MAIS QUE UM AMOR VIRTUAL - CAPÍTULO ÚNICO
Parte I — A GAROTA DOS E-MAILS
— Ah, qual é? Não é porque você não gosta do carnaval que ele não seja uma época especial!
— Disse a pessoa que sempre tem uma viagem planejada para tal época!
— Nem vem com essa conversinha, porque o convite ainda está aberto, como em todas as vezes que já te convidei. Alguma vez a senhorita aceitou? É claro que não! Afinal meus passeios não estão à altura da senhorita-não-faz-o-meu-estilo, não é mesmo?
Suzana respondera bem indignada com mais uma recusa de Eliza, por mais que tentasse, era impossível tirá-la da frente dos livros ou do computador. Ah não ser que fosse um caso de vida ou morte, este, com certeza, não era o caso.
— Não tenho culpa se os lugares que você inventa de ir quase nunca me agradam, é aglomeração demais. Eu odeio aglomeração! Passei uma vida inteira tendo que dividir meu espaço com um monte de pessoas, já saturei minha cota de agrupamento obrigatório.
Eliza replicou sem tirar os olhos do e-mail aberto em uma das abas do notebook. Suzana que terminava de se ajeitar para sair a fim de fazer sua corrida diária, revirou os olhos tanto por conta da resposta de sua melhor amiga, quanto pelo fato de Eliza continuar a trocar aqueles malditos e-mails com um fantasma. Sim, porque em plena era tecnológica era inconcebível que duas pessoas, tirando psicopatas e assassinos em série, se comunicassem apenas por e-mails, sem nunca trocarem fotos ou telefone, com o agravante de morarem na mesma cidade. Suzana não achava nenhum pouco saudável tal relação e por vezes ficava preocupada com a amiga, outras vezes só ficava totalmente irritada mesmo.
— Você continua com essa história dos e-mails?
Suzana parou ao lado da amiga com as mãos na cintura olhando diretamente para a tela do notebook.
— Não é da sua conta!
Eliza respondeu chateada, fechando a aba por reflexo. Suzana revirou os olhos outra vez.
— Nossa, que resposta educada e adulta! — ironizou e foi a vez de Eliza revirar os olhos.
— Você não tem o direito… — Eliza tentou argumentar.
— … Não tenho? — Suzana cortou devolvendo a irritação com o olhar. — Não tenho o direito de me preocupar com minha melhor amiga e irmã do coração? De tentar chamá-la à realidade? É, realmente não tenho esse direito, afinal só dividimos o mesmo teto desde os 18 anos!
Eliza levantou-se para ficar de frente com Suzana, já sentia a irritação subir-lhe a cabeça com o golpe baixo que Suzana usara. Já tiveram essa mesma discussão em várias ocasiões e por diferentes motivos. Eliza simplesmente não entedia como Suzana não a compreendia quando o assunto envolvia Kai, seu “amor por correspondência”, como a amiga adorava nomear.
— Tá sendo escrota pra caralh* e você sabe disso, não vamos discutir outra vez sobre isso, você tem suas coisas e eu tenho as minhas. Acabou a história.
Eliza tentara ser categórica e ao mesmo tempo razoável. Suzana apenas bufou antes de responder.
— Ok. Não está mais aqui quem falou. Mas ainda assim, tenho outro convite. Próximo sábado, Boate Prismatic na Lapa, aproveita e convida a “sua não-namorada” — Suzana não resistiu alfinetar. — E aí vocês finalmente poderiam desfrutar da companhia uma da outra para se conhecerem de vez, porque isso, você há de convir, já passou da hora de acontecer. É quase um pecado vocês morarem na mesma cidade e nunca terem se visto. Depois, eu já te levei a essa boate, você adorou. E é dia de open bar, vamos lá, vai ser legal, eu prometo — acomodando o boné sobre a cabeça Suzana concluiu arriscando convencer a melhor amiga a aceitar pelo menos sair por uma noite, que era o que estava tentando fazer desde o momento que invadira o quarto de Eliza naquela manhã de quarta-feira.
Eliza não queria mesmo estar em meio a uma multidão, por outro lado fazia realmente muito tempo que não saia a lado algum que não fosse realmente necessário. Sua vida era trabalho, casa, faculdade, casa. Ponderou sobre o convite de Suzana e a frase “já passou da hora de acontecer” reverberou em sua cabeça.
— Desculpa, não quero ser uma chata, ou melhor, a chata de sempre, Su. Prometo que vou pensar, ok. — Eliza dissera por fim e Suzana apenas assentiu, despediu-se com os costumeiros beijinhos no rosto e se retirou.
Após a partida de Suzana, Eliza pode finalmente voltar ao que estava fazendo, que se resumia a responder os e-mails de Kai. Mas também não deixou de pensar no que Suzana lhe dissera. Eliza totalmente entendia a preocupação de sua irmã e no fundo sabia que Suzana, de certa forma, tinha razão, afinal, fazia dois anos que trocava e-mails com Kai, sem que nunca tivessem se visto sequer por fotos.
Ainda assim, a conversa com Kai era diferente, fluía sem que qualquer das duas fizesse esforço. Desde o primeiro e-mail que trocaram Eliza sentiu uma conexão ímpar com Kai. Lembrava-se exatamente do primeiro que ela lhe enviara, quando esta comentou em um dos textos que Eliza compartilhara em seu blog. Sem se conter Eliza abriu seu histórico de e-mails com Kai e releu a primeira mensagem com um sorriso bobo no rosto.
Subject: Obrigada por responder
From: Usuário Sem Nome
To: você
Muito boa noite, Eliza!(desculpe a empolgação)
Que bom que me respondeu e deixou seu endereço de e-mail!
Sim, é um prazer te conhecer. Li a maioria dos seus textos ontem... Parabéns, mais uma vez, tens uma ótima escrita e um senso crítico incrível!
Adoro quem usa palavras para expressar algo, amo textos, contos, estórias, histórias.
Acabei de chegar do trabalho, vim ver minhas notificações e voilá, tinha uma resposta sua no meu comentário. Não poderia deixar de enviar esse e-mail.
Bem, agora vou me organizar para ir a academia.
Espero mantermos contato!
Me escreve de volta. Me fala um pouco sobre você?
Aguardo, acredite, ansiosa!
Atenciosamente.
P. S.: Me chamo Kai.
A partir de então, não passava um dia sem que não se “falassem”. Eliza não ligava se Kai queria manter a “relação” (nunca haviam nomeado o que as unia) das duas somente no virtual, literalmente viviam de palavras. E para Eliza era mais que suficiente, ao menos era o que tentava se convencer, afinal não tinha tempo para gerir um namoro físico, seu trabalho e o mestrado lhe tomavam todo tempo. Ainda pensava em tudo isso quando uma nova notificação de e-mail chegou.
