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A tragicomédia de Morgana por shoegazer

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Palavras: 3764
Acessos: 608   |  Postado em: 20/10/2022

Só por um dia

Carol. Nunca fui santa. Você pode viver pra sempre. Meu primeiro verão. Retrato de uma jovem em chamas. Ammonite. Imagine eu e você. Elena Undone. Desejo Proibido. Almas Gêmeas. Você nem imagina. A trilogia da Rua do Medo. Meu amor de verão – não confundir com o Meu Primeiro. Como esquecer. A jovem Rainha. D.E.B.S. Desobediência. Sim ou Não. Bloomington. A Turminha das Sapinhas de Tetinhas Pequeninhas – sim, é esse o nome, e agora... Terminando de assistir Alguém avisa?

Eu não acredito que passei a última semana enfurnada na casa da Isabela assistindo filmes com garotas fazendo tudo o que se pode imaginar, em todo o contexto possível. Isso só contando os filmes, porque a lista de série também é extensa, sem contar os livros. Ela me emprestou um chamado Carmilla, a qual não consegui fechar uma opinião a respeito, e agora me emprestou um da Virginia Woolf.

Vivi os últimos dias vendo mulheres descobrindo o amor e tendo finais trágicos, outros não. Garotas que se amam, mas a sociedade não aceita e garotas se beijando e se tocando. Mergulhei tão fundo nisso que até dormindo eu sonho com casais sáficos – essa palavra que Isabela tanto fala – isso quando eu não estou inserida no meio.

Eu acho que estou um pouco... Extasiada com tudo isso, e minha companheira de baldes de pipoca e pedaços de chocolate em vez de se cansar, parece estar ainda mais feliz. Só não Isolda que até tenta acompanhar, mas acaba saindo na metade do filme, indo fazer outra coisa.

Parece que a nossa vida se fechou em uma bolha lésbica dentro dessas paredes ao qual qualquer coisa que seja diferente vai ser estranha, e não a gente. É algo tão... Convidativo, como se eu tivesse perdido muito tempo sem saber que existia essas coisas. Não é de se estranhar, claro, afinal jamais chegaria esse tipo de conteúdo até onde eu vivia. Claro, tinha acesso à Internet e essas coisas encontramos nela, mas é difícil quando não tem alguém que te mostre que tem e te indique onde procurar.

Não precisou assistir muita coisa pra perceber que ela tinha razão. Quando temos algo pra se identificar, se torna bem mais fácil, e quando se torna aprazível... Você chega nesse nível de imersão que chegamos.

Ela tem razão. Quando temos algo para nos espelhar, não nos sentimos sozinhas, e nem tão confusa quando as coisas se desenvolvem em uma jornada solitária pra você. Tem aquela garota, mesmo que na ficção, que passa por algo parecido com o que você passa ou passou, com um desenrolar parecido, com vivências equiparadas. É como se abrisse uma porta com um letreiro escrito “você não está sozinha”. Isso deve ser óbvio para outras garotas, mas pra mim é tão novo poder palpar isso sem ter medo do que pode ser...

Vejam só, esse lesbisivão – um intensivão lésbico, segundo Isabela – me faz até ficar mais tranquila com a ideia de tocar na mão de uma garota. Sim, só tocar, não vamos nos precipitar com outras coisas, mas pra ela o efeito é outro.

— Bah! – ela joga o controle para o lado – Nessas horas eu queria uma namorada.

— Sério? – digo tentando não rir – Mas olha só as coisas que ela se sujeita porque gosta da guria.

Daqui a pouco, viro uma versão compacta dela.

— Mas ao menos ela tem alguém que fala que ama, acorda e dorme do lado dela, essas coisas... – ela faz uma cara emburrada – não... Não essa galinhagem que virou minha vida.

Ela está triste porque a garota desmarcou com ela, e ficou de ver se vinha hoje e até agora não confirmou. Desde a hora que cheguei, ela pegou no telefone exata quinze vezes. Devo dar um passo a mais e dispor de um abraço?

Digo isso porque já passamos esse tempo todo juntas, além de que vez ou outra eu deito no seu colo ou me apoio no ombro, cansada, e ela faz o mesmo sem me sentir desconfortável nem nada do tipo, então...

Estico meus braços em sua direção, me arrastando pra ficar mais próxima dela.

— Serve um abraço?

— É – ela dá com os ombros, abrindo os braços para mim e tomando até seu peito – serve sim.

