Olívia não saberia dizer ao certo , do que mais sentia saudades ao longo dos 4 anos ausente de Presilhas. A jovem  estava  voltando a sua cidade natal depois da formatura em jornalismo na UFC ( Universidade Federal do Ceará ).   A cidade litorânea de Presilhas, localizada a 4.500 km da Capital Fortaleza era um verdadeiro  êxtase de cores e movimentos. Praia e concreto  duelavam   os espaços, como dois amantes a procura do seu ponto de equilíbrio.           

  O regresso ainda provocava extensos calafrios por toda sua espinha dorsal,  mas  sentada ali    confortavelmente esparramada no banco  traseiro do  maverick azul de seu pai, enquanto ouvia a mãe reclamar pela milésima  vez o quão magra ela estava,  ou o que a  vida na capital tinha feito a seu bebê, percebeu  que inevitavelmente o destino: “ esse moleque travesso e implacável”,  sempre daria um jeito de carrega-la  de volta ao  lar.

 Seu Joaquim e Dona Valquíria, eram duas criaturas inversamente proporcionais. Viviam as turras como cão e gato, mas se amavam com loucura e nunca passavam mais do que um dia longe o do outro. Liv admirava   a cumplicidade palpável dos pais, porém  jamais conseguiu fixar morada em nenhuma das inúmeras amantes que teve nos últimos anos. Como boa ariana, possuía quase uma  compulsão pela conquista do objeto de sua afeição, mas a chama se apagava na mesma velocidade que tomava de assalto seus pensamentos.       

    Há pouco  mais de 1 quarteirão  do velho casarão da família Lopes & Toledo Liv conjecturava curiosa , sobre  o que Sam e Jordan estavam aprontando em sua casa junto com o resto da sua família . Ligou  para ambos  antes de embarcar e nenhum dos dois tiveram a delicadeza , de retornar suas ligações. “Tão típico” bufava  mentalmente antes de rir sozinha.

    Sam e Jordan são  seus fiéis escudeiros, amigos de infância desde os 5 anos de idade  elo  este   que ficou ainda mais forte  aos 13 anos ,  quando os três assumiram a   homossexualidade   para os amigos e familiares. E, para a surpresa do trio, o assunto foi levado com bastante naturalidade por todos. “Alguns demônios, as vezes não são tão assustadores como pensávamos”,  Liv refletia saudosa . Desde então, ficaram conhecidos nas rodinhas de jovens da cidade pela alcunha  de “profana trindade”. O apelido um  tanto maldoso, não contemplava  de fato as ações do grupo, gostavam de manter seus rolos e namoricos e até provocaram alguma arruaça , mas tinham uma regra sagrada “ não brincavam com o sentimento de  ninguém, sempre revelando suas intenções”. 

     O cheiro inconfundível de churrasco invadiu a narina de liv e  de seus pais no exato instante  que os três adentravam a  garagem da casa. De longe,  já se ouvia os gritos afetados de Jordan para Sam, impaciente com o  atraso  de Olívia .    

---- Aquela sapatão dos infernos, quer me deixar em cólicas com tanta demorar. Vou já ligar  para o seu Jô e a tia val e descobrir o paradeiro deles.  O que adianta preparamos uma surpresa se nossos cúmplices não  seguem as regras. Hello, cadê comprometimento?.

 

     Liv conseguia   visualizar  de imediato as feições de Samantha  revirando os olhos, na clara postura de “menos, bicha”.  Liv e os pais caíram em uma   gargalha gostosa . Eles por terem sido descobertos e ela  por saber que o dia prometia..  Entraram  os três abraçados em casa. Ao  cruzar a porta da sala  de estar para área reservada a piscina,  Meg,  a buldogue francesa da família , acabou com qualquer miníma intenção  do trio  de surpreender  os  convidados. Latindo alto, correu em desespero  ao  encontro de Olivia  e pulou em seu  colo.

 

 --- Deus, como senti sua falta sua pulguenta olhuda.  Liv  ralhava com Meg, enquanto brincava com suas patinhas.                                    

