“ Presente no dia certo, na hora errada! ”

Por que acordei fora do tempo?

Quando você falava de partir,

Não incomodar mais,

Nem me liguei que falasse sério.

Acordei tarde demais,

Mas, quando despertei,

Porém, as coisas já não eram mais como dantes.

Entretanto, antes de ir você impôs sua marca em mim,

Tatuou a ferro e fogo, meu coração.

Assim como se marcam os gados,

Com chamas ardentes,

Incandescente,

Queimando a pele,

Ferindo a derme,

Jogando fumaças aos ventos,

Me tornando escrava de um amor sem fim,

Que nunca se apagará de mim.

O que teria sido se eu tivesse aberto meus olhos a tempo?

Será que enxergaria o que estava ali, bem diante de mim?

Perguntas essas bem difíceis de serem respondidas,

Porque ficou entre palavras não ditas,

No entanto o que restou foram apenas lembranças do que poderia ter sido e não foi;

Lembranças essas que serviram para avivar o fogo do desejo,

Que me fizeram queimar dia e noite, querendo ter você em meus braços.

 

O que persistiu?

A imagem de você despida de qualquer imperfeição,

Depois de passar noites intensas,

Sem a mínima vontade de se pôr para fora da cama,

Para que buscasse algo mais adequado,

No intuito de aplacar os arrepios na noite gelada,

O corpo nu de desejo,

Na transição abrupta do clima,

Do quente para o frio,

Para que eu fizesse uma leitura do que você queria me dizer.

Ah, linda mulher!

Como queria ser sua coberta,

Me entrelaçando entre suas pernas,

Compartilhando meu calor contigo,

Equilibrando nossos corpos,

Nessa fogueira acesa do amor e da paixão.

Dessa aparente hipotermia,

Nesses momentos invulgares,

Em que a atmosfera resolve mudar,

A ordem natural das coisas,

Mas, só restou a culpa, por ser tão fora do time.

Compreender a dimensão  das coisas só depois delas já terem se ido.

Queria ir ao teu encontro,

com uma intensidade fora do comum,

Romper todos os espaços,

Me lançar ao infinito,

Eliminar os vácuos,

Só para ter você pra mim, 

Com maior rapidez possível.

Sem nenhuma força visível e invisível,

Me impedindo de chegar até ti.

Queria ser como a luz se manifestando antes mesmo que ouçamos o som do trovão.

Ela chega silenciosa, mostrando clarões nos céus,

Só tornando evidente sua presença, após ouvirmos a propagação do som.

Porque aí não tem como esconder nada de ninguém,

Pois tudo é revelado a todos.

Os estrondos são perceptíveis,

Agora é possível enxergar a luz,

Porque você é como ela,

Que só pude perceber do que se tratava,

Depois de começar a ouvir os ecos e os riscos dos trovões.

Você foi a razão que fez mergulhar numa escuridão que parecia não ter fim,

Foram dias tempestuosos entre a linha tênue de sentimentos tão controversos,

Amar e odiar foram o meu mundo.

Morria aos poucos, sem saber o que esperar de você.

Vivendo em negação por algum tempo,

Nada mais fazia sentido para mim,

Perdi os ânimus e a ânima,

Aquilo que era motivo de prazer e alegria,

Foram aos poucos perdendo as forças.

Me vi diante de um abismo profundo,

Não sabia mais que direção tomar,

Forcei a barra nalguns momentos,

Só para apenas continuar existindo,

Estar perto de ti.

Porém, chegou o momento que tive que deixar tudo de lado,

Partir numa viagem ao redor do meu próprio eu,

Entendi nos seus silêncios o que me parecia muito óbvio.

A necessidade de me afastar de ti.

Estava entre a cruz e a espada,

Entre a luz e a escuridão,

Ferida na alma,

Amando e odiando,

Sentimentos de dualidade que pairavam sob o meu coração.

Querendo me desligar de tudo que me levasse a ti.

Foi uma batalha intensa,

Sem nenhum vencedor, nessa guerra silenciosa,

De palavras não pronunciadas.

Cheguei a pensar em te odiar por alguns instantes,

Entretanto, isso, eram suplantados pelo amor enfurecido no meu peito.

Clamando para ser notado na sua ausência.

Minha alma e meu coração estavam devastados por sentimentos adversos,

Que iam e viam sem nenhuma explicação aparente,

Queria de volta a minha maior alegria,

Que estava bem na minha frente,

Mas não conseguia nem focar nem tocar.

Recebi um presente no dia de meu aniversário,

Nem sei se foi obra do destino ou intencional.

Não creio que seja apenas coincidência,

Pois, veio cheio de significados,

Os quais não pude apreciar,

Na profundidade que queria,

Porque ainda estava me sentindo vazia,

De tudo que tinha acreditado até aquele instante,

O véu pairava sob minha cabeça,

Cobrindo meu rosto,

Impedindo-me de enxergar.

Passei por um momento de prospecção,

Que foi necessário ir às profundezas de meu ser, 

Fazer a desconstrução de tudo que acreditava,

Gerar uma identidade única,

Rasgar a antiga em mil pedaços,

Só para resgatar a que esteve presente desde o início, não perceptível.

Algo de muito sério estava acontecendo com minhas emoções,

O coração era como uma porta estilhaçada,

Que bastou somente um toque,

Para que se desfizesse em mil pedaços, 

Porque, com certeza, já havia rachaduras ali quando você chegou,

Você foi como a ponta de um iceberg,

Trazendo para a superfície,

Todos os pedaços quebrados,

Colocando cada fragmento de volta ao lugar.

Você foi só o espelho,

Revelando as sombras,

Em que me escondi por muitos anos,

Que projetei através de ti,

E para retornar aos primórdios da singeleza do amor,

Que se tornava quase impossível alcançar,

Porque você não veio pra ficar,

Apenas para revelar, os recônditos da alma.

Que por muitas vezes suprimir por medos infundados.

Fui dos limites aos extremos,

Para não deixar tudo no meio do caminho,

As emoções estavam aos frangalhos,

Na iminência de explodir todos os cometas que estavam desativados.

Foi nesse tempo que me voltei para dentro de mim,

A fornalha acesa externamente a mim,

Transformadas em centelhas internamente,

Implodidas em fogos de artifícios,

Nas praias do Litoral do Nordeste,

Sendo possível ver por meio do colorido no céu,

Enxergar a janela da alma.

Foi algo tão belo de se ver,

Nem mesmo eu sabia que existia uma imensidão sob mim,

Escondidas dentro de mim.

Entendi que você foi como um portal interno,

Ativando algo em mim,

Integrando uma parte do meu ser, outrora despedaçada.

Aprisionada pelos aspectos dos arquétipos que habitam meu interior,

Reagindo diante da confrontação desses sentimentos.

Pois você foi um símbolo vivo.

Que veio para me transformar.

Hoje pude mensurar a grandiosidade do presente que me deste,

Não, com a visão turva, mas com claridade dos pensamentos, 

Porque apesar de ser o fechamento de um ciclo para ti,

Foi um renascimento para mim,

Pois foi onde tudo começou,

Em que a vida saiu de seu casulo,

Para vivenciar a vida lá fora,

Mas que agora teve que voltar ao início,

E perceber que o fim de algo pode significar um recomeço de outro.

Muito mais inteiro, consciente, autêntico, com presença marcante.

 

FIM

Fim do capítulo