Hello from the other side

I must've called a thousand times

To tell you I'm sorry

For everything that I've done

But when I call you never

Seem to be home

( Hello – Adele )

 

 

5 anos atrás

 

           Emilly acabara de estacionar o carro na vaga destinada a seu veículo no  apartamento adquirido por ela no centro da cidade. Aquela comprar era um segredo guardado a sete  chaves pela universitária, detestava o fato da sua vida particular chamar tanta atenção  e por isso mesmo tentava passar desapercebida nas rodas de fofocas da cidade  . O imóvel era seu esconderijo preferido para os encontros semanais  com Olívia. A filha do melhor amigo de seu pai, a garota que viu crescer correndo despreocupada pelo jardim de sua casa;  tornou-se uma bela jovem e roubara o seu coração. Poderia até dizer sua alma também,  quando trocaram seus primeiros beijos no aniversário de 15  anos de Liv.

           Desde então,  mantinham uma espécie de relacionamento nada convencional. Não eram exclusivas,  apesar de ambas morrerem de ciúmes uma da outra. Imposição essa  ditada por emilly que ainda não sabia lidar bem com sua própria sexualidade e que,  no  seu íntimo recriminava-se por estar envolvida por uma mulher bem mais nova do que ela. Girou a chave do apart e estranhou o silêncio inicial. “Ela deve estar entretida  com algo no quarto”, pensou.

 

           Adentrou o recinto sem fazer muito barulho queria surpreender sua menina, sabia que a mesma já se fazia presente pois deixara uma mensagem apaixonada no seu celular, exigindo a sua ida imediata. Parou de soslaio na porta do quarto do casal. A visão que teve merecia a devida contemplação. Olivia lia com  extrema concentração um livro. O cabelo muito longo estava  solto  ornado com uma delicada tiara. No rosto  óculos para leitura  com a armação estilo gatinho pintavam de graça e beleza aquela cena.

 

---  Não imagino o assunto descrito nas páginas que estas lendo, mas presumo que seja irresistivel , pois não reconheceu meu perfume assim que entrei em casa, como das outras vezes. Comentou fingindo estar chateada.

---- Meu amor. Liv fechou o livro e correu para abraça-la forte. Uma mistura de saudade e felicidade  era isso que Olívia sentia toda vez que via  o rosto da sua amada e aqueles magníficos olhos azuis.

---- Não seja ciumenta sem motivos. Saiba,  que seu cheiro é  inconfundível, senti de longe porém , preciso  definitivamente devorar os últimos capítulos de Glamour. A Drikka Silva é  uma autora fantástica , você precisa ler esse livro depois. Perez e Fernanda são personagens viciantes.  Comentou Eufórica.

----  Ok, você venceu. Leio sim ou melhor você ler para mim enquanto deito confortavelmente no seu peito. O que me diz?

---- Seu desejo é uma ordem minha senhora. Respondeu enquanto fazia um movimento de reverência.

---- Sua palhaça vem cá. Selaram aquele momento de ternura com um beijo avassalador  

 

          Aos poucos foram desfazendo –se das  roupas  e caminhando a passos largos para confortável cama de casal. Emilly mordiscava o pescoço de Liv alternando com  a língua, desfrutando daquele gosto sem igual.  Liv por sua vez , encravava  as unhas na pele alva de minerva louca de desejo.  Ems continuava sua exploração pelo corpo de sua amada, descendo até a região dos mamilos. Rosados  cabiam perfeitamente em suas mãos, uma verdadeiro Oasis para sua boca agora sedenta por aquele contato .  Estimulava-os um de cada vez  com o polegar e quando já durinhos  de tesão abocanhava sem reservas. Olívia pressionava a cabeça de Ems a intensificar o ritmo em uma clara postura de quero mais. Gritava em alto e bom som frases de cunho erótico  como: me  ch*pa  forte  vai, me engole inteira, quero te sentir dentro de mim,  me fode mor . Os sex*s friccionavam-se em um vai e vem compassado , intenso e sexual.