 

Sam e Jordan foram os próximos, os três quase foram  ao chão com o abraço forte.  Risadas mescladas com  lágrimas, denunciava  o quanto sentiram  aquela separação.   Em seguida os  tios, primos e vizinhos vieram ao seu  encontro. Felicitações pela formatura, perguntas inconvenientes e  a mesma ladainha sobre a perda de peso foram a tônica do papo que  se seguiu.  Enquanto isso,  Sam comandava as  picapes  como  Dj  da festa executando   uma lista caprichada  das  músicas favoritas da turma : Pop  nacional e internacional, sertanejo, forró, entre outros  ritmos animavam todos os presentes.   

 

  Liv  passou rapidamente no seu  velho quarto, para trocar de roupa. E  não conseguiu  evitar    emitir  alguns demorados suspiros. Tudo estava  exatamente igual ao dia que partiu . Seus pôsteres da Scarlet Jonhansson e da Joss Stone pregados na parede lateral a cama  . 

 

---  Sim, tenho   profundo a preço por loiras. Riu baixinho ao constar o óbvio.

 

     Seu tênis surrado do colégio, os  livros de Agatha  Christie, Fernando pessoa e Drummond em cima da escrivania  e o troféu levemente empoeirado do campeonato de handebol do 3º ano.  As lágrimas teimosas,  que jurou  terem secado na recepção calorosa voltaram a banhar  seu belo rosto . Olívia  foi relativamente feliz nos anos de estudos na capital, porém  nem de perto se comparava a essência da menina espevitada, comunicativa e bagunceira refletiva naquele cômodo.

 

   Minutos depois, refeita daquela nostalgia   e devidamente vestida para ocasião : short curto , biquíni com estampas étnicas  e havaianas,  olhou-se mais uma vez no espelho  para aprovar a sua  escolha  e   foi cantarolando baixando   em direção a festa.

 

    A festa continua animada nas primeiras horas da noite daquela sexta-feira. Liv e sua turma agora composta por Sam , Jordan e  Monique riam bastante  e relembravam  várias anedotas do tempo do colégio e antes da sua partida. Tudo regado a muita vodca, cerveja e martinis. Liv, poderia até jurar que Monique, uma japonesa de generosas curvas , que jogou  com ela no time do colégio,  estava  com tantos toques em seu ombro e frases de duplo sentido  tentando esticar a noite   em sua cama . O que de forma  nenhuma, lhe pareceu uma má ideia,  . O resto dos convidados entretanto , inclusive os pais de Liv se arriscavam no gramado em um   autêntico forro pé de serra.

 

     Os primeiros indícios que a festa não teria hora para terminar estavam descrito nesse cenário. Derrepente Liv fixou  a visão em um ponto especifico  do gramado . E daquele momento em diante, era como se  um soco tivesse atravessado seu estômago e lhe derrubado  inerte no chão. O fantasma  que lutou  tanto, para enterrar nos sombrios domínios de seu subconsciente materializou- se  ali,    na sua casa  ainda mais linda, do que sua memória recordava. Trajava   um discreto,  porém charmoso conjunto de blazer e calça de linho social e  uma sandália baixinha nos pés.   Doutor  Alfredo, chefe e melhor amigo do pai de Liv acabava de chegar  sorridente ao lado da filha, Emilly Minerva Cassilhas. E  cumprimentava  seus pais e os outros convidados.                              

 

     Emilly foi para Olivia o mais próximo do ideario romântico de amor que os livros de poesia , filmes e os  seus   próprios pais  emanavam.  A loira de 1, 75 de altura  , estonteantes   olhos azuis,  boca pequena e nariz arrebitado foi o seu primeiro amor. Nem mesmo a diferença de idade de 7 anos, entre as duas foi capaz de impedir o enlace cósmico que as consumia. Ems, como carinhosamente Liv  apelidou , lhe ensinou como beijar, como tocar em mulher e também partiu seu coração em milhares de pedaços .

   Tomada por um sentimento de   fúria   bebeu  uma  dose extra  de vodca pura. O líquido  desceu na sua garganta de forma cortante,  sem nem ao menos conseguir  realizar seu  objetivo final  : disfarçar  o nervosismo. Samantha e Jordan olharam –se temendo o que viria a seguir. Sam foi a primeira a se manifestar, puxando Liv  sob protestos dos demais até a cozinha.  Liv estava tão atordoada,  que deixou-se leva sem relutância , feito   uma boneca de pano carregada ao bel prazer de sua dona. Na cozinha  a conversa envereda por caminhos bem tensos.

