Capitulo 22 - Sofia
Eu definitivamente precisava de remédios para os nervos: a montanha russa que minha vida havia se tornado ultimamente era de estraçalhar a sanidade de qualquer um, por mais centrada que a pessoa fosse. Eu ainda estava remoendo tudo aquilo que minha namorada havia contado, sentindo uma raiva suprema de seu ex-noivo, que além de ter tido a cara de pau de alegar inocência, ainda foi capaz de sugerir que eles voltassem para dar um “lar de verdade” para aquela criança.
Continuei passando os canais da televisão, tentando achar algo que me agradasse, enquanto Melissa estava deitada ao meu lado, completamente absorta em ler um livro que estava em suas mãos, folheando as páginas febrilmente como se nada mais ao redor existisse. Eu queria poder disferir xingamentos sobre Leandro para ela, mas eu sabia que minha namorada não estava com humor para lembrar que ele existia, portanto, eu me forçava a engolir toda a raiva que estava sentindo.
— Você ainda está muito zangada comigo por não ter deixado você ficar pra conversa, amor? — a voz de Melissa surgiu timidamente, enquanto acariciava minha barriga.
Dei um longo suspiro, afastando a mão de Melissa de mim com delicadeza, já que não era fácil pensar com clareza quando tinha ela me tocando daquela forma. Minha namorada pareceu levemente ressentida por ter sido repelida e se sentou ligeiramente distante, cruzando os braços em um gesto de defesa. Respondi:
— Não... Muito não. Mas ainda estou chateada com você.
Melissa também pareceu chateada.
— Desculpe, eu realmente não estava preparada pra lidar com tudo aquilo e com você lá, entende? Eu só estou conseguindo uma coisa de cada vez.
Trinquei os dentes, tentando não perder a calma, por mais que tudo em meu corpo estivesse fervendo prestes a explodir. Eu não conseguia explicar para mim mesma porque estava com tanta raiva: se era por Melissa ter me excluído daquele momento crucial, se era porque ela estava carregando uma criança daquele infeliz no ventre ou simplesmente porque um dia ela havia bebido tanto e permitido que aquela gravidez balançasse nosso relacionamento. Ou tudo junto.
— Mas eu estou aqui pra ajudar você a lidar com tudo isso, não estou? — perguntei, ligeiramente exasperada. — Eu tinha direito de estar lá com você. E você tirou esse direito de mim.
Minha namorada ficou calada por alguns segundos, parecendo ponderar o que eu estava dizendo, em seguida tomando ar para me responder, com delicadeza:
— Espera, você tem direito? Desculpe, mas você falou como se tivesse obrigação de estar lá e você não tinha. Não somos casadas, estamos construindo um relacionamento e eu preferi lidar primeiramente com isso sozinha. Você só tinha que respeitar isso, Sof... — ela então segurou minha mão, fazendo-me olhá-la. — Eu entendo completamente sua frustração, é claro, mas você está dimensionando o que eu decidi como se eu tivesse feito a maior sacanagem do mundo com você...
Trinquei novamente os dentes, sabendo que, querendo ou não, Melissa tinha razão. E o fato dela ter jogado aquilo na minha cara com tanta delicadeza, me impedia de retrucar com grosseria. Larguei subitamente a sua mão e dispus as minhas sobre minha testa, respirando o mais profundamente que conseguia para não perder a cabeça:
— Chega, tá bom? Eu preciso de um tempo pra pensar, sozinha. — e levantei, deixando Melissa sentada onde estava, batendo a porta com alguma força.
Ganhei a rua alguns minutos depois, entrando em meu carro e saindo em alta velocidade em seguida, acelerando o máximo que podia na esperança de que o barulho do motor sobressaísse meus pensamentos amargurados. Porém, mesmo assim, eles continuavam buzinando na minha cabeça, me fazendo acelerar mais ainda na ânsia de chegar logo em algum lugar para que conseguisse me distrair.
Eu sabia que por mais que Melissa e eu estivéssemos firmes em nosso relacionamento, eu estava levando tudo aquilo a sério demais, realmente encarando nosso namoro como um casamento, exigindo coisas que eu, de certa maneira, não tinha direito. Eu tinha plena certeza que minha namorada se imaginava casada comigo, mas havia o detalhe essencial que diferia do meu: não agora. Ela ainda estava se acostumando com aquela gravidez e enfrentando problemas grandes o suficiente para que seus planos comigo ficassem em retaguarda.
Virei uma rua bruscamente, ainda tentando compreender o porquê dessa súbita raiva que havia se apoderado de mim: não havia sido eu que havia prometido estar sempre ao lado dela? Será que era justificável ela não querer minha presença naquela conversa? Será que havia sido para que ela pudesse comemorar com o verdadeiro pai do bebê, será que tudo o que ela estava vivendo comigo era uma mentira...?
Sacudi a cabeça, tentando desfocar desses pensamentos ruins, afinal, Melissa já havia me provado que estava comigo porque me amava e que não sentia nada pelo ex. Definitivamente, quando a cabeça da gente estava repleta de maus sentimentos, a tendência era atrair pensamentos cada vez mais insanos: eu sempre havia tido esse defeito, mas fazia um tempo considerável que ele não se manifestava em mim.
Parei o carro em frente a um bar que era comum eu e Maria frequentarmos há alguns meses atrás, localizado próximo à faculdade — eu simplesmente havia chegado ali sem me dar conta disso, como se minhas mãos estivessem no piloto automático enquanto eu dirigia —, me encaminhando para dentro em passos curtos, desejosa de beber alguma coisa e quem sabe engolir toda aquela amargura que estava me consumindo por dentro. Sentei em frente ao balcão e pedi em voz baixa:
— Por favor, me dá qualquer coisa.
