Capitulo único
POV MARCELA
- Hey meu amor, calma. – Mateo devorava a tigela de cereal. – Você vai acabar engasgando.
- Me desculpe, mamãe. – Meu pequeno limpou os lábios me fazendo sorrir. – É que o tio Sandro já deve estar chegando.
- Eu sei, mas ele espera você terminar. – Baguncei seus cabelos. – E você minha princesa? Está tudo bem?
Betina comia concentrada em um ponto fixo da mesa, minha filha não tem muito humor pela manhã exatamente como a mãe dela.
- Sim mamãe, só estou pensando. – Apertei as sobrancelhas confusas.
- Em que, meu amor? – Perguntei levando a xícara de café aos lábios.
- Que a mamãe devia voltar logo. – Antes que eu pudesse responder, meu irmão passou pela porta com sua animação de sempre.
- Bom dia, amores da minha vida. – Sandro trazia algumas sacolas nas mãos. – Animados?
- SIIM. – Mateo e Betina responderam empolgados.
- Oi, mano. – Sandro se abaixou para deixar um beijo em minha testa.
- Oi, maninha. – Meu irmão se sentou ao lado da minha filha. – Que cara é essa? Nem precisa responder.
- Pois é. – Soltei um suspiro longo.
- Tudo se ajeita, você sabe disso. – Ele apertou meu ombro. – Já conversou com eles sobre isso?
- Ainda não. – Meus filhos estavam alheios ao nosso assunto. – Eles ficariam arrasados.
- Tô aqui para o que precisar. – Dei meio sorriso e acabamos mudando de assunto.
Continuei ali observando os três, enquanto meu pensamento vagava longe, logo a imagem de Beatriz surgiu em minha mente.
Iríamos completar sete anos de casadas, era pra ser uma data comemorativa, mas dada as circunstâncias isso não iria acontecer. Depois de uma longa temporada em NYC, eu resolvi voltar pro Brasil, não consegui me adaptar, eu tinha meus pais que já tinham uma idade mais avançada e eu queria que eles aproveitassem ao máximo a vida dos meus filhos, e sem contar a minha agência, que voltou aos eixos depois de toda turbulência, o grande problema é que a marca da minha esposa estourou por lá e com isso ela precisava estar mais presente lá do que aqui, isso fez com que nosso casamento desse uma esfriada.
Bia aceitou minha decisão de voltar para o Brasil e permitiu que eu trouxesse as crianças, todos os meses ela vinha nos visitar, o problema é que isso estava nos desgastando, e acabamos brigando muito com essa situação. Nossa última briga resultou em Beatriz se recusando a vir pro Brasil, justo no mês de Natal, nossos filhos estavam ansiosos por isso, tínhamos feito planos, já que ela ficaria duas semanas inteiras conosco.
Eu não queria brigar, principalmente pelo telefone, mas Bia estava irredutível, ela queria que passássemos o Natal em NYC e eu queria passar aqui, principalmente depois de receber a notícia de que eu seria tia, depois de muito tentar, meu irmão e Alice estavam grávidos. Beatriz e eu tivemos uma discussão acalorada e as palavras dela me machucaram, ela acabou desmarcando a viagem e disse que daria um jeito de buscar nossos filhos pro Ano Novo.
- Mana, vamos? – Saí dos meus pensamentos quando Sandro tocou meu ombro.
- Vamos. – Me levantei seguindo meu irmão.
- Mamãe, antes de ir podemos ligar pra mamãe Bia? – Betina me pediu empolgada. – Quero pedir pra ela adiantar a viagem.
Engoli seco com o pedido da minha filha, Sandro me encarou me dando apoio, puxei o celular do bolso pesquisando o contato da minha esposa.
- Por que a gente não liga quando chegarmos? – Sandro sugeriu desviando o foco. – A mamãe Bia deve tá ocupada agora e eu não quero mais perder tempo, olha o solzão que está lá fora?
- Então vamos. – Meus gêmeos se encararam com um sorriso sapeca. – PISCINAAA!
Chegamos na casa dos meus pais e meus filhos correram para abraçar os avós, era sempre essa alegria quando chegávamos aqui, eram essas coisas que não faziam eu me arrepender da minha decisão de voltar. Com os pais de Bia era a mesma festa, meus pequenos amam viajar para o interior para ver os outros avós.
- Nossa, eu acho que vocês cresceram desde a última vez que eu os vi. – Meu pai brincou com meus filhos. – Já está nascendo barba no rosto do Mateo.
- Ainda não, vovô. – Meu filho respondeu tímido.
- E você, minha princesa? – Meu pai abraçou Betina. – Tão linda.
- Obrigado vovô. – Betina agarrou meu pai pelo pescoço.
Minha mãe se juntou a nós quando notou nossa chegada, abracei meus pais e nos acomodamos na beirada da piscina enquanto meus filhos se trocavam pra pular na água.
- Tudo bem, minha filha? – Minha mãe me sentou ao meu lado enquanto Sandro fazia bagunça com os meninos. – Tô te achando meio tristinha.
- Relacionamentos são difíceis, mãe. – Brinquei com o copo de suco em minha mão.
- Você e a Bia andam brigando demais. – Eu sempre compartilhava minha vida com a minha mãe. – Isso não faz bem pro casamento.
- Eu sei disso. – Olhei pras crianças. – Bia mudou, mãe, ela não é a mesma pessoa com que eu me casei.
- Tenho certeza de que ela acha o mesmo sobre você. – Minha mãe me encarava. – Seu pai e eu não somos os mesmos, as pessoas mudam. Filha, não é fácil, ainda mais vocês morando tão longe uma da outra, imagina como deve ser pra ela estar lá sem você e as crianças?
- Se fosse tão ruim ela não teria cancelado a viagem. – Me lembrei das palavras da minha esposa, me magoaram muito. – Ela me chamou de egoísta, eu larguei tudo pra ir viver com ela em NYC.
- Filha, não leve por esse lado. – Suspirei pesado. – Eu sei que minha nora não fez por mal, eu sempre vou ser grata a ela por tudo o que ela lhe fez, qual o problema em você levar as crianças pra passarem o natal com ela?
- Eu quero passar aqui, com vocês. – Meu pai se aproximou sentando embaixo do nosso guarda-sol. – Já tínhamos combinado tudo, mas Beatriz cismou que eu estou a evitando.
- Olha, filha, eu sei que seria incrível ter vocês aqui no natal, mas não se sinta pressionada em ficar por nós. – Meu pai segurou minha mão.
- Eu já tomei minha decisão, pai. – Eu não ia ceder ao capricho de Beatriz. – Nós passaremos o Natal aqui.
{...}
Passamos o dia curtindo a casa dos meus pais, acabei mudando de assunto, não queria ficar remoendo essa briga com Beatriz. Meus filhos se divertiram muito e o sorriso no rosto deles era a minha felicidade, no fim da tarde, Alice se juntou a nós e conversamos até o início da noite.
- Mamãe, eu quero falar com a mamãe Bia. – Betina se jogou no meu colo após o banho. – Estou com muitas saudades.
- Eu também estou. – Mateo repetiu o movimento da irmã. – Liga pra ela.
- Tudo bem, ainda está cedo por lá. – Meu pai me encorajou e eu suspirei antes de abrir o facetime.
Chamou, chamou até eu desligar, a carinha de decepção de Betina partiu o meu coração, tentei novamente, mas Beatriz não atendeu, suspirei e encarei meus filhos.
- A mamãe deve estar ocupada, podemos tentar mais tarde? – Tina assentiu tristinha. – Agora vocês me entendem?
{…}
No início da noite resolvi ir pra casa, as crianças já estavam exaustas de tanto brincar, eu também estava, me despedi dos meus pais e marquei um almoço lá em casa durante a semana. Sandro me deixou em casa, mas antes de partir ele me chamou pra conversar.
