São 5h da manhã e o alarme do meu relógio toca. Eu me levanto e corro para a cozinha deixando tudo engatilhado para fazer o almoço. Rapidamente vou para o banheiro escovar os dentes e tomar banho. Ligo o celular para ver se existe alguma mensagem importante para ser respondida. Após minha higiene volto para a cozinha e vou levando ao fogo as panelas nas quais cozinharei nosso almoço. Nisso o relógio marca 6h: eis o momento de deixar tudo à postos para fazer o café da manhã. Daí sigo para o quarto de maama.

 

--Bom dia, maama! – cumprimento com animação na voz – Acordando e levantando! – paro diante dela – Vamos cuidar desses dentinhos? – ajudo a se levantar

 

--Bom dia, menina! – responde com voz fraca – Eu quero fazer xixi... – pede enquanto se ergue com dificuldade – E quero fazer o café!

 

--E a senhora vai fazer as duas coisas, maama. – beijo-lhe a testa – Simbora labutar! – convoco divertida

 

--Simbora labutar! – concorda ao começar a andar segurando-me pelo braço

 

Maama prepara o café e depois que comemos eu a levo novamente para escovar os dentes. Daí ela fica na sala, levo o notebook para a cozinha e vou me alternando entre trabalhar, cuidar dela e fazer o almoço. A pandemia me mostrou que não há nada mais enlouquecedor que cuidar de alguém, cozinhar e trabalhar ao mesmo tempo, especialmente se é para dar aula para um monte de jovens inquietos que você nunca sabe no que estão prestando atenção (mas que depois surgem com cada pergunta do arco da velha! rs).

Às 11h maama toma banho assistida por mim. Por essa hora o almoço já está pronto, mas os alunos continuam na minha rotina e tenho que desligar a câmera do notebook (sim, os alunos me veem por lá e cá dentro de casa, é verdade! Para os que são fofoqueiros é uma maravilha! rs). Termino as aulas da manhã às 12h e daí ponho o almoço na mesa. Depois levo maama para escovar os dentes novamente e enquanto isso cuido da louça. Quando ela não tem médico ou tratamento, sigo nas aulas da tarde e vou até às 18h com elas. Daí cuido de colocar a janta, que é o que faço a mais do almoço, lavo a louça, atendo maama no que mais precise e vou corrigir prova ou tarefa de aluno e/ou vou trabalhar no que diz respeito aos projetos de pesquisa que coordeno. Quando, ao contrário, ela tem algum atendimento médico, vou arrumá-la por volta das 13h, tomo outro banho e me troco. Daí nos preparamos com máscara e descemos para a garagem para pegar o carro e ir embora. Seja como for, meu expediente termina sempre por volta das 23h, às vezes mais tarde. Só dou uma paradinha por volta das 20h para fazer 40 minutos de spinning dentro de casa, mas não é todo dia, porque nem sempre consigo.

Maama sente dores o dia inteiro e não há analgésico que resolva. Ela apenas fica com mais dor ou menos dor, mas nunca isenta de sofrimento. Quando as dores são muito fortes vêm as crises de ansiedade e é aí que tudo se complica ainda mais.

Em junho de 2020 maama contraiu CONVIDE-0 em Triunfo e ficou muito mal. Eu a trouxe para viver comigo no Recife para que dispusesse de mais recursos para se tratar, mas aí também peguei a doença. Em julho parecia que estávamos recuperadas, mas a saúde dela progressivamente se deteriora. Nossas vidas têm sido conforme lhes relatei desde então.

Hoje, no entanto, dia 17 de janeiro de 2022, iremos para uma consulta médica muito importante que talvez nos dê uma luz quanto ao que fazer.