 

           Os gemidos e sussurros que dominavam a acústica do quarto foram interrompidos pelo barulho ensurdecedor do telefone de Emilly.  Tentaram em vão continuar a dar vazão ao desejo e amor  que as unia , mas emilly  preocupada com pai que poderia estar precisando dela, interrompeu bruscamente o momento levantando de sobressalto da cama a procurar do aparelho.

 

--- Alô.  Atendera quase sem fôlego.

--- Emilly é Jorge. Onde você está? .  Jorge  era o responsável pelo setor de finanças da empresa de seu  pai. Um verdadeiro bajulador barato que não cansava  de tentar conquistar a filha do patrão. Ems revirou os olhos irritada

--- Não lhe interessa jorge. O que você quer?. Respondeu grosseira.

----  Desculpe a intromissão. Mas preciso daquele balancete trimestral que você ficou de me repassar agora. A reunião com os acionistas é na próxima semana e só terei até hoje para aprontar a apresentação e analisar os dados. Esclareceu de pronto.

---- Tudo bem. Respondeu com resignação. Onde você está ?

---- Na empresa , na minha sala.

--- Ok. Estou indo. Desligou  já prevendo a cara que Olívia faria ao saber da “novidade”. Ems sempre fora um prodígio, desde a  adolescência participava ativamente das decisões da exportadora de peixes da família, fato esse que a fazia ser requisitada ainda como estudante de administração para resolver os problemas inerentes na empresa.

-- Deixe-me adivinhar. Novamente um problema indecifrável  para outros milhares de funcionários da companhia , que só você pode solucionar? .  Comentou ferina.

---- Meu amor seja compreensiva. Será rapido. Só tenho que entregar os balancetes ao jorge e podemos passar a tarde e se quiseres á noite inteira juntas. Respondeu sincera.

--- Não ouse dizer que não sou compreensiva. Quantas vezes me deixastes de lado para correr para empresa a qualquer hora do dia ou noite,  sem me dar explicações. Eu amo aquele lugar tanto quanto você. Meu pai trabalha la há anos , não esqueça. Cresci admirando o trabalho feito por ele e pelo tio Alfredo. Ah, tinha que ser o Jorge, aquele mauricinho metido a Taylor Lautner paraguaio não larga do seu pé. Ironizou sentida.

--- Você fica ainda mais linda  com  ciúmes, sabia? . Eu só tenho olhos para você, minha linda . Deu o seu melhor sorriso  para quebrar o clima tenso.

---- Contato que ninguém saíba que esse olhar  me pertence, não é? .  Por mais que procura-se entender os motivos enumerados para não assumir o romance, doía para Olívia viver como uma criminosa, escondendo seu amor, quando desde de muito nova assumira a homossexualidade para os amigos e familiares.

--- Já discutimos isso Olívia. Você disse que esperaria eu me formar e depois assumimos para todos.  Sabia que era a errada da história, mas não era do seu feitio  dar o braço a torcer. Precisava ganhar tempo até decidir o que fazer. Não suportava mais as cobranças da lourinha.

---  Que seja. E o que faço então então com ela? Apontou sugestiva, com as sonbrancelhas erguidas   para região da sua vagin*.  Há tempos tentava em vão relevar a covardia da “namorada” e ser paciente, por isso preferia retornar ao clima de sedução anterior.  

---- Hummm. Ems apertou de leve o centro de prazer da namorada. Olívia se contorceu inteira. Ela vai ter que esperar um pouco. Vem comigo você espera do lado de fora da sala e depois sou toda tua.  Retirou a mão  rindo  e  piscou emudecendo os lábios.

--- Idiota isso não se faz. Jogou o travisseiro na cara de Ems com o rosto vermelho denunciando  o tesão que sentia.

 

                      O  imponente  prédio da Cassilhas S/A ficava há  5 km da cidade . Emilly e Olívia chegaram na sede da empresa em tempo recorde. Jorge as esperava com um sorriso forçado na porta de sua sala. Sempre achou muito suspeito o grude entre a herdeira de Alfredo e a filha de Joaquim. Sabia pelo boca miúda que a tal “amizade” tinha contornos de romance,   mesmo achando um absurdo duas mulheres se relacionarem. A ocasião então  lhe pareceu ideal para tirar a ninfeta do seu caminho. Era ambicioso e desde que entrara na companhia  sonhava em ocupar a  presidência atraves do casamento com a Emilly.  