Ø Re: Bom dia ヾ(@⌒ー⌒@)
From: Usuário Sem Nome
To: Eliza Moura
Liza? Não respondeu mais. Aconteceu alguma coisa? Você nunca sai sem me avisar!!
Ø Re: Bom dia ヾ(@⌒ー⌒@)
From: Eliza Moura
To: Usuário Sem Nome
Desculpa a ausência momentânea, Ka! Tive outra discussão com Suzana. Mas já está tudo bem.
Ø Re: Bom dia ヾ(@⌒ー⌒@)
From: Usuário Sem Nome
To: você
Ela está pegando no seu pé novamente por minha causa, não é? ( ˘︹˘ )
Eliza pensou alguns minutos antes de escrever o próximo e-mail, respirou fundo e enviou.
Ø Re: Bom dia ヾ(@⌒ー⌒@)
From: Eliza Moura
To: Usuário Sem Nome
Está tudo bem, ela só se preocupa. Mas já que entramos nesse mérito, ela me fez um novo convite, na verdade o convite é para você também. Nos convidou para uma boate no sábado. A Prismatic na Lapa, conhece? Eu estava pensando que, talvez fosse uma boa ideia, o que você acha?
E tão logo enviara a mensagem, a ansiedade pela resposta lhe corroeu. Roía as unhas, pensado se não se precipitara, a conversa com Suzana definitivamente mexera com sua cabeça mais que em outras vezes. A verdade é que, de fato já sentia essa vontade de conhecer Kai pessoalmente crescendo dentro de si a algum tempo, mas jamais admitiria isso para Suzana. Seu coração deu um pulo quando depois do que pareceu uma eternidade, uma nova notificação de e-mail chegou.
Ø Re: Bom dia ヾ(@⌒ー⌒@)
From: Usuário Sem Nome
To: você
Está me chamando para um encontro, senhorita?! (¬‿¬)
Parte II — A GAROTA NAS SOMBRAS
Kai se encontrava sentada em frente ao pequeno balcão de seu apartamento com o notebook aberto e respondia Eliza enquanto tomava seu café. Respondera o último e-mail com uma provocação apenas para ganhar tempo enquanto ponderava se realmente era uma boa ideia finalmente encontrar-se com Eliza. Por sua vontade teria feito isso na primeira semana em que trocaram e-mails. Sabia que estava exigindo demais da morena, sim Kai sabia exatamente como Eliza era, cabelos pretos e compridos que caiam em ondas revoltas, pele branca, olhos azuis, sempre atrás de um par de óculos de grau, super charmosos na opinião de Kai, na verdade, a achava toda linda e talvez, só talvez esse fosse um dos muitos motivos que fizeram essa interação entre as duas durar tanto tempo. Filha de militar, Kai era desconfiada por natureza, sabia sobre a vida de Eliza muito mais do que a outra poderia supor. Mesmo e apesar de nunca terem trocado fotos, Kai tinha seus próprios meios de conseguir informações de quem quer que fosse e, bom, o perfil de Eliza não era mesmo o mais privativo.
Conhecer Eliza seria um sonho realizado, mas Kai compreendia que também era um risco. A relação das duas passava longe de apenas amizade e Kai sabia disso, tratavam-se como namoradas, mas nunca houve nenhum pedido. O diálogo apenas evoluiu conforme os meses foram passando, trocavam confidências, carinhos, apelidos aqui e ali. Compartilhavam os pequenos acontecimentos do dia a dia, na verdade, Eliza compartilhava bem mais do que ela. Kai sentia-se mal por não poder compartilhar absolutamente tudo com Eliza, por não poder conversar olhando nos olhos dela, enxergar o sorriso e tudo mais que a simples proximidade poderia proporcionar. Apaixonada?! Sim, Kai estava perdidamente apaixonada, o que fazia a culpa e a dor em seu coração aumentar consideravelmente.
Seria capaz de fazer qualquer coisa por ela e mais do que nunca precisava resolver sua vida o quanto antes se quisesse que Eliza fizesse parte dela. Ainda se questionava se seria uma boa ideia ir vê-la quando recebeu a resposta de Eliza a sua pequena provocação.
Ø Re: Bom dia ヾ(@⌒ー⌒@)
From: Eliza Moura
To: Usuário Sem Nome
Talvez. Hahahaha
Está mais para um encontro as cegas, não acha? E talvez não seja meu encontro dos sonhos, você me conhece. Por outro lado, faz tempo que não vejo gente, estou precisando limpar as vistas, então, fiquei pensando: dois coelhos! O que me diz?
Ø Re: Bom dia ヾ(@⌒ー⌒@)
From: Usuário Sem Nome
To: você
Limpar as vistas?! (︶︹︺) Posso saber como a senhorita pretende limpar as vistas?!
Eliza não costumava usar emojis, mas adorava o jeito que Kai usava os “emoticons dos tempos dos dinossauros”, como Suzana gostava de implicar. Soltou uma pequena risada ao receber a resposta de Kai, que deu a entender uma leve pontada de ciúmes, Eliza sabia que era apenas brincadeira, mas saber que Kai poderia sentir ciúmes de si trazia um certo charme ao diálogo que trocavam. Por isso resolveu também brincar mudando o assunto do e-mail.
Ø Subject: Deve ser linda até de bico!
From: Eliza Moura
To: Usuário Sem Nome
Hahahaha só você pra me fazer rir a essa hora.
Não precisa ficar de bico, porque eu pretendo limpar as vistas olhando para você. Se aceitar o convite, é claro.
Kai olhou para o assunto que Eliza colocara e sorriu balançando a cabeça em negativa, Eliza não imaginava como cada palavra escrita que enviava mexia com o coração de Kai, a cada dia sentia-se mais e mais envolvida por ela. Ainda levou alguns minutos para se decidir, então pensou, “foda-se”. Precisava conhecê-la pessoalmente e disso não tinha dúvida.
Ø Subject Re: Quem está de bico?!(。-_-。)
From: Usuário Sem Nome
To: Eliza Moura
Não estou de bico (talvez um pouquinho).
Não gosto de pensar em você limpando as vistas por aí. Só por isso aceitarei o convite.
(。♥‿♥。)
P. S.: você é má, me faz imaginar coisas que causam leves desconfortos.
Eliza riu alto ao terminar de ler a observação, e seu coração acelerou em antecipação com o aceite de Kai, mal podia se conter de ansiedade, pois finalmente poderia conhecê-la, tocá-la e tudo mais que a timidez e a proximidade lhes permitisse. Não foi difícil responder com a empolgação saltando em suas palavras.