- Marcela, você sabe que eu sou o seu irmão e sempre estarei ao seu lado. – Assenti para que ele continuasse. – Você está transformando a Bia na vilã da história e não é bem assim.
- Sandro, não começa, você sabe que é ela quem não quer vir.
- Como você é cabeça dura, meu Deus. – Meu irmão passou a mão no rosto. – Bia tem o trabalho dela, que exige muito principalmente no fim de ano, mas você acha que é por puro capricho. Ela vem todo mês ver vocês, por uma decisão sua em voltar, você tem noção de como deve ser cansativo essa ponte aérea? Mas mesmo assim ela se esforça ao máximo pra vir.
- Não quero discutir isso na frente deles. – Olhei meus filhos pelo retrovisor e os dois cochilavam. – Podemos conversar depois?
- Pensa nas crianças, tá? – Meu irmão me puxou para um abraço. – Vamos, vou te ajudar com eles.
Sandro subiu com o Mateo e eu com Betina, acomodei os dois em suas respectivas camas, me despedindo do meu irmão em seguida. Combinamos de tomar café amanhã, antes de ir para a Cyber, agradeci pelo dia e observei seu carro sair pelo condomínio.
Enchi os pulmões de ar, a saudade me machucava também, eu amo Beatriz, o que eu mais quero é que tudo se ajeite, mas parece que isso não ia acontecer tão cedo, ambas estávamos magoadas e longe de dar o braço a torcer. Dissipei aqueles pensamentos assim que entrei na banheira de água morna, alcancei meu celular, passeando pela minha galeria, as fotos do nosso casamento eram as minhas preferidas, as dos nossos filhos recém nascidos aqueciam meu coração, mas a que eu mais amava era a minha com Bia no show em que fomos em NYC, ainda não tínhamos nada, mas eu já era completamente louca por ela. Sai dos meus devaneios quando meu celular passou a tocar, mostrando a foto de Beatriz, atendi logo no segundo toque.
- Cadê as crianças? – Sua pergunta rude me deu uma pontada no peito.
- Oi pra você também Beatriz, como vai? Eu estou bem, obrigada por perguntar. – Beatriz suspirou cansada.
- Marcela, eu tive um dia horrível, não estou com cabeça para o seu sarcasmo. – Era inacreditável o que estava ouvindo.
- Seus filhos estão dormindo, eles te ligaram, mas você não atendeu. – Respondi no mesmo tom. – Betina passou o dia na expectativa de falar com você, inclusive você vai avisar eles que não vem mais, eu não farei isso.
- Tá difícil, Marcela. – Bia tinha uma voz suave, mas sei que ela estava irritada. – Eu só queria a compreensão da minha esposa, queria que você estivesse ao meu lado pelo menos uma vez.
- Você está se ouvindo, Beatriz? – Me ajeitei na banheira fazendo a água derramar pela borda. – Você acha que é difícil só pra você? Você sabe como é de partir o coração o olhar triste da minha filha cada vez que ela não consegue falar com você pelo telefone?
- Eu sou a única culpada? – A voz alterada me fez retrair um pouco. – Você age como se eu fosse a pior mãe do mundo, Marcela, eu só pedi uma coisa e você não foi capaz de fazer por mim.
- Bia, você está priorizando apenas o seu trabalho e esquecendo da sua família. – Tentei segurar os ânimos para não virar outra briga.
- Chega, eu tô cansada disso tudo. – Beatriz não esperou eu terminar de falar. – Se eu for pro Brasil, vai ser para resolver a nossa situação, e eu não quero isso, Marcela.
- E você acha que eu quero? Porr* Beatriz, eu amo você. – Sentia o nó se formar na minha garganta. – Eu só quero que a gente fique bem.
- Eu preciso desligar – Sua voz embargada despedaçou meu coração. – Me ligue quando eles acordarem.
Ela desligou sem me dar direito de resposta. A raiva foi tanta que eu mandei o celular na parede quebrando em vários pedaços o aparelho. Sai da banheira de qualquer jeito me enrolando em um roupão, Bia e eu precisamos organizar nossa vida.
POV BEATRIZ
- Bia, tá tudo bem? – Senti a mão de Lívia tocar meu ombro.
- Não, não tem nada bem. – Sequei as lágrimas que desciam sem parar. – Marcela e eu brigamos.
- Ai amiga, de novo? – Lívia se sentou ao meu lado no sofá. – Qual o motivo dessa vez?
- O de sempre, Marcela mais uma vez batendo de frente. – Eu já estava exausta disso tudo. – Ela não quer vir com as crianças e ainda por cima está me fazendo ser a mãe má da história.
- Bia, isso não é saudável pra vocês e nem para as crianças. – Minha amiga tentava apaziguar a situação. – Já te falei que consigo segurar as pontas por aqui.
- Custava ela vir? E você vai comemorar seu noivado, não quero atrapalhar a sua vida por mais um capricho de Marcela. – Me levantei deixando o celular sobre a mesa da sala. – O problema são os meus filhos, eles não têm culpa, às vezes me arrependo de ter aceitado essa ideia louca de Marcela levá-los para o Brasil.
- Eu sempre achei loucura, desde o início. – Lívia ficou de pé me seguindo até a cozinha. – Vocês tomaram uma decisão precipitada, Marcela decidiu por vocês duas.
- Eu aceitei, pois eu vi o tanto que ela estava infeliz aqui. – Passei a mão no rosto. – Eu a amo, Lívia.
- Eu sei disso, Marcela também ama você. – Lívia participou de todo o processo de quando Marcela voltou ao Brasil. – Apesar dela ser uma cabeça dura.
- Eu não quero ter que levar isso ao extremo. – Suspirei pesado.
- O que quer dizer com isso? – Ela me encarou esperando que eu dissesse o óbvio.
- Divórcio. – A encarei com lágrimas nos olhos.
Antes que Lívia falasse algo, meu celular tocou em cima da mesa, corri para atender na expectativa de ser meus filhos, mas era apenas o Apollo, um dos interessados em comprar ações da minha marca.
- Não vou atender, Apollo só liga na hora errada. – Revirei os olhos. – Acho que vou tomar um banho, já são uma da manhã.
- Vou ligar pra Leticia e vou dormir também. – Nos despedimos com um abraço. – Vai ficar tudo bem, ok?
Subi indo direto para o banheiro, precisava de um banho quente e cama, tive um dia extremamente estressante, e quando achei que teria um pouco de paz, me desentendi novamente com Marcela. Suspirei ao sentir a água quente em minhas costas, fiquei ali por um bom tempo até decidir ir para a cama.
A cama enorme e vazia me lembrava a falta que Marcela me faz, sinto falta de dormir em seus braços, sinto falta das mãos dela me segurando, apertado a noite toda, por Deus, como eu sinto falta do seu toque, dos seus beijos, mas parece que nada disso importa pra ela. Tentei me concentrar no dia de amanhã, ligaria para Marcela e tentaria resolver isso de uma forma madura.
{...}
Acordei com o barulho estridente do meu telefone, abri os olhos com dificuldade, parece que eu dormi menos de duas horas essa noite, suspirei cansada alcançando o aparelho que não parava de tocar.
- Por Deus Apollo, são seis da manhã. – Atendi de forma irritada.
- Bom dia, minha querida. – Sua voz galanteadora me fez revirar os olhos. – Me desculpe, Bia, mas precisamos conversar com urgência.
- Qual o assunto? – Perguntei curiosa. – Tem que ser algo muito importante, pra você me ligar nesse desespero.
- É uma proposta irrecusável, Bia. – O homem respondia animado. – Toma café comigo? Passarei aí em uma hora.
- Ok, Apollo, até breve. – Encerrei a ligação me jogando na cama.
