas mulheres. Ela devia isso à Carolina. Não podia destruir aquela vida novamente.
     Mas aquilo não a fazia alegre. Não a fazia triste. Não mudava o quadro em que ela se encontrava. Joana precisava sentir. Bem, ela podia sentir dor. Se cortasse o dedo, sentiria dor. Porém, aquela dor não a faria infeliz, aquilo não a entristeceria.
     Joana devia ter olhado. Se tivesse olhado, talvez o fato de não ter olhado não a incomodaria. Mas sentir-se incomodada era sentir. E, no momento, ela queria sentir. Estava se sentindo incomodada. Pensar naquilo incomodava-a.
     Agora que havia percebido que estava sentindo, achou melhor não sentir. Porque quando você não sente, não pensa que tem que resolver algo. Não há o que resolver se você não está se sentindo incomodada.
     Acendeu um cigarro e disse em voz alta: “Estou me sentindo incomodada.” Saboreou aquelas palavras. Repetiu mais alto para se convencer de que estava sentindo alguma coisa. E ouviu o som daquelas palavras, como se ouvisse a um pedido de casamento. Sorriu ao final. Definitivamente, é melhor sentir um leve incômodo a respeito de um olhar a não sentir nada.

***

    Carolina tomava chá e ouvia a cunhada anunciar a gravidez. Sorriu com entusiasmo, mais por Marina que pela família que iria se formar dali a alguns meses. O poodle veio se acomodar próximo a seus pés e ela acariciou a cabeça do cachorro. Observava todos aqueles rostos sorridentes e aquilo a fazia sorrir. Ela não estava feliz, mas saber que aquelas pessoas estavam felizes a alegrava.
     Pousou a xícara na mesa de centro, mas logo a pegou novamente, vendo no objeto um motivo para sair da sala. Foi à cozinha e deixou a xícara sobre a pia.
      Com a luz do cômodo acessa, ela conseguia ver seu reflexo no vidro da janela. Uma mulher magra. Longos cabelos escuros. Olhos grandes e castanhos, olhos que eram ela inteira. Lábios finos e não-desenhados. O nariz era levemente adunco. As orelhas não eram furadas – já o tinham sido no passado. Não era, de forma alguma, uma bela mulher. A pele, antes naturalmente bronzeada, tinha um tom acinzentado. Carolina era um mero rascunho de vida.
     Tentou um sorriso. A imagem não mudou muito - ela continuava sendo metade-humana-metade-nada.
     Marina chegou à cozinha, abraçou-a e a morena passou a olhar para o reflexo das duas. E o contraste entre elas evidenciou-se aos seus olhos. Marina, de cuja boca sorridente saiam palavras ininteligíveis, tinha olhos levemente rasgados, de um azul brilhante, que se fechavam quando o sorriso surgia. Os lábios tinham volume e cor. E os cabelos revoltados emolduravam o rosto delicado. Marina era a contradição.
     Carolina pensou em perguntar: “O que você vê em mim?”, mas decidiu sorrir e concordar com o que quer que a então noiva dizia. Marina queria ir embora. Ajudou Carolina com a louça suja, enquanto cantava uma canção antiga cujo nome a morena não se lembrava.
     No carro, em direção à casa na qual o casal vivia, aquela pergunta ainda martelava na cabeça de Carolina. O que Marina via nela? Será que ela via a mulher pálida do reflexo no vidro?

- O que você vê em mim? – ela deixou aquelas palavras saírem de sua boca leves como o ar.
- O que eu vejo? – Marina indagou, numa retórica – Vejo a mulher que deixa a toalha molhada sobre a cama e as roupas jogadas no chão do banheiro. Uma mulher que não se arruma, e está sempre suja de tinta. Seu cabelo está sempre cheio de nós. – ela riu – E você tem a mania irritante de tocar nas pessoas quando está falando.
- Má, eu estou falando sério! – retrucou Carolina com impaciência.
- E eu também, Carolina! Vejo uma mulher cheia de defeitos, aos olhos de qualquer outra pessoa. Mas que combina perfeitamente comigo.

    A morena sorriu e baixou os olhos. Marina voltou a atenção para o trânsito. Pela primeira vez em dois anos, ela finalmente entendia porque a mulher dos cachos e olhos azuis a tinha escolhido. Enquanto sua vida era escura como o céu numa noite de inverno, a da noiva era iluminada. Carolina era a escuridão onde a estrela de Marina podia brilhar.