Ø Subject Re: Quer dizer que te faço imaginar coisas?!
From: Eliza Moura
To: Usuário Sem Nome
Um bico lindo, eu imagino (mesmo que seja só um pouquinho rsrsrs).
Você não imagina a minha empolgação e ansiedade, mentiria se disse que não imaginei esse dia, várias e várias vezes.
P. S.: não sou má, mas fiquei curiosa. Que outras coisas te faço imaginar?!
Eliza enrubesceu só de imaginar Kai lendo sua última pergunta, elas já haviam trocado mensagens provocantes, mas isso não diminuía a queimação que sentia em seu rosto, nem saberia dizer como conseguia tamanha ousadia, talvez porque Kai a instigava de uma forma que ninguém nunca havia conseguido. Mesmo com os poucos relacionamentos que tivera raramente conseguia destravar, daí a maioria de seus fracassos nesse quesito.
Kai quase podia enxergar o rosto de Eliza corado, sorriu de lado, pois sabia da grande timidez da morena, no entanto, todas as vezes que Eliza usava esse tom e que as duas começavam trocar pequenas provocações era impossível não a desejar e não sentir o sex* pulsar a cada palavra lida. Assim como era impossível não sentir o contentamento e o frisson que fazia seu corpo esquentar, apenas por saber que era a causa de tamanha ousadia da morena. Por vezes tacava-se lembrando das palavras e imaginando Eliza em seu braços, “por Deus, preciso senti-la”, pensou e devolveu a provocação.
Ø Subject Re: E como faz… (Aposto que está corada)
From: Usuário Sem Nome
To: Eliza Moura
Também estou empolgada, já até imaginei você dançando para mim! 웃+웃=❤
P. S.: Nossa, sabes o que me causou agora lendo o que escreveu? Sabes aquele frio gostoso que dá no estômago, que arrepia tudo e anima? Hahahaha.
Ø Subject Re:…estou te arrepiando? (A culpa é sua!)
From: Eliza Moura
To: Usuário Sem Nome
Pode tirar o cavalo da chuva, pois esta pessoa que vos fala não dança hahaha
Já você, aposto que danças muito bem. Salivei só de pensar (ficando vermelha aqui, olha o que você me faz passar kkkkkk).
P. S.: Nossa, que sensação do paraíso (ao menos na minha fértil imaginação!!!!!! Adoraria sentir de perto essa animação. Gostou é?!! hahaha). Poderia te abraçar e beijar o teu corpo do jeitinho que estás agora.
Ø Subject Re: Não imagina o quanto!
From: Usuário Sem Nome
To: Eliza Moura
(A coisa mais fofa é você ficar vermelhinha, eu amo 乂❤‿❤乂).
Eu também não danço, pelo menos não de propósito hahahaha. As vezes quando a tequila faz efeito, um lado meu insiste em dançar hahaha. E pior, ainda acha que é sensual! Kkkkkkk Vais me acompanhar na Tequila? Ajuda a se soltar e vai te deixar ainda mais sexy, posso apostar hahaha
P. S.: Se eu gostei?! Memória fotográfica, esqueceu? Imaginei o que você escreveu e minha pele inteira arrepiou. Posso ser sincera?! Estou morrendo de vontade de você! (esperando sua vergonha passar para beijar sua boca rsrsrs)
Ø Subject Re: Falar contigo me faz tão bem que…
From: Eliza Moura
To: Usuário Sem Nome
… fico leve. Esqueço dos problemas um pouco e até da timidez. Me faz querer ser fofa contigo e…
Desperta um “eu” curioso para coisas safadinhas (vermelha de novo kkkkkk)
De qualquer jeito, sabes que não bebo sempre, sou…bué…chata! Só as vezes e só saí de mim umas três vezes. Uma coisa sobre mim: Não sou nada sensual, garanto! Ah, mas me lembre de comprar bastante Tequila pra você no sábado (segundas intenções kkkkk)!! Nunca bebi Tequila, talvez seja uma boa oportunidade para uma primeira vez.
P. S.: Adoras me deixar com vergonha, não é? Vou precisar de um banho gelado!
Ø Subject Re: Amo ser a causa de seu bem-estar!
From: Usuário Sem Nome
To: Eliza Moura
Adoro coisas safadinhas vindas de você! hahaha
Precisas provar tequila!
Te ensino tomar da melhor forma possível, num beijo…
Um beijo com gosto de tequila é perfeito!
P. S.: Hahahaha também vou precisar de um banho gelado!
Ø Subject Re: Falar contigo me faz tão bem, mas…
From: Eliza Moura
To: Usuário Sem Nome
… preciso ir.
Queria que meu tempo contigo fosse infinito, mas tenho um mestrado para concluir. E… Continuo precisando do banho gelado hahaha
Então, tem um bom dia, meu bem! Um cheiro e um beijo. Cuida-te!
P. S.: Ansiosa para te ver, depois te falo a cor da roupa que eu irei, para que possas me achar com facilidade, vou te esperar no bar!
Ø Subject Re: Deixar você ir é uma injustiça!
From: Usuário Sem Nome
To: Eliza Moura
(╯︵╰,) Não poder falar com você é sempre a pior parte do meu dia.
Também tenho que ir trabalhar e vou para o banho pensando em você (principalmente depois do estrago que você causou em minha…cê sabe hahaha).
Que seu dia seja maravilhoso como você, quero cheiro e beijo no pescoço! Kkkkk
Te vejo no sábado. Se cuida também!! (◍•ᴗ•◍) ❤
P. S.: Também estou louca pra te ver, ficarei aguardando. Tenho certeza de que não errarei em te reconhecer, serás a mais linda do lugar ♥(ˆ⌣ˆԅ)
P. S. 2: Provavelmente irei de preto kkkkkk
Eliza sentia-se flutuar, mordeu o lábio inferior instintivamente ao ler o último e-mail de Kai, “filha da mãe” pensou ela sorrindo de lado, ansiosa por vê-la e desejosa por senti-la. Seu corpo esquentou e seu sex* latejou com a simples menção que Kai fizera sobre estar molhada. Correu para o banho e tocou-se para aliviar o tesão que tomava seu corpo, imaginou como seria o sex* com a garota que tanto lhe tirava o sono, gem*u alto e estremeceu de prazer mesmo com a água gelada caindo sobre si. Kai já havia feito Eliza tocar-se em outros momentos, mas desta vez o orgasmo veio tão forte que quase a fez perder os sentidos de tão acelerados que ficaram seus batimentos, as pernas fraquejaram e fora incapaz de permanecer de pé. Ainda assim, sorria feito boba e um tanto envergonhada pelo que acabara de fazer.