 

--Olá , meninas. Como vai Olívia? . O moreno lhe dirigiu a fala com a falsa simpatia.

--- Estou bem Jorge. Não retribuiu o cumprimento não gostava do engomadinho e não fazia a menor questão de esconder.

 

                    Sem jeito o moreno convidou a patroa para entrar na sua sala enquanto Olívia sentou no sofa da recepção. Na sala Emilly enumerava os pontos que havia riscado no balancete que achava importantes serem levados até o conselho. Estava feliz, porque desde a sua participação efetiva  na rotina laboral da companhia a mesma tinha crescido 25% e já se falavam até em exportar para o mercado europeu. Jorge anotava tudo atentamente, apesar do caráter duvidoso, era um ótimo profissional, gostava de bater metas. A reunião foi prolongada  , já que jorge inventava desculpas para manter emilly na sua presença, percebendo a impaciência da moça viu  ali a oportunidade  de  colocar em prático o seu plano. Do lado de fora,  Olívia cansada de esperar e sem conseguir  concentrar-se  na revista que folheava teve uma ideia nem um pouco ética. Encontrou um copo de vidro sob a mesa da secretária de jorge e como nos filmes que já assistira , colocou o objeto na porta afim de escutar o que tanto os dois conversavam.

 

--- Emilly, não quero ser invasivo,  longe disso. Mas , como amigo me preocupo com você.  Não achas comprometedor andar por ai com a filha de Joaquim.  Perguntou esperançoso que a jovem morde-se a isca.

---- Não sei onde quer chegar Jorge. E acho essa pergunta inadequada.  Respondeu nervosa levantando- se da cadeira em direção a saída sendo impedida pelo executivo .

----  Você sabe  cidade pequena. As pessoas tecem comentários . Sei que você não é assim, mas a menina até onde eu sei é lésbica logo paira a dúvida sobre você. Sem delongas jorge estreitou os olhos esperando o posicionamento de minerva.

-----  Estou pouco me lixando para opinião alheia. Deveriam é estar preocupados com suas próprias vidas, afinal metade da cidade tem o contra cheque assinado por papai. Desdenhou com soberba.  E por favor não seja leviano, nunca perderia meu tempo com uma mulher e muito menos com uma que saiu das fraldas há  pouco tempo, não tenho a menor vocação para babá. Respondeu maldosa  sentindo-se pessíma  por  mentir descaradamente. Entrara em pânico e disse de supetão  a primeira coisa que veio a mente.

 

                    Sem forças Olívia deixou o copo em sua mão se  estilhaçar  no chão . O barulho chamou atenção dos ocupantes da sala que abriram a porta imediatamente. Estática, Olívia agora banhada por lágrimas olhava incrédula para mulher a que tanto amava. Sua vontade era de esbofetia-la   até perder a coordenação da mão, mas nada lhe traria uma recompensa apaziguadora para as palavras massacrantes que ouviu. Decepcionada saiu correndo sem destino ao certo, qualquer outro lugar seria melhor do que continuar  ali  a  encarrar aquela desconhecida. Porque enfim, entendera que a mulher por qual estava apaixonada, ou melhor amava com todas as suas forças existia somente no seu imaginário, era uma projeção fajuta de um sonho nulo.

 

--- Liv me espera.  Emilly gritava sem resultado, refeita do susto inicial.

-- Espera Emilly. Deixa ela, criança logo se recuperar da decepção do primeiro amor. Ironizou o executivo.

---- Vai a merd* jorge. E por favor, só fale  o estritamente o necessário comigo. Saiu correndo atrás de Liv deixando o moreno com cara de tacho  para atrás.

 

         Uma chuva torrencial castigava os céu de Presilhas. Olívia não se importava de estar toda molhada ali naquele lugar ermo sem um mísero vivente  na rua, ligara para Jordan e o mesmo garantiu que ia pega-la depois de ficar apavorado pelos soluços misturados com choro da sua amiga. Emilly acalçara Olívia e a cena que viu partiu seu coração em pedaços. Á jovem totalmente molhada parada no estacionamento , tremendo-se dos pés a cabeça a espera provavelmente de alguns dos dois amigos fiéis.

