Capítulo 41 - Embuste
O carro azul da dupla estava parado no meio de uma via no nível do solo, era uma estrada larga com seis faixas, por onde vinha uma multidão com rostos pintados e fervor em seus brados. Não tinham como sair dali, haviam carros parados em todas as direções.
- É uma manifestação, Theodora, é uma porcaria de manifestação. - Sam dizia em pânico.
- Acho que devemos sair do carro.
- Não vou abandonar meu carro.
- Se houver confronto, alguma bomba nos explodirá, ou tiros atingirão o carro. - Theo explicava, também nervosamente.
- Pois que passem por cima de nós, também tenho armas.
Theo baixou a cabeça e franziu a testa, prestando atenção no que diziam as vozes da multidão.
- Acho que você deveria ir para o banco de trás, deite no fundo. - Sam sugeriu.
Theo abriu um sorriso de forma lenta.
- O que é engraçado? - Sam perguntou, confusa.
- Não é uma manifestação. - Theo disse com o sorriso aberto.
- Não?
Theo abriu sua janela, colocando a cabeça e parte do corpo para fora.
- Feche isso, Theo! Volte para dentro!
- Relaxe, é apenas futebol. - Theo disse, ainda com a cabeça para fora.
- Futebol?
- É alguma torcida comemorando a vitória do seu time, não ouve a cantoria? Estão felizes e exaltando o Corinthians.
- O que é isso?
- É um time de futebol de San Paolo. Eles estão usando roupas brancas e pretas?
- Sim.
- É só futebol, Sam. É só futebol. - Theo voltou a colocar parte do corpo para fora do carro e se esbaldava com o canto alegre vindo dos torcedores.
A multidão passou devagar pelos carros, balançando suas bandeiras, Theo permaneceu na janela, ouvindo, participando ao seu modo.
- Podemos ir? - Sam perguntou, quando Theo voltou a sentar no banco.
- Claro. - Abriu um sorriso bobo. - É bom estar em casa.
***
- Traje completo? - Theo perguntou enquanto ouvia Sam se trocando ao seu lado, dentro do carro, num ponto escuro da rua de Evelyn.
- Completo, com credenciais e tudo, a partir de agora você pode me chamar de... - Sam leu o nome na insígnia presa acima do bolso da camisa azul. - Sargento Luciana Vilela. Que ótimo, fui rebaixada de patente...
- Adoro garotas de uniforme. - Theo brincou.
- Adora meu uniforme, tem usado minha jaqueta militar desde o dia que nos conhecemos.
- Eu estava com frio, não tenho temperatura corporal de quarenta graus como você.
- Quase 38.
- Terminou de se vestir?
- Falta a calça, é difícil vestir uma calça dentro do carro quando se levou um tiro na perna.
Theo deslizou sua mão pela perna direita de Sam, que estava ainda sem calças.
- Você poderia dirigir sempre assim. - Theo disse maliciosamente.
- Nua?
- Com as pernas nuas.
- Theo, quando eu digo que nunca mostrarei minha perna mecânica em público, estou falando sério. E já que está com a mão na minha perna, me ajude a subir a calça.
- Ok.
- Estou pronta, me deseje boa sorte. - Sam disse, após se vestir.
- Vire para cá, deixe eu ajeitar sua gola e gravata.
Enquanto Theo ajeitava a gola de sua camisa de policial, e o nó de sua gravata preta, Sam a encarava.
- Vai dar tudo certo, não vai? - Sam perguntou.
Theo terminou de ajeitá-la, pousando ambas as mãos ao redor do seu rosto.
- Concentre-se na história que você vai contar, esqueça que ela é minha ex, agora Evelyn é apenas uma esperança de conseguir seu coração. - Theo falava de forma firme, correndo seu olhar sem foco de um lado para outro. - Não temos tempo para insegurança nem ciúmes, dê o seu melhor e volte para o carro logo.
- Eu não tenho ciúmes.
- Número 423, apartamento 260. Vá.
Sam a fitou ainda mais alguns segundos, e a beijou.
- Eu te amo. - Sam sussurrou.
Theo sorriu, e a beijou novamente.
