A aula começou e enquanto Irina falava de fórmulas e cálculos eu não parava de olhar para aquela garota. Eu estava bancando a esquisita?estava. Ela estava percebendo?também! Mas de alguma maneira eu tinha que quebrar aquelas barreiras e me aproximar. 

A filha de Daniel era inteligente e prestava bastante atenção à explicação de Irina em resolver logaritmos. Eu já tinha estudado algo do tipo um tempo atrás e de vez ou outra revivia na biblioteca meus tempos de estudo, mas quando se tinha trabalho todo dia resolver cálculos passava a ser perda de tempo. Ali naquela sala todo mundo tinha suas perguntas e pitacos a aula e ate mesmo a garota tinha suas dúvidas, o que era estranho.

Quando se vive no ambiente escolar você entende bem o seu lugar. apesar do começo de aula tumultuado todos na minha visão estavam muito bem comportados e faziam seus resumos como bons alunos,o que só me fez pensar que em aula o território era neutro. Intrigas e desavenças esse colégio estava cheio, mas eles eram espertos demais porque na minha outra escola a guerra era declarada em todos os lugares. Aqui pelo visto na frente dos professores isso era o limite para eles.

--pessoal vamos fazer as atividades da página 95. De A a F.--Irina ordenou e todo mundo já começou a abrir seus cadernos e responder as questões.

Elas não eram difíceis e conclui isto em minutos e me atentei a olhar para a garota ao meu lado.
Ela respondia às questões e tentava não ser distraída comigo a olhando fixamente enquanto respondia as questões e não me contive em sorrir,ela era uma fofa com raiva.
Eu era uma doida quando queria incomodar e para conseguir o que eu queria isto virava minha habilidade. Era o que eu fazia no trabalho para conseguir clientes.
Aproveitei que Irina retornou para sua mesa e começou a responder as questões do livro para perturbar a garota mais ainda.

--você até agora não me disse o seu nome.--falei baixinho e ela parou de escrever e me olhou surpresa.

Era inquietante a forma como ela olhava para aquela magrela metida a modelo para saber se estava sob ameaça.

--precisa da permissão dela para me responder?--perguntei e ela me olhou ofendida.

--claro que não!--respondeu ela mais enérgica mas em tom irritado porém baixo. Deu gosto de ver que ela tinha sangue naquelas veias.

--então me diz!--provoquei e ela se preocupou com Irina acabar nos pegando falando baixinho.

--me deixa em paz beleza?!

--pessoal vou começar a chamada.Abigail,como você entrou depois será a ultima da chamada já que na lista todos estão definidos por ordem alfabética.--Irina falou e sorri a ela concordando e eu realmente não precisaria perguntar o nome dela,minha resposta chegaria assim que ela respondesse.

--um!--Irina perguntou e que droga.

--presente!--um garoto respondeu e que sistema mais sigiloso.a filha do Daniel me olhou e foi a primeira vez que vi um pequeno sorriso atrevido enquanto ela mordia a caneta.

Assim eu não saberia o nome dela.
Droga.
Eu poderia ligar para o Daniel mas isto acabaria com a graça da brincadeira. Seria assim que me aproximaria daquela garota.
Irina continuou mais e mais um, três,quatro,cinco e seis,sete e oito.

--presente!--disse ela voltando para sua atividade me lançando um breve olhar desafiador. Ela podia negar mas estava adorando me deixar curiosa.

No final, foi minha vez e até lá o sinal tocou.o tempo estava passando rápido.a outra aula ia começar e para minha tristeza ainda era matemática.

--vamos conferir as respostas?vou chamar alguns números da chamada e venham fazer a resposta na lousa. Dois,oito,quatorze,quinze,vinte e vinte e quatro.