 

--Senta ai- ordenou sam

 

--- Ok,  mamãe – desdenhava uma liv levemente embriagada

 

--- Porr* L. Será,  que  vou ter que comprar um babador  toda vez que você encontrar a minerva? . Pensei que a vida na capital teria finalmente  posto fim ao  feitiço dessa mulher em você.  Até a moniqueque é lesada por natureza   percebeu  a sua mudança brusca de comportamento. Se você pretende ficar com ela, é  melhor voltar para essa órbita. Discursava em um  tom evidente  de reprovação.

 

---   Me erra S. Não tem nada haver , apenas  fiquei  surpresa de vê -la   aqui.  Até onde lembro, sua persona era praticamente uma extensão daquele escritório. Faltava constantemente os aniversários de seus familiares, por alguma reunião inadiável que as vezes , durava horas e mais horas.  A sua presença hoje é praticamente um fato inusitado. Respondeu displicente rezando para amiga não perceber a sua mentira sincera.

 

 -  Detesto quando você subestima minha inteligência. Lembra eu estava lá  quando tudo aconteceu.  Não mente para mim e principalmente não minta para você. Eu sei, sempre vai existir aquela pessoa que ira nos assombrar. Mas por favor, por mim pelo Jordan e por todos que te amam, deixe o passado no seu devido lugar  e siga frente.  Aconselhou    com    doçura  apoiando as duas   mãos sobre as  de Liv, em sinal de conforto.

 

-  Tudo bem Sam, só me tirar daqui. Vou pensar com carinho sobre tudo o que me disse.   Só  não quero justo hoje, ter que lidar com mais um drama. Afundou o corpo na cadeira  confessando   suplicante.

 

 - Tá bom.  Me diz o que não faço por você viadinha? .  sorriram cúmplices. Vou chamar o resto do pessoal e vamos ao Dyke . Ligo para Jess  no caminho para reservar uma mesa.  E Advinha?.  Hoje é noite do karaokê  . Comentou eufórica.

 

---  OMG . Hoje voltamos só quando dia amanhecer.  Como nos velhos tempo hein?. bateram um Hi Fi em comemoração. 

 

De volta a área da piscina , Sam ficou  encarregada  de avisar ao pessoal sobre os novos planos.  Jordan que  nunca saia de casa menos do que divino , já estava pronto para o agito  e como tinha  bebido pouco ficaria responsável por ser o motorista da turma.  Samantha  e Olivia  respectivamente  foram trocar de roupas. Desde a adolescência  ambas deixavam uma muda de roupas uma na casa da outra para momentos assim.  Olivia optara por   um vestido preto justo, para valorizar seu colo,  uma sandália da mesma coloração alta , cabelo solto encaracolado nas pontas,  uma sombra marron avermelhada nos olhos e  um  batom nude nos lábios   . Já Samantha, sempre fez o estilo “gata selvagem” . Os cabelos muito pretos desregrados  permaneceram  soltos, acompanhado por um capri justo nas coxas torneadas,  uma blusa canoa caída no ombro e nos lábios  um batom carmim.  Depois de aprovarem o visual uma da outra ,  saíram com a promessa de tornar aquela noite memorável.

 

     O plano era sair sem levantar muitas suspeitas, o grupo andava em fila indiana  praticamente pisando em ovos  ao atravessar  o imenso jardim até a entrada da garagem.  Porém, antes de completarem a sua missão,  foram interrompidos  por  seu Jô acompanhado de Alfredo e Emilly. Sem graça, Liv se viu abraçada pelo bonachão  Alfredo. O Senhor de pouco mais de 70 anos, tinha um carinho  fraternal por Olívia. Acompanhou seus primeiros anos de vida  e  no começo da carreira de seu pai, financiou  seus estudos . Liv sorriu  feliz para figura á  sua frente. Alfredo então, percebendo a inércia da filha  e incentivou   Emilly a  puxar conversar com Liv .

 

--- Milly não vai cumprimentar a pequena Li? .

 

        Emilly que até então acompanhava tudo calada, finalmente se pronunciou com sua característica voz aveludada.