- Vá logo.
Chegou à portaria do moderno prédio residencial, sendo recebida por um simpático porteiro.
- Evelyn, do 260.
- Da parte de quem?
- Sargento Giovana Vilela, da delegacia de roubos e furtos de veículos.
- Mas no seu uniforme diz Luciana Vilela.
- Ãhn, sim, Giovana é meu nome do meio. - Disse, sem convicção.
- Ok... Só um instante.
Evelyn autorizou a subida de Sam, que logo adentrava o amplo apartamento que ocupava todo o 26º andar.
Num primeiro momento, Sam apenas a encarou, e a mediu dos pés à cabeça. Evelyn tinha um sorriso simpático e um corpo atlético pelos anos de exercício da profissão, tinha cabelos castanhos presos num rabo de cavalo no alto e roupas coloridas de ioga.
- Seu nome é Luciana ou Giovana?
- Ãhn... Luciana. Sargento Luciana. - Sam estendeu a mão, a cumprimentando.
- Entre. Quer beber algo?
- Não, obrigada.
- Quer sentar?
- A senhora tem um belo apartamento. - Sam dava passos lentos e mancava.
- Obrigada. - Evelyn sorriu discretamente.
- Tem marido?
- Não, não tenho.
- Esposa?
- Também não.
- Está num relacionamento sério?
Evelyn estava com uma expressão confusa.
- Sargento, posso perguntar no que isso seria relevante?
- Ah, desculpe. Na verdade apenas vim trazer uma informação, já que nosso departamento não conseguiu contato virtual com a senhora. - Sam dava alguns passos inseguros pela grande sala rodeada de paredes de vidro e um sofá cinza de oito lugares.
- E qual é a informação?
- Que informação?
- A que você veio trazer.
- Ah. Encontramos sua Lamborghini amarela, está em nosso depósito. E a senhora tem sorte, está em ótimo estado.
O semblante de Evelyn se iluminou espantosamente.
- Vocês encontraram? - Balbuciou.
- Sim. - Sam a encarou. - A senhora realmente gosta desse carro, hein?
- Você não faz ideia, eu rezei tanto para que encontrassem meu carro.
- A senhora não deveria envolver Deus numa busca por bem material. - Sam a recriminou.
- Por que não?
- Ãhn, deixa pra lá.
- Quando posso buscar meu carro?
- Eu preciso que a senhora...
- Não me chame de senhora. - Evelyn disse sorridente. - Pode me chamar de Eve, por favor.
- Ok. Como eu ia dizendo, preciso que você vá agora a noite até nosso depósito de apreensões, faça o reconhecimento e assine os papéis de retirada. Amanhã o carro estará a sua disposição.
- Isso seria maravilhoso. - Evelyn uniu as mãos cobrindo a boca, eufórica.
- Você poderá ir agora? - Sam estava em sua postura militar, com as mãos cruzadas às costas.
- Claro! Vou apenas me trocar.
- Aqui está o endereço. - Sam sacou seu comunicador, apontando na direção dela.
Evelyn foi até a mesa de centro, tomou seu comunicador e o exibiu para Sam, que transferiu a informação para seu aparelho.
- Essa foi a melhor notícia que alguém poderia me dar. - Evelyn conferia o endereço na tela do seu comunicador, ainda ostentando um sorriso largo.
- A melhor notícia? Melhor que, por exemplo, a informação de quem alguém que você gosta muito, e que desapareceu, está de volta?
Evelyn franziu a testa, sem entender.
- Sobre o que você está falando?
- Foi apenas uma pergunta hipotética. - Sam pigarreou. - Eu preciso ir, boa sorte com o resgate de seu estimado carro.
- Eu agradeço todos os esforços em recuperar meu carro, agradeça também à corporação, por gentileza. - Evelyn a cumprimentou de forma polida, apertando sua mão.
Minutos depois, Sam voltou ao seu velho carro azul.
- E aí? - Theo perguntou mal contendo a curiosidade.
- Acho que ela caiu. - Sam respondeu com ares triunfantes.