Que droga.que sistema opressivo. De um a um os alunos teriam que seguir até a lousa e responder às questões de A a F e eu estaria fodida se não soubesse.olhei para a filha do Daniel e no seu caderno os rabiscos do calculo eram quase indecifráveis mas no fim era o mesmo resultado que o meu. Ela ia ficar bem por isso não me preocupei.
O primeiro garoto foi rápido e ele tinha mesmo cara de esperto com seus óculos redondos e o jeito caladão.as palmas foram certas e ele passou reto de volta a sua cadeira. O uniforme de Fortcastle lhe caia muito bem,diria ate que ele nasceu com aquele terninho.

--próxima!--chamou Irina anotando algo em sua caderneta.

Ela se ergueu e um silêncio maldito se instalou na sala. Com seu caderno em mãos ela seguiu a lousa e tentou fazer aquilo o mais rápido possível mas acho que o nervosismo de ter todos aqueles olhares fizeram deste momento o pior. Ela demorava para ler tudo aquilo que tinha escrito e ainda mais transferir o que entendeu para a lousa. ela não entendia o próprio hieróglifo que rabiscou e digo que nem mesma eu entendi.

Cri-cri

Cri-cri

O barulho de grilo e das risadas contidas no fundão surgiram acompanhadas de chiados pedindo para parar.lancei um breve olhar para trás para notar de quem viria.

ah os esportistas,por que bocas tão lindas e corpos tão bem feitos eram sempre acompanhados de toneladas de merd* na cabeça?civilidade era algo impossível para alguns animais já outros bem mais evoluídos eram muito bem entendidos.

aquela magrela.

Ela pedia para eles pararem mas não tirava o sorriso de dentes brancos do rosto.
a garota do bosque terminou e Irina foi a primeira a bater palmas.fiz o mesmo vendo ela retornar veloz sob poucas palmas.
Ela tinha o olhar mais mortal que já tinha visto misturado à ansiedade que de fato atacava.seus olhos arregalados e a respiração forte foram duramente contidos por ela.

--muito bem..próxima.

A loirinha se levantou e desfilou até a lousa e era impressionante,a safada era bonita,o cabelo chapado e longo parecia ter saído de um salão das estrelas,a pele impecavelmente limpa,o uniforme dela tinha ate uma cor mais escura como nova da mesma cor que a minha e o cheiro dela..que perfume enjoado.ele seguia ela como uma nuvem de superioridade em cada passo.pegando o pincel da mão de Irina ela escreveu sua resposta tão rápida e percebi que ela de mãos livres não tinha levado seu caderno. Ela queria mostrar que era inteligente. Aí meu deus tentei não rir pensando nessa loirafobia.
Ela terminou em segundos e devolveu a caneta já com olhos na filha de Daniel.

--fácil e rápido. É assim que se faz.--disse ela se achando.um riso lá atrás atraiu seu olhar lá para o fundo da sala.

--olhando no cel ate eu.--o garoto lá atrás falou e o sorriso dela se fechou.ela seguiu até ele rápida e voraz e pensei que ela o assassinaria ali segurando seu rosto com aquelas unhas afiadas mas ela o beijou. Os brutos também amavam e a onda de palmas acompanhadas de urras veio feroz. Ela era bajulada por geral.

--gente por favor.--Irina a repreendeu.--Morgan para seu lugar. (Rs) vamos guardar a paixão para o intervalo.--Irina falou e a garota loirinha agora tinha nome, Morgan apertou as bochechas do garoto e voltou para seu acento. Nem vou comentar que o olhar dele veio direto pra mim na hora que ela deu as costas e acho que aquele sorrisinho tímido não era pelo gesto afetuoso deles. Aquele ali não aguentava uma quicada minha.
Logo após foram mais dois e minha vez havia chegado.

--sua vez Abigail.--Irina sorriu simpática me esperando na lousa e me ergui e caminhei até lá.

Peguei a caneta e comecei a resolver a questão. Ela era grande e isto me levou uns segundos mas assim que terminei Irina bateu palmas animadas.