 

--- Minha vida  me perdoa. Não é nada disso que estas pensando. Eu.. O nervosismo travou a explicação de emilly pela metade. O olhar de reprovação de Liv era indecifrável. Nunca antes tinha visto ela daquela forma. Pela primeira vez na vida sentiu um medo irracional .

---- Guarde suas explicações pro seus empregados. A mim você não deve nada minerva. A criança aqui vai ficar bem longe de você, pode apostar. Respondeu magoada, destroçada.

--- Minha linda eu te adoro, por favor não faça isso .  Num sopro de coragem emilly tentou contornar a situação.

 

--- Eu não quero ser adorada minerva. Eu quero ser amada. Confessou com o dedo em riste direcionado a universitária. Você nunca se perguntou porque aceitei seus termos absurdos para esconder essa “relação”. Disse a última palavra fazendo um sinal de aspas com os dedos . Porque eu te amo, ao contrário de você,  não tenho vergonha de gritar se for necessário o que sinto . Se estive com outras mulheres, foi por sentir que nunca fui  suficiente para ti.  Que era seu brinquedo sujo, seu segredo inconfessável, sua boneca de luxo. Eu cansei minerva, cansei de estar a sua disposição.  Pode voltar para sua vida de mentiras, de faz de conta, nós duas sabemos quem você é  atrás dessa máscara. Encerrou a fala,  já indo em direção ao carro de Jordan que acabara de chegar.

 

                   Com um taça  de vinho  nas mãos emilly rememorar amarga as últimas palavras ditas por Olívia  “ nós duas sabemos quem você é atrás dessa máscara”,  sentada naquela cama que tantas vezes fora testemunha daquele amor juvenil, daquele amor que nem o tempo apagaria. Não conseguir ir para casa, não a casa que dividia com o pai. Alfredo era um homem sensível, perceberia seu estado emocional. Fora para ele que chorou feito uma  criança desamparada,  depois que Liv partira para estudar na capital. O pai resoluto   sabia de tudo desde começo e nunca entendeu porque a filha escondeu algo tão importante. Amava Olívia e certamente aceitaria como sua companheira.

                  Sentia  ganas de se machucar,  olhava o fundo daquela  taça procurando encontrar quem sabe um pouco de alento na tal máscara que olívia dizia que ela possuía. A máscara da mulher intocável, da empresária determinava que passava por cima dos outros se fosse necessário . Percebeu que cultivava ao longo dos anos um  laço profundo com a solidão. Todas as mulheres que ocuparam o outro lado do seu leito eram figuras disformes, sem nome, personalidade , retalhos do verdadeiro motivo da sua infelicidade. Nem mesmo acreditava naquele momento no  poder das palavras ditas  no carro. Seu sobrenome que para alguns provocava medo, pouco importava se quem mais desejava não a queria por perto.

                 No Mac aberto na escrivaninha a voz potente de adele ecoava atráves de sua nova canção. O single “Hello” do novo disco traduzia em sonoridade a exaustão de sentidos que minerva experimentava. Sentia-se  suja, imunda por assim dizer, deixou a taça praticamente cheia sob o criado mudo e foi ao banheiro. Ligou o chuveiro. Tirou os sapatos e entrou vestida  no box. Sentada , deixou  a água banhar seu corpo, já pesado pelas roupas encharcadas,  misturada com o sabor salgado  das suas lágrimas. E por um instante,  se sentiu transportada para aquele mesmo dia que deixou Olívia escapar por entre seus dedos. E jurou a si mesma entregue sem  soberba, empáfia, status  de grandeza que faria sua menina a vê-la como se via agora. A mulher por detrás daquela máscara. Amanhã seria um novo dia  e talvez,  sentira um espécie de orgulho diferente. Longe dos holofotes das conquistas empresarias. Orgulho de estar em paz com quem ela era.