Contei até três antes de me levantar, segui para o banheiro me arrumando para encontrar Apollo, sei como ele era pontual. Conheci Apollo em um desfile, ele sempre se mostrou interessado em fazer negócios com a Winged Clothlesline, até mesmo flertou comigo algumas vezes, mas sempre fui extremamente profissional e nunca dei brechas, Marcela morria de ciúmes e eu achava graça disso. Terminei de me aprontar encontrando o homem me esperando na entrada do meu prédio.
- Meu Deus, quando eu penso que você não pode ficar mais linda, você vem e me surpreende. – Apollo me puxou para um beijo no rosto. – Bom dia Beatriz.
- Bom dia, Apollo. – Respondi sem muita empolgação. – Onde vamos?
- No seu lugar favorito. – Neguei com a cabeça.
Entremeios na Bakery e um sentimento nostálgico tomou conta de mim, aqui foi onde Marcela e eu tomamos café juntas pela primeira vez, naquela nossa viagem a trabalho onde nos entregamos uma à outra. Alcancei meu celular me lembrando da briga de ontem, esperava uma mensagem dela hoje pela manhã, mas para a minha tristeza não havia nenhuma resposta. Guardei o aparelho ao notar que Apollo já havia feito nossos pedidos.
- Como estão os preparativos para o natal? – O homem quebrou o silêncio me fazendo concentrar no assunto. – Sua esposa chega quando?
- Ela não vem. – Engoli seco sem render muito. – O que quer falar comigo de tão importante?
- Você é bem direta, Bia e isso é o que me encanta em você. – Seu sorriso largo me fez negar com a cabeça. – Bom, vou direto ao ponto. Você sabe meus interesses em você, nunca escondi que quero ser investidor em sua marca, eu vejo muito potencial.
- Minha marca não está à venda, Apollo. – O garçom trouxe nossos pedidos.
- Eu sei disso, eu não quero comprá-la. – Ele se ajeitou na cadeira. – Quero ser acionista, quero expandi-la. Bia, você é a alma do negócio, e com o seu talento e meu jeito com os negócios, podemos fazer isso uma marca mundial, abrir para o mundo.
- Eu mal estou dando conta das franquias em NYC. – Suspirei pesado. – Eu estou trabalhando além do normal, não estou tendo tempo nem mesmo para a minha família.
- E eu cheguei com a solução. – Apollo continuava empolgado. – Bia, eu fiz minhas pesquisas, sempre amei a cultura Brasileira e meu desejo de investir lá só aumenta, imagina o sucesso de levar sua marca para o seu País? Vamos fazer isso, Bia?
- Eu não sei, Apollo. – Era uma proposta interessante. – Preciso pensar, não posso tomar uma decisão assim.
- Eu sei disso, minha linda. – Ele segurou minhas mãos – Você pode pensar, estudar as possibilidades, inclusive fiz um plano de ação de como isso funcionaria.
Apollo alcançou uma pasta preta que estava em sua mochila, dei uma olhada rápida no conteúdo e não posso negar que ele é ótimo nos negócios.
- Não quis parecer presunçoso, apenas quero te dar a ideia de como vai funcionar. – Assenti com a cabeça. – Tenho uma equipe indo para o Brasil na próxima semana, vou pesquisar outros investimentos, caso você não aceite minha proposta, mas eu quero fechar com você, Bia.
- Não vou negar, é uma proposta boa. – Ele deu seu melhor sorriso. – Preciso conversar com Lívia, não vou me precipitar.
- Me avise assim que tiver uma resposta? – Assenti com a cabeça e continuamos nosso café.
Conversamos amenidades, Apollo era um cara inteligente, sempre galanteador, acabei contando sobre minha situação com Marcela, precisava desabafar um pouco.
- Sinto muito por isso, Bia. – Sorri de lado. – Mas se for passar o natal sozinha, não hesite em me ligar, lhe farei companhia.
- Obrigada Apollo.
Depois da nossa conversa, meu amigo me deixou em meu escritório, prometi que seria breve na resposta e ele se animou, nos despedimos na entrada e eu subi logo em seguida. O dia passou rápido, não tive nenhuma notícia de Marcela, consegui falar com meus filhos atrás da babá que me avisou que minha esposa saiu cedo para a Cyber, não contei para os meninos a minha decisão de não ir para casa, não tive coragem.
{...}
- O que você acha sobre isso? – Perguntei à Lívia.
- Bia, esse é o seu sonho. – Ela se sentou em frente a mim. – Você quem deve decidir, e você sabe que eu estarei aqui, apoiando você.
- Obrigada por não sair do meu lado. – Beijei a mão dela.
- Eu quem devo agradecer, por você me deixar participar da sua vida.
Ficamos o resto da tarde conversando sobre possibilidades, voltar ao Brasil não estava em meus planos, mas devido às novas circunstâncias, era um caso a se pensar. Não quero mais ter que escolher entre meus filhos e o meu trabalho, e definitivamente eu não quero ter que abrir mão de Marcela, porém preciso pensar antes de decidir qualquer coisa.
No início da noite, Lívia e eu fomos para casa, pedimos um jantar e enquanto não chegava decidi ligar para minha esposa, queria contar a ela sobre a proposta de Apollo.
Ligação on:
- Oi Ma, tudo bem? – Minha esposa atendeu no quarto toque.
- Oi Beatriz. – A voz ríspida da minha esposa, me gelou o estômago. – Estou bem.
- Cadê meus babys? – Perguntei tentando elevar o ânimo da conversa. — Tenho novidades!
-Sandro levou eles pra tomar sorvete, contei a eles a sua decisão. – As palavras dela me deram um nó na garganta. – Eles não gostaram de saber que você não vem, então meu irmão resolveu tentar distraí-los.
- Marcela… – Tentei dizer algo, mas não saiu.
- O que, Beatriz? – Marcela parecia estar furiosa. – Ia enganá-los até quando? Até o dia do natal? Já que você não vem, é melhor que eles saibam logo, assim não criam expectativas.
- Não precisava ser assim. – Algumas lágrimas escorriam pelo meu rosto.
- E era pra ser como? Olha Beatriz, caso encerrado, não precisa mais se preocupar, eles vão ficar bem. – Minha esposa estava irritada, não me deixava falar.
- Marcela, vamos ficar assim até quando? – Funguei secando minhas lágrimas. – O que estamos fazendo com a gente?
- Eu não sei, Beatriz. – Marcela suavizou a voz. – Eu preciso desligar, tchau, Beatriz.
Ligação off:
Soltei o celular na cama, meu coração batia apertado, imaginei a carinha de tristeza dos meus filhos, sempre prometi a felicidade deles acima de tudo, porém não cumpri minha promessa. O choro sai sem que eu conseguisse controlar, chorei até não aguentar mais, estava difícil sustentar aquela situação.
- Bia, o jantar chegou. Hey, o que houve? – Lívia entrou no meu quarto, e ao me ver naquele estado, correu para me abraçar. – Vai ficar tudo bem, calma, tudo se ajeita.
POV MARCELA
Eu estava a ponto de surtar a qualquer momento, minha vida estava fora dos trilhos e eu não estava conseguindo assumir as rédeas. Bia e eu só brigamos nesses últimos tempos, qualquer coisinha é motivo para nos desentendemos, eu já não estava suportando essa situação, a gota d'água foi ontem, quando descobri que ela anda tendo reuniões com o babaca do Apollo, o homem pelo qual eu criei um ódio mortal, ele sempre está em cima de Beatriz como um abutre e nada do que eu fale ela leva a sério, pois sempre vem como a conversa de que são amigos. Acabei me estressando e contei aos nossos filhos que ela não viria mais, Betina e Mateo ficaram tão arrasados, meu filho chorou até dormir, enquanto Betina se emburrou e não quis falar com ninguém, dei graças a Deus quando Sandro apareceu em minha casa e os levou para tomar sorvete no domingo à tarde.
- Bom dia, minha gata. – Mel entrou em minha sala segurando dois copos de café. – Eita, que cara é essa?