--parabéns Abigail!você acertou a questão mais difícil da lista!--Irina estava impressionada e acho que as várias palmas que me deram muitas delas saíram de forma bem invejosas e Morgan me olhava com aquela expressão de quem conhecera sua mais nova inimiga. Ah como eu adorava uma rivalidade.
Sorri sem jeito.

--sua explicação foi ótima Irina.--falei a ela e ficou claro que de mim ela não teria problemas de relacionamento e pra falar a verdade,eu tinha adorado Irina.

--muito bem entendida!--disse ela comigo retornando.

A filha de Daniel me olhava estranhamente curiosa. O que ela estava pensando de mim?
Irina continuou a aula e mais questões foram abordadas e assim a aula seguiu e mais uma vez o sinal tocou.todos saíram velozes até mesmo a filha de Daniel.

--Abigail,durante esse tempo você pode dar uma olhada pelo colégio e tentar encontrar um clube que te agrade,claro eles não são obrigatórios,mas super recomendados para manter seu tempo livre bem utilizado ou você pode simplesmente ir a cantina e comprar um bom lanche ou aproveitar a academia.Fortcastle tem muito o que se ver.

--valeu Irina. Eu já sei o que vou fazer.obrigado pela recepção.

--estou aqui para ajudar e..posso te falar uma coisa?talvez tenha sido uma pequena impressão mas está tentando fazer amizade com a senhorita Winter?por que se for eu só apoiaria.ela é uma garota inteligente e eu adoraria ver ela mais entrosada com outras alunas. Ela é muito sozinha e...bom, Fortcastle tem suas falhas. Eu como professora não posso tomar partido mas uma amiga pode.

--não sou de panelinhas e ela é um bom desafio.sem contar que ela é uma fofa com aquela carinha brava. (Rs)

--então fico mais aliviada.

Sai e fui para a cantina. Meu estômago estava implorando para comer.peguei uma bandeja na pilha da entrada e entrei na fila para me servir. Tinha tanta coisa que fiquei babando.
Frutas fresquinhas,pães crocantes,danone e cereais,frios e salgados prontos,as pizzas estavam chamativas e claro,sucos,café e leite para ser servido.minha bandeja ficou pesada mas paguei tudo já pondo uma maçã na boca.
Dando uma volta ali procurando um lugar para sentar procurei uma mesa, mas a maioria estava cheia e por incrível que pareça as bandejas deles estavam mais secas do que minha barriga.a anorexia correndo solta naquela escola. Morgan já se encontrava lá com sua turminha e que turminha,todo mundo tinha estilo demais para se misturar com os outros e pelo visto o gosto amargo da aula de matemática ainda estava na sua boca.ela me olhava como um pinscher com raiva.passei direto achando uma mesa com um casal de nerds bem novinhos conversando.
Pousei minha bandeja sobre a mesa e sentei e o garoto se animou e abriu um grande sorriso enquanto arrumava o óculos do rosto para ver melhor.

--você é a garota nova né?--esquecendo o cubo mágico ele perguntou pra mim bastante empolgado.

--sou!--respondi e ouvi da garota do lado uma risada escapulir da boca dela.

--o que foi ein?não vai andar com os donos de Fortcastle?--perguntou ela me chamando a atenção,então tinha gente que também não aturava a diva Morgan?

--deixe-me adivinhar?Morgan e sua turma de palhaços?--indaguei.

--esses mesmos.porque aqui na nossa mesa ninguém apoia essa monarquia!--ela respondeu virando o boné para trás para parecer mais rebelde. Eu sorri.

--somos solitários rebeldes deste reino.--completou ele cruzando os braços.

--essa mesa só atende os fracassados!--disse a garota com o dedo sobre a mesa.

--fracassados mas com dignidade ouviu.--explicou o garoto a mim.