***

- Dona Joana...
- Sim, Glorinha, diga! – ela passou a mão pelos cabelos claros e sorriu.
- Desculpe, assim, eu me intrometer nos seus assuntos... Mas é que trabalhei na casa da Dona Marina semana passada...
- E quem é Marina? – a loura levou a xícara de café aos lábios e voltou a olhar a tela do computador.
- A namorada da D. Carolina. – Glória olhou para o teto tentando disfarçar a vergonha que sentia naquele momento e não pode ver a patroa engasgar com o líquido escuro e forte que sorvia.
- Sei... – ela tossiu e pousou a xícara na mesa.
- Eu sei que não devia falar, não é da minha conta...
- Realmente, não é um assunto seu.
- Desculpe... – a diarista suspirou – Dona Marina me contou que ia pedir Dona Carolina em casamento. Acho que ela pediu.
- E por que está me contando isso? – Joana fechou os olhos.
- Porque a senhora não é mais criança. Digo, já passou dos 35.
- Sim, e que tem isso?
- Nada. Só achei que devia saber. – Glória abriu a porta – Precisando é só ligar, Dona Joana. Tem mais café na garrafa da cozinha.

    “Você não queria sentir?”, perguntava uma voz em sua cabeça, “Agora está sentindo.” Joana sentiu náuseas. O gosto do café em sua boca amargou. A casa ria dela. Realmente, ela não era uma criança para remoer acontecimentos passados. Não podia se privar de viver.
     Começou a rir. Riu até sua barriga doer e o ar começar a faltar. Gargalhou, até que lágrimas começaram a escorrer por seu rosto branco. O som daquele riso sofreu modificações, até se tornar o som de soluços.
     “Então é esse o som do fim?”, Joana se perguntou. “Não, esse é o som do recomeço.”

***

 

     Não doía nenhum pouco saber que era o pano de fundo, o papel de parede. Afinal, para uma estrela brilhar a escuridão é vital. Nenhuma estrela brilha na claridade.
     Carolina alisou o vestido branco com a mão. Olhou-se no espelho e seu rosto pintado de maquilagem parecia o rosto de uma boneca de porcelana. Bonito, mas sem vida.
     A coroa foi colocada delicadamente sobre os cabelos escuros, e Carolina segurou o buquê com as mãos trêmulas. É claro que Marina a amava. Não havia dúvidas a respeito. Mas é certo estar com alguém, só porque esse alguém te ama? Parecia certo, já que a noiva sabia não ser amada. Estar com alguém apenas para não estar sozinha é o mesmo que estar sozinha.
     Mas ela não estava com “alguém”. Ela estava com Marina. Sua Marina, a que a adorava com amor servil. Sua Marina, a que tentava a todo custo tirá-la do breu que sua vida tinha se tornado.
     Marina não queria brilhar sozinha. Ela queria fazer da vida de Carolina algo mais vibrante. E a mulher de rosto pálido, escondida por trás das pompas matrimoniais, só precisava permitir.
     Levantou-se, passou a mãozinha morena pelo vestido novamente, e olhou-se no espelho uma última vez. Foi conduzida ao carro, onde seu jovem cunhado a esperava. E foi segurando a mão daquela criança de 12 anos que ela percebeu que ser parte daquela família era seu maior desejo.
     Ainda segurando a mão daquele menino, Carolina percebeu o carro estacionando na entrada do salão de festas que ela própria havia escolhido. Abriram a porta do carro. O menino desceu. Ela continuou estática.
     “Desce!”, a voz gritava em sua cabeça. “Desce, Carolina. Desce.” A morena ousou mover uma perna. Deparou-se com o menino sorridente, de mão estendida, esperando por ela. Carolina estava com medo – quem não estaria?
     Fechou os olhos, suspirou e um sorriso foi se revelando, a princípio um sorriso tímido, quase pedindo desculpa por invadir o território da dor.
     Firmou os pés no chão e estendeu a mão para o menino. Sem muito hesitar, pela primeira vez em dois anos, Carolina deu um passo. Seu primeiro passo para o final feliz. 

Fim do capítulo


Comentar este capítulo:
[Faça o login para poder comentar]

Comentários para 1 - Renascimento - capítulo único:
Ana_Clara
Ana_Clara

Em: 02/12/2015

Eu adorei! Mas confesso que esperava outro final, apesar de ter amado a Marina. Eu só acho que essas três merecem uma história cheia de capítulos somente delas. Elas realmente merecem! rsrs 😀😀


Resposta do autor em 02/12/2015:

Nunca pensei em detalhar mais a história... Quem sabe mais pra frente? Escrevi há alguns anos e esqueci no meio dos meus arquivos. Bom saber que gostou! rs

Responder

[Faça o login para poder comentar]

Informar violação das regras

Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:

Logo

Lettera é um projeto de Cristiane Schwinden

E-mail: contato@projetolettera.com.br

Todas as histórias deste site e os comentários dos leitores sao de inteira responsabilidade de seus autores.

Sua conta

  • Login
  • Esqueci a senha
  • Cadastre-se
  • Logout

Navegue

  • Home
  • Recentes
  • Finalizadas
  • Ranking
  • Autores
  • Membros
  • Promoções
  • Regras
  • Ajuda
  • Quem Somos
  • Como doar
  • Loja / Livros
  • Notícias
  • Fale Conosco
© Desenvolvido por Cristiane Schwinden - Porttal Web