- Eu sabia! Você tocou num ponto fraco dela, não deve sequer ter passado pela cabeça dela que isso era um embuste.
- Ela acreditou, ela está esfuziante, você precisava ver.
- Realmente precisava.
- Desculpe, não falei por mal.
Theo virou-se, estendendo a mão e procurando por Sam.
- Primeira fase concluída. Parabéns, você se saiu bem. - Theo sussurrou, e a beijou.
- Obrigada. - Sam respondeu timidamente. - Vamos aguardá-la sair.
- Ela disse que iria agora?
- Sim, vai apenas se trocar.
- Fique atenta então. Monitore a saída, dois anos atrás ela tinha um hatch preto.
- Estou monitorando a saída.
Ficaram em silêncio por um instante, Sam observava atentamente o prédio de Evelyn, Theo correu sua mão pela perna de Sam, a pegando de surpresa.
- Como está sua perna, meu anjo?
Sam a olhou rapidamente, pousando sua mão por cima da mão de Theo.
- Bem, essa tensão me fez esquecer a dor.
- Que bom.
- Sabe... Eu não entendo. Eu realmente não entendo.
- O que?
- Evelyn ficou tão feliz com a notícia do retorno do seu carro. Ela disse que foi a melhor notícia que poderia ter recebido.
- E deve ter sido mesmo.
- Como ela pode amar um carro e não amar você? Ela teve você, ela teve oportunidade de ter um relacionamento, e desperdiçou.
- Eu não faço de 0 a 100km/h em 3 segundos.
- O que?
- Ninguém tem obrigação de gostar de ninguém, Sam. Livre arbítrio.
- Isso tudo é tão injusto... Eu queria apenas uma chance, uma chance...
- Você terá. - Theo respondia com uma voz confortável.
- Ela está saindo. - Sam ligou o carro.
- Num pequeno carro preto?
- Não, num Porsche vermelho.
- Nossa, pelo visto os pais dela mudaram de ideia.
***
O ferro velho ocupava um pátio maior que um estádio de futebol, com pilhas de sucatas e algumas dezenas de carros estacionados, com indícios de ferrugem. Haviam dois galpões enormes e um escritório.
Observaram a distância o carro esportivo vermelho adentrando os portões, e estacionando a frente do último galpão. A dupla entrou logo em seguida, deixando o carro atrás do último galpão.
- Eve já está lá dentro? - Theo perguntou, descendo do carro.
- Está, entrou num dos galpões agora, conforme eu a orientei. Você vai ficar fora do galpão, ao lado da porta, entendido?
- Sim.
- Quando eu der a deixa, você entra.
Sam ajeitou sua pistola no coldre do cinto policial, e certificou-se que a adaga de Igor estava em sua bota. Fez o sinal da cruz e entrou no galpão, encontrando Evelyn com um semblante confuso, andando devagar pela área central. Em cada lado haviam grandes estruturas que pareciam um depósito de peças de automóveis.
- O que está acontecendo aqui? É algum tipo de brincadeira? - Evelyn esbravejou, quando avistou Sam, que se aproximava mancando.
- Não, não é uma brincadeira, o que me fez trazê-la aqui é um assunto sério.
- O que você quer de mim? - Evelyn mantinha sua postura ereta, carregando uma pequena bolsa marrom na mão.
- Eu preciso de algumas informações, é só isso, a trouxe aqui porque precisava de um lugar com um mínimo de segurança.
- Você realmente é policial?
- Na verdade sou 1ª tenente no exército da Europa, mas isso não vem ao caso agora.
- Eu a conheço?
- Não, mas eu trouxe uma pessoa que você conhece.
Essa era a deixa, e Theo surgiu na porta, para espanto de Evelyn.
- Venha. - Sam foi até ela, a trazendo pela mão.
- Não é possível... - Evelyn aproximou-se de Theo, a fitando assustada e boquiaberta.
- Oi Eve. - Theo falou com insegurança.
- Disseram que você morreu! Você morreu num acidente de esqui na Suíça, como você está aqui agora?
- Mentiram a você, eu fui sequestrada.
Evelyn abriu um sorriso, e a abraçou, a pegando de surpresa.
