Capitulo 1 O primeiro olhar a gente nunca esquece.
Mariana tinha apenas cinco anos quando o carro em que estava com seus pais saiu da estrada e capotou. Chovia muito naquele dia e tudo aconteceu muito rápido. Um animal cruzou a estrada, fazendo com que seu pai girasse o volante bruscamente para desviar. O carro perdeu o controle, saiu da estrada e capotou várias vezes antes de parar, finalmente, em um barranco.
Mariana sentiu o mundo girar ao seu redor enquanto o som de metal se retorcendo e vidros se quebrando preenchiam seus ouvidos. Quando tudo parou, havia um silêncio ensurdecedor, ainda presa ao cinto de segurança, sentiu uma forte dor em sua perna. Olhou ao redor e viu seus pais desacordados, uma sensação de pavor a envolveu. Ela tentou chamar por eles, mas sua voz era apenas um sussurro fraco.
Foi quando ouviu vozes distantes e viu algumas pessoas correndo em direção ao carro. Os moradores locais, ao ouvirem o estrondo, vieram rapidamente prestar socorro.
Ela foi retirada do carro e a dor em sua perna a fazia chorar. Ela desmaiou logo depois, não sabendo que seria a única sobrevivente daquele trágico acidente.
Após ser resgatada e levada ao hospital, foi submetida a várias cirurgias. Apesar dos esforços dos médicos, ela ficou manca, e a dor da perda de seus pais a acompanharia para sempre.
Depois de algum tempo, Mariana foi levada para um pequeno povoado no interior, onde uma antiga curandeira cuidou dela. Dona Lilica era uma mulher simples, mas com um coração enorme, havia encontrado Mariana sozinha e desamparada no hospital após o acidente.
Lilica era empregada na fazenda de uma família rica. Por bondade, os donos da fazenda aceitaram que ela cuidasse da pobre criança.
Mariana cresceu na fazenda, Mesmo com sua deficiência, ela ajudava sempre que podia. Com o tempo aprendeu a caminhar com a ajuda de uma bengala e hoje, aos 22 anos, é forte e resiliente.
Ela só não contava que sua vida estava prestes a mudar novamente. Dona Lilica já a havia ensinado a esperar o inesperado, mas a nova surpresa que o destino lhe reservava era algo que ela jamais poderia imaginar.
Sofia era filha dos donos da fazenda onde Mariana cresceu. Diferente da maioria da família, foi criada mais com a mãe na cidade grande e nunca gostou muito de passar tempo na fazenda. Sua infância toda foi vivida fora dali.
No entanto, os pais de Sofia estavam prestes a celebrar as bodas de 40 anos de casamento e decidiram que a fazenda seria o local perfeito para a comemoração. Sofia não teve escolha a não ser passar uns dias ali para a festa.
a insistência de seus pais era grande para que voltasse à fazenda e assumisse a administração e isso começou a pesar sobre ela. Eles não sabiam que Sofia era lésbica e tinham planos de arranjar um bom casamento para ela.
Mariana, por sua vez, era uma jovem inocente e pura, ela evitava sair da fazenda e raramente interagia com pessoas de fora. Existia uma tinha dificuldade em se locomover pela fazenda e muitas vezes sentia dores na perna. Atividades simples, como colher frutas ou cuidar dos animais, exigiam um esforço adicional.
A vida social de Mariana também era afetada. Nunca havia namorado na vida e se considerava inexperiente em assuntos do coração. A falta de confiança em si mesma e as inseguranças causadas pela deficiência a faziam evitar qualquer tipo de relacionamento romântico, temia que sua condição fosse um fardo para qualquer pessoa que se aproximasse dela.
A noite caiu sobre a fazenda, Dona Lilica e Mariana estavam na cozinha, finalizando os preparativos para o jantar.
De repente, ouviram batidas leves na porta. Dona Lilica enxugou as mãos no avental e caminhou até a porta. Ao abrir, encontrou os pais de Sofia, Sr. Antônio e Dona Clara
- Boa noite, Dona Lilica
- Boa noite, Sr. Antônio, Dona Clara
Os pais de Sofia entraram na cozinha, onde Mariana se levantou para cumprimentá-los.
-Viemos avisar que Sofia está a caminho da fazenda. Ela deve chegar ainda esta noite - anunciou ele.
Dona Lilica e Mariana trocaram olhares curiosos. Era raro Sofia visitar a fazenda, e a notícia de sua chegada trouxe uma mistura de sentimentos.
- Ah, que surpresa maravilhosa! - exclamou Dona Lilica
- Sim, estamos muito animados com a visita dela
- Como vocês sabem, estamos nos preparando para as bodas de 40 anos de casamento, e decidimos fazer a comemoração aqui na fazenda.
- Claro, estamos aqui para ajudar no que for preciso.
- Agradecemos muito a ajuda de vocês, E esperamos que Sofia se sinta à vontade durante a estadia. Ela não está muito acostumada com a vida na fazenda, mas acreditamos que isso será bom para ela.
Dona Lilica assentiu, compreendendo a situação.
Com os avisos dados, Sr. Antônio e Dona Clara se despediram e voltaram para a casa principal. Dona Lilica e Mariana continuaram os preparativos para o jantar, agora com a expectativa da chegada de Sofia pairando no ar.
Mariana, em especial, sentia uma curiosidade crescente sobre Sofia. Embora soubesse pouco sobre a filha dos patrões, algo em seu interior lhe dizia que essa visita traria mudanças significativas para todos na fazenda.
Sofia estava no aeroporto, esperando pelo voo que a levaria de volta ao interior. Ela segurava a passagem em uma mão e a alça da mala na outra, sentindo um misto de ansiedade e expectativa.