 

 

                    Os primeiros raios do sol adentravam as pequenas  frestas  existentes na estufa, era possível inclusive ver um tímido arco-iris formado no assoalho. Deitadas sob o piso  Olívia e  Juliette dormiam abraçadas embaladas  pelo  o  toque de Morfeu. Aos poucos , Liv  despertou  preguiçosamente, tentando a todo custo  não acordar  sua acompanhante, enquanto retirava   o braço dela da sua cintura. . Não se recordava, em qual momento foram vencidas pelo cansaço. Trocaram carícias por horas a fio durante a madrugada , marie  a fez narrar uma série de anedotas  do tempo do colégio. Olívia por sua vez, conseguiu descobrir que Julie possui um pequeno escritório de advocacia com o irmão mais velho na capital ,  fora uma adolescente reservada, com poucos amigos e com 18 anos convencera os pais a viajar sozinha para os  outros países da America do sul, depois de ter economizado   por 2 anos o salário que recebia  na loja de penhores do tio.  Sorriu embevecida  pelas lembranças da noite anterior.

 

             Inclinou-se de leve e depositou um beijo  casto  no lábios rosados da ruiva. As esmeraldas em forma de íris de Marie lhe encaravam agora despertas. O brilho daquele olhar criava  indevidamente borboletas no seu estômago.

 

 

---  Bom diiia  – Saudou uma manhosa Julie.

--- Bom dia,  princesa-  respondeu uma encantada jornalista .

--- Assim ficarei mal acostumada. O que farei quando não tiver seus beijos para o deleite  de minhas manhãs?  Brincou sapeca.

--- Não seja por isso, minha dama.  Salpicou incontáveis beijos por toda a face da ruiva,   que gargalhava satisfeita -  Quando não puder estar contigo pessoalmente, ouça  seu coração,  pois ele me enviará até você. Beijou  sedutora a palmão da mão de Julie.

 

          O clima de romance entre as duas foi interrompidos pelo toque do celular de Liv. “Droga, esqueci de colocar  no modo  silencioso”, recriminava-se chateada. No visor  “ Mamy  V ” brilhava insistentemente. Dona Valquíria deveria já  estar chamando a guarda nacional preocupada com seu sumiço.  Franziu a testa imaginando  .

 

--- Alô  . Respondeu no quarto  toque.

--- Olívia Toledo Lopes. Você quer me encontrar morta agonizante no chão da cozinha? Menos de 48 horas na cidade e  você  tem a audácia de dormir fora sem dar notícias. Oh, meu pai eterno onde foi que errei na criação dessa menina. Sua desalmada, Sua inresponsavel ,  não tem pena da sua pobre mãe.  Você vai me deixar   de cabelos brancos  antes da hora.  Queixava-se  em tom choroso do outro lado da linha.

--- Mamãe primeiro respire. Segundo, sem drama, estou bem ,  sã  e salva e praticamente no caminho de casa. Marie ergueu  as sonbrancelhas em tom inquisitor como se indaga-se “ É mesmo?”. Chego aí em 20 minutos viu? Te amo.  Cheiro. E desligou  o telefone antes que a mãe  recomeça-se a mesma ladainha.

----  Sua mãe parece ser uma figura - Marie comentou divertida.

---- Você não imagina o quanto. Suspirou resignada

---- Vamos . Levantou-se de uma vez espalmando um pouco de terra impregnada na  roupa  . Não quero ser a responsável por uma catástrofe familiar. Afinal, quero ter a chance de conhecer seus pais sem  ser expulsa a  ponta pés por ter “sequestrado” a filhinha  deles. Debochou  brincalhona.

---- Não tema minha ruiva. Nada que um bom chamego não resolva. Dona Val é uma atriz nata depois de algumas  lamentações, vem a carência de abraços e beijinhos. Sei como amansar a fera.  Respondeu confiante em um  tom jocoso, já caminhando de mãos dadas  com a advogada em  direção ao carro.