Isabela cheira algo como uma mistura de essência de baunilha com pau de canela fresco, mas não chega a ser enjoativo. Ela passa esse perfume atrás da orelha e nos cotovelos, e só dá pra sentir se você se aproximar demais.

Acho que nem preciso dizer que assinei o contrato. Não que não o fosse fazer, mas precisava ter segurança, e isso significa ler as cláusulas pelo menos duas vezes para ter certeza do que estou fazendo. Semana que vem, tenho duas reuniões e, pelo que entendi da fala de Jaqueline – que se tornou minha agente – elas vão se tornar cada vez mais frequente.

E que eu preciso, agora por motivos de trabalho, ter um smartphone.

Isso me faz lembrar que ainda não respondi Raquel, minha correspondente. Aliás, dessa vez eu avisei a ela que tinha firmado contrato e ela respondeu com uma carinha feliz em seguida com um “sexta comemoraremos então.”

Nossa conversa mantém um ritmo próprio. De manhã, eu mando bom dia, e lá pelas dez ela responde. Ela pergunta se eu dormi e eu como está sendo o treino. As vezes é bom, outras ruins, e ela questiona como está meu trabalho. Digo se estou presa em alguma parte ou se estou procurando referências, e assim a conversa vai desenrolando durante o dia até que dou boa noite e desejo que ela durma bem. Eu sempre durmo primeiro, ou pelo menos tento.

Sei que ela treina oito a dez horas por dia, em outros chegando até doze. É uma rotina cansativa, mas ela fala que gosta. Infelizmente, ela tem que abdicar de muitas coisas que gosta e pouco sai de casa. Não fala dos pais, e pelo visto não tem irmãos, ou pelo menos não que tenha contato. Suas atividades preferidas é não fazer nada durante todo o final de semana, que é quando ela diz que ela vira nada e passa o tempo todo com roupa de dormir.

Disse pra ela que também não falo com a minha mãe, mas ela é bem reservada quanto a isso, e talvez seja um dos motivos que eu goste de conversar com ela. Disse também a ela da nossa maratona de filmes, mas não quis falar o conteúdo. Ela perguntava um ou outro nome, mas não sei se chegou a pesquisar, o que acho que não. Deve ter perguntado pelo contexto da conversa mesmo.

Só sei que agora, percebo como a semana passou rápida, mesmo que minhas funções tenha sido comer, ver filme, ficar na frente do computador editando texto – é tão moroso que dá vontade de desistir – e dormir. E onde Isolda entra no meio de tudo isso?

Segundo ela, indo trabalhar e na casa das pessoas que ela conheceu há pouco tempo e já chama de amigos. Pelo visto, nunca vai perder esse mal costume de achar que qualquer um seja uma boa pessoa pra se ter ao lado. Isolda já deveria ter entendido que as pessoas, muitas vezes, não estão nem aí para como estamos, e sim para o que temos a oferecer na hora, infelizmente.

O telefone de Isabela toca, e logo ela se desvencilha do meu abraço, indo atender do lado de fora. Aproveito e confirmo por mensagem que está tudo certo para mais tarde.

— Sério?! – ela diz tentando não parecer entusiasmada – Sim, eu posso te buscar lá. Às oito? Sim, fechado então. Até mais tarde.

Ela desliga e grunhe, pressionado os dentes um contra os outros, e se jogando no sofá, mas logo estica as mãos e leva até a cabeça.

— Ela está sozinha, Morgana, e agora?

— Eu... – pressiono os lábios um contra os outros – não sei? – sou a pior pessoa para aconselhar alguém em relação a isso.

— Convido ela pra jantar ou chamo ela pra vir pra casa? - ela gira o telefone entre os dedos - O que soa como um “eu respeito seu relacionamento, mas ao mesmo tempo te vejo com um olhar a mais?”

— Hm... – coloco a mão direita no queixo, encostando no sofá – chama ela pra comer em um lugar legal e se você perceber que pode ser outra coisa... Convida ela pra vir pra cá, não?

— É, tem razão – ela dispõe o telefone ao lado e se abraça com uma almofada – Boa, Mog.

Dou com os ombros, e ela balança a cabeça de um lado para o outro, como se estivesse se espreguiçando.

— Vou fazer isso mesmo – e me olha de relance – e tu vai sair com a guria mesmo? – assinto que sim – Vão que fazer o quê?

— Dar uma volta, acho que comer alguma coisa...

