Repost do primeiro e do segundo capítulo em um só.
Capitulo 1
— Ah, eu não acredito que vou perder meu ônibus de novo...
Sexta-feira, último período, e Mariana só pensava em uma coisa: voltar para casa o mais rápido possível e terminar de assistir o dorama coreano que estava viciada. Mas, infelizmente, ela tinha prometido à sua melhor amiga que iria esperar sua aula acabar, e aqui estava ela, sentada em um banco nos corredores da universidade.
A garota branca de 19 anos passou a mão inconscientemente pelos seus longos cabelos negros que iam até o meio das costas, irritada. Não era a primeira vez que sua melhor amiga Camille fazia aquilo, mas era sim a primeira vez que demorava tanto a vir. Agora, por causa dela, iria chegar tarde em casa e, portanto, atrasar a janta de toda a família, o que consequentemente arruinaria todos os seus planos de não fazer nada mais tarde além de ver doramas!
Tudo o que ela pensava no momento era em “desviver” a amiga das mais variadas formas possíveis.
— Você vai ver só, sua vaca — resmungou Mariana baixinho enquanto xingava a amiga no Whatsapp.
— Quem que vai?
Uma voz feminina levemente rouca e grave falou perto de seus ouvidos. Se afastando de uma vez por causa do susto, seu celular quase acabou caindo no chão.
— Não! Ninguém… Oi, Tamires! — Mariana levantou o rosto, rindo sem jeito para a garota à sua frente.
Usando um moletom cinza largo e um boné de aba reta, se encontrava uma das mulheres mais lindas que ela já viu. Com um jeito meio desfem, apesar dos longos cabelos castanhos, seu sorriso era famoso inclusive pelo campus inteiro, responsável por ser a crush de várias mulheres.
— Vi você por aqui. E vim dizer oi — disse a menina. O coração de Mariana errou as batidas.
Será que…?
— Queria falar sobre o trabalho da professora de psicologia da aprendizagem — concluiu, enquanto o vento batia nos seus cabelos lindos.
Ah…
Não era isso.
Não. Nem pense nisso!
Ela é linda e você parece o Lord Farquaad, pensou a garota, julgando forte a si mesma.
— Certo… — disse Mariana, evitando olhar para Tamires e tentando encontrar alguma forma de não passar mais vergonha na frente dela. — Eu só não posso fazer isso agora, porque…
— Por quê…?
Pensa, idiota, pensa! Por mais que a garota se esforçasse, não conseguia encontrar nenhuma desculpa para evitar aqueles olhos tão intensos.
Para a sua sorte, ela viu sua amiga Camille vindo em sua direção, o que fez a raiva da amiga passar rapidinho.
— Minha amiga! Ela tá vindo ali... E a gente precisa resolver umas coisas! — Seu nervosismo era evidente. — Eu te mando uma mensagem mais tarde para a gente conversar, er... Sobre isso. Pode ser?
Apesar de confusa, Tamires fez que sim com a cabeça, ainda sorrindo.
Ótimo. Agora ela acha que eu sou estranha, pensou Mariana.
— A gente se fala mais tarde então.
Ao ver a garota saindo, a garota de olhos verdes suspirou. Ficava muito nervosa perto dela.
Muito nervosa.
— Mari! — sua melhor amiga Camille gritou perto de seu ouvido e ela pulou de susto pela segunda vez em menos de meia hora. Só que, dessa vez, não conseguiu evitar de seu celular cair no chão e rachar toda a tela.
A raiva reprimida de todo um dia ebuliu de vez.
— Sua VACA eu vou te MATAR! — gritou Mariana, batendo forte em sua amiga, chamando a atenção de todo mundo que passava por perto.
Depois de muita confusão, as duas foram passear no shopping e tomar sorvete. Era uma situação bastante corriqueira.
— Eu já disse que vou pagar o conserto, deixa de birra — falou Camille, enquanto atacava seu sundae depois de sentarem na praça de alimentação. Seus cabelos ruivos caíam suavemente na altura do queixo enquanto ela sorria para a amiga.
Mariana resmungou ao lembrar do estado crítico de seu celular. Mas logo deixou isso para lá. Tinha coisas mais importantes a resolver.
— Tá, agora me diz. O que é tão incrível que não pode esperar eu chegar em casa? — perguntou, irritada.
A ruiva sorriu.
Antes de responder qualquer coisa, ela deixou de lado o sundae e mexeu concentradíssima em seu celular. O que quer que fosse, parecia ser muito importante.
Mariana se ajeitou na cadeira.
— Aqui está! — mostrou a amiga.
Toda a ansiedade dela se transformou em raiva novamente.
— Tinha que ser mulher de novo né!? — brigou, batendo no braço da amiga. A ruiva reclamou:
— Para de me bater, você tá muito violenta!
— Claro que tô! — respondeu Mariana, indignada. — Eu deixei de aproveitar minha sexta à noite pra você querer ajuda com mulher, sapatão!
Camille riu, o que deixou a outra com ainda mais raiva.
— Aposto que não presta, como as outras — resmungou, cruzando os braços. Já sabia do dedo podre da amiga.
— Na verdade… Mais ou menos. — murmurou a ruiva. Mariana arqueou as sobrancelhas. — É porque…
— Sim?
— Porque ela é casada. É a irmã da Tamires.
O sorriso de Camille naquele momento era inversamente proporcional ao desespero de sua amiga.
— Você tá me trollando, né? — falou devagar Mariana, sorrindo. — Por favor, me diz que sim.
— Claro que não, você acha que eu brincaria com uma coisa dessas? — respondeu a ruiva. E voltou a encarar apaixonadamente a foto. — É amor, apenas isso!