Os dois dias que antecederem o sábado passaram arrastados, pelo menos na percepção de Eliza. Continuara a trocar mensagens com Kai, como era costume e somente isso foi capaz de deixá-la um pouco mais plácida. Finalmente o tão esperado dia chegara, naquela manhã Kai e Eliza trocaram poucas palavras. Cada uma tinha seus afazeres até que a noite chegasse. Como combinado, Eliza descrevera sua roupa para Kai e orientou sobre o exato local que estaria. Fez Suzana prometer que trataria Kai com respeito e não com a desconfiança de sempre. Arrumou-se e foi com a amiga para a boate.
Quando chegou a boate naquela noite, o coração de Kai batia descontrolado, sentia certo receio que Eliza não gostasse dela pessoalmente e nem o barulho da música alta impedia de escutá-lo. No salão principal, luzes piscavam e as pessoas se aglomeravam em frente ao palco em que o DJ se apresentava, o que fazia do bar um dos únicos lugares não tão apertados daquele estabelecimento. Caminhou entre as pessoas e não foi difícil reconhecer a dona de seus pensamentos sentada de costas para o balcão do bar. Eliza olhava para todos os lados apoiando um dos braços sobre o balcão, tamborilava a madeira com a ponta dos dedos, indo e voltando, enquanto com a outra mão, segurava uma garrafa pequena do que parecia ser água.
Kai parou um pouco distante e se pôs a observá-la, a morena parecia nervosa e Kai sorriu achando seu jeito um charme. Estava vestida exatamente como dissera, jaqueta jeans azul clara, por dentro um top branco que deixava parte de seu abdome a mostra, tênis brancos e uma saia preta curtíssima que, “pelas deusas” a deixava muito gostosa. Os cabelos soltos e revoltos, como sempre e claro o par de óculos de aros vermelhos dando-lhe aquele toque meio nerd tão peculiar. Respirou fundo e foi até ela.
— Procurando companhia, moça? Estou à disposição.
Kai utilizou todo seu charme, mas Eliza sequer a olhou. Continuava inquieta olhando em todas as direções. Kai sorriu.
— Ainda quero meu cheiro e meu beijo no pescoço, senhorita?
Eliza corou violentamente assim que reconheceu a frase, não havia reparado de início na dona voz, extremamente sexy e levemente rouca na sua percepção, na verdade estava prestes a dispensá-la educadamente, tamanha era sua ansiedade pela chegada de Kai, que havia enviado um último e-mail alguns minutos antes avisando que havia chegado à boate.
— Eu já imaginava que você ficava linda toda vermelhinha, agora tenho certeza. Na verdade, você está maravilhosa! Desculpe, estou tagarelando. Que tal começarmos pelo começo? Olá, sou a Kai Mahoe, e é um imenso prazer te conhecer.
Kai falara com seu melhor sorriso, e lhe estendeu a mão. Eliza tentava se recuperar, mas ainda estava muito vermelha, a timidez lhe pegara de jeito. No entanto, foi impossível para ela não passear os olhos pelo corpo de Kai, começando pelo par de coturnos pretos, prosseguiu ao longo das pernas que lhe pareceram bem torneadas mesmo envolvidas pela calça super colada que ela usava, o look completava-se com uma camiseta regata preta por baixo de uma jaqueta, estilo cardigã de tricô misturado com couro sintético, ao menos foi o que deu pra perceber. E sim, ela estava vestida de preto.
Para Eliza, uma visão poderosa que se aperfeiçoava com o rosto que tanto sonhou em conhecer. E que, na opinião de Eliza combinava completamente com a dona. Sabia que Kai tinha traços orientais, pois sua mãe era havaiana, e esta já havia lhe contado que puxara bastante os traços dela. Mas constatar com seus próprios olhos foi infinitamente melhor. Os olhos um pouco puxados, a pele marrom e levemente bronzeada, os cabelos lisos, castanhos escuros e cheio de luzes lhe emolduravam o rosto de forma singular. Ela era simplesmente linda e Eliza derreteu-se. Sorriu de forma espontânea e finalmente recebeu a mão estendida em sua direção.
— Ana Eliza Moura, o prazer é… é todo meu! — Enrubesceu novamente ao gaguejar o cumprimento.
Kai não resistiu e puxou a mão de Eliza até seus lábios, depositou um beijo suave desejando prolongar aquele contato. Quando voltou a erguer o rosto os olhos encontraram-se novamente e pareciam dizer mais palavras que o momentâneo silêncio entre as duas. E foi Kai quem quebrou-o outra vez.
— Estou tão feliz que finalmente nos encontramos, espero que não tenha te decepcionando muito. — Sorriu de lado.
— Me decepcionar? Tá brincando? Você está maravilhosa e eu continuo ficando vermelha.
Eliza elevou os óculos para o alto da cabeça e escondeu o rosto entre as mãos, Kai a achou ainda mais linda e sem cerimônias resolveu arriscar, puxou Eliza pela cintura e aproximou seus corpos, com delicadeza descobriu o rosto da morena e em seguida elevou sua própria mão para acariciar o rosto ainda corado. Eliza sentiu uma descarga elétrica atravessar seu corpo com o toque, prendeu a respiração em antecipação pelo que viria a seguir.
— Ainda estou esperando meu cheiro e meu beijo.
Sussurrou e Eliza fora incapaz de conter seus movimentos, vencendo toda sua timidez, jogou-se sobre Kai, passando os braços pelo seu pescoço, que por sua vez deu um passo atrás para equilibrar-se, mas sorriu contra os ombros da morena quando sentiu o toque dos lábios em sua pele, fora um toque rápido, mas cheio de promessas. Abarcou a cintura de Eliza e não fizeram ou disseram nada por alguns minutos que pareceram infinitos. Quando se separaram, Kai fez o possível para que Eliza se sentisse mais a vontade, pediram drinks e aos poucos Eliza foi se soltando. Riram e conversaram na medida em que o volume da música lhes permitiu. Eliza achou que era momento de apresentar Kai a Suzana, estavam prontas para irem até ela, quando Kai é interceptada por um rapaz um pouco mais jovem que as duas. Eliza viu o semblante de Kai mudar drasticamente, mas não disse nada.
— Meu bem, me espera só um pouquinho? — Kai pediu e Eliza apenas assentiu.
Eliza observou Kai ir até o rapaz, viu ele falar algo em seu ouvido, que em seguida passou as mãos pelos cabelos e calharam a gesticular como se discutissem sobre algo. Depois de alguns minutos Kai voltou até Eliza.
— Liza, desculpa, preciso resolver um assunto, vai ser rápido, prometo. Me espera aqui, tá bem?!
— Mas aonde você vai? Quem é esse cara? Você está com algum problema?
— Prometo que respondo todas as suas perguntas depois, só me espera aqui, ok.