 

--E então, doutora, esse exame novo que a professora do Rio me fez explicou alguma coisa? – Suhaila perguntou ansiosa – Eu já não me aguento mais de tanto sentir dor e ficar sem poder andar direito! – olhava para a médica – Não é possível que médico nenhum consegue explicar o que tá me acontecendo, não sabe? Eu queria voltar a ser como era antes e sair dessa derrengação... -- desejou

 

--Eu também nem dormi direito pensando nesse resultado. – Camilla confessou – Infelizmente Juliana não me adiantou nada. – referia-se a uma professora universitária do Rio de Janeiro

 

--Nada mais natural que as duas fiquem nessa expectativa. – Larissa olhava para as mulheres – E posso dizer que a melhor coisa que podia ter acontecido foi você ter descoberto uma professora universitária que trouxe um exame novo pro Brasil e ainda ter conseguido que sua mãe participasse como voluntária pras pesquisas da Universidade Estadual do Rio. – dirigia-se a Camilla – Eu vou explicar melhor, mas com base nas pesquisas mais recentes sobre a CONVIDE, na longa conversa que tive com a doutora Juliana e mais nos resultados que foram obtidos, podemos dizer que tudo que lhe acontece, dona Suhaila, – olhou para a mulher mais velha -- é uma sequela da CONVIDE.

 

--Oxe?! – exclamou surpresa – Como pode? Peguei essa miserenta bem dizer há dois anos atrás e até hoje a bicha me inferniza? – não entendia como poderia ser

 

Camilla tinha pontos de interrogação na cabeça. “Mas como pode uma coisa dessas?” – pensou

 

--Doutora Juliana me explicou que esse novo exame tem sido muito usado na Europa no estudo de pacientes sintomáticos e assintomáticos da CONVIDE e... – pensava em como falar – Foi comprovado que determinadas pessoas acabam evoluindo para um quadro semelhante ao de pacientes portadores de doenças neurodegenerativas como Parkinson e Alzheimer... – pausou brevemente – E esse é o caso da senhora, dona Suhaila. – afirmou com jeito

 

--Mas... – a mulher ficou sem saber o que dizer -- Mas Parkinson não é aquele que treme? Eu não tremo! – Suhaila não queria aceitar – Esse exame deve de ter dado errado!

 

--Larissa, por favor. – Camilla sentiu o coração acelerar – Você tá querendo dizer que os exames mostraram que maama se encontra em situação semelhante ao de uma pessoa com Parkinson ou Alzheimer? – não queria acreditar – Como pode ser isso?

 

--Vamos lá, uma de cada vez. – respondeu gentilmente -- Eu entendo a sua dúvida, dona Suhaila, mas nem todo paciente com Parkinson apresenta os tremores essenciais e como eu disse... a senhora não tem Parkinson, o vírus da CONVIDE é que provoca um dano semelhante ao da doença. – continuava explicando -- O vírus da CONVIDE provoca uma degeneração neuronal em algumas pessoas que se assemelha à mesma degeneração ocorrida em pacientes com Parkinson ou Alzheimer, sem que a pessoa, de fato, seja portadora dessas doenças. – olhou para Camilla – Juliana me disse que o quadro de dona Suhaila se assemelha ao de um paciente com Parkinson em estágio médio para avançado. Daí as dores, a progressiva lentidão da marcha, a rigidez articular...

 

“Não pode ser, meu Deus...” – Camilla pensava atônita – E agora o que vamos fazer, Larissa? – perguntou disfarçando a aflição que sentia – Eu sei que Parkinson não tem cura, mas maama não poderia ser submetida a um tratamento similar ao dos pacientes dessa doença? Ao menos pra dar qualidade de vida! – olhava para a médica – E será que nesse tipo de caso a pessoa pode curar?

 

A médica respirou fundo antes de responder: -- Pois é... o lado bom da descoberta que fizemos foi que agora sabemos o que não deve ser feito, mas o lado ruim é que... o tratamento pra esse quadro ainda não é conhecido. – pausou brevemente -- Eu vou explicar em detalhes porque, mas a resposta da sua primeira pergunta é não, Camilla. – tentava não desestimular as outras mulheres – No entanto, quanto à possiblidade de cura vamos continuar investindo e buscando formas de melhorar a qualidade de vida de dona Suhaila no que diz respeito às dores. Vamos pesquisar bastante algum tratamento que possa ser feito pra evitar o progresso do dano causado pelo vírus. – queria dar-lhes esperança

 

