Luciana falava atordoada pela demora de um dos funcionários de sua ONG: Júlio, querido, onde estão as peças que vinham da capital? Desse jeito não vai dar tempo as roupas das meninas ficarem prontas até o dia da apresentação. (Luciana geria uma organização não governamental que atendia meninas e meninos que sofriam com o descaso dos pais. Era uma das mulheres mais bem-sucedidas daquela pequena cidade, dona da maior rede de lojas da região.)

Júlio disse tentando acalmar a patroa: Dona Luciana eu acabei de falar com o seu filho e ele disse que a Aninha já tá providenciando tudo, e que vai chegar no prazo.

Luciana, fala preocupada: Não sei se fiz bem em deixar isso nas mãos da Ana Júlia, minha filha é maravilhosa, mas é jovem e tantas vezes desligada. As crianças estão muito empolgadas com a apresentação, amaram o desenho que eu fiz das roupas, enfim. Ainda bem que os ternos de futsal dos meninos estão sendo confeccionados aqui mesmo. (Luciana era mãe de Ana Júlia e Carlos Fernando, a quem tratavam por Júnior).

Uma das meninas, Vanessa, aparece anunciando: Dona Luciana a entojada da Lady de Dayane está aí fora.

Luciana empalidece: Quem?

Júlio: Calma dona Luciana. Senta aqui (Arrasta uma cadeira e faz a mulher sentar). Não vai se abalar com isso hein. (Vanessa traz um copo com água para Luciana e entrega, ela toma todo liquido.)

Luciana diz tentando manter a respiração controlada: Eu vou embora.... Vou sair pelos fundos, não quero ver essa mulher. (Júlio e Vanessa se entreolharam) Cuida de tudo aí Júlio. Vanessa fale as outras meninas que eu já converso com vocês. (Luciana ia seguindo o caminho dos fundos, até que não conseguindo se controlar Júlio resolve falar)

Júlio diz: Me desculpe, mas eu acho que a senhora não deve sair assim dona Luciana, a intrusa, e intrusa em todos os sentidos é esta mulher. (Luciana permanece calada ouvindo) A senhora está muito acima disso. E com ou sem ousadia eu vou falar o que eu penso, aliás não só eu como a maioria dessa cidade. (Vanessa assente com a cabeça concordando). É como mulher extremamente superior, linda.

Vanessa: Muito mais linda e elegante com certeza (Vanessa fala tímida, concordando)

Luciana fala sincera: Eu agradeço imensamente estas palavras de vocês, mas eu não consigo, não consigo ainda. (Deu as costas e saiu, pelos fundos, não foi vista por ninguém, e principalmente pela a dita cuja, Lady Dayane. Ao chegar em casa, agradeceu por Júnior não estar lá, e mais uma vez como já era rotina trancou-se no escritório e chorou como uma menina. Eram 42 anos, sentia-se velha, afinal era mesmo crise de meia idade? Não, aquilo jamais a incomodara, até porque ao estar diante do espelho não devia em nada para muitas mais jovens que desfilavam por aí. Mas porquê? Era o que não cansava de se perguntar. Carlos Fernando seu ex-marido e prefeito da cidade a havia trocado pôr uma garota de 21 anos, a Lady Dayane, que tinha a exata idade de Ana Julia, a filha mais velha deles. Aquilo foi um escândalo para a pacata cidade interiorana, mas afinal, o que mais lhe doía era o fato de ter vivido um casamento que sempre julgou estável, acabar de uma forma tão vã. O marido a chamou de retraída sexual. Realmente aquele título a machucou, pois se ele nunca esteve satisfeito com ela sexualmente, ela diria o mesmo, mas casamento não era só sex*. Precisava livrar-se daquele incomodo, daquela sensação de inferioridade que a assolava quando a mulher ou o ex-marido eram mencionados. Já faziam quase um ano do acontecido, mas definitivamente Lorena ainda precisava dar muitos puxões de orelha na amiga para que aquilo passasse. Lorena era a melhor amiga de Luciana, uma solteira convicta e de bem com a vida.)