- Bom dia Melissa. – Respondi sem humor. – O de sempre.
- Até hoje você e Beatriz não se resolveram? – Minha amiga se sentou me entregando o café. – Sabe o que é isso? Crise dos sete anos, todo mundo passa por ela.
- Não acredito nessas coisas, você sabe disso. – Melissa deu os ombros. – Bia está fazendo o caminho dela e parece que as crianças e eu não estamos nesses planos.
- Marcela, quer parar de ser cabeçuda? – Minha amiga apoiou o copo sobre a mesa. – Eu não vou ser cruel com Beatriz, ela tá aqui todos os meses, nem que seja por três dias, imagina como deve ser exaustivo?
- Pra mim também é, Melissa. – Bufei irritada. – Eu não casei pra ficar longe dela.
- Você pensou nisso quando decidiu vir embora? – Olhei incrédula para ela. – Desculpe, Marcela, mas é a verdade.
- Olha só, eu não vou discutir isso, Beatriz concordou, conversamos antes de tudo. – Passei a mão nos cabelos de forma irritada. – Ela aceitou, pois sabia que nem eu e nem as crianças estávamos felizes, você já viu como as crianças amam o Brasil?
- Essa não é a questão. – Fomos interrompidas por batidas na porta.
- Com licença, senhora Marcela. – Viviane, minha nova secretária entrou em minha sala com um sorriso largo no rosto. – Trouxe sua agenda do dia e alguns documentos que precisam de sua assinatura.
- Me dê aqui, por favor. – Passei o olho rapidamente e notei que Melissa encarava minha secretária. – Viviane, avise o Marco sobre a reunião das quinze.
- Já o avisei, e pedi que ele levasse os book's das modelos novas. – Olhei surpresa com a proatividade da mulher. – Precisa de mais alguma coisa?
- No momento não, obrigada Vi. – Agradeci de forma afetuosa, fazendo a morena sorrir de lado.
- Se precisar de mim, estarei na minha mesa. – Ela recolheu os papéis e saiu em passos lentos logo em seguida.
- O que foi isso? – Melissa questionou me fazendo espremer as sobrancelhas em confusão.
- Isso o que? – Ela tinha um sorriso debochado nos lábios.
- Por acaso sua esposa já conhece sua nova secretaria? – Neguei com a cabeça, Viviane estava comigo há um mês.
- Não viaja, Melissa. – Eu nunca dei brechas pra nenhuma outra mulher, Bia sempre foi única aos meus olhos. – Viviane só está fazendo o trabalho dela e Bia não tem que achar nada, afinal ela tá andando pra baixo e pra cima com aquele idiota do Apollo.
- De novo essa história? – Melissa caiu na gargalhada. – Até hoje não me esqueço da cena de ciúmes naquele show em Atlanta.
- Não tem graça, não me lembre desse dia, pois eu sou capaz de pegar um voo só pra quebrar a cara dele. – Voltei pra minha cadeira.
- Vocês duas são péssimas em controlar ciúmes, então se eu fosse você dava um jeito de avisar sua secretária que ela corre risco de vida. – Melissa não parava de gargalhar.
- Duvido muito Bia se importar, ela tá diferente, Mel. – Suspirei chateada. – Estamos distantes.
- Vocês duas está precisando de sex*, isso sim. – Sorri de lado, pois nem me lembrava da última vez em que fizemos algo. – Só passei mesmo pra ver você, te ligo depois e dê um beijo nas crianças.
Nos despedimos rapidamente, Mel ainda tinha algumas audiências e eu teria algumas reuniões pelo resto da tarde. Passei a manhã inteira concentrada em alguns papéis e nem vi a hora passar, só me despertei quando Viviane entrou em minha sala carregando uma bandeja que eu julguei ser meu almoço.
- Me desculpe, Marcela, trouxe seu almoço. – Ela se aproximou colocando a bandeja em minha mesa. – Você não saiu para comer, então tomei a liberdade.
- Não precisava, estou sem fome. – Viviane sorriu sem graça. – Mas vou comer para não te fazer desfeita.
Ela me serviu rapidamente, o cheiro estava divino e logo identifiquei que era a carne assada do meu restaurante favorito.
- Nossa, como você adivinhou? – Viviane abriu um sorriso vitorioso.
- Perguntei seu irmão qual era sua comida favorita. – Dei a primeira garrafa, saboreando aquela preciosidade.
- Sério, não tem comida melhor, Petra é a melhor e maior chefe de cozinha deste país. – Limpei meus lábios no guardanapo. – Quer provar?
- Vou dispensar, eu já almocei. – Dei os ombros e continuei meu almoço. – Vou pra minha mesa, me chame quando terminar, virei recolher.
- Obrigada de novo, Vi. – Encarei seus olhos expressivos. – Você tem me ajudado bastante aqui e ainda por cima cuida de mim.
- É o meu trabalho. – Antes de sair ela alisou minha mão que descansava sobre a mesa. – Bon Appetit, Marcela.
Limpei a garganta agradecendo, balancei a cabeça de um lado para o outro. Continuei meu almoço, em seguida aproveitei a pausa para ligar para os meus filhos, os dois já estavam de férias escolares e com isso eles ficaram com a babá na casa dos meus pais. Antes de encerrar a chamada, prometi que veríamos um filme mais tarde, Betina se animou e Mateo pediu que eu fizesse pipoca doce, sorri com a empolgação de ambos, desliguei depois de mandar vários beijos. Encarei a tela do celular, pensei em ligar para Beatriz, mas meu orgulho estava gritando mais alto, ela não me procurou nesses dois dias, então não fiz questão de procurá-la.
Após o almoço voltei ao trabalho, haviam vários contratos novos e vários novos contratados da minha agência, não poderia estar mais feliz com o meu trabalho, graças a Deus estava tudo voltando ao lugar.
- Má, posso entrar? – Sandro interrompeu meus pensamentos colocando a cabeça pra dentro da minha sala. – E ai, como você está?
- Bem e você? – Larguei os papéis me espreguiçando na cadeira. – Aconteceu alguma coisa?
- Eita, não posso visitar minha irmãzinha? – Sandro abriu um sorriso largo. – Tava aqui por perto e vim te pentelhar. Muito trabalho?
- Sim, muito. – Respirei fundo. – Mas não estou reclamando.
- Estava agora no telefone com a Lívia, ela tá tão feliz. – Sorri com a informação, estava morrendo de saudades da minha menina. – Você está sabendo que a Jaqueline vai sair para o natal?
- Não sei nada sobre ela. – Revirei os olhos lembrando do meu passado. – Jaqueline morreu pra mim, Sandro.
Meu irmão deu os ombros e continuamos em um papo animado, ele me contava como foi a sensação de ouvir o coraçãozinho do filho pela primeira vez e eu não poderia ficar mais feliz pelo meu irmão.
- Lívia me contou que o noivo está ansioso por um bebê. – Neguei com a cabeça, pois não consigo imaginar a cena. – Mas avisei que primeiro ela tem que casar.
- Isso é verdade. – Concordei com a fala do meu irmão. – Ela disse algo sobre Beatriz?
- Na hora que eu liguei, Bia havia ido almoçar com o Apollo. – Meu irmão disse sem prestar atenção, fazendo meu sangue ferver na mesma hora.
- Eu não acredito nisso. – Me levantei irritada passando as mãos no cabelo. – Ela trocou família pra ficar andando pra cima e pra baixo com aquele palhaço de quermesse.
- Marcela, se acalme. – Meu irmão repetiu meu movimento ficando de frente a mim. – É um almoço de negócios.
- Você acha mesmo que eu confio naquele cara? – Olhei pela janela respirando pesado.
- Mas confia na sua esposa, certo? – Sandro tinha certo receio na voz.
- Eu não sei mais. – Respondi em um fio de voz. – Me deixa sozinha? Preciso organizar minhas ideias.