As duas ficaram em silêncio por alguns segundos, até que Mariana suspirou de desgosto.
— Sinceramente, eu desisto. Já que não sou sua mãe, lavo completamente minhas mãos — disse ela, imitando o gesto bíblico. — E o quê exatamente você espera disso tudo? Que ela deixe o macho dela por você?
— É exatamente isso.
— … — Mariana colocou a mão no rosto, em desespero. — E como exatamente você espera conseguir isso? Vocês já estão saindo, ou algo assim?
Ao ouvir aquilo, o sorriso da ruiva vacilou por alguns segundos, mas voltou forte depois.
— A gente saiu uma vez, mas apesar da gente conversar bastante, ela ainda não falou nada sobre voltar a se encontrar... — confessou.
As veias da testa de Mariana começaram a pulsar forte.
— Então quer dizer que foi só uma ficada com a casada e você que tá emocionada, sapatão? — brigou, batendo no braço da amiga.
Durante a volta para casa, as duas passaram o caminho discutindo sobre a “falta de vergonha na cara” de Camille.
— Tá bom, tá bom! Já entendi que você não me apoia — choramingou ela, enquanto entravam na casa de Mariana. — Mas você podepelo menos me ajudar, sem compromisso?
Os olhos da garota brilhavam enquanto esperava uma resposta positiva.
— Não! — respondeu Mariana, descontando a raiva na mochila que jogou no sofá.
— Por quê?! — Camille retrucou. — Ela é a mulher da minha vida!
— Vocês se conhecem há uma semana!
Durante vários minutos, as duas discutiram como um casal de idosos que vivem juntos há muito tempo. Essa relação de amizade, que virou um namoro na adolescência das duas, continuou mesmo após se separarem. E justamente por conhecer ela tão bem que Mariana sabia que aquele sentimento da amiga era “fogo de palha”.
— Escuta aqui — falou sério Mariana —, eu te conheço muito bem, Mille. Não quero que você se machuque com uma pessoa que não pode oferecer o que você quer.
As palavras diretas da amiga acenderam um sentimento amargo na garota ruiva e, pela primeira vez naquela conversa, um semblante triste apareceu em seu rosto.
— Eu sei disso. Eu sei de tudo isso. Mas… — Camille pegou as mãos da outra, a encarando seriamente. — Eu estou ciente dos riscos e quero continuar.
O entreolhar das duas, combinado com o quarto iluminado pelo luar, fez um estranho clima pairar ali. Foram alguns segundos, talvez minutos, de uma leve angústia para Camille. Entretanto, quando ela finalmente abaixou os olhos pensando em desistir, Mariana sussurrou:
— Tá certo. Eu te ajudo.
Quem diria que apenas aquelas poucas palavras faria o semblante da outra garota mudar totalmente em poucos segundos de depressão para intensa euforia.
— É por isso que eu te amo, Mari! — disse, pulando nos braços da amiga. Aquilo fez Mariana corar levemente, afinal, sua ex era uma grande gostosa.
— Tá, tá — resmungou. — Mas exatamente como você espera que eu te ajude?
Camille voltou a encará-la, sorrindo.
— Eu tenho o plano perfeito!
— Rasga, então. — apesar de tudo, a garota de cabelos negros estava no mínimo curiosa.
— Então, o seguinte é esse…
Ao escutar o “grande plano”, entretanto, Mariana logo voltou a ficar furiosa.
— Não, definitivamente não! — exclamou.
— Poxa Mari, mas…
— Nada de mais!
Não, de jeito nenhum!
Definitivamente não tinha nada que a fizesse se aproximar de Tamires, a garota mais linda do campus, dessa maneira.
Usando-a como estepe.
— Mas Mari, pensa bem! — argumentou Camille — Você me ajuda e de brinde fica com uma mulher bonita, não é genial?
O plano se resumia em: ao se aproximar de Tamires e conquistá-la, Mariana abria brecha para convidar Camille para a sua casa, entrando em contato com a tão maravilhosa irmã casada.
— Você tá doida? Não acha que aparecer assim do nada na casa dela não é esquisito?! — a visão de Mariana começou a ficar borrada do esforço de acompanhar o tico e teco da amiga.
— Claro que não! É fruto do acaso, romântico! — a ruiva fechou os olhos, imaginando a cena, enquanto girava pelo quarto como se estivesse dançando com algum espírito.
Mariana suspirou novamente, enquanto colocava as mãos no rosto, angustiada.
— Eu preciso pensar. Me dê alguns dias. — disse, cansada.
Na verdade, o que ela precisava era pensar em algum jeito de tirar a vontade da amiga de ser comedora de casada antes que tudo isso sobrasse para ela.
— De qualquer forma, quem disse que eu tenho alguma chance com a Tamires? — resmungou baixinho para que a outra não escutasse.
Vários bairros depois, uma mulher na faixa dos 30 anos comia pipoca enquanto assistia a um filme na sala, quando ouviu a chave girar na porta.
— Chegou cedo, Tah? — falou, sorrindo para a irmã que acabara de chegar. Uma jovem mulher de cabelos castanhos retribuiu o sorriso da outra, mas não falou nada. Caminhou diretamente para seu quarto, jogando a mochila no chão ao sentar-se na cama.
Tamires pegou o celular no bolso, desbloqueou a tela e olhou fixamente para o Instagram de uma garota de longos cabelos negros e olhos verdes.
Hábito esse que ela fazia várias vezes por dia, há vários dias.
— Será que algum dia você vai me notar? — suspirou, enquanto lembrava do sorriso tímido de Mariana mais cedo.
Sorriso esse que para Tamires era o mais lindo do mundo.
Fim do capítulo
Postarei com a frequência semanal. Espero que gostem do novo formato.
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