 

---  Como vai Olivia? .  Vejo que a pirralha que conheci  pouco lembra a mulher agora a minha frente. Aliás parabéns pela formatura, sempre torci pelo seu sucesso. Comentou sincera, sem esconder o seu  interesse devorando o corpo de Liv despudoradamente, após depositar dois beijinhos de comadre em seu rosto .

 

   Liv demorou 3 minutos em transe com a pele queimado pelo contato, para se recompor   e respondeu impaciente.

---- Estou ótima Minerva. Obrigada pela felicitação e  elogio, infelizmente acho que não posso retribui-lo, já que para mim continuas igual. Respondeu seca, querendo encerrar qualquer tentativa de  aproximação  Sabia muito bem o quanto Emilly odiava ser chamada pelo o nome do meio. Era uma implicância que ela e os amigos mantinham desde a época da adolescência.

 

     O comentário mordaz fez com Ems, levanta-se a sobrancelha direita,  contrariada. Se Liv queria jogar, ela não se faria de rogada. Do outro lado do dito “jogo” os amigos de Olívia  observam interessados o embate entre as duas mulheres , como quem acompanha o último episodio de sua série favorita. Jordan cutucou Sam e soltou sem pensar .

 

---  Estou para ir na cozinha pegar uma taça de vinho, sentar na varanda e ficar aqui observando   o tesão reprimidos dessas duas ai,  explodir em mais cores do que os vestidos das Drags  do RuPaul´s  Drag Race . Comentou  teatralmente com a mão sobre o coração.          

  Sam se contorceu  para não rir e deu um beliscão no braço direito do amigo.

 

---  Ai doeu seu projeto de Alex do Orange the New Black -  queixou-se  sentido.

 

---- Isso e pra você ficar quieto . Talvez tenhamos que interferir antes que a situação piore. Ponderou uma preocupada  Sam.

 

---- Papai acho que fomos incovinentes. Está claro, que Olivia e os amigos pretendem sair e estamos atrapalhando os seus planos. Irônica, Emilly  não resistia a ideia de provocar Liv o tanto quanto podia .       

        Seu Jô  que não entendia   muito bem o clima que havia se instaurado entre as duas finalmente  se manifestou.

 

 ---  Minha filha não achas melhor sair de táxi? . Vejo que  Jordan está com as chaves do carro, porém ele também  estava bebendo. Essa cidade anda tão perigosa. Temo por todos vocês. O instinto de proteção do pai  de Liv foi prontamente seguido por Alfredo, que  como homem de negócios prático  tinha a   solução perfeita para  o impasse .

 

---  Pequena Li, porque não deixe que emilly leve você e seus amigos  a onde desejam ir. Ainda tenho muito que conversar com seu velho pai,  depois Milly retornar para me buscar.  Piscou  olho divertido.                     

 

    Antes que Olivia ou os  amigos pudessem protestar diante  daquela ideia terrível, seu Jô tomou a dianteira.

 

-  Alfredo, que ótima ideia. Tenho certeza que Olivia e os meninos aceitaram a gentileza. Comentou satisfeito. 

 

Olivia parecia não acredita na infame cena pintada a sua frente. Tudo que ela mais desejava era estar a quilômetros de distância de Emilly e agora se via  presa em um sinuca de bino.  Os olhares de todos caíram sobre ela , como se esperassem  um veredito do júri. Sem ter   muitas alternativas, por  não quer  preocupar os pais, logo no seu primeiro dia na cidade  e muito menos , ser indelicada com  alfredo, a quem tinha tanta estima. Concordou olhando diretamente para  Emily em  desafio . Para os observadores mais atentos, era possível, ver as faíscas saindo dos olhos de ambas.  

 

--- Claro. por que não? –  concordou balançando os ombros, como se não fosse lá  grande coisa. 

 

      Um silêncio sepulcral  fazia se presente dentro do Mercedes benz classe A de Emily. Só Jordan e Sam , sussurravam um com outro como se estivesse em uma sessão de cinema.  O percurso até ao Dyke era apenas de 20 minutos, mas a sensação para  os ocupantes do carro era de que  o tempo permanecia congelado.  Emily vez por outra, se pegava observando Olívia pelo canto dos olhos. Não queria admitir para si mesma, mas o duelo que travaram foi quente. Estava achando a menina, muito mais sexy com  toda aquele jeito arrisco e  petulante . Sentia saudades disso: de ser desafiada, contrariada. Sua vida andava uma apatia por completo  .  Sentia também falta da doçura que aquela menina possuía. Da intempestividade do amor que elas sentiram ou ainda sentem, não sabia  bem definir.   