- Não vai fazer nenhuma besteira, cabeção. – Meu irmão me segurou pelos ombros. – Vocês se amam, só está faltando conversar.
Sandro deixou um beijo em meu rosto saindo logo em seguida, tentei manter a calma, talvez eu esteja potencializando algo, mas é impossível não sentir raiva com aquele homem perto da minha mulher. Alcancei meu celular ligando via facetime, mas chamou até desligar e na segunda vez que tentei a chamava foi encerrada, bufei de ódio, Beatriz está testando todos os meus limites. Me joguei na cadeira pedindo sabedoria, pois se me desse forças eu quebraria o Apollo ao meio.
- Com licença, Marcela. – Viviane entrou em minha sala. – Só vim avisar que já estou indo, precisa de mais alguma coisa?
- Não, pode ir. – Continuei na mesma posição, notando que Viviane se aproximava.
- Aconteceu alguma coisa? – Minha secretária parecia preocupada com o meu estado.
- Estresse. – Levantei a cabeça – Problemas.
- Quer conversar sobre isso? – Seu sorriso simpático estava sempre presente em seu rosto. – Tem um bar aqui perto, podemos tomar algumas cervejas enquanto você desabafa.
Encarei a mulher por alguns instantes, de fato eu preciso me distrair um pouco, eu estou com a cabeça lotada de coisas e sinto que a qualquer momento estou prestes a sofrer uma síncope.
- Vamos. – Viviane comemorou e logo peguei minha bolsa saindo da acompanhada da morena.
O bar não era tão longe, era um ambiente legal com um ar jovial, pedimos cervejas e conversamos amenidades sobre coisas de fora do escritório. Não estava fazendo isso para me vingar de Bia, pelo contrário, vim me distrair para não brigar novamente, isso já está desgastante demais.
- Não acredito que você não torce para nenhum time. – Viviane estava indignada com essa informação. – Eu sou Flamengo até morrer.
- Futebol não é minha praia, só os jogos da seleção mesmo. – Dei um gole generoso na cerveja. – Mas minha esposa é cruzeirense de carteirinha.
- Cruzes. – Ela tirou sarro. – Você tem cara de Flamenguista, pois somos as mais bonitas.
Gargalhei com seu comentário bobo, continuamos o assunto sobre futebol, até que fomos interrompidas pelo toque do meu celular aparecendo a foto do meu pai na sequência.
- Marcela, onde você está? – Meu pai tinha uma voz alterada.
- Estou em um bar próximo à Cyber, aconteceu algo? – Coloquei a mão no outro ouvido para escutar melhor o que meu pai dizia.
- Filha, o Mateo – Quando meu pai disse o nome do meu filho, algo dentro de mim acendeu. – Ele caiu da escada, bateu a cabeça e está desacordado, estamos a caminho do hospital, venha depressa.
POV BEATRIZ
Meu mundo caiu no momento em que Ricardo me ligou avisando sobre o acidente do meu filho, meu coração se comprimiu de um tamanho de um grão de areia. Ligava de cinco em cinco minutos para o meu sogro em buscas de notícias, enquanto Bernardo tentava achar um voo pra mim com urgência.
- Bia, toma! – Lívia me ofereceu um copo de água com açúcar. – Recusei discando o número de Ricardo novamente. – Nervosa desse jeito, você não vai conseguir resolver nada, Beatriz.
- Eu preciso saber do meu filho, Lívia. – Passei a mão no rosto secando minhas lágrimas.
- Vai ficar tudo bem, eu tenho fé. – Lívia alisou minhas costas. – Achou algo, Bê?
- Todos os voos lotados, fim de ano, vocês sabem como é. – Me desesperei ainda mais. – Eu vou achar, fique calma!
- Pode ser em qualquer classe, eu pago o que for preciso. – Bernardo assentiu continuando a busca por passagem.
- Marcela não me atende. – Disquei mais uma vez o número da minha esposa. – Que inferno!
- Ela deve estar no hospital, nem deve estar com o celular. – Lívia justificou me fazendo bufar irritada.
Nada do que me falavam acabava com a minha angústia, só irei me acalmar quando estiver com o meu filho nos braços sabendo que ele está bem. Liguei para as companhias aéreas em busca que me encaixasse em algum voo para hoje, mas todas as respostas negativas, estava a ponto de entrar em desespero.
- Bia, Apollo está lhe aguardando. – Minha assistente bateu antes de entrar em minha sala.
- Dispensa ele, Larissa. – Falei de forma rude me esquecendo da reunião que marquei com ele. – Não tô com cabeça pra nada, eu só preciso chegar ao Brasil com urgência.
- Entrei assim mesmo. – Apollo entrou sorrindo de orelha a orelha, mas logo se fechou ao notar meu estado. – Hey, o que houve?
- Apollo, eu não estou com cabeça pra nada hoje. – Continuei discando o número da companhia aérea.
- Me fale como eu posso ajudar, Bia. – Apollo se ofereceu de forma solícita.
- Você só poderia me ajudar caso consiga que eu esteja no Brasil, no máximo até amanhã de manhã, é a única coisa que eu preciso no momento. – Coloquei o telefone no ouvido esperando que me atendessem do outro lado da linha.
- Bia? – Apollo me chamou, mas eu pedi que ele esperasse.
- Que inferno, eu só preciso de uma poltrona, posso ir sentada até no banheiro. – Alterei a voz com a atendente.
- Beatriz, eu tenho um Jato. – Apollo pegou o celular da minha mão. – Por que não me ligou?
- Você me levaria pro Brasil? – Perguntei com um fio de esperança.
- Te levo para onde você quiser, mas me explica o que aconteceu? – Ele segurou minhas mãos enquanto eu chorava em um misto de alívio e angústia.
Contei tudo o que aconteceu até o momento, meu coração falava sair pela boca a cada vez que eu mencionava o nome do meu filho.
- Em duas horas você consegue ficar pronta? – Apollo me puxou para um abraço beijando minha testa. – É o tempo que meu piloto gasta para preparar tudo.
{...}
As oito horas de voo pareciam oito dias, nunca achei São Paulo tão distante. No jato veio apenas Apollo e eu, já Lívia e Bernardo se ofereceram para cuidar de tudo enquanto eu estivesse fora, pediram que eu não esquentasse a cabeça com isso, agradeci pela ajuda, sem eles eu estaria perdida.
- Hey, vamos comer algo antes de pousar? – Apollo chamou minha atenção. – Você não tomou nem água.
- Nada desce. – Sorri de lado.
- A mamãe do Mateo precisa dela saudável. – Apollo acariciou meu rosto. – Sério, come nem que seja essas castanhas.
- Obrigada. – Peguei a embalagem das mãos dele. – Eu nem te agradeci direito, não tenho nem palavras pra isso.
- E nem precisa, eu fico feliz que pude ajudar, mesmo que ainda nessas circunstâncias. – Ele me encarava nos olhos. – Vai ficar tudo bem.
Assenti com a cabeça enquanto ele tentava me distrair, em momento algum ele foi invasivo, ali estava um amigo que eu serei grata pelo resto da vida. Em menos de duas horas pousamos em Guarulhos, Apollo logo pediu um carro particular informando ao motorista o endereço do hospital. A cada quilômetro rodado meu coração apertava mais, assim que desci do avião tentei ligar para Marcela, mas de novo deu desligado, liguei para o meu sogro, mas ele não atendeu, eu estava a ponto de surtar, no entanto Apollo me pedia calma a todo instante.
- Cadê o meu filho? – Não cumprimentei ninguém, nem mesmo vi quem estava na sala de espera.
- Beatriz? – Os olhos vermelhos indicavam que Marcela havia chorado.
- Como ele está, Marcela? – Ela parecia surpresa ao me ver ali. – Eu preciso ver o meu filho.
- Ele ainda não acordou. – Sua resposta me deixou apreensiva. – O que esse cara está fazendo aqui, Beatriz?