Eliza assentiu mesmo a contragosto, Kai beijou-lhe a testa e foi em direção ao rapaz. Eliza sentiu um arrepio como um mau presságio e uma súbita preocupação apoderou-se de seu coração e de sua mente. Se Kai estava metida em alguma encrenca ela queria saber, tinha o direito de saber, pensava ela. Sem considerar muito bem, decidiu segui-la. Correu na mesma direção e viu Kai indo para a saída. Apressou-se e já na rua olhou para os dois lados, bem a tempo viu as duas silhuetas seguirem para o beco logo depois do prédio da boate.
Andou apressada até alcançar a esquina, ao dobrar imediatamente deparou-se com um homem desferindo um soco na direção de Kai, que para alívio de Eliza desviou rapidamente empurrando-o para longe de si. Sem medir as consequências de seus atos e munida de uma coragem absurda, ou muito, muito idiota, ela pensou ligeiramente, Eliza correu em direção a Kai, quando o brutamonte fez menção de investir novamente contra ela.
— Deixa ela em paz! — Gritou. O coração batendo acelerado fez seu corpo gelar.
Todos a olharam com surpresa, menos Kai que a olhava com o terror estampado em seu semblante. “Merda” praguejou Kai.
— Liza! — Repreendeu-a. — Eu disse pra me esperar lá dentro!
Tentou ir até Eliza, mas o mesmo cara que tentou acertá-la segurou-a pelo braço de forma truculenta, aquilo, com certeza, deixaria uma marca e tanto.
— Vejam o que temos aqui, parece que a sua namoradinha veio te salvar. Tragam ela aqui!
O que parecia ser o chefe ali ordenou e outro de seus comparsas puxou Eliza pelo braço e com violência empurrou-a em sua direção. Eliza acabou desequilibrando-se e caiu com o rosto e joelhos no chão esburacado, sentiu a ardência em sua têmpora e um líquido rubro escorrer por sua perna logo que se levantou. Kai desvencilhou-se e correu até ela, colocando-se a sua frente.
— Seu problema é comigo, Jhonny, ela não tem nada a ver com isso.
Eliza, que se agarrara aos ombros de Kai, surpreendeu-se quando sentiu a mão direita de Kai invadir o espaço entre elas e enfiando-se embaixo da jaqueta para segurar um objeto que Eliza logo supôs ser uma arma. Espantou-se, mas continuou onde estava.
— Você tá armada? — sussurrou e Kai apenas assentiu com um grunhido de hum rum. O homem sorriu debochado antes de responder.
— Você tem dois dias, Havaí. Dois dias ou seu querido irmão vai aparecer com os miolos estourados no próximo noticiário.
— Não precisam levá-lo, eu vou conseguir a grana, tá legal.
— Desculpe, Havaí, cuidaremos bem dele, não se preocupe, só quero garantir que o nosso negócio aconteça da melhor forma possível. — Mostrou o sorriso enjoativo novamente, já ia se afastando, mas deteve-se. — Ah, o que temos aqui — ele disse abaixando para alcançar a bolsa de Eliza que estava caída em uma poça e abriu sem cerimônias. — Acho que isso é seu, senhorita. — Continuou falando ao segurar o documento de identidade de Eliza. — Ana Eliza Soares de Moura Bitencourt, nome bonito, super combina com sua namoradinha, Havaí, acho que vou guardar para mim, caso você precise de mais um incentivo. — Sorriu com satisfação enquanto Kai trincava os dentes, estendeu a bolsa para Eliza e guardou o documento em sua jaqueta. — Vamos lá rapazes, vamos deixar as moças em paz.
PARTE III – A GAROTA DESCOBERTA
— Desgraçado!!! — Kai falou alto, assim que aqueles homens se retiraram. Empurrou a pistola novamente para o coldre em suas costas, soltou uma lufada de ar e voltou-se para Eliza.
— Você está bem? Deixa ver esse machucado.
Eliza afastou as mãos de Kai de forma abrupta e ficou de costas.
— Por que não me contou que estava com problemas? — Questionou magoada.
— Como eu poderia?! Viu o nível de encrenca que estou metida? Por isso pedi que me esperasse lá dentro, mas você é teimosa! Agora está metida nisso também! Que merd*!! É tudo minha culpa, não devia ter aceitado esse convite. — Kai praguejou-se e escondeu o rosto entre mãos com desespero. — Pelo menos não até que…
— …até que estivesse morta?! Porque é isso que pode acontecer se você continuar a fazer tudo sozinha!!
Eliza interrompeu com indignação e retornou a olhá-la, sabia que estava sofrendo e não poderia meramente ignorar, muito menos dar as costas e amava Kai, por mais que quisesse negar. Já estava na chuva, pensou consigo mesma. Foi até Kai e simplesmente a abraçou para sua total surpresa. Seu corpo retesou por um momento, mas depois de alguns segundos, Kai finalmente se entregou ao abraço. Contou ali mesmo toda a confusão em que se metera por conta da dívida com jogos e drogas em que seu irmão mais novo se envolveu. Abarcou uma vez mais a cintura de Eliza e afundou o rosto em seu ombro, sentia-se acolhida e ao mesmo tempo era muito bom poder dividir aquele peso que já vinha carregando sozinha a tanto tempo. Sem conseguir conter suas emoções, Kai deixou que algumas lágrimas enfim brotassem em seus olhos. Eram lágrimas de dor e muito cansaço, misturados ao enorme sentimento que vinha crescendo dia após dia por Eliza.
— Tá tudo bem, ok. Vamos resolver isso, estamos juntas nisso. Por livre e espontânea pressão, devo dizer. Agora estamos e é isso que importa — Eliza disse afastando-se alguns centímetros e segurando o rosto de Kai entre as mãos.
Enxugou as lágrimas com a ponta dos polegares enquanto se olhavam profundamente, automaticamente ambos os olhos mudaram a direção para a boca, a distância diminuindo e a respiração em suspenso. Quase concluíram tal ação, no entanto foram interrompidas pelo toque do celular de Eliza. Afastaram-se rapidamente e Eliza corou pela milésima vez naquela noite e Kai não pode deixar de sorrir.
— Oi, Su. — Atendeu. — Tá tudo bem, sim, estou com ela… Não se preocupa… Também não… Sim, vou pra casa dela… — Kai arregalou os olhos, a última coisa que esperava era que Eliza ainda quisesse estar perto dela. — Sim, sim, já sei, já sei. Suzana! Tchau Suzana!!
Eliza desligou com o rosto ainda mais corado o que fez Kai se perguntar o que Suzana teria dito.
— Desculpe, a Suzana as vezes não tem noção!
