Cameron no metrô ainda vibrava pelo bom resultado da equipe. Sorria sozinha, e pensava com certa raiva em Carrie. Pensava em como ela era boa no que fazia e com raiva por ainda se sentir mexida com a presença dela.

Chegando em casa encontrou Alicia dando de comer para sua mãe, estranhou pois não era normal naquele horário.

- Boa tarde mãe! - deu um beijo em sua testa e olhou curiosa para Alicia que demonstrou preocupação. - Tudo bem?

- Sim filha! foi só um mal estar, falei para Alicia que não precisava esperar você chegar. - as duas amigas se olharam e Alicia meneou negativamente com a cabeça.

- Como está se sentindo agora? 

- Estou melhor! Tomei um remédio e vou deitar agora. - lentamente se levantou e foi em direção a seu quarto.

- Ela quase desmaiou de dor. Implorou para não te contar, mas não posso esconder. 

- Você fez certo. Obrigada. - Carrie olhava para o quarto da mãe com apreensão. - Semana que vem eu a levo no médico novamente. Só não sei mais se poderei deixá-la sozinha em casa. 

- Sinto muito amiga, queria poder ajudar mais, mas com meu trabalho só consigo ficar a tarde .

- Imagina! Você já ajuda demais. Vou dar um jeito.

Pouco tempo depois, Alicia vai embora, e Carrie toma um banho rápido  para poder ficar um pouco com sua mãe antes dela adormecer. No chuveiro ela chora em silêncio pela saúde de sua mãe e em tudo que tem feito para ficarem bem.

- Mãe! - sussurra. - Está acordada ainda?

- Sim minha filha.  O que aconteceu de bom em seu dia hoje? - a senhora segurou a mão da filha.

- Fechamos um empreendimento muito grande. Pude participar.

- Do que era esse empreendimento?

- Umas casas sustentáveis na Costa Rica. Parece que é um contrato que vai ajudar muita gente lá. Você tinha que ver a felicidade da Carrie. Ela até chorou. A reunião foi incrível. Carrie domina muito bem tudo. 

- Sei! Ela foi incrível! Não gosto dela se ela trata minha filha mal.

- Eu vou tirar ela da cabeça mãe. Sabe que a sócia dela me convidou para sair hoje e se meu radar está funcionando. Ela é lésbica. 

- Então Alicia! Está esperando o que para aceitar? - sua mãe exibiu um belo sorriso.

-  Sei lá! Vou pensar. Ainda nem recebi, é minha primeira semana. Tenho  tempo. Agora descansa. - ela olhou por alguns instantes aquela mulher frágil à sua frente.

Foi para seu quarto,  abriu o livro: Social infrastructure: new york de Bjarke Ingels. Ela considerava seus trabalhos os mais sustentáveis que já tinha lido. Na verdade, agora trabalhando em Manhattan poderia apreciar mais de perto a obra que ela considerava mais especial:  Um edifício residencial icônico que combina a forma de uma pirâmide com um pátio central aberto, oferecendo vistas panorâmicas e áreas verdes. 

 No dia seguinte Cameron chega cedo ao escritório, foi para sua mesa, começou alguns esboços. Logo Susan chega e vai conversar com ela.

- Nossa Pelo jeito o reitor da faculdade não estava enganado quando disse que era dedicada. - ficou quase de corpo colado para olharem juntas os esboços.

- Gostei desse! - apontou. -  Gosta de pano de vidro?

- Bom! Em projetos sustentáveis, é uma boa solução para economia de energia. 

- Sim verdade! Ainda mais se conseguirmos fazer com vidro reciclado. Começou bem. Cameron percebeu a forma que Susan a olhava.

- O que foi? Estou com algo no rosto? 

- Seu rosto não tem nada. Aliás, ele é lindo.  - Cameron sentiu seu rosto ferver, sorriu sem graça.

- Obrigada! - elas estavam bem próximas, quando ouviram um pigarrear

- Posso falar com você na minha sala Susan? - Carrie lançou um olhar fulminante sobre elas.

Cameron se afastou rapidamente, ficando completamente envergonhada. 

Susan não demorou para ir ao encontro da sócia.

- O que a gente tinha conversado Susan? - ela jogou a sua pasta sobre a mesa, se virou com o olhar feroz para ela. Susan parecia não entender tamanho desequilíbrio.

-  Não aconteceu nada Carrie! Estávamos só conversando. - tentou explicar.