- O Apollo me trouxe. – Apertei as sobrancelhas, sabia que Marcela iria criar caso.
- Má, trouxe pra você. – Uma morena alta nos interrompeu antes que eu explicasse o que Apollo fazia ali. – Você não comeu nada desde a hora que saímos do bar.
- Você só pode estar de brincadeira comigo. – Soltei um riso sem humor. – Que porr* é essa, Marcela?
- Eu posso explicar. – Ela tentou segurar meu braço, porém fui mais rápida.
- Bia, que bom que chegou. — Ricardo me abraçou apertado, interrompendo meu contato com Marcela. – Olá, rapaz! Como chegou tão rápido?
- Oi Ricardo. – Suspirei pesado. – Foi um sacrifício, mas graças a Deus, Apollo me trouxe de jato. Como meu filho está? Preciso de notícias.
- Eu já fui atrás do médico, fizeram mais uma radiografia. – Foi inevitável segurar as lágrimas.
- E a Betina, com quem ela está? – perguntei da minha filha, sei o quanto ela é apegada ao irmão.
- Está com o Sandro e Alice. – Marcela entrou na conversa. – Bia, vamos conversar?
- Eu não quero conversar com você, Marcela, eu te liguei várias vezes, só Deus sabe o quanto eu estava apreensiva. – Passei as mãos no rosto de forma irritada. – E enquanto isso você estava em um bar? É sério isso?
- Não foi isso o que aconteceu. – A voz de Marcela saiu de forma firme, mas apenas para que eu a ouvisse.
- Meninas, se acalmem. – Apollo interveio, antes que virasse uma discussão.
- Cala boca, babaca. – Marcela foi pra cima do meu amigo, mas minha reação foi mais rápida. – Você dá sorte que estamos em um hospital.
- Marcela, calma. – A morena desconhecida se aproximou segurando o braço da minha esposa. – Vamos nos sentar.
- Quem é você? – Perguntei encarando a mulher. – E o que diabos você está fazendo aqui?
- Eu sou a secretária da Marcela. – Revirei os olhos.
- Que clichê, Marcela. – Eu estava desacreditada com a audácia da minha esposa.
- Ela só veio me acompanhar. – Ela segurou meu braço. – Ou você manda esse cara embora, ou eu mesmo o coloco pra fora.
- Vocês, parem! – Meu sogro falou em um tom brando. – Estamos em um hospital, Marcela, tenha modos.
Puxei meu braço me afastando em seguida, estava envergonhada e irritada. Apollo me seguiu até as cadeiras que haviam na sala, me sentei levando as mãos no rosto.
- Hey, acho melhor eu ir embora. – Ele se abaixou puxando minhas mãos. – Vai ficar tudo bem, ok? E você sabe que estarei aqui para o que precisar.
- Nem sei como te agradecer. – Suspirei e Apollo deixou um beijo casto nas costas da minha mão. – Me desculpe por essa cena.
- Eu entendo ela, também morreria de ciúmes de você. – Apollo me arrancou um sorriso ligeiro. – Não deixe de me mandar notícias.
Meu amigo se levantou deixando um beijo em minha testa, antes de sair, ele deu um tchau coletivo, Marcela não respondeu, apenas me encarava negando com a cabeça, desviei o olhar focada em obter respostas sobre o meu filho, o que sabíamos é que ele teria que acordar por conta própria agora e além de bater a cabeça, Mateo quebrou o braço.
- Responsáveis por Mateo Ferraz. – Depois de horas a médica entrou na sala de espera com uma prancheta em mãos.
Marcela e eu levantamos no mesmo minuto, a médica explicava termos técnicos e eu só desejava ver o meu filho. Depois de muito falar, ela autorizou nossa entrada, meu filho estava em observação, segundo os exames não havia nenhum coágulo, com essa informação eu consegui respirar aliviada.
- Ele deve acordar em breve. – A médica nos deu passagem.
Ver meu pequeno com um curativo na testa e gesso no braço me quebrou por dentro, me aproximei com calma beijando seus cabelos, Marcela fez o mesmo, pude notar lágrimas em seus olhos. Puxei a cadeira me sentando ao lado do meu filho.
- Estou feliz que esteja aqui. – Ela quebrou o silêncio, mas eu não respondi.
O clima entre nós duas não era nada agradável, eu ainda não engoli que ela estava em um bar, ainda por cima com a secretaria, mas agora não era hora de colocar isso em pratos limpos.
- Mamãe. – A voz fraca de Mateo ecoou pelo quarto.
- Oi meu amor, a mamãe está aqui. – Me levantei tocando em seu rosto. – A mamãe tá tão feliz que você tenha acordado, tá sentindo dor?
- Você veio pro Natal, mamãe? – Mateo me perguntou se esforçando pra falar. – Era só uma brincadeira que você não ia vir mais?
Encarei Marcela com os olhos cheios de lágrimas. A partir de hoje, meus filhos serão prioridade, independentemente de qualquer coisa.
- Vou avisar que ele acordou. – Marcela levantou, mas antes beijou nosso filho novamente.
- A mamãe tá aqui agora, tá bom? – Mateo acenou com a cabeça.
Marcela voltou acompanhada pela médica, que rapidamente examinou meu pequeno. Mateo afirmou que não estava sentindo dor, mas como ele acordou agora, eram necessárias mais algumas horas em observação.
- Bom, já que ele acordou, é permitido apenas uma de vocês aqui. – Doutora Lana avisou assim que terminou com Mateo.
- Eu vou ficar. – Me adiantei em dizer. – Vai pra casa, Marcela.
- Você deve estar cansada da viagem.
- Eu estou bem, pegue nossa filha e vá pra casa.
Marcela assentiu acatando minha ordem, antes de sair se despediu do nosso filho.
{...}
Mateo recebeu alta no início da noite, avisei toda a minha família que ele estava bem, aproveitei pra comunicar Lívia e Apollo. Carmem e Ricardo vieram nos buscar, Mateo não via a hora de ver a irmã.
- Filho, cuidado. – Mateo desceu do carro quase pulando.
- Quero que a Tina faça um desenho bem bonito no meu gesso. – Ele respondeu animado.
Entramos e a sensação de estar em casa me dominou, eu sentia muita falta do calor daqui, não que eu não gostasse de NYC, pelo contrário, sempre foi meu sonho morar lá, mas aqui é o meu lar.
- Meu amor! – Marcela correu pegando Mateo no colo. – Tá se sentindo bem?
- Estou, sim. – Mateo beijou o rosto da mãe. – Cadê a Tina?
- Tô aqui, Mat. – Minha filha desceu as escadas quase correndo.
- Princesa, não corre na escada. – Marcela pediu com calma.
- Oi, meu amor, não vai dar beijo na mamãe? – Minha filha ainda não tinha me visto.
- MAMÃEEEE! – Betina se jogou no meu colo me agarrando pelo pescoço. – Eu estava com tanta saudade.
- Eu também estava, minha princesa. – Enchi minha filha com muitos beijos.
- Você mentiu pra nós, mamãe? – Betina perguntou para a outra mãe enquanto me abraçava mais forte.
- Ela não mentiu, meu amor. – Marcela negava com a cabeça irritada. – Depois a gente conversa sobre isso, agora vamos levar o Mateo para o quarto, ele precisa descansar.
- Beatriz, precisamos conversar. – Marcela me chamou antes que subíssemos as escadas.
- Hoje não, Marcela. – Ela respirou fundo, não íamos brigar na frente das crianças. – Eu só preciso de um banho e cama.
Mateo e Betina estavam tão felizes com a minha presença, meus filhos me contavam tudo o que fizeram nessas semanas em que não nos vimos. Eu ouvia tudo com atenção enquanto eles comiam cereal antes de dormir. Queria saber de cada detalhe, por esse motivo levei os dois para o quarto que dividia com Marcela, depois que eles terminaram.