— Tudo bem — foi tudo que Kai conseguiu dizer enquanto olhavam-se constrangidas.
— É… — disseram ao mesmo tempo e sorriram, Eliza coçou a cabeça e pigarreou antes de continuar, Kai apenas a esperou prosseguir.
— Então, você não espera que eu volte para Suzana assim? — Apontou para o próprio corpo. — Eu não aguentaria as perguntas dela, não depois de todo estresse que passamos esta noite, espero que tenha uma vaga para mim em sua casa.
Eliza não sabia de onde veio a coragem de convidar-se daquela maneira, também não foi capaz de esconder suas feições coradas e seu nervosismo, tinha certeza disso pelo olhar que recebera de Kai. Primeiro de surpresa que logo se transformara em um olhar de divertimento. Ela sorria de lado e aquele sorriso estava se tornando o favorito de Eliza. É verdade que ainda sentia medo pelo que viria, mas por enquanto era algo para se pensar apenas no outro dia.
— É claro que tem vaga. E eu acho que depois que a Suzana souber o que aconteceu aqui ela nunca mais vai me deixar chegar perto de você, então tenho que aproveitar. — Eliza riu.
— Boba!
— Eu sou mesmo — pela primeira vez Eliza viu Kai enrubescer. — Vou chamar um carro pra gente, ok. — Eliza assentiu e caminharam lado a lado para saírem daquele beco.
Já passava das 23 horas quando as duas entraram no apartamento de Kai, não era muito grande e tinha apenas um quarto pelo que Eliza pode reparar, um pequeno balcão de mármore separava a cozinha pequena. Era aconchegante e tudo parecia meticulosamente arrumado, dava pra perceber que era tudo muito bem organizado. Ela não mentiu quando contara que não gostava de bagunça. Eliza sorriu com a lembrança.
— Quer beber alguma coisa? — ofereceu um tanto tímida para seus padrões.
— Não, valeu.
Kai respirava de forma pesada, não que nunca tivesse imaginado trazer Eliza em seu apartamento, pelo contrário já imaginara muitas vezes, mas não do jeito que a noite se desenrolara. Havia uma tensão no ar, algo que Kai não conseguia explicar.
— Vem, vamos ver esses machucados — Kai emendou e puxando a mão de Eliza guiou-a até um dos bancos próximos ao balcão.
Foi até o armário da cozinha e voltou trazendo consigo uma pequena maleta. Pegou tudo que precisava e prendeu os cabelos em um coque frouxo e malfeito. Encharcou a gaze com álcool 70 e começou a limpar o pequeno corte que estava coberto com uma mistura de sangue e areia. Eliza reclamou um pouco, mas deixou que ela continuasse o que estava fazendo. Ainda passou uma pomada para ferimentos e cobriu com um curativo adesivo. Kai que estava ajoelhada, ergueu-se ficando na altura do rosto de Eliza, os olhos se encontraram de maneira intensa, nenhuma das duas ousava dizer nada. Kai tirou as mechas de cabelo preto do caminho e com cuidado limpou o ralado da fronte de Eliza, ainda aproveitou a proximidade com rosto da morena e o acariciou de forma gentil.
— Quer tomar um banho? — Kai ofereceu.
— Por favor! Estou horrível.
— Tenho que discordar, impossível que você fique horrível de qualquer jeito — piscou.
Eliza sorriu sem jeito com o elogio.
— O banheiro fica ali, vou só buscar uma toalha e alguma coisa pra você vestir.
Kai foi para o quarto e Eliza para o banheiro. Estavam nervosas. Eliza havia sentido imensa vontade de beijar Kai quando ela a encarou depois de terminar o curativo em seu joelho, mas não teve coragem de avançar e como a outra não fez menção, permaneceu onde estava, mas agora estava decidida a vencer todo seu nervosismo e dar vazão ao que seu coração pedia e seu corpo ansiava. Despiu-se ficando apenas de lingerie preta. Kai tinha um espelho acima da pia, Eliza olhou-se e respirou fundo, encostou a testa na superfície fria e esperou por Kai.
PARTE IV — GAROTAS NÃO ESPERAM A CHUVA PASSAR
— Liza! — Kai chamou da porta.
— Entre.
Kai abriu a porta vagarosamente e engoliu em seco quando viu Eliza apenas de roupas íntimas, foi impossível não passear os olhos pelo corpo da morena, assim como foi impossível conter o próprio desejo que se espalhou por seu corpo indo parar em seu baixo ventre. Pigarreou antes de virar o rosto e estender a toalha e uma camiseta de time de futebol.
— Eu disse para entrar.
Eliza dissera categórica, Kai nem cogitou a ideia de desobedecer àquela ordem, entrou e colocou o que tinha sobre a bancada. Não se aproximou de Eliza, por mais que sua vontade gritasse, em vez disso foi até o lado oposto e encostou-se a parede. Eliza levantou o rosto e os olhares se encontraram novamente através do reflexo, outra vez parecendo dizerem muito mais do que se estivessem usando palavras e num entendimento mudo, Kai teve a permissão que precisava. Avançou em direção às costas de Eliza, agarrou-a como se sua vida dependesse daquele gesto. Colou seus corpos e afastou os cabelos negros, beijou o encontro entre o ombro pescoço e aspirou o perfume adocicado ao longo da nuca.
O toque dos lábios quentes em sua pele fez o corpo de Eliza estremecer, virou-se para ela, os olhares indo em direção a boca fora mais que um convite. Kai puxou Eliza pela cintura e grudou os lábios nos dela. O beijo fora intenso e suas mãos começavam a conhecer o corpo de Eliza por vontade própria, Kai adorou a sensação da pele gelada de sob suas mãos contrastando com a fervura de seu próprio corpo. Eliza sentiu sua calcinha molhar muito mais que as vezes em que Kai a escrevia. Queria senti-la por completo, Kai que àquela altura já estava sem a jaqueta, sentiu Eliza puxar-lhe a camiseta, entendendo o recado afastou-se ofegante e retirou as próprias roupas. Ficou nua e Eliza olhou-a com adoração, mordeu o lábio inferior sem nem ao menos perceber. Kai sorriu de lado e puxou Eliza mais uma vez para um beijo.
— Espera — Eliza dissera quando afastaram as bocas por conta do ar. — Ainda preciso de um banho, mas você pode me acompanhar — disse sedutora enquanto abria o fecho do sutiã.