- Você não está enxergando? - Ela percebeu, ao se afastar.
- Não, não estou.
- O que aconteceu com você nestes dois anos?
- É uma longa história. Eve, eu sei que já faz algum tempo que não nos falamos, mas eu procurei você hoje para tratar de um outro assunto, algo realmente importante. Prometo conversar de forma tranquila com você em breve, quando as coisas estiverem ajeitadas.
- E qual é esse assunto tão importante?
- Eu descobri que você ajuda a resistência, não sei se faz parte ou apenas repassa informações, mas me deram seu nome, foi por coincidência, mas me deram seu nome como contato.
- Eu não sei do que você está falando, eu realmente não faço ideia.
Sam permanecia em silêncio ao lado de Theo, acompanhando a conversa de forma tensa.
- Eu também faço parte, você pode conversar sobre isso comigo, seu segredo está bem guardado.
- Theo, eu não sei o que disseram sobre mim, foi invenção de alguém. Meu Deus, você está viva, ainda está caindo a ficha, seu pai vai ficar tão feliz em saber que você está de volta. - Evelyn parecia realmente pasmada.
- Uma pessoa da célula vermelha repassou seu nome, disse que você já deu informações confirmadas para eles. Por favor, confie em mim, eu realmente preciso conversar sobre isso com você.
- Eu confio em você, mas não faço ideia de quem seja essa mulher ao seu lado.
- Também é confiável, ela me salvou, e agora estou fazendo o que posso para salvá-la. Sam servia ao exército europeu, mas eles a traíram, sua vida pode acabar ainda essa semana se não encontrarmos o que procuramos.
Evelyn estava agora com uma expressão séria, analítica. Hesitou antes de voltar a falar.
- E o que vocês procuram?
- A localização do laboratório da Archer que produz o Beta-E. - Sam respondeu.
Evelyn balançou a cabeça, assimilando. Deu alguns passos lentos na direção de uma das pilhas de peças metálicas, pensativa. Parou, com a mão no queixo, e virou-se na direção das garotas, que esperavam alguma resposta com ares apreensivos. Evelyn era a única esperança agora.
- Há quanto tempo você está na célula azul? - Evelyn perguntou.
- Ãhn... Uns quatro anos. Mas nos últimos dois anos fiquei afastada de tudo, inclusive da resistência. Você também trabalha para a azul, certo?
Evelyn não respondeu, relutou em abrir um sorriso contido, deu alguns passos na direção de Sam, a observando.
- Você vai colaborar conosco? - Sam tentou, esperançosa, seus olhos brilhavam.
- Quem repassou meu contato? - Evelyn perguntou, ainda com um sorriso contido.
- Uma pessoa da célula vermelha, que infelizmente já morreu. - Sam respondeu.
- Eve, você sabe algo sobre esse laboratório? Por favor, nos ajude. - Theo completou.
Evelyn suspirou pesadamente antes de responder.
- Theodora, seu pai quer vê-la.
- Eu não quero ver meu pai, eu estou nesta jornada com Sam, depois eu resolvo estas coisas, inclusive com você. - Theo pedia já com ar desesperado.
Evelyn aproximou-se de Theo devagar.
- Eu sinto muito, não tenho nada para repassar para vocês.
- Mas você sabe sobre o Beta-E, não sabe? Você repassa informações para a resistência, você deve saber algo que possa nos ajudar. - Theo insistiu.
- É, eu repassei algumas informações. - Evelyn voltou a se afastar delas, com passos lentos. - Por que me trouxeram neste lugar?
- Precisávamos de um lugar que fosse afastado e seguro para todo mundo. - Theo respondeu.
- Theo, sinto não poder ajudar sua amiga, mas você precisa visitar seu pai hoje.
- Eve, eu já falei que não quero vê-lo!
Evelyn mexeu em sua pequena bolsa, sacou uma pistola e apontou em riste.
- Hey, o que você está fazendo? - Sam perguntou assustada.
- O que foi? O que aconteceu? - Theo perguntou.
- Ela sacou uma arma e está apontando para mim. - Sam narrou.