- A mamãe vai tomar um banho rápido e já venho deitar com vocês. – Os dois assentiram escolhendo um desenho qualquer na TV.
Não demorei no banho, meu corpo já reclamava do cansaço, eu só precisava me aconchegar no meio dos meus bebês e ter uma noite de sono tranquila. Peguei uma roupa de Marcela no closet, eram as minhas favoritas para dormir, sequei meus cabelos voltando para o quarto, onde os meninos já estavam debaixo da coberta.
- Tem espaço aí pra mim? – Falei chamando a atenção dos dois.
- Vem, mamãe. – Betina arredou pedindo que eu deitasse entre os dois. – Vamos assistir o Grinch?
Me deitei abrindo os braços para os dois se acomodarem, nos cobrimos e Tina deu play no filme. Marcela se trancou no escritório desde a hora em que subimos, sei que temos que conversar, mas agora eu só preciso desse momento com as crianças. No início do filme, eu já estava fechando os olhos de sono, nem me dei conta quando Marcela entrou no quarto.
- Hey, hora de ir pra cama. – Ela parou ao lado de Betina.
- Queremos dormir com a mamãe Bia. – Mateo fez manha.
- Claro que vamos dormir juntinhos. – Beijei a cabeça do meu pequeno.
- Não vai caber nós quatro, aí. – Marcela argumentou. – Vocês estão grandinhos e o braço do Mat precisa de espaço.
- O quarto de hóspedes está vazio. – Sugeri, fazendo Marcela me encarar incrédula. – Ou a cama da sua secretaria, por mim tanto faz.
- Eu estou cansada dessa palhaçada, Beatriz. – Foi a última coisa que ela disse antes de se retirar.
- Mamãe? – Mateo me segurou pelo rosto me fazendo o encarar. – Você e a mamãe brigaram porque eu machuquei? Eu juro que vou ter mais cuidado e não vou correr mais.
- Não meu amor, claro que não. – Meu coração apertou com a pergunta. – Vocês dois não têm culpa de nada, é só coisas de adulto.
- Não gosto quando a mamãe Marcela fica triste. – Betina me abraçou.
Beijei a testa dos dois, meus filhos absorvem esse clima pesado e eu preciso me resolver com Marcela, não é saudável pra ninguém.
{...}
Eu simplesmente não consegui pregar os olhos, os últimos acontecimentos ficavam martelando em minha cabeça. Não acredito que Marcela tenha me desrespeitado, eu confio em seu caráter, mas por qual motivo ela estava em um bar com aquela mulher atrevida em plena segunda-feira, e ainda veio me cobrando satisfações por Apollo estar comigo? Ela não tem esse direito, pois eu nunca lhe faltei com respeito. Respirei fundo me desvencilhando das crianças que dormiam pesado, posicionei o braço de Mateo para que ele ficasse mais confortável e sai do quarto em seguida.
A casa estava em completo silêncio, sorri ao ver a enorme árvore de Natal montada na sala, Marcela amava fazer essa tarefa enquanto eu detestava. Segui para a cozinha em busca de algo para me distrair, sei que não dormiria por agora, então só me restava fazer um lanchinho da madrugada.
- Puta que pariu! – Assim que entrei na cozinha, Marcela estava encostada na bancada bebendo algo em uma xícara. – Que susto, Marcela! O que você está fazendo aqui nesse escuro?
- Vim preparar um chá. – Eu ainda tinha as mãos no peito tentando me recompor. – Não consegui dormir.
Não respondi, apenas abri a geladeira procurando algo de interessante, mas nem isso eu conseguia decidir, sinto que minha cabeça vai explodir com tantos problemas. Peguei apenas a jarra de água enchendo um copo.
- Tá com fome? – Marcela me observava ainda escorada na bancada. – Posso fazer panquecas de banana.
- Não precisa, vou voltar pra cama. – Deixei o copo sobre a pia dando meia volta. – Boa noite.
- Não, você não vai fugir mais. – Marcela veio mais rápido, parando em minha frente. – O que aquele homem veio fazer aqui?
- Jura que de tudo o que está acontecendo entre a gente, isso é o que está te preocupando? – Passei as mãos no rosto de forma irritada. – Estamos enfrentando vários problemas e pode ter certeza que Apollo não é um deles.
- Como não? Você fica pra baixo e pra cima com aquele idiota. – Marcela alterou a voz.
- Somos amigos, Marcela. – Aumentei o tom, mas não o suficiente para acordar as crianças. – Se não fosse por ele, nem aqui eu estaria.
- Avise isso pra ele, pelo visto ele não acha que é só amizade. – Minha esposa dizia com sarcasmo.
- Como você é idiota. – Era difícil conversar com ela agindo assim. – Apollo sabe o lugar que ele ocupa em minha vida, pelo visto você é quem não sabe. Diferente de você, todos os meus encontros com Apollo são profissionais, eu não posso dizer o mesmo sobre suas saídas com a sua secretaria.
- Foi apenas uma vez e não aconteceu nada. – Virei o jogo fazendo ela se justificar.
- Eu não estava lá pra saber. – Encarávamos uma à outra com raiva no olhar.
- Como você pode achar que eu teria algo com outra mulher além de você? – Ela estava exaltada, com raiva.
- Do mesmo jeito que você acha que eu daria liberdade para o Apollo. – Aquela conversa não nos levaria a lugar algum. – Olha Marcela, eu tô cansada, a gente não tá dando certo, estávamos nos desgastando.
- É o que você quer, Beatriz? – Os olhos dela cheios de lágrimas apertaram meu coração. – Se você quer o divórcio, me fale.
- Eu não quero isso. – As lágrimas lavavam o meu rosto.
Marcela não perdeu tempo, seu corpo próximo ao meu me encurralou entre a bancada da cozinha. Uma mão em minha cintura e a outra entrou em meus cabelos me puxando para mais perto. O beijo era faminto, cheio de saudades, mágoas e principalmente amor. Subi minhas mãos até a raiz do seu cabelo onde intensifiquei nosso contato, não havia beijo melhor no mundo do que o dela. Marcela apertava minha cintura me fazendo lembrar da saudade que eu estava do seu toque, suas mãos ligeiras entraram debaixo da camiseta encontrando meu seio desnudo, ch*pei sua língua de forma intensa enquanto suas mãos deslizavam sobre mim.
Marcela desviou a boca da minha, distribuindo beijos pelo meu pescoço, senti os pelos do meu corpo eriçaram quando ela passou os dentes pelo meu ponto de pulso, soltei um gemido sôfrego ao sentir minha esposa deslizar a mão por cima do tecido fino da minha calcinha. Marcela brincava com os dedos, me torturando o máximo possível.
- Anda logo com isso. – Pedi impaciente.
- Você é muito mandona. – Marcela me fez encará-la e seu sorriso malicioso me deixava inebriada.
- E você é irritante. – Tomei seus lábios novamente em um beijo cheio de paixão.
Nossas mãos travavam uma batalha de quem dominava o momento, mas é claro que ela ganharia, pois estou entregue de corpo, alma e coração. Ela se afastou apenas para retirar a camiseta que eu vestia, arfei ao sentir sua língua quente envolvendo meu mamilo, apertei ainda mais seus cabelos entre os dedos, suplicando para que ela me possuísse como sempre fez. Ela não demorou para atender meu pedido, Marcela me preencheu com seus dedos, me deixando anestesiada com a sensação de prazer, o vai e vem era lento, enquanto ela se movimentava dentro de mim, eu gemia no pé do seu ouvido, apenas para que ela ouvisse e entendesse que eu sou unicamente dela.
Ela sabe exatamente como me deixar maluca, eu já não estava me aguentando mais, só queria chegar ao meu limite logo e como se ela adivinhasse meus pensamentos, como o polegar ela passou a estimular meu ponto de prazer me fazendo gritar seu nome quando o orgasmo atingiu meu corpo. Se eu não estivesse me segurando nela, tenho certeza que eu teria ido ao chão.