Kai observou toda a cena sem nem piscar, contemplou Eliza deixar a pequena peça deslizar por seus braços descobrindo os seios e logo em seguida, virar-se em direção ao box e de costas para si sem aviso abaixar para descer a calcinha. “Puta merd*” ela pensou enquanto engolia seco com a visão mais privilegiada que poderia desejar. Eliza ainda olhou sobre os ombros sorrindo antes de adentrar o box e ligar o chuveiro. “Safada” dissera Kai em seus pensamentos e seguiu para baixo do chuveiro colando seu corpo ao de Eliza, beijou-a com desejo encostando-a a parede. Sua coxa pediu passagem e pressionou o sex* de Eliza que gem*u fazendo o próprio sex* de Kai derramar-se de tesão.
Sem conseguir segurar o desejo que se apoderava de si, Kai desligou o chuveiro e abandonou os lábios de Eliza para descer esquadrinhando com a boca cada pedacinho de pele molhada, sugou os seios fazendo-a agarrar-se em seus cabelos com força, os gemidos deixando claro que ambas compartilhavam da mesma fome. Abaixou-se de uma vez erguendo uma das pernas de Eliza sobre seu ombro e encontrou o que mais desejava naquele momento. Passou a ponta do nariz pela extensão enlouquecidamente melada, aguou em antecipação.
Eliza ofegou ao sentir o resvalar em seu sex*, espalmou a mão direita na parede lateral e gem*u alto quando Kai mergulhou a língua de uma vez em seu sex*. Sentiu-se ser ch*pada e pensou que era muito melhor que em sua imaginação, fechou os olhos e puxou os cabelos castanhos como se fosse possível aumentar ainda mais a fricção que a fazia delirar de prazer. Os pensamentos coerentes deixando sua mente e dando lugar apenas a um único que respondia pelo nome de Kai.
Kai deliciou-se com o sabor do sex* de Eliza por longos minutos, sentiu as pernas da morena fraquejarem quando concentrou a língua em seu clit*ris em movimentos circulares e a penetrou com dois dedos. Sentiu Eliza estremecer com os movimentos de vai e vem que arrancavam dela nada além de grunidos e gemidos de prazer. Mais algumas estocadas e Kai foi presenteada com a mistura de contração e uma lubrificação ainda maior em seus dedos, seguida dos espamos que sacudiram o corpo de Eliza acompanhados de um gemido alto e muito gostoso aos ouvidos de Kai, depois de retirar os dedos ainda sugou com imenso prazer o gozo que se derramou em sua boca.
Eliza ainda sentia o rosto queimar mesmo depois que a respiração e a frequência cardíaca retornavam a sua quase normalidade. Kai levantou e sustentava seu corpo enlaçando-a pela cintura, fez Eliza sentir seu próprio gosto ao beijar-lhe a boca com avidez de quem está longe de terminar o que acabara de começar. Eliza puxou Kai pela mão assim que conseguira ficar sobre os próprios pés. Seguiram para o quarto sem que Kai desgrudasse a boca do pescoço de Eliza, amaram-se sem arrependimentos ou promessas naquela noite, apenas com a certeza de que não seria a última vez.
Na manhã seguinte, Eliza acordou primeiro e pôs-se a observar Kai que ainda dormia, o lençol cobrindo apenas a parte entre o final da coluna e o início das coxas. Sentiu as bochechas queimarem com a lembrança da noite que tiveram, escondeu o rosto entre as mãos sorrindo e pensando que fora muito melhor que na sua imaginação. Ainda olhando para Kai observou o tom arroxeado em seu antebraço esquerdo e um frio de medo atravessou seu corpo trazendo consigo as lembranças ruins da noite anterior. Nesse momento, Kai remexeu-se, abriu os olhos e sorriu por encontrar Eliza ao seu lado.
— Bom dia, flor do dia!
— Bom dia, Ka. — Eliza sorriu-lhe de volta e se inclinou para beijá-la.
— Quer café? — Kai perguntou depois de outro beijo. Ajeitou-se puxando o lençol para cobrir sua nudez.
Antes que Eliza pudesse responder o toque frenético de seu aparelho de celular irrompeu o ambiente vindo de algum lugar da sala. Levantou-se e saiu a sua procura.
— Bom dia, Su. — Atendeu.
— Que bom que tá viva. Só liguei para ter certeza mesmo e porque a mãe chegou aqui agora e encheu o saco para saber notícias tuas quando soube que não dormistes em casa. Meus pais deveriam ter te conhecido quando ainda moravas no orfanato, assim eles poderiam ter te adotado mais cedo — Suzana gargalhou de sua própria piada.
— Muito engraçado. Escuta, diz para tia Andreia que já estou voltando e você está proibida de sair, preciso de sua ajuda e marca com o tio Júlio pra conversarmos com ele mais tarde no escritório, por favor, marca sem a tia Andreia saber.
— Não gostei desse tom de segredo — Suzana respondeu já preocupada — o que está acontecendo, Eliza?
— Só faz o que eu pedi, tá legal, vou te contar tudo mais tarde. Te amo e obrigada.
Suzana suspirou resignada antes de responder.
— Também te amo, só se cuida tá legal! — Desligaram.
Kai sentiu-se estranha ao estar no meio da sala do apartamento que Eliza dividia com Suzana, era pelo menos o triplo do seu, muito espaçoso e cheio de móveis de última geração. Suas mãos suavam enquanto era apresentada a Suzana e Andreia, que pelo que Eliza lhe já havia contado, era mãe de Suzana e sua mãe adotiva. A quem ela chamava de tia. Ainda foi questionada por conta dos machucados, deu uma desculpa qualquer e foi trocar-se. Deixou Kai conversando com Suzana e sua mãe, apesar dos receios de Suzana, trataram-na com muita educação e cordialidade. Ainda tomaram café juntas e logo depois se despediram de Andreia.
Suzana mal se despedira de sua mãe quando se voltou para as duas com olhar inquisidor.
— Agora desembuchem, porque a mãe pode ter caído nessa conversinha de vocês sobre esses machucados, mas Eliza, eu te conheço muito bem e sei quando ficas tensa ao mentir. Então, não minta para mim.
Kai e Eliza se entreolharam. Engoliram em seco.
— A culpa foi minha — Kai tomou a frente.
— Não é bem assim, a culpa não é sua e sim daquele bandido.
— Já chega, não quero saber de quem é a culpa, quero saber o que está acontecendo.
Suzana exigira em sua melhor pose de advogada de acusação. Eliza respirou fundo e contou toda a história para Suzana.
— Trinta mil reais?! Trinta mil em dois dias?? E você pretendia vender um vírus na Dark Web para conseguir a grana??
— Sim. Sou programadora, só estava faltando alguns ajustes. — Kai respondeu.
— Cacete, o papai vai matar a gente. É por isso que queres falar com ele no escritório??
— Sim. — Eliza respondera envergonhada. — E o tio Júlio não vai nos matar.
Suzana passou as mãos pelos cabelos preocupada.