— Capaz ter que comer comida vegana de novo – ela faz uma careta que me dá vontade de rir porque parece que ela está se engasgando.

Escutamos o arrastar de pés no meu apartamento. Sei que é Isolda, e me levanto.

— Não esquece de vir aqui antes de sair – ela gesticula pra chamar atenção – vou precisar da tua ajuda.

*

Estou bem vestida? Não sei, mas pelo menos me sinto mais confortável assim do que com minha irmã escolhendo o que tenho que usar.

Ela se arruma sob o espelho médio circular preso na parede – mais outra aquisição dela – passando pó no rosto, deixando-o mais vivo. Também usa um batom vermelho rubro e um vestido colado curto em tom verde escuro, além de saltos pretos. Isolda vai sair novamente com essas pessoas que ela conhece por aí, e jura que não ingere uma gota de álcool. Isso eu posso até acreditar, mas duvido que ela passe em um exame toxicológico.

E como ela faz amizades tão rápido? Eu também não sei, mas isso sempre foi dela de chegar em um canto e se dar bem com todo mundo. Alguns diriam que ela é carismática, mas não é isso. Ela é manipuladora, e das boas.

Mas sobre seu estilo de vida, não tenho disposição para ir contra isso. Já discutimos tanto que hoje eu prefiro usar do silêncio. Se tudo o que aconteceu não foi o suficiente pra fazê-la mudar de ideia, por que minhas palavras surtirão efeito? Se nem minhas súplicas fizeram...

E pra piorar, ela nem lembra de terminar de montar o quebra-cabeça comigo, e toda vez que digo que vou terminar sozinha, ela reclama. Sei que ela faz isso porque sempre cedo aos caprichos dela e com isso, a certeza de que não sairei ao seu lado, não importa o que faça. Talvez no dia que eu suma ela mude isso, ou piore de uma vez, nunca se sabe. É uma aposta arriscada.

Já eu, indo contra minhas deslumbrante irmão, uso jeans lavados, uma camiseta preta e os coturnos vermelhos escuros que ela me deu de presente. O máximo que me arrumei foi passar um dos vários perfumes que ela tem, escovar os dentes e jogar o cabelo pra trás.

E, como é de se esperar, não dá pra deixar passar a música alta vindo da nossa mais que estimada vizinha, cantando a plenos pulmões Beyoncé.

— A Isa gosta de uma diva pop,né?

Não só gosta como passa o dia todo ouvindo isso.

— Eu não sei como a síndica não reclamou do barulho vindo dali... – ela aponta com o batom em mãos para onde está vindo o barulho.

— Acho que porquê não mora ninguém nesses outros apartamentos... – Mas possivelmente no dia que chegar, haverá algum problema.

— Morgana! – Isabela grita do seu quarto – Tá ocupada?

Por exemplo, por esse tipo de comunicação entre nós.

Levanto e vou para o apartamento dela, e a porta do quarto está aberta. Quando entro, ela está arrumando algumas argolas em um dos furos de sua orelha em frente ao espelho.

— Como eu estou? – ela se vira pra mim, levando as mãos para o resto do corpo.

Seu cabelo está armado, mostrando o volume que ele tem entre as mechas da cor antiga dele com a cor original, castanho claro. Sua sobrancelha está arrumada, e seus lábios estão levemente vermelhos, e sua roupa é bem diferente do habitual. Ela usa uma calça social preta e uma camisa social com as mangas levantadas, mas impecavelmente enroladas.

— Está parecendo uma executiva – cerro os olhos, tentando compreender o que estou realmente vendo.

— Bah! – sua feição é descontente – Tá ruim então?

— Não... – vejo a gola torta e levo minhas mãos para arrumá-la – você está muito bonita. Tri bonita.

— Me pegaria? – ela dá um sorriso traquina, e rio envergonhada.

— Não sou eu que tenho que responder isso...

— A la pucha tchê! – ela dá um sonoro riso, colocando a mão no rosto como se o cobrisse – Não estava esperando por essa não, viu?

Ela olha para o relógio, e pega a bolsa. Sigo com ela, mas antes paro no meu apartamento.

— Isolda, vai com a gente?

— Não, maninha – ela responde do quarto – podem ir. Bom passeio!

Dou com os ombros e descemos pelo elevador.

— Eita que as moças hoje vão elegantes – diz o porteiro nos cumprimentando assim que chegamos. Bom, pelo menos um já reconhece os esforços de Isabela.