- Eu te amo. – A voz suave de Marcela preencheu meus ouvidos. – Eu amo você, mais que tudo, Beatriz.
Segurei seu rosto entre minhas mãos iniciando um beijo calmo como o mar depois de uma tempestade. Ainda tínhamos muito o que conversar, mas sei que nos separar não estava em meus planos.
- Eu te amo, meu amor.
{...}
-Amor, você quer vinho branco ou rosé? – Marcela perguntou segurando uma taça.
- Branco, amor. – Respondi estendendo a mão para pegar meu vinho.
Estávamos esperando a ceia de natal na casa dos meus sogros. A família toda reunida, meus pais, Sandro e Alice, Mel e o filho, Giovanna e Arthur, e meus filhos. Estávamos em paz, comemorando o natal em família, Marcela e eu finalmente estávamos bem, não brigamos mais. Consegui explicar minha amizade com Apollo, só não contei sobre o plano de trazer minha marca para o Brasil, quero fazer uma surpresa, mas mesmo assim, nós duas encontramos a nossa sintonia.
- Mamãe, que horas o Papai Noel vem? – Mateo perguntou subindo no meu colo.
- Só quando você estiver dormindo. – Sorri beijando seu cabelo. – O que você pediu pra ele na cartinha que você escreveu?
- Não pedi nada de brinquedo. – Olhei confusa esperando ele continuar. – Pedi pra você não precisar ir embora mais.
O silêncio na sala se fez presente, todos que ali estavam se calaram ao ouvir o que meu filho disse. Era um peso enorme ter que deixá-los todas as vezes que eu vinha ao Brasil, mas dessa vez seria diferente, dessa vez eu ficaria por eles, pela minha família.
- Vamos preparar o lanche do Papai Noel? – Marcela notou que eu fiquei sem respostas.
- VAMOS!. – Betina e Mateo seguiram a outra mãe saltitantes.
- É difícil ser adulta, né? – Minha sogra sentou ao meu lado.
- Não achei que seria tão intenso. – Sorri de lado.
- Saiba que nós te amamos e qualquer decisão que tomar, terá o nosso apoio. – Carmem me puxou para um abraço apertado.
- Eu já tomei minha decisão. – Minha sogra sorriu largamente, em seguida piscou pra mim.
- Sabia que faria a escolha certa. – Beijei suas mãos e em seguida fomos chamadas pelo Sandro.
A nossa ceia foi servida mais cedo, primeiro que as crianças estavam com fome e segundo que Alice não podia ficar muito tempo sem comer, aproveitamos e comemos por volta das nove da noite. Conversamos sobre todos os assuntos possíveis, meu cunhado estava empolgado com a vinda do filho e eu não poderia estar mais feliz por ele e Alice.
- Tá ansiosa? – Perguntei à minha cunhada que alisava a barriga. – Eu acho que vem um menino.
- Eu quero que seja menino, Sandro quer menina. – Sorri com o comentário. – Eu acho que estou mais preocupada com a dor.
- Dói e não é pouco. – Minha fala fez Alice fazer uma cara engraçada.
- Eu estarei lá te ajudando a segurar a dor. – Sandro beijou a esposa.
- Só não pode ser como tua irmã, que desmaiou. – Marcela me olhou de cara feia.
- Eu não tinha almoçado, por isso desmaiei. – Minha esposa se justificou cruzando os braços.
- Sei bem. – Puxei ela pelo rosto deixando um selinho rápido.
Continuamos em um papo animado, ligamos de vídeo para Lívia, que estava feliz passando a véspera de natal no Canadá com o noivo. Ela prometeu que viria para o ano novo, já que todos nós marcamos uma viagem para o Norte brasileiro. Entre uma taça de vinho e outra Apollo me ligou, meu amigo queria me desejar boas festas e me avisar sobre o nosso projeto.
Ligação on:
- Oi, como cê tá? – Atendi assim que a foto dele apareceu em meu celular. – Como foi a viagem?
- Triste e solitária sem você. – Sorri com sua fala.
- Palhaço. – Marcela observava minha conversa com os olhos presos em mim. – Tudo pronto?
- Acabei de mandar entregar, deve chegar aí em momentos. – Abri um sorriso largo. – Espero que isso seja apenas o começo da nossa parceria de sucessos, obrigada por fazer parte disso.
- Eu nem sei como posso te agradecer por isso, você é o meu anjo da guarda, Apollo. – Notei minha esposa revirar os olhos impacientes. – Preciso desligar, Marcela lhe deseja feliz natal.
- Desejo o dobro. – Apollo respondeu sorrindo. – Beijos Bia, até breve!
Encerrei a ligação sob o olhar interrogativo da minha esposa, mesmo aceitando a ideia de que Apollo e eu éramos amigos, ela ainda tem muito ciúmes e não faz questão de esconder, porém esse assunto não é mais motivo para as nossas brigas. Caminhei até ela, segurei seu rosto entre as mãos, selei nossas bocas em um selinho demorado e em sequência me preparei para o meu anúncio.
- Família, gostaria de fazer um comunicado muito importante. – Bati a aliança na taça chamando a atenção de todos. – Todos vocês sabem a importância que cada um tem na minha vida, eu não estaria onde estou sem o apoio de vocês, meus pais, meus sogros, meus cunhados e principalmente da minha mulher e meus filhos. Sem vocês simplesmente eu não existiria, vocês são minha base, meu suporte para conquistar todos os meus objetivos.
- Recentemente eu vivi um dilema, entre escolher o meu trabalho e a minha família, fiquei desolada, pois eu amo o que eu faço, mas eu amo ainda mais minha família. – Sorri abertamente para Betina e Mateo que estavam sentados no colo do avô. – Eu não quero mais ter que fazer esse tipo de escolha, não quero passar o sufoco de não estar presente quando um dos meus filhos precisar de mim. E com isso quero dizer que estou oficialmente de volta ao Brasil.
Meu comunicado deixou todos de boca aberta, minha esposa me encarava de forma intensa enquanto meus filhos não sabiam o que estava acontecendo.
- Você não vai mais ir embora, mamãe? – Betina quem perguntou quebrando o silêncio.
- Ficarei por vocês. – Minha filha correu pulando em meu colo.
- Mas e sua empresa? – Marcela se levantou se aproximando e ao mesmo tempo a campainha tocou.
- Sua resposta chegou. – Corri para abrir e agradeci ao motorista de Apollo. – Conheçam a filial da W&C no Brasil.
Todos se aproximaram para ver a maquete do meu projeto com Apollo, era uma mega loja e eu tenho certeza que daria muito certo.
- Não significa que estou abrindo mão de NYC, Apollo e Lívia cuidarão na minha ausência, mas sempre estarei por perto.
- Então era por isso que você e o palhaço se encontravam tanto? – Marcela se aproximou me puxando pela cintura.
- Sim, tudo isso é ideia dele. – Ela negou com a cabeça com um sorriso no rosto.
- Então, você vai ficar? – Assenti com a cabeça passando os braços pelo seu pescoço.
- Eu vou ficar por você! Eu te amo, meu amor. – Juntei nossos lábios com a trilha sonora de assobios e palmas tocando ao fundo. – Feliz Natal!!!
FELIZ NATAL !!! - Kivia Oliveira
Fim do capítulo
Leia (ou releia) o romance The only exception aqui: projetolettera.com.br/2729
Comentar este capítulo:
Lea
Em: 23/12/2022
Aí que gostoso rever essa família e agora com mais integrantes!
O amor quando é verdadeiro de ambas as partes,supera todo e qualquer obstáculo!
*
E o "meu pedido" de um capítulo bônus veio,e como presente de Natal!
*
Kivia,FELIZ NATAL!
Resposta do autor:
Feliz natal querida leitora!!
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