 

      Olívia por outro lado, estava achando tudo uma tortura sem igual sentia–se sufocada, com uma vontade absurda de gritar o maior número de  xingamentos  possíveis a Emilly, mas não agiria com a cabeça quente.  Concentrou –se por fim,  na paisagem vista no carro em movimento.  Monique,  que  entrou de paraquedas na história, sentiu que era hora de  falar algo , sabia por alto do envolvimento de Olivia com Emily e não gostou nem um pouco dessa aproximação, pois tinha por certo passar o resto da noite nos braços da loirinha. E nem de longe, estava acostumada a ser preterida.

 

--  Liv, o jordan  comentou que ele e a sam vão passar a noite na sua casa. Gostaria de saber se também posso. Meus pais viajaram,  não queria ficar sozinha em casa sabe.  Carregou a frase com malícia.                                                  

 

--- É claro Nick. Eu jamais  me perdoaria se você  ficasse  sozinha em uma noite tão fria como essa. Devolveu o flerte no mesmo tom de insinuação.

 

      Ems ficou possessa. Tinha percebido o interesse de Monique Holanda   na sua menina. Porém, não achou que ela seria capaz de canta-la dentro do seu carro. E isso já  era demais, para  seu autocontrole. Precisava contra-atacar a altura . Percebeu que a garota  estava sem cinto de segurança e deu um meio sorriso de lado. Antes de entrar na esquina que dava acesso ao barzinho freou o carro  bruscamente com a desculpa de ter visto um cãozinho passar correndo na rua.  Monique bateu  a testa no assento de Ems.

 

    Olivia olhou para minerva  espumando de ódio, com a típica expressão de “ eu sei que você fez de propósito”, enquanto se certificava que todos estavam bem. Emilly ecoou um perdão ao grupo  tentando aliviar o clima pesado .  Sam e Jordan  arregalaram os olhos, prevendo o tamanho da confusão  que o ex casal protagonizaria  se eles não saíssem  logo daquele carro.    

 

 Ás 22:20 em ponto Ems estacionava o carro na porta do Dyke. O Dy,  carinhosamente apelidado por seus frequentadores era um dos dois  barzinho LGBT da cidade. A dona Jéssica medeiros,  era amiga de longa data da turma e também ex- namorada de Samantha. A história das duas não havia terminado nada bem,  na frente dos outros fingiam serem adultas que se suportam e tem amigos em comum.  E quando não dava certo, sucumbiam  a atração que sentiam em noites regadas a muito sex* e álcool. O Dyke  misturava  dois ambientes, um era destinado a boate e outro ao barzinho. E a arquitetura foi inspirada   no filme Burlesque. Tudo de muito bom gosto e atendimento personalizado.  

 

 Olívia e os amigos agradeceram a carona e já se encaminhavam para a frente do estabelecimento.  Dentro do mercedes Ems  censurava- se  mentalmente, mas não podia deixar que a noite terminasse daquela forma , então em um atitude inesperada  baixou  a janela do motorista e  gritou para o grupo.

 

---  Hey, posso me juntar a vocês? .  Papai certamente não se incomodará de voltar sozinho para casa, peço para  Will, nosso motorista ir pega-lo. Tive uma semana tão difícil na empresa seria reconfortante passar algumas horas na companhia leve de vocês. Claro, se não for incomodar. O que me dizem?.  Olhou para o grupo esperançosa.

 

    Olívia preparava-se  para dar uma resposta atravessada , quando Jordan resolveu interferir.  

 

--- Claro, Emilly.  Junte-se aos bons .  Afinal,  todos  aqui temos um interesse em comum: a felicidade de Olivia não é mesmo? . Alfinetou para ver a reação da outra.

 

---  Sem dúvidas, Jordan. Respondeu séria entendendo perfeitamente a indireta.

 

       Liv e Jordan foram na frente, enquanto Samantha, Monique e uma desconfiada Emily ao telefone  vinha logo atrás.  Liv sabia muito bem que o  ato de benevolência de Jordan tinha algum motivo escuso por detrás.  Dominada pelo curiosidade cochichou no ouvido do amigo. 