Finalmente, o voo foi anunciado e Sofia embarcou no avião. O voo foi tranquilo, mas sua mente estava agitada com pensamentos sobre os próximos dias.
Quando o avião pousou no pequeno aeroporto do interior, Sofia desembarcou e foi recebida por um dos empregados da fazenda, José. Ele era um homem de meia-idade, gentil e sempre prestativo.
- Bem-vinda, senhorita Sofia
- Obrigada, José.
Sofia entrou no carro e José deu a partida. O caminho até a fazenda era longo e a estrada de barro tornava a viagem lenta e um pouco desconfortável.
Depois de um tempo, a fazenda finalmente surgiu no horizonte.
José estacionou o carro na entrada principal e ajudou Sofia a descer.
Seus pais, Sr. Antônio e Dona Clara, apareceram na porta.
-Sofia, minha querida! Que bom que você chegou bem
-Disse Dona Clara, abraçando a filha com carinho.
- Bem-vinda de volta, filha - cumprimentou Sr. Antônio, apertando a mão de Sofia com firmeza.
- Obrigada, mãe. Obrigada, pai. É bom ver vocês
- Sabemos que a viagem foi longa e cansativa. Vamos entrar e descansar um pouco.
Mariana estava na cozinha, ajudando Dona Lilica com os últimos preparativos para o jantar. Embora estivesse cansada pelo longo dia de trabalho, ela sabia que a chegada de Sofia era importante e quis ajudar a garantir que tudo estivesse perfeito.
-Lilica, está tudo pronto? - perguntou Dona Clara, ao entrar na cozinha.
- Sim, Dona Clara. O jantar está pronto. Mariana e eu terminamos de arrumar tudo
Mariana acenou timidamente para os pais de Sofia, sentindo-se um pouco envergonhada pela presença deles.
Após a calorosa recepção de seus pais, Sofia subiu para o quarto.
Depois do banho desceu para o jantar. Ao entrar na sala de jantar, foi recebida pelo aroma delicioso da comida preparada por Dona Lilica e Mariana.
Dona Lilica estava encarregada de servir o jantar. Mariana, embora sempre disposta a ajudar, sentia um certo receio naquela noite. Estava com medo de derrubar as coisas por causa de sua deficiência, então preferiu ficar na cozinha, observando discretamente pela porta entreaberta.
Quando Sofia entrou na sala de jantar, Mariana estava escondida na porta da cozinha, observando com curiosidade, não podia deixar de admirar a beleza e a elegância de Sofia, e sentia-se intrigada pela presença dela.
Ela estava fascinada por Sofia, mas ao mesmo tempo, sentia-se insegura e nervosa.
Depois do jantar, Sofia sentiu a necessidade de se afastar um pouco e respirar o ar fresco da noite. Ela caminhou até a varanda e embora não tivesse o hábito de fumar, quando estava especialmente nervosa, gostava de acender um charuto para se acalmar, então o acendeu e deu uma tragada profunda.
Enquanto isso, na cozinha, Dona Lilica e Mariana estavam terminando de limpar os últimos pratos e arrumando tudo antes de irem para casa.
- Acho que terminamos por hoje, Mariana - disse Dona Lilica, enxugando as mãos no avental. - Vamos para casa descansar. Amanhã será um dia cheio.
- Mariana assentiu, cansada, mas com um sorriso no rosto.
- Sim, vovó. Vamos
respondeu Mariana, pegando sua bengala e seguindo Dona Lilica para fora da casa.
Quando saíram pela porta dos fundos, Sofia estava a uma certa distância, mas podia ver claramente as duas mulheres caminhando em direção à pequena casa onde moravam. Ela observou com curiosidade a jovem que mancava ao lado de Dona Lilica. A figura de Mariana chamou a atenção de Sofia de uma maneira que ela não esperava.
Mariana, por sua vez, sentiu um olhar sobre si e levantou os olhos. Quando notou que Sofia estava olhando para ela, o coração disparou. Ela corou profundamente e abaixou a cabeça, sentindo-se envergonhada. Achava que Sofia a estava julgando por sua deficiência, mas na verdade, Sofia estava admirando como ela era linda.
Mariana era loira dos olhos verdes, eles brilhavam com uma intensidade que contrastava com sua timidez.
Sofia ficou encantada pela visão de Mariana, mas percebeu que seu olhar prolongado havia deixado a jovem desconfortável.
Quando Mariana e Dona Lilica chegaram em casa, a exaustão do dia começou a pesar sobre elas. Mariana entrou no quarto, tentando afastar os pensamentos que a perturbavam. Pegou suas roupas e foi direto para o banheiro.
Enquanto a água caía, lágrimas silenciosas começaram a escorrer pelo seu rosto. Ela não entendia exatamente por que estava chorando. Talvez fosse a mistura de cansaço, insegurança e a pressão constante que sentia devido à sua deficiência. Mas, acima de tudo, o olhar de Sofia sobre ela havia mexido profundamente com seus sentimentos.
Aqueles olhos atentos e curiosos haviam atravessado suas defesas, fazendo-a sentir-se exposta. O pior de tudo era que Mariana não conseguia tirar Sofia da mente. Ela se lembrava da sensação de ser observada, e isso a deixava dividida entre o medo do julgamento e a inexplicável atração que sentia.
Depois de algum tempo no banho, Mariana finalmente saiu, secando as lágrimas juntamente com a água, deitou-se na cama, abraçando o travesseiro. Mesmo ali, com os olhos fechados, a imagem de Sofia não a deixava em paz. Adormeceu com o coração inquieto.
Fim do capítulo
Vai ser um prazer compartilhar essa história com vocês! Volto logo!
Até o próximo capitulo meninas! Beijão....
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