Epílogo
Pego o telefone olhando para o vidro, não evito o resmungo de reprovação quando vejo seu rosto machucado, seus olhos grandes me analisaram ainda em silêncio, o uniforme laranja não combinava com sua feição machucada e rígida.
- Esse horário não deveria estar na faculdade?- questiona me fazendo revirar os olhos.
- Também estava com saudade Papai- ironizo me encostando na cadeira dura, suas mãos velhas e machucadas passam em seus cabelos grisalhos em frustração.
- Combinamos que você estaria em Los Angeles, Para faculdade terminar a faculdade e agora, em menos de vinte quatro horas depois do combinado, você está aqui nessa merd* de lugar de novo!- repreende com sua voz grossa soando pelo telefone.
- Vim me despedir - o respondo, evitando olhar em seus olhos.
- Eu te conheço, Garota! Mente na cara dura!- me rebate respirando fundo- o que vai aprontar dessa vez?
- vou te tirar daqui- digo determinada.
-Galícia- respira impaciente- Já conversamos sobre isso filha, você precisa superar e viver a sua vida!
- Eu só vou poder viver quando o senhor estiver fora daqui! - Rebato olhando com os olhos fervendo de ressentimento.
- Minha filha... Você precisa parar, a vingança não nos leva a nenhum lugar além da ruína - sua voz sai temerosa assim como seus olhos que transmitiam o sentimento como uma janela aberta.
- Aquele cara matou a mamãe! Te colocou nessa merd* de lugar como culpado e quer que eu siga minha vida e finja que aquele homem não destruiu a minha vida?- questiono incrédula, só podia ser brincadeira!
- Filha, me escute pelo menos uma única vez! Por favor, pare com essa obsessão sobre os Barrera, Não tem mais o que fazer! Se vingar nunca trará sua mãe de volta! Só vai machucar você ou pior..., Vai acabar aqui como eu!- jorra suas palavras sobre mim, aperto o telefone com mais força segurando as lágrimas que tentavam se acumular em meus olhos.
Diferente de mim, os olhos de meu pai já transbordavam, em silêncio não respondo suas palavras apenas fito seu rosto já envelhecido pelo sofrimento e o tempo que passou aqui, não era nada parecido com o homem de Dezessete anos atrás, nem mesmo o brilho e a voz doce permaneceram.
- Minha filha, por favor, vá viver, você precisa viver por si, eu vou estar aqui sempre que precisar e - um soluço sofrido lhe atrapalha- você pode construir sua vida! Ter uma boa família, encontrar uma boa moça, eu só quero te ver feliz, não pensando vinte e quatro horas em como matar alguém!
Viro meu rosto encarando outro ponto, vê-lo chorar ainda me causa dores profundas e ser a culpada das lágrimas me faz querer socar minha própria cara, porém de novo nada digo.
Fico em silêncio sentindo a primeira lágrima cair, escorregando solitária pelo meu rosto, deixei que ela caísse porque a decisão já estava tomada, a muito tempo, e nada me faria voltar atrás.
- Olha pai- engulo seco sentindo minha garganta fechar- Eu vou me vingar e tirar tudo dos Barrera, até a última gota de felicidade e fazer essa Monstro implorar pela morte e quando eu voltar- o olho decidida como nunca- Vai ser com a cabeça dele e sua liberdade- digo por fim me levantando.
- Filha não!- também levanta me olhando alarmado- Não faz isso Galícia!
- Eu te amo pai- respondo o vendo entrar em desespero quando solto o telefone.
- Não! Não!- grita batendo no vidro e apesar de não poder ouvir, podia ler suas lábios e seu desespero, batendo como louco no vidro, me viro assim que vejo os policiais tentarem segurá-lo e saio dali.
O sol quente bate em meu rosto assim que saio daquela jaula abafada, alguns polícias entravam e saíam sem pressa alguma, faço o mesmo atravessando a rua enquanto acendo um cigarro entre os dedos, faço uma conchinha protegendo do vento, dou meu primeiro trago guardando o esqueiro, Sinto a nicotina entrando em meus pulmões, acalmando aos poucos meus batimentos cardíaco.
Limpo as lágrimas que haviam caído, quando não há nenhum vestígio de choro, bato no vidro do HB20 preto, o vidro abaixa aos poucos, desço ficando na altura da janela para encarar o rosto da Mulher sentada no banco.
- Tá me seguindo Batata?- questiono com o cenho franzido.
- Você disse que queria carona para o Aeroporto - da de ombros destrancando a porta, a olho desconfiada antes de entrar e bater a porta- Deixe o cigarro aí!- manda já ligando o carro.
Revirando os olhos, jogo o cigarro fora e analiso a mulher ao meu lado, meus olhos vão para o banco de trás vendo minha mochila ali, volto a olhar a mulher que tinha o semblante sério, droga...
- Desemboca!- mando já sem paciência, os olhos da mulher vem até mim brevemente até voltar seus olhos para a rua.
- Eu não tenho nada a dizer- ajeita os óculos sem nem ao menos dirigir o olhar para mim, bufo desviando meus olhos.
As ruas tranquilas de Monterey passavam devagar, em silêncio memorizo tudo aqui, memorizo o parquinho do bairro, os mercados, as lojas, tudo que costumava frequentar aqui e memorizo, guardando em meu coração as coisas boas, as poucas coisas boas que tive ali, para depois me focar no meu único motivo de não continuar aqui.