--ah que bom pois estou tentando criar uma rivalidade feminina e quero que ela exploda de tanta raiva.--falei e eles sorriram diabolicamente e eu adorei. Era tão bom achar gente decente hoje em dia.

--se precisar pode contar com a gente.meu nome é Pablo.--ele me estendeu a mão e me cumprimentou. ele deveria ter uns quinze anos com aqueles cabelos pontudos bagunçados cheios de vida.o uniforme folgado,um pouco acima da sua medida era o seu charme pessoal.um fofo.

--o meu é Natalie.a gente te ajuda a por a escola abaixo se for preciso.--a carinha dela dizendo isso me preocupou,um pouco.assim como ele Natalie também não passava dos quinze mas aquela marra me surpreendeu.seu uniforme ela mantinha o blazer aberto e eu via as varias modificações escondidos nele.de patches a próprios desenhos feito a mão,me lembrou minha jaqueta e se parasse de olhar para ela eu teria dito que era isto,mas seus pulsos cheios de pulseiras e o ar rebelde me fizeram adorar ela.

--então me digam.por que ela é tão querida?--perguntei doida por essa fofoca já devorando meu lanche.

--Morgan é rica e poderosa. Seu pai é dono de muitas coisas na cidade. Já viajou para muitos países,gastou muito, o típico.--me respondeu Natalie sendo breve.

 --muita gente adora ela mas é tudo fachada. Morgan é insuportável e só fazem isso para escapar das brincadeiras maldosas. Ela já mandou aqueles trogloditas me pendurarem na cesta de basquete pelas calças.--deu pra sentir a magoa de Pablo em sua voz.

--eu já joguei sorvete nela.--Natalie falou ganhando na hora o olhar do Pablo bem surpreso.ela parecia bem confiante do que dizia.

--mentira!você sempre fala isto mas nunca vi isso acontecer.--respondeu ele e ela sorriu exibida.

--eu sujei ela sim de sorvete!!foi uma gotinha mas sujei!

--ela te mataria se fizesse isso. (Rs)

--posso saber o que os professores fazem em relação a isto?--perguntei curiosa.

--a maioria nega.

--é um dos melhores empregos da cidade!eles não ligam se ela vai torturar um bando de adolescentes!ela é um anjo e a turminha dela já aprendeu seu modo operantes. Ela finge que nada aconteceu e eles ficam de mãos atadas.--me revelou Natalie e era o mínimo a se esperar daquela Morgan.

--tem câmeras por aqui não é?não é possível!--falei ganhando a risada dos dois.

--(rs) aqui tudo se compra. O segurança apaga sempre as provas das câmeras.acho que é uma ordem do papai.--Pablo abocanhou o sanduíche me dando esta certeza.

--eu acho que ela ch*pa ele toda dia.--Natalie não tinha papas na língua e eu amei isso.

--(rs)

--qual é?! ela tortura todo mundo todo dia.só teve uma professora que tentou alguma coisa aqui,Irina, mas Morgan não ia deixar ninguém tirar o prazer dela de se achar a dona de Fortcastle.por isso fez seus escravocetas fazer aquela perseguição paranoica com Irina.ela era vigiada todo o tempo e logo ela começou a se assustar.quem poderia estar fazendo isto?ela não sabia mas quando entrou na sala 210, lar do maligno, estouraram um balão próximo dela e ela já paranoica se mijou inteira.

--foi muita maldade.logo todo o colégio estava chamando ela de urina mas ela voltou no outro dia e continuou o trabalho mesmo com todo o deboche.Morgan explicou tudo a diretora que estavam tentando comemorar o aniversário da Irina e ela acreditou. Irina é uma das poucas que conhece quem Morgan realmente é.

--essa fudida!logo a Irina..

--então toma cuidado princesa.já tem boatos pela escola sobre você. Morgan não gostou nada de saber que você tá sendo o assunto do momento e não ela.

--que bom saber disso. Só quero ver se ela vai ter coragem de me peitar.

Fim do capítulo