— Pelo visto seu dia foi bem difícil... — uma voz feminina comentou de uma maneira bem-humorada, me fazendo erguer a vista.
Dei de cara com ninguém menos que Julia, que abria uma cerveja rapidamente para mim, colocando-a na minha frente, sorrindo com simpatia — ué, o que tinha acontecido com o Ruan, o barman anterior? Bem, não importava. Eu estava tão irritada que o comum pânico que sentia sempre que encontrava com ela ficou em segundo plano. Dei um leve sorriso e peguei a garrafa, em seguida erguendo-a levemente em tom de cumprimento:
— Você não faz ideia. E olha que não chegamos nem ao fim da tarde...
Ela riu, enquanto eu dava um grande gole, sentindo todo aquele líquido gelado descer pela minha garganta, inspirando algo em meu corpo semelhante a alívio.
— Bem, espero que possa te ajudar com algumas cervejas. — ela disse, de modo simpático. — Ou algo mais forte, se preferir.
Aquela postura sedutora e atacante que ela tinha não estava ali, me fazendo estranhar. Apesar que ela estar em seu ambiente de trabalho deveria contar para que Julia se comportasse. Agradeci internamente.
— Acho que estou bem com a cerveja. — falei, gentilmente. — Obrigada.
Tudo o que eu queria era ficar quieta e remoer minhas dores, tentando abafar aquela raiva que eu ainda sentia. Mas, aparentemente, Julia havia se interessado pela minha feição aborrecida:
— Por que você está tão aborrecida ao ponto de não ter sequer uma companhia pra afogar as mágoas?
Epa. Era melhor eu cortar aquela situação antes que me rendesse ligeiros aborrecimentos mais tarde.
— Ah, bem... — comecei, incerta. — Digamos que a minha companhia é a fonte da minha mágoa, de certa forma.
Provavelmente aproveitando o fato de o bar estar vazio naquele horário, Julia debruçou-se para mais perto de mim, parecendo educadamente interessada. Desviei os olhos do colo dos seus seios que ficaram bem diante da minha visão e tornei a entornar a garrafa, fazendo uma careta pelo gosto amargo da bebida.
— Seu namorado? Ou namorada? — ela perguntou, arqueando uma sobrancelha.
— Namorada. — respondi, fazendo com que um sorriso se insinuasse em seu rosto.
Tudo bem, aquilo tudo estava de certa maneira me apavorando: ela estava nitidamente interessada e a parte mais assustadora disso tudo é que eu estava gostando daquela situação. Era tão bom sentir que eu poderia interessar alguém que simplesmente havia me olhado, sem aprofundar qualquer tipo de conversa... Enquanto Melissa não me queria por perto em momentos decisivos, Julia parecia perfeitamente feliz em conversar comigo:
— Poxa, então a sua namorada te magoou? É aquela Melissa ainda? Que mancada desperdiçar uma garota assim, você não acha?
Eu quis acenar com a cabeça, mas parei no meio do ato, imaginando Melissa sozinha em casa, tentando digerir minha saída intempestiva de seu lado. Afinal de contas, ela estava no direito dela de preferir ter a primeira conversa com seu ex-noivo sem mim: convenhamos, seria bem fácil eu perder a calma diante do cinismo apresentado por aquele homem e aquilo teria tornado as coisas duas vezes pior. E se ela estivesse triste? E se ela passasse mal? Oh Meu Deus, eu não estaria lá para ajuda-la.
— Desculpe. — falei abruptamente, erguendo-me da cadeira e colocando uma nota de vinte no balcão. — Eu preciso ir. Pode ficar com o troco.
E sem esperar por resposta, saí correndo.
Fim do capítulo
Mesmo esquema da semana passada, meninas, como o capítulo é curtinho, quinta feira tem mais :)
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 24/04/2024
Saída rápido para casa.kkkkk.
Marianna P
Em: 25/04/2024
Autora da história
KKKKKKKK claramente
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patty-321
Em: 23/04/2024
Eita Sofia, preciso ser cabeça fria pra enfrentar essa situação, ter muita maturidade emocional. Valeu pelo capítulo. Bjs
Marianna P
Em: 25/04/2024
Autora da história
Precisa mesmo, será que ela vai ter?
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Mille
Em: 23/04/2024
Oi Mari
Sofia volta mais acho que precisa de ajuda para conseguir enfrentar esses aborrecimento.
Julia doida para dar o bote na Sofia kkkk
Bjus e até o próximo capítulo
Marianna P
Em: 25/04/2024
Autora da história
Oi Mille.
Acho que vou levar a Sofia pra terapia, o que você acha?
Julia é esperta xD
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NovaAqui
Em: 23/04/2024
Volte para casa logo e fique lá bem quietinha com sua amada
Marianna P
Em: 25/04/2024
Autora da história
HAHAHAHAHAHAHA
Ezatamentchy u.u
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Lea
Em: 23/04/2024
Coitada da Sofia, precisa de uma terapia para aguentar tudo isso!
Marianna P
Em: 25/04/2024
Autora da história
Precisa né? DevÃamos fazer uma conscientização de como a terapia é importante.
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Marianna P Em: 25/04/2024 Autora da história
Boa noite, minha linda.
Eu concordo com você, Sofia está dando muita importancia ao idiota do Leandro, mas também não posso julgar com severidade, né