Capitulo 1-Cafés trazem crushs para perto?
O café hoje estava extremamente cheio, eram 06:14 da manhã, que diabos as pessoas faziam de pé uma hora dessa?
Talvez o mesmo que eu. Trabalhando pra ganhar a vida.
Apresentações necessárias, meu nome é Elizabeth Hernandez, 22 anos, natural de uma cidadela de São Paulo, chamada Flora Rica, claro que todos conhecem, brincadeiras a parte mal eu conheceria, e o que eu estava fazendo aqui em Passo fundo - Rio Grande do Sul? Oportunidades meus amigos!
Minha querida madrinha, que carinhosamente chamo de tia Ellen, se mudou pra cá anos atrás, ela e minha mãe são muito amigas, mas seguiram caminhos diferentes, mamãe é professora e tia Ellen abriu um café aqui em Passo, se apaixonou por um tremendo gato “assim diz ela” e não saiu mais daqui, infelizmente seu marido faleceu. Tio Charlie como costumávamos chama-lo. Mesmo com seus 52 anos tia Ellen diz que jamais haverá outro em seu coração.
Tia Ellen teve apenas uma filha com o tio Charlie, a Rubia, ela é minha melhor amiga, pelo fato de sermos filhas únicas, nos consideramos irmãs, ela é incrível, mesmo sendo criadas distantes até ano passado, sempre nos falávamos por Skype, e parecia que estávamos de corpo presente uma pra outra. Tia Ellen sempre passava o natal conosco, ou visitava a gente nos feriados.
Rubia, ou como chamo de Rubs tem a minha idade 22 anos, é morena, de olhos verdes, pele branquinha, cabelos até a cintura lisos, ela é um escândalo! Bem diferente de mim, que sou mais baixa que ela, cabelos cor de mel puxados para o ruivo natural, olhos âmbar amarelados. Um fato bem curioso sobre nós, é que somos lésbicas, e não! Não nos descobrimos juntas se querem saber, apesar de eu ainda estar com 22 anos ser uma boquinha difícil de se ter, fiquei com apenas duas meninas até hoje, Rubs já pegou metade de Passo! Não era por falta de opção, mas eu realmente acreditava que encontraria o amor da minha vida, e quem sabe almas gêmeas!
Bobeira? Talvez não!
Flora Rica não tinha exatamente a faculdade que eu queria, na verdade não tinha nem Universidade la! Então minha madrinha prontamente pediu á minha mãe para que eu me mudasse para cá, junto com ela e Rubs, e assim pudesse cursar a faculdade daqui, mamãe hesitou muito, filha única sabem como é, meu pai David quase pirou, mas no fim os dois entenderam que não havia o que pudessem fazer.
Dezembro do ano passado me mudei, comecei a ajudar tia Ellen no café junto com Ruby, ela paga um salário que consigo me manter e bancar a mensalidade do curso de Direito, que sempre foi meu sonho. Moro em um quartinho em cima do café, ela e Ruby moram nos fundos na casa grande. E assim vivemos todas felizes, estou na metade do 2º semestre, enlouquecendo, dormindo pouco, cansada, as provas são difíceis.
-- Liz... (apelido carinhoso que Rubs me chamava)
--Oi Rubs --me virei bocejando pra ela.
Eu estava brigando com a máquina de café expresso, Rubs sinalizou seu olhar para a entrada, apontando para...
Lembram aquele papo de alma gêmea?! É, era ela, a dona da minha vida, embora ela não soubesse, mal falava comigo na verdade, Dona Carolina Shelter.
Parei de respirar enquanto me dirigia ao balcão para atende-la, ela sempre vinha esse horário 06:30 da manhã, era professora na Universidade que eu estudava, lembro-me de vê-la sempre nos corredores e parar de andar para vê-la, jamais dirigiu um olhar se quer pra mim, o que me deixava triste, mas feliz por vê-la apenas.
Ela aparentava ter uns 35 anos, 13 anos a mais que eu! Tô nem aí! O magnetismo que eu sentia por ela era tão intenso, que eu sonhava com ela toda noite, pra dormir eu fingia que nos conhecíamos e que éramos o amor da vida de ambas, ela era tão linda e elegante, é praticamente da mesma altura que eu, cabelos loiros que iam até a metade das costas, olhos claros, e um sorriso! Que sorriso, embora eu mal visse ele, a não ser em reuniões de Universidade, onde ela sorria abertamente a outros professores.
Ah que sorriso, aqueceria todo o café do mundo com o brilho e calor dele. Ela sempre entrava objetiva, nunca ficava por ali, pegava seu expresso pra viagem e saia, se dirigia pra faculdade, como eu sabia? Porque era no fim do quarteirão, onde eu pacientemente com meu olhar apaixonada acompanhava.
Hoje ela estava particularmente linda, uma saia preta até os joelhos mais justa, camisa cor de vinho seda social, e um casaco de lã batida preto, até o final da saia, ela estava falando no telefone e sorrindo. Eu morreria por esse sorriso.
--Para de babar – Rubs cochichou em meu ouvido me dando um peteleco nas costas, voltei a si, ela se aproximou do balcão mas não pediu, embora eu soubesse que ela tradicionalmente pediria um expresso duplo forte.
Ela tampou brevemente o telefone e disse rapidamente:
-Expresso como sempre, por favor.
E voltou a rir no telefone.
Preparei o café dela com muito amor e carinho, como sempre fiz, eu acho que ela gostava, pois sempre voltava e nunca reclamou, embora não estivesse sempre de bom humor, fiz o café e coloquei sob o balcão, nunca pegava nas mãos dela, percebia que ela era fechada demais, não queria invadir seu espaço, ela colocava duas notas de 2 reais sob a mesa, e depois pegava seu café se retirando sem dizer ao menos obrigada, ou olhar pra trás.
Como sempre, eu acompanhava com o olhar até os portões da universidade, pra ter certeza que ela chegaria bem. Patético? Eu sei.
Rubs se aproximou, ficou olhando para ela junto comigo enquanto ela entrava na faculdade.
--Já fazem 5 meses que você tem uma crush nessa mulher, ela não é tudo isso Liz, você deveria falar com ela.. –Rubs disse me encarando.
--Ah Claro:
“Oi Carolina tudo bem? Te vejo nos corredores da universidade, e no café sempre, acho que você é o amor da minha vida”!
Tá bom assim Rubs?-- Eu disse debochada.
--Na verdade tá ótimo, ia ser bem legal alguém chegar e dizer isso pra mim –Rubs sorriu.
--Nah, deixa isso no meu âmbito platônico.— eu disse suspirando
--Você quem sabe, quando quiser parar de sonhar com ela, que tem quase idade pra ser sua mãe me avisa –Rubs piscou –que te arrumo uma gatinha.
Suspirei, ri de mim mesma, o quão ridículo isso era? Tomei nota mental de ser menos patética, mas ela era tão incrível, que era impossível eu não me atrair. Uma Deusa Grega na minha mente.
Sabe aquelas pessoas que você vê e tem vontade de enfiar dentro do peito e ninar? Tirar toda aquela cara séria dela de professora, e ama-la...Não tenho a menor ideia de onde isso vem, mas é tão mais forte que eu.
Gostaria de poder ama-la, mesmo sem saber o que é o amor direito, embora soubesse que jamais poderia ser correspondida.
Fim do capítulo
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