Ana Júlia entrava no apartamento de Amanda, sua melhor amiga, cursavam juntas a faculdade de moda e desde que se conheceram foi instantâneo, amizade daquelas que parecem ser da vida toda. Caminhava devagar com medo de pisar em alguma daquelas criaturas que dormiam embriagadas pelo chão da casa. Tentava entender a que se devia aquele comportamento por vezes tão vil da amiga, enquanto a procurava entre aquelas caras desconhecidas, ao entrar no quarto, não pode evitar.

Ana Júlia solta um gritinho: Orr!! (Viu Amanda nua na cama com duas mulheres e mais um homem de bruços entre elas e outro que estava no chão, também nu) Amanda sua louca! Acorda...

Amanda solta um grunhido e abre os olhos de vagar: Entra no fluxo também Aninha se libera.

Ana fala: Fluxo sua maluca, isso é.... (Não conseguiu encontrar palavras, começou a no desespero acordar e enxotar aquelas pessoas que estavam espalhadas pela casa, o que demorou cerca de meia hora até esvaziar a casa, jogou a amiga no banheiro e ligou para sua patrulha salvadora de empregados que demoraram cerca de uma hora e meia até deixar a casa em ordem de novo.)

Após ouvir esporros da amiga Amanda fala: Deixa de ser boba Aninha, foi “mó” farra aqui ontem, bom demais. Estava no fluxo amore.

Ana fala revoltada pelas inconsequências da amiga:  Fluxo Amanda? Fluxo é como eu fico, você estava alienada, completamente maluca isso sim. Já imaginou se fosse teu pai chegando aqui, seu Otávio que deve até pensar que você é virgem numa suruba daquela com aquelas pessoas que você mal conhece, até quando hein você quer viver assim?

Amanda se irrita: Não fala do meu Pai Aninha! Eu nunca vou fazer isso na presença dele. E tudo isso é a coisa mais normal do mundo, geral faz Aninha, você que é metida a certinha, sabe o que dar ser certinha né? (Fala debochada). Vai casar, achando que vai ser feliz para sempre, depois vai tomar maior pé na bunda como aconteceu com a boba da tua mãe, envelhece, engorda, minha filha e deixa de ser querida, tem mais é que aproveitar tudo isso aqui mesmo, dar muito e ser feliz. (Fez gestos obscenos enquanto falava)

Ana fala com pena: Como se você fosse feliz! Você é a pessoa mais infeliz que eu conheço Amanda e quer saber cansei, não vou admitir que você continue falando mal da minha mãe, você se quer a conhece, não imagina o ser humano incrível que ela é. (Sempre que Ana Julia tentava aconselhar Amanda quanto ao modo como vivia, ela sempre dizia que ninguém ganhava nada em ser certinho, e um belo exemplo disso pra Amanda era a mãe de Ana Julia, a quem ela se quer conhecia)

Amanda com desdém: Deve ser mesmo né? Trocada por uma novinha.... Ela deve ser daquelas velhas, tipo desleixadas né, que fica esperando o marido, cheirando a cebola, nem aí para as pelancas caindo (O celular de Ana toca, ela ver no visor que é a mãe). Quem é agora? (Ela toma o celular da mão de Ana e ver) A chata da dona Luciana, só podia ser né? Quem mais? (Ana avança nela para tomar o celular, mas Amanda dificulta e não entrega até que a chamada se encerra). Você não vai falar com ela, vai falar comigo porr*, que saco!

Ana Júlia fala: Eu vou embora Amanda, e quer saber, cansei! Fala comigo quando os efeitos dessa porcaria tiverem passado falou. (Pegou o celular das mãos da amiga e saiu da casa dela, Amanda sentou-se aérea, quando Antônia aparece com uma xicara de chá)

Amanda fala: Não ficou ninguém Antônia, dos outros eu nem ligo, mas gosto da Aninha, ela é legal...