- Evelyn, por que isso?
- Acabou sua fuga, eu vou levar você para seu pai agora, por bem ou por mal.
- Não, não posso ir, eu prometo ir dentro de alguns dias, mas não hoje.
- Você não sabe do que o pai dela é capaz, ela não estará segura se cair nas mãos dele. - Sam explicava, nervosamente, ainda com a arma lhe fazendo mira.
- Tenente, tire sua arma da cintura, coloque no chão, e chute para mim. - Evelyn ordenou.
- Por que você está fazendo isso? Nós não vamos dizer a ninguém que você faz espionagem para a resistência, nós estamos do seu lado, abaixe a arma. - Theo pediu.
- Por favor, largue essa arma, Evelyn.
- Se tiver que repetir a ordem, irei atirar na sua perna, que pelo visto não está nada bem.
Sam deu uma olhadela hesitante em Theo, tirou lentamente a arma do coldre, abaixou-se, a colocando no chão, e chutou na direção de Evelyn, que a tomou.
- Evelyn, em nome de tudo que nós tivemos, não faça nenhuma besteira, eu já entendi que não tem informação para nos dar, apenas nos deixe ir embora. Ninguém, nem meu pai, ninguém saberá que você ajuda a resistência, eu juro.
- Em nome do que nós tivemos? - Evelyn riu. - Deixe de ser hipócrita, Theo.
- Ah, você também não tinha nenhum amor platônico por mim.
- Absolutamente nada. Eu apenas estava desempenhando meu papel de namorada presente.
- Papel? - Theo perguntou confusa.
Evelyn riu abertamente.
- E você acreditava, não é?
- Do que você está falando? Acreditava em que?
- Que eu queria realmente namorar com você.
- Então por que você namorava comigo?
- Seu pai me contratou.
Theo e Sam arregalaram os olhos, incrédulas.
- Benjamin contratou você para namorar com Theo? - Sam perguntou.
- Namorar era a melhor forma de manter Theo sob minha vigilância, e ter informações privilegiadas sobre seus passos e seus planos. - Evelyn respondia calmamente.
Theo esfregou a testa, se dando conta da armação em que havia caído, ainda com semblante perplexo.
- Então... Foi tudo de mentirinha? O tempo todo você estava apenas repassando minhas informações para meu pai?
- Querida, espero que não guarde mágoas de mim, eu realmente me diverti, foram meses bem movimentados, e o sex* era bom, então ninguém saiu perdendo.
Sam revirou os olhos, Theo continuava alterada.
- O que você ganhou em troca? Dinheiro? Promessa de promoção dentro da empresa?
- Toda garota precisa de um bom carro potente, você sabe o quanto gosto desses brinquedos um tanto caros. - Evelyn jogou os cabelos para trás com um movimento de cabeça.
Theo voltou a arregalar os olhos.
- Você me vendeu por um Porsche??
- Uma pena que você não possa enxergá-lo, é um Porsche Diamond SX, foram fabricadas apenas 912 unidades, uma verdadeira obra de arte.
- Foi você, não foi? Que deu informação errada à resistência, sobre a localização do laboratório? - Sam a indagou, permanecia séria, em seu uniforme azul de policial.
- Eu não dei nenhuma informação errada, eu dei informações corretas o tempo todo. Eu precisava conquistar a confiança deles.
- Alguém deu a localização errada do laboratório, e sabendo agora do verme que você é, só pode ter sido você! - Theo esbravejou, parecia de fato possessa com Evelyn.
- Não sei de nada. - Evelyn respondeu com um sorrisinho.
- Você, ou algum outro pau mandado do meu pai, deu a localização errada, fomos até aquela maldita Ilha das Peças, no Rio, e que surpresa! Não havia laboratório algum, e sim alguns brutamontes querendo me devolver para meu pai!
- Rio? - Evelyn questionou com uma sobrancelha baixada. - Ok, a conversa está ótima, podemos matar a saudade depois, mas é hora de voltar para sua casa. Se despeça da sua amiga.
- Por que você quer me levar até meu pai? Seu contrato não terminou quando eu sumi?