--Vôti! – Suhaila exclamou -- Eu nunca mais vou poder cuidar do meu roçado e das minhas plantas? – perguntou entristecida – E nem fazer minhas coisinhas, brincar com os menino, resolver meus assunto...? – derramou uma lágrima

 

--Por favor, não pense assim! – Larissa segurou a mão da mulher mais velha – Não encare o que estamos conversando aqui como uma sentença de morte! Nós vamos encontrar uma saída! – olhou para Camilla – Não leve a mal o que vou dizer, mas acho que valeria a pena se você se submetesse ao exame também. – aconselhou – Não sabemos se existe alguma questão genética em tudo isso e... afinal de contas você também teve CONVIDE... – falava com jeito

 

Maama começou a chorar contidamente e eu chorava por dentro ouvindo o que Larissa dizia. Definitivamente, eu sentia no fundo de meu coração que nada seria como antes, mesmo com o fim da pandemia, e aquela Suhaila ativa e saudável que eu conheci a vida toda não existiria mais. Não por falta de fé, mas podia sentir que tudo mudou.

 

“O que eu faço, meu Deus?” – pensei angustiada – “Eu Lhe imploro, me ajude a saber o que fazer, pois sinto que nem maama e nem eu estamos preparadas pra encarar essas duras mudanças em nossas vidas...”

 

***

--Agora que vocês já estudaram sobre os princípios físicos dos sensores analógicos e já aprenderam como conectar tais sensores no Raspberry Pi usando um Arduino como adaptador, vamos colocar a mão na massa! – Camilla olhava sorridente para a turma – A tarefa de vocês vai ser fazer um sisteminha prático, que pode ser um sensor de temperatura ambiente ou de ruído ou seja lá do que for, usando o material didático disponível e que foi listado pra vocês por e-mail. – exibiu no telão a imagem de parte dos recursos disponíveis – Os dados coletados pelo sensor deverão ser exibidos através de um painel de monitoramento na tela do computador. Mais adiante, faremos isso com uso dos celulares de vocês. – explicava -- Vamos usar o Raspberry com linguagem Pyhton pra definir nossa lógica de programação. – projetou na tela um exemplo de painel para os alunos – Cada grupo vai definir o seu sisteminha, listar o material necessário, me mandar por e-mail até amanhã e buscá-lo comigo na quinta. – explicava -- Aguardo a conclusão dessa tarefa pra nossa primeira aula da semana que vem.

 

--Professora, vai ter vídeo no canal da matéria pra gente poder tirar dúvida? – uma aluna perguntou empolgada – Eu já vi que tem um bocado de coisa lá!

 

--Os vídeos mais atuais foram feitos em 2020 mas vocês podem se basear neles sem prejuízo. – respondeu de imediato – E eu também vou estar disponível pra quaisquer dúvidas, como vocês sabem.

 

--Professora, e quando a gente vai fazer umas tarefa massa como o ESP 8266? – um jovem perguntou empolgado – Eu li que esse bicho tá revolucionando a internet dos trem, não sabe?

 

--Internet dos trem, pia só que cabra burro! É internet das coisa, véi! – outro rapaz rebateu de pronto – E ainda chama o ESP de bicho, pense numa fuleiragem! – riu junto com outros – Sabe nada, animal! – zombou

 

--Nós também vamos estudar o ESP 8266, Roberto. – Camilla respondeu calmamente – E nosso amigo Julio, que anda tão entendido da matéria, vai ser nosso monitor na ocasião, não é querido? – olhou para o zombeteiro – E essa monitoria vai contar ponto; pra mais ou pra menos. – piscou para ele

 

--Hahahahaha! – os demais riram discretamente – Se fudeu! – um sussurrou

 

--Puta, me lasquei! – Julio resmungou contrafeito

 

--Dito isso, podem ir que por hoje concluímos. – despediu-se dos alunos

 

Camilla ainda gastou uns minutos desmobilizando o laboratório com alguns alunos e quando se preparava para sair de sala percebeu que um colega de trabalho a aguardava na porta.