- Daquele jeito? quase se beijando em pleno escritório. - esbravejou e se jogou em sua cadeira.

- Olha Carrie! Não quero ser indelicada nem nada, mas não sou sua funcionária, sou sua sócia. Não tenho que pedir permissão. Não aconteceu nada ainda. Pode ficar tranquila que não vou fazer nada que ela não queira. - se encaminhou em direção à porta,  pisando fundo. Antes de sair, olhou para a sócia e disse:

- Se eu não te conhecesse o bastante diria que você está com ciúmes. - riu sem mostrar os dentes.

Carrie nem teve tempo de responder, pois Susan saiu como um furacão. Ela bufava, resmungava sozinha, proferia juras de que aquilo era mentira. Logo Janice entra.

- Senhora Miller.  

- Não bate mais antes de entrar não? - perguntou com a voz certamente alterada.

- Desculpa! É que ouvi. - Carrie não deixou a secretária terminar.

- Eu que peço desculpas! Não tinha o direito de falar assim com você Janice.

- Ouvi a senhora falar mais alto e depois Susan saiu bufando daqui. Só quis certificar que está tudo certo.

- Não foi nada demais. Está tudo certo. Por favor. Preciso resolver alguns assuntos e alguns esboços para fazer. Não quero ser interrompida, ok? Só me traga o almoço às 12.

- Pode deixar. 

Durante toda manhã, ela não saiu do escritório. Desenhou, desenhou. Às 12 horas, Janice bate de leve na porta e entra..

- Senhora hoje é sexta feira, todos foram comer no restaurante. Você não quer se juntar?

- Obrigada mas vou ficar por aqui. Pode ir tranquila. Só vou precisar de você depois das 13:30. 

Carrie logo abriu seu pacote e viu que esqueceram de mandar sal. Decidiu ir no refeitório buscar. Ele estaria vazio, já que toda sexta feira os funcionários se reuniam no restaurante numa esquina próxima. Assim que entrou deu de cara com Cameron sentada, comendo sozinha.

- O que você está fazendo aqui?- perguntou assustada. Porque não foi com todo mundo?

- Prefiro comer aqui mesmo. Ainda não tenho condições para esbanjar assim. 

- Vai me dizer que fazer stripp não está dando dinheiro. -Carrie falou em tom jocoso.

- Não que seja da sua conta, mas eu não faço mais isso. - esboçou se levantar.

- Me desculpa, não quis ser grosseira. Posso comer com você? - tentou se redimir.

- Tudo bem! - ficaram em silêncio.

- Foi muito boa a reunião. Teremos muito trabalho pela frente. -Cameron comia um pequeno lanche. 

- Se Deus quiser teremos mais. Depois de tantos problemas, vamos engrenar. 

- Sim! Obrigada por me dar uma chance. Eu precisava muito. - a garota mordia os lábios demonstrando nervosismo.

- Você e a Susan estão bem próximas. Ela sabe que você também gosta de mulher? - parecia que Carrie não pensava antes de falar.

- A mim não! Afinal vocês são livres e desimpedidas. - sorriu falso.

- Você não vai falar nada sobre aquela noite? Não sobre o dinheiro, mas sobre. - Cameron foi interrompida.

- Como eu disse, vamos esquecer o passado. Vamos ter uma relação estritamente profissional. - Carrie suspirou fundo.

- Se você quer assim, tudo bem. - se levantaram quase ao mesmo tempo e cada uma foi para seu lado.

Assim que entrou em sua sala, Carrie se apoiou na porta e reviveu a conversa com a garota. Ela conseguiu esconder bem na hora, mas reparou em tudo nela. Nos gestos que fazia ao falar, nas pernas que cismaram em chacoalhar debaixo da mesa, no camisa preta de botão, com uma pequena gravata que a deixavam elegante e sexy, nos olhos- aqueles olhos lindos que pareciam a devorar. A contraponto, Cameron parecia desapontada, sentou-se em sua cadeira, apoiou a cabeça na mesa e suspirou fundo. 

- Tudo bem Cameron? - Susan se aproximou, assustando a garota.

- Oi! Está sim. 

- Olha só depois você pode ir à minha sala. Quero te mostrar algumas ideias para nosso projeto.

- Tudo bem! Olha só aquele convite ainda está de pé? - Susan abriu um grande sorriso.

Fim do capítulo