- Sim, mas com certeza Ben me dará uma boa recompensa por ter encontrado você e devolvê-la sã e salva.
- Você é o pior tipo de mercenária... Eu estou enojada de você. - Theo disse, irada.
- Querida, depois conversamos sobre nosso relacionamento, ok? Primeiro os negócios.
- Você não pode levá-la. - Sam se manifestou.
- Por que? Você vai me impedir? Quem está sob a mira de uma pistola é você.
- Ok, me leve, mas deixe Sam ir embora agora. - Theo disse.
- E deixar testemunhas? Claro que não. Hora de dar adeus a sua amiga. - Evelyn ergueu um pouco mais sua arma, e atirou quatro vezes no peito de Sam, que caiu já inerte.
- Nãããão! Não! Não! - Theo gritou, desesperada com o som dos tiros e um rápido grunhido de dor.
- Hora de ir para casa, Theo. - Evelyn falou.
- Não! Você vai pagar por isso! - Theo sacou sua arma da parte de trás da calça, e atirou na direção de Evelyn, efetuando cinco disparos.
Theo ouviu o som do corpo e da arma de Evelyn caindo ao chão.
Morra! Morra! Morra! - Theo gritou enfurecida, com a respiração acelerada.
Por alguns segundos, apenas o silêncio foi ouvido naquele grande galpão.
Theo largou sua arma e foi na direção onde acreditava estar Sam, esbarrou em suas pernas, abaixou-se rapidamente ao seu lado.
- Sam? Sam? Fale comigo, por favor. - Theo segurava o rosto de Sam com ambas as mãos, falava de forma angustiada.
Apenas silêncio novamente.
- Sam, você não pode morrer! Por favor, fale comigo!
- Ai. - Sam resmungou baixinho.
- Sam??
- Meu Deus, como isso dói.
- Você está viva??
- Aparentemente sim. - Sam ergueu-se devagar, com semblante de dor, sentando-se.
- Jesus Cristo, você levou quatro tiros e sobreviveu?
- Sim, mas eles estão doendo bastante. Onde está aquela vadia? - Sam moveu a cabeça, procurando por Evelyn.
- Eu atirei nela.
Sam olhou por cima do ombro de Theo, enxergando o corpo imóvel e ensanguentado de Evelyn alguns metros a sua frente.
- Você atirou na sua namorada?
- Ex! Ex!
- Ok, ex.
- Você levou tiros, precisa de um hospital. - Theo dizia nervosamente.
- Veja. - Sam tomou sua mão direita, a colocando em seu peito.
- Um colete a prova de balas?? Você estava de colete?
- Eu falei que era o traje completo. Você não percebeu quando ajeitou minha gravata?
- Obviamente não.
- Mesmo com esse colete, as balas fizeram estrago. Terei quatro bons hematomas no mínimo, com sorte não quebrei costelas.
- Você está viva, Samantha. Pelo amor de Deus! - Theo continuava acelerada e apavorada.
- Fique aqui, vou verificar a moça. - Sam levantou-se do chão, com trejeitos doloridos por conta dos tiros. Caminhou mancando até o corpo de Evelyn, certificou-se de sua morte, e apesar do desafeto, fez uma breve e silenciosa oração pela alma dela.
- E então? - Theo ignorou o pedido, e foi até Sam.
- É, você ficou viúva.
- Pare com essas gracinhas, você quase morreu, se um dos tiros tivesse atingido sua cabeça?
- Mas não atingiu, estou viva e goz*ndo de boa.. Bom, estou viva. - Sam contemplava o corpo no chão, com Theo ao seu lado, segurando firmemente sua mão.
- Ainda não consigo acreditar que essa mulher atirou em você. - Theo dizia enfurecida. - Eu fui uma idiota, cai em mais uma jogada do meu pai, aquele desgraçado comprou essa... essa...
- Essa nossa última esperança. E está morta agora, estamos de volta à estaca zero, me restando três dias. - Sam dizia com desânimo, abaixou-se e tomou sua arma de volta, a colocando no coldre no cinto.
- Ou não.
- Como assim?