 

            Cerca de 20 minutos depois, Julie estacionou  sua Pajero sport  na frente do casarão da familia toledo.  Olívia estava mais do que tentada a  convidar a ruiva para um segundo encontro,  ainda naquele dia .  Nunca foi do tipo de mulher que seguia regras  tolas do tipo: não tenha pressa, deixe a outra sugerir primeiro, não pareça oferecida, tenha cautela,  entre outras balelas, que no fundo para ela significavam  uma única palavra vazia medo. Lembrou naquele instante de uma frase proferida por  Mahatma  Gandhi “ um covarde é incapaz de demostrar amor, isso é  prívilégio dos corajosos.  Mesmo achando precipitado falar em  amor naquele momento, entendia que todo sentimento requer uma parcela extra de  coragem.

 

--- Você... Falaram a mesmo tempo. Constrangidas sorriam sem jeito.  

---- Eu estava pensando, no final da tarde. Eu, você e a praia. Não seria uma boa combinação ?  . Sugeriu Liv esperançosa .

---- Eu adoraria.  Mas,  prometi a Jéssica que hoje daria meu parecer sobre a documentação de expansão do Dyke.  Não sei lhe dizer ao certo,  que horas vou conseguir desocupar. Comentou com sincero pesar.

-- Tudo bem. Sorriu fraco. Procurou entre os pertentes da advogada o telefone dela . Sob o olhar atento da outra digitou o seu número e o  salvou na agenda de contatos.

--- Bom, você sabe onde moro, tem meu número agora.  Em uma escala de 1 a 10 de motivos para me manter interessada . Aproximou-se perigosamente do corpo da outra parando a centímetros de sua boca, segurando o seu queixo com a ponta dos dedos  . Diria que sua nota até aqui é 6.  Com reais possibilidades de um 8. Surpreenda-me.  Sorriu enigmática.

 

          Dito isso  depositou  um beijo molhado em seus lábios, mordiscando as laterais , saindo logo em seguida do carro, quebrando não só o contato visual ,  como deixando para trás uma abobalhada  Marie. A passos lentos,   notou que a outra demorou alguns minutos para sair do transe e dar partida no veículo. Internamente comemorou sua investida recitando a letra de uma canção de Annie Lenox “ I put a Spell on you “ ( eu coloquei um feitiço em você).  Correu feliz para o interior da sua casa.

 

          Do outro lado da cidade, Samantha acordava com a  clara sensação que seu cérebro estava em rota de fuga pelos seus olhos, enquanto os tambores do  Oludum faziam eco dentro  da sua cabeça em forma de enxaqueca. “ Maldita Ressaca”  murmurou baixinho.   A claridade invadia todos os espaços daquele quarto , o qual diga-se de passagem,  não  reconhecia.  Uma corrente fria fez seu corpo semi nu tremer.  Tateou aquela cama espaçosa atrás do seu celular, um relógio ou  qualquer outro  meio de localização . Congelou amedrontada  quando notou a presença de um corpo desfalecido ao seu lado encoberto por  lençois. .

 

   --- Não acredito nisso Samantha.  De novo não. Quantas vezes eu disso para você, que a regra básica de um término é  não ficar trans*ndo  com sua ex . Tudo bem que ela faz gostoso, que  aquele sorriso safado  te mata,  sem falar naquelas pernas enormes , mas mulherzinha  cadê seu autocontrole, sua força de vontade, sua determinação, sua vergonha na cara. Entretida com seu monólogo   acabou sendo pegar  de surpresa pela movimentação da “ outra” ocupante da cama.

 

        Preparou-se psicologicamente    para vestir a  carapuça da indiferença e sair correndo  dali o mais rápido possível, antes de finalmente  acordar Jéssica. Respirou fundo e começo a balançar os ombros da outra para desperta-la ,  mas algo estava errado. Jéssica parecia agora possuir ombros mais largos, braços mais fortes., espera  um minuto,  onde estão os seios dela ... De duas uma:  ou aquilo era fruto da sua imaginação fértil pós  álcool ou ao invés de Jess quem dormia do seu lado era..

 

--- Um Homem – Gritou em pânico  tão alto que toda vizinhança  deve ter ouvido,  ao puxar com força o lençol que escondia um Jordan totalmente nu e descabelado.

 

--- Sapatão soprano,  se você não tem amor pelos  seus tímpanos, sinto muito informar que eu tenho pelo meus.  Ralhou  a tordoado  puxando  o lençol pra si. Ainda drogue  tentou sentar  na cama.

