RENATA FONTES

— Já escolheu o seu vestido? — Elisa se aproximou.

— Ainda não. — Olhei algumas opções, mas meus pensamentos estavam tomando outro rumo.

— Pegue, experimente esse. Acho que vai gostar. — O vestido era azul-claro, longo e com tecido leve. — Vai combinar com os seus olhos.

— Obrigada, amiga, vou experimentar. — Peguei o vestido e segui para o provador.

— Nenhuma piadinha sacana? — Elisa, que me seguia, falou. Ela devia estar se perguntando por que não me gabei quando ela elogiou os meus olhos.

— Hoje não, além disso, a sua mulher pode querer bater em mim. Não estou a fim de levar um soco. — Brinquei, lembrando da vez que vi Sophie acertar um soco certeiro no rosto do nosso amigo, Matheus.

— Tem razão, melhor não mexer com quem está quieta. — Elisa entrou na brincadeira. — Mudando de assunto, queria te agradecer por ter vindo hoje. Sei que está desconfortável por causa da Flávia.

— Não sei do que está falando. — Entrei no provador.

— Bom, em algum momento vocês teriam que se reencontrar. — Elisa falou baixo, ao lado de fora da porta do provador.

Ninguém sabia o que tinha acontecido entre mim e Flávia, somente Elisa.

— Já faz tempo, amiga, nem penso mais nisso. — Saí do provador e revelei o vestido no meu corpo.

— Ai meu Deus! Ficou lindo. Só precisamos ajustar essa alça. E talvez, tirar um pouco de tecido. — Estávamos em uma das suas muitas lojas de roupas, que Elisa abriu no ano anterior.

— Também gostei. Como sempre, você tem um ótimo gosto. — Comentei.

— Até que foi fácil, você continua em forma como se nunca tivesse saído das passarelas. Mas estou achando que está magra demais. — Algumas pessoas estavam reparando no quanto eu tinha emagrecido nos últimos meses, e isso não passou batido por Elisa.

— É a correria do trabalho, quase não paro para comer com calma. — Dei uma desculpa qualquer e mudei de assunto. — Você já escolheu o seu vestido?

— Não mude de assunto. Você precisa se cuidar, Rê. Estou preocupada. — Ela colocou alguns alfinetes para ajustar a alça do vestido.

— Não se preocupe, é só uma fase. Daqui a pouco vou ajustar os meus horários e focar na minha saúde.

— Por favor, vou ficar de olho em você. — Ela continuou a ajustar o vestido, tinha algumas partes folgadas. — E sim, já escolhi o meu vestido e o da Soph também; foram os primeiros modelos que desenhei.

— Pensei que dava azar ver o vestido da noiva antes do casamento. — Brinquei.

— Espero que exista uma exceção para quando a noiva é a estilista. — Rimos da sua lógica.

Me olhei no espelho por alguns minutos. Eu estava bonita, só não sentia que aquela era a melhor versão de mim. Já tinha um tempo que estava mal comigo mesma.

— Vamos mostrar o seu vestido para a Sophie?

— Vamos sim.

Sophie estava na sala ao lado com a Lara, sua irmã.

— Amor, olha que lindo o vestido da Renata. — Elisa falou empolgada, entrando na sala primeiro. Eu entrei logo atrás dela.

— Uau, ficou perfeito! — Soph veio até mim, revelando Lara e... Meu Deus! Ela estava aqui. Parei de me mover na mesma hora. Flávia me encarou de cima a baixo. Meu coração deve ter dado umas mil piruetas em meu peito. Quando nossos olhares se encontraram, ela virou o rosto para outro ponto.

— Nossa, Rê, você está tão linda. — Lara falou animada, mas Flávia permaneceu em silêncio. Eu já esperava que ela fosse me ignorar. Mesmo assim, doeu.

— Obrigada, meninas, foi a Elisa que escolheu. — Me forcei a dizer. Tudo que eu queria era sair daquela sala.

— A minha noiva tem bom gosto. — Soph beijou a bochecha de Elisa, que corou levemente.

— Meu Deus! Flávia, estava morrendo de saudade. — A estilista foi até a mais baixa e a abraçou. Flávia tinha mudado a cor do cabelo, agora ostentava um castanho médio. Também tinha emagrecido, mas nada que tirasse as suas lindas curvas.

— Oi Elisa, também senti saudade. Desculpa o atraso. Cheguei de madrugada e acabei dormindo um pouco mais. — Mesmo que ela não estivesse falando comigo, ouvir a sua voz era tão bom. E saber um pouco sobre a sua vida, depois de tanto tempo, alimentava a minha curiosidade.

— Tudo bem, Fla. O que você achou do vestido da Renata? — Elisa perguntou e logo fiquei nervosa.

— Está bonito. — Flávia não me encarava.

— Você já escolheu o seu vestido? — Elisa perguntou.