 

--Santanna, tudo bem? – cumprimentou desconfiada – Que cara de aperreio é essa, homem? – reparava no outro

 

--Tá muito bem, não... preciso conversar. – olhou para todos os lados – Tu vai dar aula ainda pela manhã? É que o assunto é muito particular! – destacou

 

“Assunto muito particular? Mas ele mal conversa comigo!” – intrigou-se -- Vou dar aula sim, mas fora do laboratório. – colocou a mochila nas costas – Se quiser adiantar o assunto enquanto caminhamos praquela sala que você chama de professor Raimundo, pode ser. – propôs – Que tal?

 

--Vamos! -- concordou

 

***

--Então é isso, Camilla. – Santanna desabafava – Em suma, tô levando chifre da mulher e o banco aplicou meu dinheiro num fundo que eu nem conheço, não sabe? – gesticulava – Preciso muito de tua ajuda pra resolver isso!

 

--Ah... – não sabia o que dizer – Eu sinto muito por tudo isso, mas... sem querer ser grosseira, ainda não entendi bem como poderia te ajudar. – olhava para o homem

 

--Oxe, e como não sabe? – cruzou os braços contrariado – Tu não é mulher de sindicato? Olhe que sou sindicalizado, visse!

 

--Mulher de sindicato, você quer dizer, ex dirigente sindical. – esclareceu – E de mais a mais o que tem a ver o Sindicato com a sua vida pessoal ou com suas aplicações bancárias? – continuava sem entender – Olha só, daqui a pouco minha aula vai ter que começar e eu... – olhou brevemente para o relógio

 

--Como assim e o que tem a ver? – respondeu contrariado – Você pode contatar a direção do Sindicato e pedir pra eles encomendarem uns cabra que deem uma boa surra no amante de minha mulher! Quero que mate não, basta uma surra bem dada. – afirmou como quem diz o óbvio – E no caso do banco, vocês pode organizar de fazer uns protestos na porta de minha agência, com microfone, carro de som e a porr* toda! Não pago sindicato? – gesticulava – Então ele há de me servir pra alguma coisa!

 

Ficou pasma com o que ouviu. – Sinto informar, caro colega, mas o nosso Sindicato não é aplicativo de contratação de jagunço e nem presta serviço de atendimento a vítimas de peiticas bancárias. – respondeu com firmeza – Vai ter que resolver seus problemas de outra forma, meu amigo! Sindicato é pra lutar pelas causas da categoria e o que você me contou não vem ao caso!

 

--Humpf! – fez um bico de contrariedade – Depois não entende porque todo mundo tem nojo das esquerda! Desconjuro, mulher, fuleiragem mais da porr*! – fez um gesto agressivo e se afastou caminhando – Tomara que Luiz Horácio perca nesse ano! – desejou falando alto – E vou me desfiliar daquela merd* é hoje mesmo! – referia-se ao sindicato

 

--É melhor ouvir essas coisas do que ser surda! – resmungou consigo mesma – Simbora trabalhar, que é o melhor que eu faço! – entrou em sala de aula

 

***

 

--Resumindo, maama sente as consequências de um Parkinson avançado, que ela não tem, mas cujos efeitos similares foram induzidos pelo vírus da CONVIDE. – Camilla explicava a situação – E o pior: ainda não se conhece um tratamento pra isso, ela tem feito tudo que é terapia que se possa imaginar mas as dores nunca param e as dificuldades na locomoção aumentam progressivamente. – bebeu um gole de suco – Atualmente ela quase não consegue fazer coisa alguma sozinha! – suspirou

 

--Meu Deus, coitada, que situação triste! – Bianca exclamou boquiaberta – E como que você tá fazendo, amore? Agora que voltasse pro regime presencial, como é que você consegue sair de casa e ir pra faculdade? – perguntou intrigada – Contratou cuidadora pra ela?

 

--Prima Elzira tá desempregada de novo, então eu combinei com ela e tô pagando pra que seja cuidadora de maama. – passou a mão nos cabelos – Ela veio de Triunfo pra ficar lá em casa e me garantiu que pelo menos até o final do ano, mais tardar em fevereiro do ano que vem, pode ser assim. Depois ela vai tentar de novo um emprego com um ex patrão dela, não entendi muito bem, só sei que vai voltar pra Triunfo por causa disso. – pausou brevemente – Quando ela for embora não sei como vai ser, mas... uma coisa de cada vez, né?