 

--- Você.. A gente.. Nós..  Nervosa Sam  gesticulava com as mãos em movimentos estabanados de vai e vem. Aflita não  conseguia  verbalizar uma frase completa.

---- E o que mulher? Além de bêbada usou drogas foi? . Eu vou tomar banho  e depois tento dar um jeito  em você.  Por  Lady gaga o que foi que você consumiu hein?

 

---- Não levanta, pela amor de Deus. Cobre isso. Eu te imploro. Você tá nu.  Gritou novamente tampando os olhos.

 

---- Nu?  Mas como? . Levantou o lençol para comprovar o fato . Aiin minha nossa senhora protetora das bichas,  você abusou de mim? 

 

--- Eu? Você que deve ter abusado de mim. Disse convicta.  Vê se eu tenho cara de quem dar em cima de marmanjo? Principalmente um que passa as horas vagas entretido com as temporadas de pokémon na netflix. Eu tenho uma reputação a zelar. Eu era pura sabia. Nunca tinha estado com um cara. Choramigava arrasada.

--- Fique a senhora sabendo que o Asher, o  Pikachu , o Brock , a Misty e até a Equipe Rocket são melhores companhias que você.  Retrucou ofendido.  Você acha que é a unica? Tanto boy magia por ai dando sopa e fui fazer sabão. Olho desolado para o chão.

 

                           A discussão acalorado entre os dois prosseguia de vento em pompa, alheia ao embate dentro do quarto, jess chegava do supermercado com algumas guloseimas para o café da manhã, com os últimos acontecimentos da noite,  achara   melhor trazer os meninos para o sobrado que mantinha vizinho ao bar. Ainda por cima a prima, recèm-chegada a cidade sumira sem  maiores explicações. Mas Juliette era bem grandinha, tinha a chave de casa, ou seja sabe se cuidar.  Mal teve tempo de deixar o conteúdo das compras na mesa da cozinha e foi  guiada pelos gritos ao encontro dos  seus  hospedes . A cena que encontrou era no minímo inusitada  Sam agora de calcinha e sutiã, corria  em círculos  de um Jordan de cuecas que ameaçava matá-la.

 

----  Eu não acredito que você deu a minha Totally Hair Barbie para a Abgail. Eu chorei semanas pela perda. Relembrou choroso.

---- Eu tinha 8 anos. Estava apaixonada. A menina queria a boneca. Na mente de uma criança é uma escolha simples não?. E você  tinha outras, dava pra superar. Meneou os ombros com descaso.

---- Era um item de colecionador. Sua sem cultura. Retrucou puto.

                       Completamente confusa e já tonta tentado acompanhar o disparate dos dois. Jessica resolveu se manifestar, atraves de um assobio ,  chamado a atenção da dupla agora exausta pela corrida.

 

---  Qual é o problema com vocês? . Não posso deixa-los por meia hora  sozinhos, que já transformam meu quarto  em cenário pós apocalíptico?

---- Seu quarto. Responderam em uníssono.

----  Além de enfiarem o pé na jaca  acordaram surdos. Sim meu quarto. Minha casa. Aff..

---- Jess como pode, depois de tudo que passamos juntas. Ok, eu não era lá um namorada  maravilhosa.  Esqueci o nosso aniversário de 1 semana, mas pow uma semana..  Quem comemorar uma semana , hein?. Quando notou a cara de ódio de Jesse arrependeu-se de imediato da lembrança.

--- E eu Jess, sei que nunca fomos bem  íntimos. Mas eu lhe dei o número daquela minha prima mineira e também o skype. Relembrou Jordan. Sem jeito jess coçou a cabeça enquanto Sam lhe dava  um olhar mortal.

----  Do que diabos vocês estão falando?

---- Ora do que.  Sexo.  O   que seria mais ? . Mas você   está aqui e nós também. Meu deus foi um ménage? . Falaram ao mesmo tempo espantados.