Antônia que era a mais antiga empregada da casa acolhe Amanda e fala: Você tratou ela muito mal minha princesa, deve pedir desculpas. Aquela sua namorada ligou, a Beatriz (Amanda se quer lembrava) E quem também ligou foi seu pai, disse que chega depois de amanhã (Amanda a olhou animada)

Amanda fala com toda sua empolgação: Papai vai chegar Antônia, sério bá? Preciso parar de me drogar, ele pode perceber, não vou dar festas, nem vou.... quer dizer liga para o Diego, eu vou falar que estamos namorando, ele gosta do Diego, vai achar legal isso. (Amanda queria fazer de tudo pra que o pai não percebesse seu estado de entrega as farras e vícios, e muito menos das orgias sexuais que promovia. Aquela dor que a dilacerava não tinha que ser compartilhada com a melhor pessoa do mundo que era o seu "velhinho")

Antônia: Não prefere dizer a ele que prefere a Beatriz?

Amanda desconversa: Se quer me lembro dessa Beatriz aí (Antônia a olha com repreensão) Não tenho coragem de dizer a ele que prefiro meninas, tenho medo da reação que meu velhinho teria Antônia, não suportaria jamais que ele me desprezasse, e além do mais não posso dar este desgosto a ele depois do que a víbora fez (Se referia a própria mãe que era uma mulher fútil, sem caráter, nunca a amou e sempre a reduziu a nada, chegou ao cúmulo de dar um golpe no marido e separar-se dele levando metade da fortuna. Tinha muitos traumas de infância com relação a mãe e o pai sempre foi o melhor de todos.)

Ana Julia conversava com a mãe pelo telefone, tentava acalma-la. Estava andando pelos corredores da faculdade

Ana: Mãe se acalma os tecidos vão estar aí no prazo, vai dar tempo dona Luciana. (Riu imaginando como a mãe deveria estar uma pilha)

Luciana insiste: Filha você tem certeza, meu anjo melhor você ir conferir isso amanhã de novo, minhas meninas estão super animadas com os desenhos e não quero desaponta-las meu amor.

Ana: Relaxa mãe, vai sair tudo nos conformes, chegar no prazo e tal, (Neste momento Amanda surge diante dela, com a cara de arrependida que Ana conhecia tão bem)

Luciana: Ok Aninha. Desculpa a insistência meu amor, mas você me conhece sabe como sou ansiosa.

Ana fala tentando tirar a atenção de Amanda: Está bom mãe, eu sei sim, mas não se preocupa que tá tudo certo. Beijos eu vou entrar pra assistir aula agora. Tchau (Encerrou a ligação)

Amanda fala tentando descontrair: A coroa enchendo o saco de novo é?

Ana fala chateada: a única que enche o saco aqui é você garota. (Vai saindo)

Amanda a acompanha: Aninha me desculpa. Cara eu tô mal, eu tô péssima, detesto brigar com você amiga (Ela faz Ana parar) Para pra falar comigo por favor, será que eu deixei de ser a maluca que você mais adora nesse mundo? (Tentou fazer graça) Aninha você me conhece, aliás, você é a única amiga que eu tenho de verdade. Eu vacilei, foi mal, mas cara eu tô arrependida.

Ana pergunta: Do que?

Amanda sem entender: Como do que? Oras Ana Julia.

Ana pergunta novamente: Do que? É isso mesmo que você ouviu, arrependida das merd*s que falou ainda sob efeitos das porcarias que você usa, por causa das coisas que você faz quando usa, da sua estupidez, da sua falta de amor próprio, que mais? Se for disso, eu só tenho uma coisa a te dizer, se desculpa Amanda, porque você tá se destruindo.

Amanda: Não me abandona agora Aninha. Meu pai vai chegar (Os olhos dela brilharam ao falar). Não quero fazer mais, não quero que ele tenha vergonha de mim também já basta a víbora né? (Chorou, Aninha terminou por abraça-la).

Fim do capítulo