 

As duas mulheres conversavam em um barzinho no Recife antigo.

 

--E você, habibem, como é que tá? – segurou gentilmente a mão da ex namorada – Também tivesse CONVIDE, ficasse mal... eu lembro! Será que sente alguma coisa estranha e não diz, hein? – perguntou carinhosa

 

--Por sugestão de doutora Larissa pedi pra fazer o mesmo teste que maama fez e já veio o resultado. Graças a Deus, o vírus não fez comigo o que tá fazendo com ela. – acariciavam-se as mãos – Mas eu também mudei muito. – abaixou a cabeça – Já não tenho o mesmo pique, engordei dez quilos... – deu um sorriso tímido – Não sei se um dia voltarei a ser aquela Camilla de antes...

 

--Own, não fale assim. – levantou o rosto da outra gentilmente tocando-lhe o queixo – Sua vida tá osso e não é qualquer uma que daria conta do recado tão bem quanto você vem fazendo, física e emocionalmente. – falava com carinho – Quanto aos dez quilos a mais, nem se nota. – deu um sorriso maldoso – Eu não me importaria de sentir esse pesinho extra sobre mim... – afirmou sedutoramente

 

--Oxe! – arregalou os olhos e soltou a mão na outra – Fale baixo, mulher! – ralhou discretamente – Além do mais estamos terminadas e temos que parar com esse vai e volta enlouquecedor em que a gente vive há tanto tempo! – ajeitou-se na cadeira

 

Debruçou-se sobre a mesa. – Eu sei que a gente já terminou e voltou mil vezes, mas... – reparava na professora – O fato é que a gente não consegue se desvencilhar, amore. – continuava sorrindo – Sua vida tem sido tão dura, tão sem tréguas... o que teria de mais dar uma passadinha na minha casa agora e conversar um pouco mais à vontade, hein? – falava com voz hipnótica

 

– Eu não posso dormir fora de casa! Mesmo com prima Elzira presente, maama ainda precisa de mim! -- argumentou

 

– Depois cê volta pra dormir na sua casa... só vai chegar um pouquinho mais tarde. – piscou insinuante – Que mal há em umas horinhas de boa conversa com alguém especial?

 

Camilla respirou fundo. “Por que será que eu sinto que isso não vai prestar?” – pensou desconfiada

 

***

--Seu apartamento mudou desde a última vez em que estive aqui. – a professora reparava no ambiente – Ficou ainda mais bonito! – elogiou

 

--A sua última vez aqui foi em 2020, habibem... – respondeu de dentro do quarto – De lá pra cá, muita coisa mudou... – caminhou para a sala e se apresentou – Outras, nem tanto... – parou em uma pose sensualmente estudada

 

“Ave Maria, Deus me defenda!” – arregalou os olhos – Besta fui eu de acreditar que você não me viria com uma dessas... – não conseguia desviar o olhar da ex – “Ela é deliciosa, minha Nossa Senhora, que diacho de mulher!” – pensou cheia de desejo

 

--Dessas? – aproximou-se lentamente – Você quer dizer, vir com uma de minhas novas lingeries só pra te mostrar? – parou diante da outra – A julgar pelo seu olhar... – fingiu que iria beijá-la mas não o fez -- Gostasse bem! – piscou

 

Bianca usava uma lingerie preta de renda a qual deixava pouco a se imaginar sobre seu corpo. Mantinha-se calçada em seus Scarpins de mesma cor.

 

--Não venha querendo me provocar, -- afastou-se rapidamente – pra gente ficar juntas de novo e cair no mesmo ciclo que vinha mantendo por tanto tempo. – tentava se recompor – Minha vida já anda muito complicada pra eu deixar que você a complique ainda mais! – não desviava o olhar

 

--E quem disse que eu vim pra complicar? – novamente aproximou-se como felina – Eu só quero facilitar... – afirmou com duplo sentido – Facilitar tudo pra você! – deslizou um dedo pelo rosto da outra e arranhou-lhe o pescoço suavemente

 

--Não me atiça, mulher! – pediu mal controlando o desejo que progressivamente a possuía

 

--Senão você o que? – afrouxou o laço do vestido da professora – Hein? – continuava provocando

 

Sem mais conseguir se conter, Camilla puxou a outra pela cintura e a beijou com paixão. Mãos vagavam pelo corpo da advogada com ansiedade enquanto conduzia a mulher de encontro à parede mais próxima.