— Ainda não, acabei de chegar.

— Amor, eu e Lara separamos algumas opções para a Flávia. — Soph anunciou.

Eu devia sair dali, já tinha o vestido perfeito, mas por que não conseguia me mover? Apenas sentei em uma das poltronas e fiquei observando o diálogo delas.

— Ótimo, querida, vamos ver o que vocês escolheram. Flávia, você pode experimentar?

— Claro, já volto. — Ela pegou alguns vestidos e entrou no provador. Foi então que soltei o ar que nem percebi que estava segurando.

— Está tudo bem, Renata? — Lara perguntou. Ela estava ao meu lado.

— Está tudo ótimo. Acho que já vou, tenho que voltar para o trabalho. — Anunciei para que todas pudessem ouvir.

— Espera, Renata, eu queria muito ver como vai ficar a combinação dos vestidos de vocês três. — Soph disse e, em seguida, Flávia saiu do provador. Seu vestido era preto, longo e tomara que caia. Ela tinha prendido o cabelo em um coque elegante e sua franja estava alinhada. Sua clavícula se destacava e seu busto marcava suavemente por conta do decote.

— Então, o que acharam? — Ela virou para Elisa e Sophie.

Perfeita, pensei.

— Amiga, você está uma gata. — Soph foi até ela e a fez girar em uma volta completa. Engoli em seco. As suas curvas eram generosas e o vestido caía-lhe muito bem, não de um jeito vulgar, mas com classe, sem deixar de valorizar os seus atributos. Que, vamos combinar, era difícil de esconder. Principalmente, aquele lindo traseiro.

— Venham, meninas, queremos ver vocês juntas. — Elisa falou.

Me forcei a caminhar até onde Flávia e Lara estavam. Fiquei ao lado da irmã de Soph; era melhor evitar a proximidade com a jornalista.

— O que acha, amor?

— Para mim, está perfeito. E para vocês, meninas? — Elisa perguntou.

— Me sinto ótima. — Lara passou a mão por seu vestido na cor creme. — Amei que os nossos vestidos não precisam ser iguais.

— Não queria estragar a individualidade de vocês. — A estilista disse.

— Achei o meu lindo, por mim está ótimo. — Falei, tentando apressar as coisas. Só queria sair dali.

— E você, Fla? — Soph perguntou.

— Vocês não acham que esse decote está muito profundo?

— Você está perfeita. — Me peguei dizendo antes que pudesse me conter. — Digo, está legal.

Me odiei por pensar alto. Se Flávia notou o meu nervosismo, ela não demonstrou.

— A Rê tem razão, você está perfeita. Mas se quiser, posso diminuir o decote.

— Não, vamos deixar assim mesmo. Eu gostei. — Flávia me olhou rapidamente. — Querem que eu experimente outro vestido? Só para ter certeza.

— Tudo bem, Fla, vamos ver outros. Eu também quero experimentar mais alguns. — Lara disse.

Soph e as duas mulheres mais novas voltaram para os provadores. Decidi que era hora de ir embora.

— Já vou, qualquer coisa me liga, amiga. — Saí em direção à outra sala para trocar de roupa.

— Você acha que a melhor opção é fugir? — Elisa veio atrás de mim.

— Não estou fugindo, apenas tenho que ir. — Entrei no provador e tirei o vestido rapidamente.

— Rê, se as coisas terminaram mal, acho que vocês deviam conversar. Não queria que as coisas ficassem desconfortáveis todas as vezes em que vocês estiverem no mesmo ambiente. Com o casamento chegando, vai ser impossível evitar o contato. Vocês são nossas amigas, mesmo depois do casamento, vão sempre frequentar os mesmos lugares quando estivermos reunidas.

— Já terminou? — Perguntei, saindo da sala e indo para a saída da loja.

— Não estou dizendo para você encarar isso de uma forma romântica. Apenas tentar reatar a amizade.

— Lizzy, sei que errei em agir pelas costas da Flávia. Mas não se preocupe, ela deixou bem claro que não somos amigas da última vez que conversamos. Nem sei se chegamos a ser estranhas. Fica tranquila que não vou estragar o seu momento e o da Sophie. Faço o que você quiser, menos isso. Deixa as coisas como estão.

— Não é nada disso. Não estou preocupada que você estrague o casamento. Só não quero te ver triste.

— Não estou triste. Já se passaram meses, estou muito bem. Por que isso mudaria agora? — Falei, tentando me convencer que aquela era a verdade.

— Tudo bem, Rê, não vou insistir. Você sabe o que é melhor para você.

— Obrigada.

— Dirige com cuidado. Nos vemos na segunda para a prova do bolo. — Fui até Elisa e lhe abracei.

— Estarei lá.

Entrei no meu carro e saí dali em direção ao meu escritório.

@escritora.kelly

Fim do capítulo