CAPITULO 16
NYXS
Lá fora, a noite permanecia fria e muito escura, coberta de nuvens que escondiam a lua, como têm sido as noites de inverno. Mesmo chovendo de forma irregular em Salém, temos dias quentes e noites frias como essa de hoje. Embora não esteja chovendo no momento, as nuvens pesadas passavam lentamente, escondendo as estrelas.
Ainda era cedo, por volta das sete. Em pouco tempo, minha avó ia chamar toda a família para jantar. Em seguida nos contaria histórias do nosso povo, as lendas da nossa raça e de como as lobas fêmeas da nossa família descendem da bruxa mor mais conhecida como Alice Kitele dente de ferro. Eu amava ouvir suas histórias de como ela viajava em vassouras nas noites de lua e de como ela matava seus amantes após engravidar. As lendas contam que nossa ancestral teve mais de cem filhos entre machos e fêmeas, os machos ela deixava viver até os sete anos, ao completar a idade onde corpo e espírito se separam por segundos saindo da vida terrena, ela os dopava e os soltava nas florestas sem água e sem comida , o que consequisse achar a aldeia de volta passava treinar no exército mais o reprodutor das bruxas no cio. Todas nós adorávamos escutar os relatos da Esther, aos sábados e domingos, quando não havia aula ou exercício à noite, tínhamos o hábito de dormir na varanda ouvindo as lendas. Nalum quando era pequena também muitas noites adormecia nos meus braços.
Agora ela estava em pé aguardando apoiada na árvore mais distante do quintal da minha casa, olhando seu tamanho me dei conta que minha filha estava crescendo rápido demais.
― Qual é o problema, minha princesa? ― Perguntei assim que me aproximei a abraçando.
― Eu… ― Ela me puxou, levando o indicador aos lábios como um pedido de silêncio. ― Espera bem comigo, ergue a bolha de ar assim eles não escutam. ― Sussurrou, olhando para os lados. Eu sabia que era sobre a mãe dela, o que muito me interessava. Ergui a bolha, impedindo qualquer som de se propagar, assim que ela sentiu a temperatura morna dentro da bolha e ausência de som externo ela iniciou.
― Minha mãe está se enfeitando toda e eu dei uma fugida. ― Falou apressada.
― E por que tudo isso? Para onde ela vai? Com quem ela vai se encontrar? ― Fiquei apreensiva.
― Aqui para sua casa. Vamos jantar hoje com vocês. Mamãe estava avisando a Calíope, mas ela não quer vir e pediu para ir na casa do papai. Na volta, a gente passa por lá para buscá-la, mas a mamãe acabou convencendo minha tia a vir junto.
― Espera, meu bem, eu não estou entendendo nada. Pegar a Calíope onde? E por quê?
― A Calíope está morando lá em casa, no quarto de hóspede no final do corredor, aquele de porta amarela. ― Ela esperou minha confirmação de que sabia do que ela estava falando antes de continuar. ― Enquanto ela estiver treinando, vai morar conosco. Hoje à noite, vamos jantar com vocês. Daqui a pouco nós chegamos.
―Filha espera! ― Segurei em seu braço, impedindo-a de sumir. ― Pensa bem e se a Calíope contar para a Amkaly que eu durmo na sua casa? Ninguém sabe, só as nossas famílias. Ela vai contar para todo mundo e me infernizar.
― Minha tia não faria isso, ela ama demais minha mãe. E depois, minha linda ― Nalum deu um sorrisinho perverso. ―, se ela fizer isso, nós sequestramos a Amkaly e a abandonamos no mundo paralelo onde eu nasci. Quem sabe ela aprende alguma coisa.
Não deu tempo de retrucar antes dela desaparecer no ar. Sorri também. Eu estava louca para gritar de felicidade. Somente a ideia de ter Nara na minha casa por um momento já fazia meu coração acelerar. Sempre que ela vinha, ia a negócios. Resolvia tudo com a minha avó sem a participação do restante da família. Mas dessa vez seria diferente, Alfa viria para jantar com a minha família, para tratar não sei de quê e também não tinha importância o que realmente me interessava era o fato dela vir a minha casa,jantar ao meu lado porque claro que eu daria um jeito dela ficar ao meu lado
Às oito da noite, horário que sempre fazíamos nossa refeição, fui até a sala. Saí com o livro na mão e o fone de ouvido ainda tocando. Minha família estava toda lá, mas ninguém estava comendo. Aliás, nem comida na mesa tinha. Será que a Nalum tinha entendido errado?