 

--Ah, assim! – buscava despir a professora enquanto lábios furiosos tomavam-lhe pescoço e orelha – Vem, amor, furiosa assim! – pedia com os olhos fechados – Ah! – foi calada por um beijo

 

As duas despiram-se mutuamente com pressa e Camilla seguiu uma trilha de beijos até o sex* da amante que a aguardava excitado. Apoiou as duas pernas da advogada em seus ombros e invadiu-lhe a intimidade com língua e lábios sedentos.

 

--Eu adoro quando você faz isso, ai! – respirava aceleradamente – AH! – gem*u alto ao sentir as mãos da professora provocando-lhe os seios – AH, AH!

 

Sentido que a parceira beirava o clímax, Camilla seguiu lambendo e sugando a pele dela em direção aos seios. Segurou-a pelas coxas e a ergueu do chão. Bianca envolveu-lhe a cintura com as pernas e puxou seus cabelos ao sentir-se mordiscada em um de seus mamilos.

 

--Vem, amor! – a advogada pedia excitada – Me come, vem, vem!

 

--AH! – a professora gem*u antes de beijá-la e introduzir os dedos no sex* da amada – Goz* pra mim, linda! – sussurrou no ouvido – Goz*!

 

--AH, AH, AH!! – continuava gem*ndo alto no ritmo das penetrações – AH!!! – arranhava as costas da amante

 

--Isso linda, assim... – pressionava o corpo da outra contra a parede e penetrava-a com vigor – Assim... – beijou-a

 

--AH!!!! – Bianca interrompeu o beijo ao goz*r intensamente – AH!!! – abraçou a professora com força

 

--AH!! – Camilla gem*u igualmente alto surpreendida por uma sensação inesperada

 

--Ai... – suspirou -- Ai, habibem... – sorria satisfeita

 

--Ah... – a professora desvencilhou-se da outra devagar e a colocou novamente de pé – Ai... – gemia fazendo uma careta

 

Estranhou a atitude. -- O que foi, amor? – perguntou preocupada – Você não é de gem*r alto, aconteceu alguma coisa?  – segurou o rosto da amante – Tá sentindo alguma coisa?

 

--Eu acho que... – respondeu envergonhada – Dei um jeito na coluna... ai! – sentia o rosto queimar – “Ave Maria, que a lombar foi pro saco...” – pensou constrangida

 

***

 

--Own, amore, não fique assim... – acariciava as costas da amante – É normal que vez por outra uma pessoa sinta uma dor inesperada por conta de um sex* retado igual a gente tava fazendo. – beijou-lhe o ombro – Não tem porque ficar com vergonha, minha professora safadinha! – beijou-a nos lábios

 

As duas estavam deitadas na cama da advogada, uma ao lado da outra. Bianca estava de lado, apoiando a cabeça em uma das mãos e Camilla de bruços, com uma bolsa de água quente na lombar.

 

--Eu nunca tinha passado por isso! – respondeu contrariada – Essa CONVIDE veio pra me destruir, vou te contar! – resmungou – Engordei, cansei e derrenguei!

 

A advogada riu gostosamente. – Deixe de ser boba! – continuava acariciando as costas da outra – Não foi só você... não notasse que eu também ganhei uns quilinhos na pandemia? – confessou – Da próxima vez a gente faz aqui na cama. – sorriu insinuante – Ou no sofá, no carpete, em cima da mesa... onde você quiser! – beijou-a demoradamente

 

--É... – suspirou – Bem, minha linda, tá tarde e eu tenho que ir. – beijou-a antes de levantar-se devagar – Obrigada pelo socorro. – colocou a bolsa de água quente em cima da cama e esticou as costas – Ai... – gem*u -- Maama já deve estar preocupada. – caminhou até suas roupas e começou a se vestir

 

--Eu não te contei ainda, mas... – Bianca sentou-se na cama – Acho que minha militância jurídico trabalhista contra esse governo genocida acabou se destacando mais do que eu podia imaginar. – prestava atenção aos movimentos da outra -- Fui indicada pra trabalhar no Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho. – pausou brevemente – E seria pra morar na Suíça.