 

--Confessa viado, qual é o seu plano?

 

--- Minha cara  diva do brejo não é óbvio?.   Você já  notou que simplesmente ignorar não vai resolver o problema, então demonstre para você e principalmente para ela que a nova Olívia, não é mais aquela menina de  baixo auto-estima , a qual  mendigava o amor de uma mulher mais velha, como quem precisa de ar para sobreviver. Faça com que essa noite  os papéis sejam invertidos. Tenha o controle.   

 

      Olívia  ficou com os olhos marejados, após a declaração do amigo. Tinha plena consciência, que  Jordan  tomou a decisão certa e faria o que fosse necessário, para não decepciona-lo. Antes mesmo do grupo procurar uma mesa com vista privilegiada do palco, a anfitriã  da casa  veio recepcionar entusiasmada    os amigos. Jess estava com um look despojado. Minissaia preta, regata de seda e o cabelo loiro preso de lado.  Depois de muitos abraços, algumas brincadeiras e apresentações  Jessica   informou.

 

---  Quero que vocês fiquem na minha mesa.  por favor nada de mas. Liv é uma amiga querida  e quero que  a energia dela contagia meu humilde local de trabalho.  E outra, a mesa é próxima ao palco e a beleza de vocês, certamente atiçara o público . Certo alguém, olhou sugestivamente para uma Samantha que fingia não saber do que ela falava. Me falou  que a profana trindade vai se apresentar  hoje.   Comentou já de saída, após deixar o grupo na mesa, para atender  outra leva de clientes que chegavam no barzinho.

  Emilly  conhecia algumas das  histórias  folclóricas disobre as aventuras  dos três amigos e por isso, estava ansiosa   para entender o que havia de tão especial na tal  apresentação .  Olívia sentou  ao lado de Nick,  Emilly ao lado de Jordan e Sam no canto da mesa. Timidamente o papo entre os cinco  começava a fluir. Falavam sobre tudo :  namoros, a cidade, política, cinema,  como se imaginavam  daqui uns 10 anos, entre os mais diversos tipos de  assuntos. Liv se mostrava bem acessível as investidas de Nick, cochichavam uma no ouvido da outra, alguns selinhos também foram trocados e  nick até deixou a cabeça repousar  no ombro da loirinha.

 

       Aquela cena estava pertubando Emilly. Nunca sentira tanto ciúmes, como naquele momento.  Porém, sabia que estava em situação delicada , o mínimo deslize colocaria tudo a perder.  Sua única ousadia foi tirar o pé da sandália  e passar  levemente na coxa desnuda  de Liv. O toque do pé de Ems  na coxa de Olívia , deixou ambas excitadas, mas nenhuma das duas iria  dar o braço a torcer primeiro. Liv  como quem reafirmar  ser a dona do jogo, em um  gesto rápido pisou com toda força no pé da outra.

 

--- Ai.  Gritou uma confusa Emilly.              

 

 Todos da mesa se assustaram com o grito, enquanto Minerva desconversa o motivo. Nesse momento, Jessica subiu  ao palco para anunciar o momento mais esperado da noite,  interrompendo a banda  que se apresentava ao vivo.

 

--   Bom, para quem não  me conhece sou Jessica Medeiros. Sócia e proprietária do Dyke. Alguns assobios e risadinhas foram ouvidas, enquanto uma Samantha  incomodada de braços cruzados  revirava os olhos . E hoje,  como toda  última sexta-feira  do mês promovemos  o Karaokê . Ocasião especial, para descobrimos alguns talentos entre os presentes ou simplesmente proporcionar uma noite lúdica para atiçar a imaginação de todos. Por isso, eu desafio  vocês a soltaram a voz e a  melhor interpretação vai    faturar  uma comanda 100% paga pela administração.  

 

    O frenesi foi geral com  aplausos e alguns gritos histéricos. Aos poucos,  alguns grupos se arriscavam no palco.  Passada exatamente duas horas desde do início das apresentações  Olivia, Sam e Jordan  levantaram-se elegantemente em direção ao palco. Provocando um burburinho entre os presentes no barzinho e atenção de uma eufórica Nick e uma observadora emilly. Após se posicionarem, cada um com seu  microfone Olívia brincou com a platéia. 