- Acho que Evelyn nos deu a localização do laboratório. - Theo disse com um sorriso crescente.
- Em qual momento? Depois que levei os tiros? Ou quando ela falou como era bom o sex* com você?
- Sam, você não percebeu a reação dela quando falamos que fomos na Ilha das Peças, no Rio?
- Hum. Acho que sei onde você quer chegar, mas continue.
- Ela estranhou a menção ao Rio. Então talvez eu esteja completamente equivocada, mas aposto minha mão esquerda que existe uma outra Ilha das Peças no Brasil.
- Você acha que erramos de ilha? É isso?
- Acho que erramos de Ilha das Peças. Solucione esse mistério, por gentileza, pegue seu comunicador e veja se estou falando uma grande asneira ou não.
Sam tirou o comunicador do bolso e fez uma pesquisa compenetrada.
- Paraná.
- Então existe?
- Existe uma outra Ilha das Peças, e fica no Paraná. - Sam já abria um largo sorriso.
- Achamos o laboratório, oficial. - Theo também sorria.
- Tem que ser essa ilha. Se não for, nós vamos ficar na praia bebendo água de coco até quinta-feira, porque não temos mais nenhuma informação.
Sam consultava novamente seu comunicador.
- Evelyn sabia. - Theo disse.
- Tudo indica que está nessa ilha, acabei de olhar as imagens de satélite, e não há construção alguma.
- E como isso indica que está na ilha?
- Olhando atentamente as imagens, você percebe contornos retangulares nas imagens de vegetação, no exército nós aprendemos a camuflar construções para que não apareçam nestas imagens aéreas, e ficava exatamente assim, com esses pequenos vestígios retangulares.
Theo abriu o sorriso.
- Você nunca poderá dizer que sua estada no exército não foi útil para sua vida. - Theo brincou.
- Hora de partir, temos uma longa viagem até o Paraná pela frente.
- Você está com aquela faca de Igor? - Theo perguntou.
- Sim, estou.
- Então já sabe o que fazer.
- Não, não faço ideia.
- Precisamos da digital dela, talvez seja útil para entrar lá, todos os laboratórios do meu pai funcionam com digitais, não migraram para reconhecimento ótico ainda.
Sam a fitou boquiaberta.
- Você está dizendo para decepar um dedo de Evelyn?
- Dois, para garantir.
Embuste: s.m. Mentira, armadilha, emboscada, logro ou engodo.
Fim do capítulo
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Ana_Clara
Em: 16/12/2015
Meu, este capítulo foi tudo! Adorei primeiramente a menção do meu time do coração e segundo a Sam está tão engracadinha. kkkkkk Adorei este lado despojado dela, fazendo até piada de que a Theo está viúva. Caraca, morri de rir com ela agora. E torcendo muito para que elas encontrem logo uma pista mais concreta, já começo a ficar com medo de dar tudo errado na busca. E a Theo deve ser odiada por este tal de Benjamim, sempre descobre que ele fez algo de grave contra ela, que complicado!

Lari Maciel
Em: 11/11/2015
Kkkkkkk adoreiii o capítulo! Principalmente a parte do dedo! Que loucura,hen...rsrs Eve caiu direitinho...e mesmo sem querer,acabou ajudando...
Como Theo é esperta... Agora elas precisam correr contra o tempo... Que anciedade ... Que nervoso rsrsrs
Você arrasa! Esperarei anciosamente pelo próximo capítulo... Beeijooo
Resposta do autor:
Até que elas dão sorte às vezes, mas bem às vezes...
Pelo menos Eve fez algo de útil antes de morrer.
A correria tá no fim, logo elas poderão "descansar".
Obrigada, querida :)
Bjinhos
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Pipers
Em: 09/11/2015
Boa noite, atualizei minha leitura, novamente, essa 2121 é uma ação constante, estou adorando Sam e Theo, e com tantos grandes times você se lembrou dos Gambás. Beijão querida
Resposta do autor:
Poxa Alexandra, eu nem sou lá muito chegada em futebol, mas precisava escolher um né? rs
Escolhi um que tivesse a torcida mais "empolgada".
Obrigada por me ler ;)
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