― Tem janta não? ― Perguntei, fingindo surpresa.
Foi Esther quem respondeu:
― Vai ser um pouquinho mais tarde hoje. A Nara vem jantar conosco, ela quer falar contigo.
Isso pra mim foi surpresa, ergui uma bolha de ar ao meu redor para camuflar o cheiro dos meus hormônios que estavam enlouquecendo de ansiedade, quase caio com o berro da mãe
― O que foi que você andou aprontando, garota, para a alfa querer falar contigo? ― Como sempre, minha mãe Lilith vinha logo me acusando.
― Que eu saiba, não fiz nada. E por que eu faria alguma coisa? ― Respondi com outra pergunta. Quando fazia isso, ela ficava mais conformada. Mesmo assim, levantou dois dedos apontando os próprios olhos e em seguida apontou para mim. Estou de olho em você.
— Fica na tua e senta aqui perto de mim, disfarçando. —Inaê falou por telepatia. Acredito que Iara também ouviu, pois abriu um espaço entre as duas. Minha avó nos observava em silêncio.
― O que foi que aconteceu?— sentei me ajeitando entre as duas num espaço mínimo sob o olhar das minhas mães e do sorriso cínico da minha avó.
― Helô sentiu falta de uma vacina no estoque. Viu a mãe dela retirando a vacina e aplicando na Nara, que dizia ter tido um sonho erótico que modificou o tempo do cio e precisava da vacina. Ficou sabendo de alguma coisa?
Meu coração acelerou com a notícia, e meus hormônios enlouqueceram com a lembrança do sonho. Mas gelei quando vi que todas estavam cheirando o ar, minhas mães pareciam que iam ficar loucas e minha vó... Minha vó, eu nem sei o que ela pensava.
― Nyxs Shekar Kali Azir, o que diabos está acontecendo com você? ― Quando minha mãe gritou, eu não reagi, de tão surpresa que fiquei com o que acabara de ouvir. O sonho erótico da Nara comigo tinha mudado seu cio.
― Ficou burra, ela está entrando no cio, ou está tão velha que não sabe mais o que é isso? ― Inaê respondeu, afobada com os gritos histéricos da minha mãe.
― Ela não pode entrar no cio hoje, temos convidados! E quanto a você, sua fedelha, me respeite antes que eu passe a mão nas suas fuças!
― Lilith, cuidado com suas palavras. Se encostar um dedo na minha filha, garanto que não vai gostar do que vem depois. ― Minha avó rosnou.
― Mas a Inaê vive me desafiando para defender a Nyxs! Ela tem que entender que a mãe sou eu. Sou eu que mando! Ela é só a tia, se quiser mandar em alguém que vá parir! E essa outra aí resolve entrar no cio justamente agora, quando a Nara está vindo aqui. É bem capaz dela mesma abrir as pernas implorando para trans*r.
― Mamãe, eu não controlo meu corpo, ele que me controla. Esther, a senhora tem alguma vacina, antes que eu comece a uivar chamando a Nara para apagar meu fogo? Sim, por que se eu quiser dar uma bem dada vou querer a mais experiente, não concorda comigo? ― Se minha avó respondeu eu não sei, por que as gêmeas e eu atravessamos os portais às pressas e chegamos no quarto da Heloise.
― Precisamos de ajuda. ― Iara falou. Heloise levantou de onde estava lendo e fechou o livro. Ela me olhou, farejando, e deduziu a situação. Pegou uma vacina na sua maleta mágica e aplicou em mim, escrevendo algo em seu caderninho de anotações. Iara se esticou toda tentando ler.
― Abriu um prontuário para a foguinho? ― Perguntou, se referindo a Calíope. O apelido fez todas nós rirmos.
― Recebi ordens. Agora ela é uma de nós e devemos cuidar dela da mesma forma que cuidamos umas das outras. O anjo Gabriel quer saber como ela está lidando com seus dons para poder receber outros. Ah, aliás, agora nós podemos erguer a bolha de ar, ficar invisíveis e conversar entre nós mesmas, isolando todos ao nosso redor.