 

--- Bom, faz alguns anos que  nós  não fazemos  isso. Então,  nos perdoem  se desafinarmos. Vamos  tentar dar o nosso melhor.  Sorriu cafajeste, para o delírios das mulheres e homens presentes  

 

Lady Marmelede ( Patti Labelle)

 

Sam , Jordan e Olívia

 

where's all my soul sister

 

Lemme hear ya flow sistas

 

Hey sister, go sister, soul sister, flow sister

 

Hey sister, go sister, soul sister, go sister

 

Sam

 

He met Marmalade down in old Moulin Rouge

 

Strutting her stuff on the street

 

She said: Hello, hey Joe

 

You wanna give it a go, oh

 

Gichie gichie ya ya da da (hey hey hey)

 

Gichie gichie ya ya here (hee oh)

 

Mocca choco la ta ya ya (ooh yeah)

 

Creole Lady Marmalade (ohh)

 

 

 

Sam, Jordan e Olívia

 

Voulez-vous coucher avec moi, ce soir (oh oh)

 

Voulez-vous coucher avec moi (yeah yeah yeah yeah)

 

 

 

Olívia

 

He sat in her boudoir while she freshened up

 

Boy drank all that magnolia wine

 

On her black satin sheets

 

It's where he started to freak, yeah

 

Gichie gichie ya ya da da (da da da)

 

Gichie gichie ya ya here (ooh yeah yeah)

 

Mocca chocolata ya ya (ya ya) (yeah yeah yeah)

 

Creole Lady Marmalade, uh

 

Sam, Jordan e Olívia

 

Voulez-vous couché avec moi, ce soir (ce soir)

 

Voulez-vous couché avec moi (ooh).

 

Jordan

 

Yeah, yeah, aw

 

We come through with the money and the garter belts

 

Let 'em know we 'bout that cake, straight out the gate, uh

 

We independent women, some mistake us for whores

 

I'm saying, why spend mine when I can spend yours

 

Disagree, well that's you and I'm sorry

 

I'ma keep playing these cats out like Atari

 

Wear ideal shoes, gettin' love from the dudes

 

Four bad ass chicks from the Moulin Rouge

 

Hey sister, soul sister

 

betta get that dough sisters

 

We drink wine with the diamonds in the glass

 

By the case, the meaning of expensive taste

 

You wanna gichie gichie ya ya (come on)

 

Mocca choco la ta (what)

 

Creole Lady Marmalade

 

(One more time now, come on)

 

 

 

Olívia

 

Hey, hey, hey

 

Touch of her skin feeling silky smooth, hey

 

Colour of cafe au lait, alright

 

Made the savage beast inside

 

Roar until he cried: More, more, more

 

Sam

 

Now he's back home doing nine to five (nine to five)

 

Jordan

 

Living the gray flannel life

 

Olívia

 

But when he turns off the sleep, memories creep,

 

More, more, more..

 

 

 

Sam, Jordan e Olívia

 

Gichie gichie ya ya da da (da da da da uh)

 

Gichie gichie ya ya here (ohh)

 

Mocca chocolata ya ya (ooh)

 

Creole Lady Marmalade

 

Voulez-vous couché avec moi, ce soir (ce soir)

 

Voulez-vous couché avec moi (all my sisters yeah)

 

Voulez-vous couché avec moi, ce soir

 

Voulez-vous couché avec moi (ohh)

 

Creole Lady Marmalade, ooh ooo oo yes, sah!

 

 

 

 O trio  cantava cada parte da canção com uma sensualidade invejável. As vozes afinadas complementava-se. Sam e Olívia , posicionadas cada uma de um lado de Jordan, reproduzindo os passos da coreografia original  feita por Christina Aguilera, Mya, Pink e Lil Kim. Além de flertarem descaradamente um com a outra,  fato esse que , hipnotizava  a sua mesa e das outras mulheres no local. Gritos e mais urros de gostoso, gostosas, volta comigo para casa podiam ser ouvidos pelo trio, que se divertia como se não houvesse um amanhã.  Jordan não deixou  por menos e   comandava os refrões de rap com o boné virado para trás e os braços cruzados na altura do peito, seguindo  os acordes da letra,  atraindo a atenção dos solteiros presentes.   Terminaram a apresentação ovacionados pela platéia .  Monique e Emilly estavam estupefadas com o show , não conseguiam se quer piscar os olhos.  Nick  foi a primeira a  comentar  quando o trio voltou a mesa.