— Pois eu acho bom você ir se preparando para o sermão. Além disso, ele é capaz de me deserdar por ter deixado você se envolver em tudo isso, sem ofensas — disse olhando para Kai, que deu de ombros. — E ainda vai me chamar de irresponsável por não cuidar de você como a irmã mais velha que eu deveria ser.
Suzana bufou.
— Não seja exagerada, és apenas 1 ano mais velha. Você é advogada, não consegues pensar em uma solução que não envolva sermos mortas ou presas?
— Ah sim, com certeza, tenho um monte dessas soluções guardadas aqui na minha manga — ironizou. — Não é como se eu fosse fazer uma simples petição e… Espera, como você disse que o cara se chama?
— Jhonny, na verdade o nome dele é João Alexandre de Castro Lisboa Neto. É um mauricinho que se acha o bandidaço.
Suzana correu até o escritório e trouxe consigo o notebook.
— Exatamente, um mauricinho. Ele é herdeiro de um dos maiores bicheiros dos anos 90 do país. E temos uma lista imensa de acusações contra ele, incluindo sequestros, tráficos de drogas, ameaças e claro, jogos de azar. O problema é que são apenas acusações circunstanciais, nunca se teve provas suficientes para uma prisão. Pelo menos, não até agora. Você, minha cara, é a testemunha perfeita. A polícia tem cercado ele e até conseguiram congelar algumas de suas contas, talvez por isso ele precise de toda grana que puder juntar em espécie.
Suzana tagarelava sem parar arquitetando tudo em sua mente.
— Vamos — chamou-as já pegando as chaves do carro — marquei com papai as 11h.
— Tio Julio ficou ou pareceu muito chateado?
— O que você acha? Tive que adiantar a história, como disse antes, prepare-se para um sermão daqueles. Fora isso, que bom ele é amigo do promotor e escrevam o que vou lhes dizer: ninguém vai morrer amanhã — Suzana sentenciara ao saírem do elevador.
— Ai que horror, Suzana!
— E eu tô mentindo? E ninguém vai vender porcaria nenhuma na Dark Web, pelo amor de Deus, vocês duas! Mamãe vai ter um treco quando souber dessa roubada! — Suzana comentou quando entraram no carro.
— Você não pode contar para mamãe!
— Mamãe ficaria imensamente feliz se ouvisse você chamando-a assim! — Eliza corou e Kai que apenas seguia calada ao lado das irmãs, sorriu da interação das duas.
Depois de ouvirem um longo sermão, Suzana e o pai fizeram algumas ligações a fim de arranjarem um flagrante.
— É um vespeiro, pai — Suzana comentou.
— Eu sei, mas ninguém mexe com a minha filha e sai ileso. Já arranjei com o delegado responsável pela operação que investiga os negócios escusos da familia Lisboa e todos sairão de lá algemados, incluindo vocês duas. Desculpem é o único jeito dele não desconfiar.
Kai e Eliza concordaram com tudo e ainda tiveram uma reunião com o delegado que comandaria a operação. Naquela noite, Kai não conseguira pregar os olhos, pensava que as duas únicas pessoas que amava na vida estariam em perigo naquela noite, quase perdeu as estribeiras quando recebeu um vídeo do irmão sendo torturado. Só não saiu atrás dele porque Eliza a segurou e a convenceu. Mas seu coração apertava a medida que o tempo passava.
Quando chegaram ao local da troca, Eliza sentia o corpo gelar, tal qual o céu sua mente se encontrava nublada naquele fim de tarde, uma chuva logo cairia. Kai carregava a pequena bolsa que continha o envelope com o dinheiro que o pai de Eliza havia arranjado e Jhonny chegara logo depois, parecia nervoso e furioso ao mesmo tempo, dois de seus capangas arrastaram Tiago e o jogaram de joelhos ao lado de Jhonny. Kai apertou a mão de Eliza quando viu o rosto desfigurado do irmão.
— Vamos acabar logo com isso.
— Direta como sempre, não é, Havaí. Onde está a minha grana?
— Apenas solte ele, a grana está aqui.
— Calma, não tão rápido, Havaí. — Ele soltara um sorriso cínico e ameaçador. —A dívida acabou de aumentar, sabe como é, inflação, juros. Então, acho que vou hospedá-lo mais um pouco, até que você me pagar tudo, quero mais vinte mil.
— O quê?! Trinta mil era o combinado e aqui estão os trinta mil, não seja um escroto sem palavra! Pega sua grana e solta ele.
Kai jogou a bolsa e ia avançando, mas Eliza que seguia calada ao seu lado, segurou seu braço.
— Não há necessidade disso terminar mal, Havaí, eu só quero o restante da grana.
— Não seja ridículo, eu cumpri a minha parte, agora cumpra a sua, eu só quero o meu irmão.
Eliza olhou para Kai que pôs seu corpo a frente do dela, o maxilar trincado a cada palavra e a veia da têmpora saltada denunciava sua raiva por aquele homem. Mal acabara de responder e tudo aconteceu rápido demais, por um momento Eliza sentiu-se em meio a um pesadelo, em questão de segundos a polícia invadiu o local e tiros foram disparados, Kai jogou-se sobre o corpo de Eliza e viu quando os dois capangas de Jhonny foram alvejados. O que pareceu uma eternidade depois os disparos cessaram e assim que levantaram, Kai correu até o irmão e o abraçou.
Perto dali, Suzana abraçou o pai aliviada quando tudo terminou, jamais pensara passar por aquilo e prometera a si mesma nunca mais deixar Eliza se meter em uma confusão dessas. Alguns minutos depois o que era apenas uma ameaça se tornou realidade quando uma chuva forte começou a cair. Foram algemadas como duas criminosas de acordo com o combinado e levadas para uma delegacia diferente para a coleta de depoimentos, cada uma em um carro. Ao descerem das viaturas já sem as algemas, a chuva ainda caia forte, não se importaram com nada, havia apenas uma necessidade naquele momento a de sentirem-se e pertencerem-se. Correram e abraçaram-se.
— Por um momento, achei que tudo daria errado — Eliza confessou.
— Eu sei, também fiquei apavorada, mas que bom que deu certo — sorriu para Eliza e a olhou com intensidade, com isso não fora capaz de segurar as palavras.
— Eu te amo!
Kai foi a primeira a dizer, segurando o rosto de Eliza entre as mãos.
— Também amo você!
Eliza respondeu feliz antes de Kai inclinar e presenteá-la com um beijo calmo e cheio de promessas.
Fim.
Fim do capítulo
Obrigada por ler até aqui.
Há braços!
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Cristiane Schwinden
Em: 15/03/2025
E veio o final feliz! Adorei acompanhar o conto! Obrigada por nos presentar com seu texto!
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