― Mas nós já fazemos isso, meu anjinho. ― Inaê interrompeu.
― Não dessa forma. Se estivermos entre nós, foi aberto um canal somente para as guerreiras, nem mesmo nossas mães conseguem nos ouvir. E podemos ficar invisíveis por mais tempo. Eu consigo ver o passado, ouvir e estar nele no momento em que toco um objeto. Entende agora a diferença, minha vampira psicopata? ― A gargalhada foi geral.
― Não me lembre dessa época. Tem tanta coisa boa para lembrar, você fala logo disso… ― Lamentou. Inaê raramente ficava encabulada, mas disso ela tinha vergonha e não gostava de lembrar.
― Mas foi nesse dia que eu descobri que queria você. Quando vi aquele toco de gente chorando porque tinha mordido o pescoço da galinha e ela morreu. Foi engraçado ver você com a boca toda suja de sangue. ― Heloise riu e ajeitou meu braço para aferir minha pressão.
― O pior é que a mamãe colocou nós duas de castigo. Era para essa jumenta colocar o pescoço da galinha na boca e sentir o sangue correr por dentro do pescoço. Pela temperatura e velocidade da circulação dá pra dizer se estava doente. ― Iara se contorcia de tanto rir.
― O que fez seu cio adiantar? ― Perguntou, ficando séria de repente e mudando o rumo da conversa enquanto colhia meu sangue.
― O sonho erótico que a Nara contou à vó Ananya mais cedo e que mudou o cio dela. Era comigo que ela sonhava.
― Explique melhor. ― Heloise sentou entre as pernas da Inaê, que a abraçou.
― Eu estava na minha casa dormindo e quando abri os olhos estava sentada na cama da Nara e ela toda fodona trans*ndo comigo no sonho e chamando meu nome. Foi tudo tão intenso que por muito pouco eu não tirei minha roupa e entrei debaixo dela. Tive que correr para tomar um banho frio.
― A parceria de vocês está ficando mais forte. Agora Nara começou a sonhar, e no sonho o espírito dela chama pelo teu, que responde indo ao seu encontro. ― Heloise falava como se fosse uma bruxa anciã que guardava consigo o conhecimento dos povos.
― Ainda assim ela me olha como se eu fosse criança e também não lembra dos sonhos no dia seguinte. ― Tentei ser realista. Não era hora de criar esperanças.
― Posso até estar errada, mas eu acho que a deusa tirou a mãe da Nana do coração da alfa e está colocando você no lugar. ― Inaê falou. ― A prova disso é que tanto você quanto ela mudaram os cios. Se a gente deixasse, hoje, na primeira noite de lua das bruxas, vocês duas completariam a ligação e, como estariam no cio, você ficaria grávida. ― As palavras da minha tia me assustaram, não pelo fato de ser mãe, mas por ela não me amar, por eu ainda ser muito nova.
― Ainda bem que estamos vacinadas e não corremos esse risco. Tomara que o que você diz seja verdade. Assim fica mais fácil flertar e tentar derrubar as barreiras. ― Ponderei, imaginando como seria ser desejada por ela.
― Lá em casa vai ter um jantar, a Nara quer falar com a Nyxs. Nesse momento a família deve estar pirando com nosso sumiço. Vem com a gente e dorme lá em casa, o que acha? ― Inaê convidou. Heloise não respondeu, o seu alarme tocou indicando que era hora de analisar a amostra do meu sangue. Ligou o microscópio e colocou a lâmina, ficando um bom tempo analisando, sabe-se lá o quê ela estava vendo, em seguida virou com atenção ainda voltada para as lâminas enquanto falava .
― Nyxs. Por mim você está liberada. Pode ficar perto da sua companheira sem correr o risco de se oferecer. Agora, quando minha irmã descobrir suas intenções nada inocentes, para com a nossa alfa, a coisa vai ficar feia. ― Ela pausou, olhando para minha tia. ― Anda, vão logo, se não a confusão vai ser grande. Eu vou atrás com minha deusa vampira, só preciso avisar
Fim do capítulo
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