 

---  Vocês arrasaram cara. Parabenizou  um orgulhoso Jordan e uma agora tímida Samantha. 

 

    Quando finalmente  chegou a vez de Olívia, Nick  não perdeu tempo e depositou um beijo avassalador em seus lábios. Pega de supresa no primeiro momento Liv , correspondeu o beijo com vontade, enlaçando forte a japonesa pela cintura.  A pegação entre as duas só não durou mais tempo, porque a loirinha  senti um líquido gelado molhar o seu vestido e se afastou de  imediato.

 

  ---  Desculpe interromper, mas geralmente as pessoas usam um  motel para isso . Não sabia que os anos fora  tinha feito de você   Olívia Toledo Lopes  uma exibicionista nata.  Emilly balançava   o copo vazio de uísque nas mãos.            

 

 O episódio do carro e  a cena da bebida, foram o fim da picada para Monique. A  japonesa pulou em cima da empresária. A confusão não foi maior porque Jordan segurou uma desvairada Nick pela cintura, enquanto Sam segurava Emilly. Olívia em choque, demorou alguns minutos para se situar, quando finalmente  retornou a seu estado natural  saiu puxando Minerva  pelo salão até o banheiro  para apaziguar a situação. Trancou a porta para terem privacidade. 

 

 --- Qual é o problema com você Minerva?.   Não  contente em estragar o meu vestido, ainda quer destruir  o resto da minha noite.

 

--- Desculpa Liv. Eu perdi a cabeça,  não foi minha intenção.  Eu posso mandar o vestido para lavanderia ou lhe comprar  outro se preferir.

 

---  Você é bipolar ?.  Primeiro me ofende e depois pede desculpas. Quando vai entender que nem  tudo se resolve com seu dinheiro. Aliás, faça bom proveito dele  porque a mim não  interessa nada que venha de você.

 

--- Como você é grossa garota eu sou queria lhe ajudar.

 

---- De  boas intenções ,   dizem as más  línguas,  o inferno está cheio.

 

---  Você não saberia o que é o inferno, mesmo se  estivesse presa nele.

 

----  Ai que você se engana, sei muito bem o que é o inferno.  Foi assim que me senti , quando você passou por minha vida e envenenou tudo ao meu redor.

 

----  Não ouse me tratar assim.

 

---- O  que pretende fazer vai me bater por acaso? .  Além de uma patricinha autoritária, ainda virou uma espancadora de mulheres.

 

----Não sua  tonta  , vou fazer isso.

 

      Emilly venceu o espaço que separava as duas e beijou Olívia segurando firme  na sua nuca. Liv por um tempo tentou se soltar, mas vencida deixou a língua experiente  de Ems brincar no céu  da sua boca. O beijo foi ficando cada vez mais urgente, molhado, sedento. Ems sugava e mordisca a boca de Olívia, como se seus lábios fossem  uma deliciosa e macia fruta madura . A saudade misturada com o tesão reprimido e o calor daquela discussão estava fazendo as duas perderem os sentidos. Gemiam e falavam palavras desconexas. Um sopro de consciência atingiu Olívia. Desesperada, reuniu todas as suas  forças e empurro Emilly para longe, mas antes desferiu lhe   um sonoro tapa.  Ainda puxando ar dos pulmões vociferou.

 

---- Nunca mais ouse me tocar. Você está me ouvindo? . Eu tenho nojo de você. Cuspiu as últimas palavras enraivecida. 

 

Olívia saiu transtornada, deixando a empresária  em choque, com a marca dos  dedos no seu  rosto. Na entrada do banheiro, trombou  acidentalmente  na primeira pessoa que apareceu na sua frente. Só não caiu   de bunda no chão, porque a estranha lhe segurou firme,  impedindo a sua queda .  Uma vasta cabeleira ruiva emoldurava  um rosto de feições fortes e   sensuais. Penetrantes  olhos verdes brilhavam intensamente como dois rubis brutos á sua frente  Olívia encantada  por aquela ninfa perguntou bobamente.

 

--- Quem é você?

 

 

 

Continua..  

Fim do capítulo