- Droga, Galícia - minha irmã fraqueja depois de um tempo parecendo irritada, não digo nada, apenas me encosto na janela respirando fundo- Você é maior de idade, está prestes a se formar e tem um ótimo currículo!- começa seu discurso, me encolho mais sobre o acento já sem forçar para brigar.
- Eu não entendo! Eu realmente não entendo!- aperta o volante com mais força descontando ali seus sentimentos- Eu errei em algo? Eu ... E-eu fiz tanto merd* assim? Eu fudi tanto assim com as coisas ao ponto de você ficar cega por vingança?- apesar do peso das palavras, ela não gritava, muito diferente disso, suas palavras saiam cortantes e baixas como se doesse muito falar.
- Você não errou em nada- Após um longo tempo tenho coragem de dizer, de cabeça baixa a voz pesada junto da minha respiração, como ela não entendia? Como?
- Pois não parece- funga finalmente mostrando que derramava lágrimas me assustando, finalmente a olho, vendo como ela estava tensa- Eu sei que as coisas foram sempre um lixo, mas eu tentei compensar! Eu tentei ser o pai que o papai não podia ser! Eu tentei pra caralh* suprir tudo sozinha e porr*!- limpa as lágrimas com a mão trêmula- Eu sinto muito se não foi o suficiente! Sinto mesmo, eu tentei ser uma boa irmã! Sinto muito se não fui, mas eu tinha apenas Dezesseis anos!
Me senti sem chão pela primeira vez desde minha decisão, era raro ver Liana chorar, ela nunca chorava! Nunca mesmo, nem no enterro da nossa mãe ela chorou, sempre foi uma mulher fechada, e apesar de ter me criado com tanto amor, era difícil a ver demonstrando os sentimentos, como estava fazendo agora.
- Olha Galícia, o Filipi me disse mil vezes sem parar que você é adulta e já pode fazer suas próprias escolhas, eu já entendi isso ok? Eu entendi!- franze o cenho parecendo confusa- mas eu vi sua mala e a papelada, a arma na bolsa e eu- fechou brevemente os olhos e depois respirou fundo tentando não dificultar o trânsito- Eu surtei! Você não pode ir até os Barrera, eles são perigosos e você não vai voltar- começa a chorar, chorar muito - você não... Vai voltar para mim... Eu já perdi muito Cenoura! Muito mesmo e você sabe! E quando Finalmente achei que tudo estivesse bem, eu vou perder você?!
- Você não vai me perder batata- fecho os olhos deixando que algumas lágrimas descessem lentamente, ouvir meu apelido de infância me faz querer desabar outras vez.
- Eu vou! Vou sim! E você sabe- finalmente o carro para, em frente a entrada do Aeroporto- Eu espero que não se arrependa do que decidiu mas eu tenho que dizer, matar o Barrera, não vai trazer a mamãe de volta! Muito menos provar a inocência do papai! Mas se você acha que vai conseguir sentir paz após fazer o que quer fazer, tudo bem! Eu vou estar aqui, Se... Precisar de mim.
Engulo suas palavras Sentindo o amargor em minha língua, sinto seu olhar pesar sobre mim, pesar como suas palavras, por segundos me senti arrependida, arrependida de tudo que venho fazendo desde daquele dia.... Mas não durou muito, nem meio segundo, porque o passado era um lembrete de que todos os que feriram minha família, iriam pagar e pagar muito caro.
- Se cuida batata - digo por fim, pegando minha mochila com pressa, não queria encarar seu olhos decepcionados.
- Galícia!- segura me braço, impedindo a minha fuga, tiro minha mão da maçaneta do caro e a olha, tentando ao máximo me manter neutra- Eu... Eu- se cala soltando meu braço, respirando fundo em seguida, seu semblante estava exausto.
- Cuide da pequena luna- Sorrio de lado, vendo seus olhos encherem de água outras vez- você tá mandando bem com essa coisa de mãe de família, sempre mandou bem- sorrio fraco abrindo a porta da carro- Tô feliz por você mas agora, eu preciso ir batata, eu te amo, amo muito, mas eu preciso disso, preciso fazer isso...
- Eu te amo- me puxa para um abraço apertado, sem jeito retribuo, sentindo meu peito se encher de alguma forma- não morra! Isso é uma ordem!
- Eu não vou- sorrio segurando as lágrimas que ameaçam cair- Até logo maninha- beijo sua testa e me retiro de seu carro, batendo a porta logo depois, respiro fundo outra vez, me preparando para deixar quem eu mais amo para trás.
A primeira lágrima caem assim que meu primeiro passo é dado, mas não tinha volta, não dessa vez, então continuo andando, me distanciando cada vez mais de Liana, A única pessoa do mundo que eu daria minha vida, a única que sobrou depois de Papai, Mas eu precisa disso, precisava fazer com que essa dor no peito, valha a pena.
Por isso adentro o aeroporto limpando meu rosto, não havia mais porque chorar, nem se lamentar, as únicas lágrimas que deram derramadas será as de Alejandro De La Barrera e de toda a sua medíocre família.
Fim do capítulo
Espero que tenham gostado, até o próximo capítulo <3.
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