“Oh, kiss me beneath the milky twilight

Lead me out on the moonlit floor

Lift up your open hand

Strike up the band and make the fireflies dance

Silver moon's sparkling

So kiss me”

Trecho da música: Kiss me – Sixpence None the richer

Mais tarde naquele mesmo dia Cali recebeu a visita de Paloma.

A loirinha tinha acabado de tomar um banho relaxante. Precisava disso, após as emoções da manhã. Não havia superado a decepção pela qual teve que passar. Tinha o coração apertado, a garganta seca. Sentia-se uma total imbecil diante dos acontecimentos. 

Ela se lembrava de alguém ter lhe dito uma vez que era preciso colocar para fora todas as emoções que sentíamos. Só assim estaríamos preparados para seguir em frente. Estava cansada de se olhar no espelho e se sentir uma idiota apaixonada. Não reconhecia mais a si mesma, já não tinha controle de seus próprios sentimentos. Era uma bomba relógio prestes a explodir a qualquer momento.

- Posso entrar? - Pediu Paloma.

- Entre - Disse Cali, indiferente - O que quer?

- Achei que queria falar comigo, Fábio disse que...

- Ah, sim. Devo ter mencionado alguma coisa com ele - Reconheceu Cali que tentava reunir toda a coragem que tinha para enfrentar Paloma.

Paloma estranhou a frieza de Cali. Ela não parecia ser a garota receptiva de sempre. Sentiu-se culpada. Fábio tinha razão, Cali estava mesmo magoada com ela.

- Desculpe não ter aparecido ontem. Sei que está chateada.

- Não se preocupe comigo, Paloma - Exaltou-se Cali, com fúria - Porque não volta para sua namoradinha, ela deve estar te esperando.

Era a primeira vez que Paloma via Cali tão furiosa. Parecia querer atacá-la de qualquer maneira. Mas Paloma estava cansada, já tivera uma discussão com Fábio naquele dia.

- Parece que todo mundo tirou o dia para brigar comigo - Comentou Paloma.

Cali pareceu não escutar, pois continuou:

- Agora quero que saia do meu apartamento e nunca mais volte aqui.

- Como é que é? - Alarmou-se Paloma - O que deu em você Cali? Estou pedindo desculpas.

- Não me interessam suas desculpas. Agora saia, por favor.

Paloma não entendia a atitude exagerada da amiga.

- Eu não vou sair - Falou Paloma, firme, cruzando os braços. - Cali, tudo bem que sou culpada por não ter aparecido, mas não é para tanto.

- Você é culpada de muitas outras coisas, Paloma.

- O que quer dizer com isso?

- Você é culpada de ser uma péssima amiga. É culpada de me ignorar por completo. Além disso, você é culpada de nunca falar nada de você mesma, enquanto eu sou um livro aberto... - Esbravejou Cali.

“Você também é culpada por roubar meu coração”, quis dizer ela, mas as palavras não saíram.

- Não sabia que você se sentia assim, Cali. Por que nunca me falou sobre isso?

- Estou falando agora, não é? Colocando os pingos nos is.

- Então, se é para colocar tudo em pratos limpos - Começou Paloma que já estava irritada com aquela conversa. - Peço desculpas, minha amiga. Mas não tenho nada do que reclamar sobre a senhorita perfeitinha.

Cali abriu a boca para falar, mas gaguejou.

Paloma achava que aquela conversa estava ficando cada vez mais sem sentindo, elas não pareciam ter motivos reais para discutir. Então, porque estavam tão tensas? Parecia até que elas iam sair no tapa a qualquer momento...

- Você está goz*ndo de mim? - Conseguiu dizer Cali, incrédula.

- Só disse a verdade. Você nasceu em berço de ouro, princesa - Retrucou Paloma. - Não pertence a esse lugar, Cali Antunes.

As duas se conheciam bem e sabiam procurar seus pontos fracos. Paloma ficou satisfeita ao ver que suas palavras haviam atingindo Cali, que a olhava mais furiosa que nunca. Na verdade, ela mesma não compreendia porque estava agindo de maneira tão insana.

- Olha aqui, Paloma. Eu só não te bato porque você é bem maior do que eu...

- Queria ver você tentar bater em uma lutadora, baixinha.

- Baixinha? Quem você está chamando de baixinha - Falou Cali tentando encarar Paloma, embora fosse mais baixa que ela. - Não posso te dá o que merece, mas posso te expulsar da minha casa.

- Não estou com vontade de ir embora -Respondeu Paloma, sua irritação havia diminuído e no lugar dela sentiu uma estranha excitação.

Mas Cali estava determinada.

- Você vai sair de um jeito ou de outro - Ameaçou Cali, aproximando-se cada vez mais de Paloma.

- Ah, é? E você e que exército vão me expulsar? - Perguntou Paloma, sentindo a proximidade da loirinha.

Cali não respondeu. Na verdade, já havia perdido o rumo da conversa, se é que ela tinha um. Tudo que ela conseguia era olhar para a boca vermelha e carnuda de Paloma que estava perigosamente perto de seu rosto.

Paloma sentiu a respiração de Cali próxima a ela, encarou a loirinha e o que viu em seus olhos foi um brilho indecifrável. Olharam-se por um bom tempo e nenhuma das duas parecia querer desfazer aquela conexão. Suas respirações ficaram cada vez mais ofegantes. E ambas sentiam a excitação crescer.

De repente, Cali desfez a distância que separavam seus lábios dos de Paloma e a beijou. Paloma não fez objeção e recebeu os lábios cálidos da garota que pareciam procurar os seus com sofreguidão. Aos poucos, Paloma entreabriu os lábios para que a língua de Cali penetrasse em sua boca. O beijo ficou cada vez mais intenso. `

Paloma não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Cali a procurava com vontade, como se quisesse devorá-la. Ela correspondia com a mesma fúria. Em meio a sua excitação e deslumbramento, Paloma não notou que Cali a conduzia com habilidade até a porta do apartamento. Quando abriu os olhos estava parada no lado de fora, no corredor. Cali se desvencilhou da garota mais alta, mas antes sussurrou em seu ouvido:

- Acho que descobri seu ponto fraco.

Assim, Cali entrou novamente em seu apartamento e fechou a porta atrás de si, deixando Paloma parada no corredor ainda ofegante e totalmente desconcertada, sem compreender o que acabara de acontecer. Não é que Cali havia conseguido expulsá-la? Mas isso era o de menos...

Fim do capítulo