 

 

                 De todos os absurdos que escutara dos dois amigos  ao longo da noite com certeza aquele superava  as suas expectativas. Sua incredulidade era tamanha que sem condições para rebater aquele absurdo descomunal caiu em um ataque de  gargalhadas . Riu de cair e rolar na cama, enquanto os dois permaneciam inertes com grande ponto de interrogação na cabeça. Recomposta depois de chorar de tanto rir explicou:

 

--- Vocês quase  acabaram com meu estoque de bebidas, beberam além da comanda  e nem por um decreto divino queriam ir pra casa.  Eu e o roberval, aquele meu segurança armário que você Jordan,  fez questão de apalpar de todas formas possíveis e não me pergunte o que fizeram depois que sumiram das minhas vistas. Enfim,  trouxemos vocês  aqui para o sobrado. Foi um sacríficio tirar a roupa de ambos para dormirem ao menos confortáveis . A Sam ainda consegui deixar de calcinha e sutiã. Você Jordan queria dormir pelado foi o jeito permitir. Eu dormi no sófa da sala.  Relatou cada detalhe para dupla que agora preferia  enfiar a cara dentro de um buraco do que encarar a empresária de  tanta vergonha.

 

  -----  Ain gente, passou. Vão ficar ai calados feito duas mumias.  Coloquem  suas  roupa e vamos tomar um café reforçado. Só me arrependo de não ter feito um vídeo caseiros de vocês correndo atrás um do o outro. Seria um espetáculo para as comemorações de fim de ano. Comentou Divertida.

 

                          O café da manhã do trio foi regado a muita zoação por parte de jess com os dois amigos. Ainda de bico Sam e Jordan respondiam o estritamente o necessário para a proprietária do Dkye. Um  clima ameno  foi tomando conta do ambiente e os três já começavam a ficar mais á vontade um com o outro. Derrepente escutaram a chave girar na fechadura e uma ruiva com cara de estar no mundo da lua era interceptada por três olhares curiosos.

 

              Olívia capotou  por no mínimo 4 horas. Não percebera o quanto seu corpo estava exausto das aventuras da noite anterior, conseguiu burlar o discurso recriminatório da mãe  com a promessa de filmes, pipoca e brigadeiro para aquela noite. Lembrou-se dos amigos, mas de certo estariam bem, se não teria  notícias de ambos. Mesmo assim, pegou o celular para enviar uma mensagem pelo  whatsapp para os dois. Percebeu que  dois números desconhecidos haviam  lhe deixado mensagens. O primeiro indentificou   como sendo de Marie. No texto,  a ruiva agradecia pelo encontro  e dizia que ligaria mais tarde para desejar boa noite. “Muito fofa” , pensou a jornalista. O segundo provocou um arrepio profundo por toda extensão de sua espinha dorsal. Negaria veemente  caso alguém pergunta-se , mas ali sozinha chorou baixinho  por tudo aquilo que poderia ter sido e  por tudo que ela ainda sentia.

 

“Não te amo como se fosse rosa de sal,topázio

ou flecha de cravos que

propagam o fogo:

te amo como se amam certas coisas obscuras,

secretamente,entre a sombra e a alma.

 

Te amo como a planta que não

floresce e leva

dentro de si,oculta, a luz daquelas flores,

e graças a

teu amor vive escuro em meu corpo

o apertado aroma que ascendeu da terra.

 

Te amo sem saber como,nem quando,nem onde,

te amo diretamente sem

problemas nem orgulho:

assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

 

senão assim deste modo em que eu não sou nem és

tão perto que tua

mão sobre meu peito é minha

tão perto que se fecham meus olhos com meu

sonho.

 

— Pablo Neruda

 

PS: Uma vez você me disse ,  que me escondo atrás  de uma máscara. Tens razão, por anos foi exatamente  isso que eu  fiz. Pode-se  dizer que foi acomodação, medo,  covardia . Nomeei como quiser. Porém,  ao te reencontrar soube que a vida estava me dando uma segunda chance. Eu não quero mais ter medo. Eu quero te merecer. Para todo não que sair de tua  boca, te darei milhares de motivos para me dizer sim. Me espere na segunda-feira pela manhã. Beijo meu amor.  

 

continua...

 

 

 

Fim do capítulo