 

Camilla sentiu alegria e dor ao mesmo tempo. – Fiquei muito orgulhosa em saber disso! – olhou para a outra enquanto se vestia e sorriu – Sempre te achei o máximo, querida! – beijou-a brevemente nos lábios e voltou a se vestir – E... quando você vai? – queria saber

 

--Essas coisas não são rápidas, amore. – estudava as reações da professora – Isso começou porque o Conselho teve certas baixas por conta da pandemia e foi preciso iniciar um processo de seleção. Eles também entraram numa onda de renovação, gente jovem e tals... – explicava – Daí meu nome foi indicado, preenchi um monte de documentos e a comissão julgadora ainda vai avaliar. Depois disso, virá uma entrevista e se eu for aprovada... – abriu os braços brevemente – Aí sim, tenho que começar a me mexer. – riu brevemente – Mas também posso dizer não se for aceita. – levantou-se e se aproximou da amada -- Ninguém é obrigado a aceitar um trabalho... – pegou uma mecha do cabelo da outra

 

Terminou de se aprontar e virou-se de frente para a advogada. – Se for para o seu bem e você for aprovada, tome suas decisões com base no que for melhor pra sua vida! – aconselhou ao segurar o rosto dela – Também devo te dizer que não caio na sua sedução simplesmente porque te acho linda e deliciosa e não consigo resistir. – as duas riram brevemente – Mas porque te amo muito! – declarou-se

 

--Own... – beijou-a repetidas vezes – Eu posso meter os pés pelas mãos mas também te amo tanto! – declarou-se igualmente – Se eu for aceita, vem comigo? – convidou – Duvido que não arrume uma oportunidade na Universidade Técnica de Zurique! Eu sei que você conhece gente por lá!

 

--Linda... – soltou o rosto da outra e colocou as mãos na cintura – Sabe o quanto amo viver aqui! – balançou a cabeça – E minha família, maama... o que eu faria com ela? – considerou – A Suíça jamais daria um visto pra ela, sem contar que maama nunca iria querer sair do Brasil!

 

--Não decida nada agora! – envolveu o pescoço da mulher mais velha com os braços – A única coisa que eu quero você decidindo imediatamente é voltar a ser minha namorada! – mordeu-lhe o lábio inferior – Hein? – caprichou no olhar – Você me quer de volta?

 

Camilla respondeu com um beijo.

 

***

 

Ao entrar no prédio, Camilla surpreendeu-se com a síndica em uma situação inusitada. – AH!! – gritou assustada ao pular para trás – Mas a senhora enlouqueceu de vez??? – perguntou de cara feia

 

--Queima, peste! – Sibele chicoteava o nada no hall do prédio – Enlouqueci coisa nenhuma! – respondeu seriamente – A senhora devia era me agradecer pelo que tô fazendo! – chicoteou novamente – Queima, Satanás!

 

--Quase tomo uma sapecada de chicote e deveria agradecer? Pois sim! – apertou o botão do elevador – E nem perca seu tempo me explicando a razão disso pois não quero saber!

 

--Eu tô aqui chicoteando os bicho da CONVIDE pra que nunca mais essas pragas empesteiem nosso condomínio! – explicou-se ainda assim – Queima! – chicoteou novamente -- E vou cobrar cota extra pela purificação! – fez questão de frisar – O trabalho pra Deus é exigente e cansa! – fez um drama -- Queima! -- e tome de chicotear

 

--Vá sonhando com isso de cota extra! -- o elevador chegou e Camilla entrou rapidamente. – Vou te contar, -- apertou o botão de seu andar -- hoje não foi meu dia de sorte, Ave Maria! – falava consigo mesma – Se eu soubesse quem foram os infelizes que inventaram essa pistinga de condomínio, juro que esganava! – resmungou – Ai! – levou as mãos à lombar

 

Fim do capítulo