Decidimos pegar um carro, e vejo a mensagem que Raquel já está me esperando.

— Você desce primeiro, tá bom? – diz ela olhando pro telefone. Não faço nenhuma objeção sobre isso. Não demora muito e chego ao destino marcado, que foi uma hamburgueria. A última vez que eu fui em uma eu devia ter uns quinze anos...

E me arrependo um pouco de não ter trago o casaco. Ela está sentada do lado de dentro em um lugar que logo a vejo. Quando caminho até lá, ela acena pra mim e gesticula para que eu me sente à sua frente, o que logo faço.

— Já tinha vindo aqui? – ela pergunta assim que me sento.

— Não – olho ao redor. É um local simples, com as mesas e bancos de madeiras, a luz amarelada, música ambiente instrumental, umas e outras pessoas conversando em outras mesas – na verdade, eu... – digo dando um leve aceno – Dificilmente saio pra comer, a gente mais pede.

— Eu gosto do hambúrguer vegano daqui – diz ela me mostrando o cardápio – é o único que como, mas elogiam muito esse aqui – e aponta para um nome em específico.

Ela está do mesmo jeito que a conheci: com uma camiseta de banda que não consigo reconhecer qual é, mas está escrito Kreator com um diabo dando porr*da em uns esqueletos, o cabelo comprido caindo pelos ombros, o óculos de armação transparente, calças jeans escuras, tênis, com a diferença que dessa vez ela exala a um perfume que não conheço, mas que me dá a impressão que, se o mar tem um cheiro, seria esse.

— Já quer pedir? – ela pergunta pra mim, me tirando da breve análise que faço.

— Pode ser.

Raquel chama um atendente, e vejo suas mãos calejadas, vermelhas, atadas entre os dedos e uma fita que vai até seus cotovelos.

— Você está bem? – pergunto assim que ela estende os braços na mesa, e olha para eles.

— Ah, sim, estou – ela responde sem desviar o olhar das mãos – é normal isso acontecer.

— Mas... – aponto para seus braços, mas sem tocar – está doendo?

— Um pouco – ela dá com os ombros – só um incômodo... Mas, e aí, quer dizer que você passou esses dias só vendo filme?

Uma maratona sáfica, melhor dizendo, mas por enquanto não vou trazer isso à tona.

— Sim, a Isa é bem ligada nessas coisas de cinema, ela estudou um tempo isso, então... – digo, tentando esconder o riso – acabo sendo influenciada.

Ela sabe que não sou daqui, mas não sabe de onde realmente saí. Acabei dizendo que fiquei aqui a trabalho, o que é uma meia verdade, e que minha irmã estava se recuperando de um momento difícil voltando a trabalhar só agora – também não citei que era por causa de bebida.

— É engraçado como vocês se dão bem – ela apoia os cotovelos na mesa – Quer dizer... – e dá com a mão direita no ar, gesticulando – parecem que se conhecem há mais tempo.

— Acho que é porque... – pressiono os lábios, pensando em uma resposta adequada – vivemos sozinhas, então nos apoiamos muito. Minha irmã passa maior parte do tempo fora e eu vivi muito tempo só, então...

— Queria eu morar longe da minha família – diz ela levantando as sobrancelhas – tem dias que eu falto enlouquecer, você sabe – e termina de falar bufando.

— Hoje foi... – cerro as sobrancelhas, levando minhas mãos até os guardanapos de papel na mesa – um deles?

Deve ser por isso que ela mal conversou.

— Sim, é que... – e ela leva o olhar para o que estou fazendo com as mãos – as filhas do meu pai estão vindo do Estados Unidos, e eu não suporto elas.

— Não sabia que tinha irmãs... – digo a olhando de relance, e ela passa a língua no lábio inferior antes de mordê-lo e dá um riso irônico.

— Não considero elas minhas irmãs – diz ela se encostando no banco – são só pessoas que tive o desprazer de dividir família. Eu não sei como vou sobreviver naquela casa com elas lá.

— Mas... – levo meu olhar até ela de novo, que olha para o chão visivelmente emburrada – o que é pior em conviver com elas?

— O tempo todo elas dão um jeito de me jogar lá pra baixo – Raquel cruza os braços – ou é falando da minha aparência, ou do meu jogo, das minhas roupas, do que falo, como me sento, tudo, e sempre com um ar de deboche que... – ela grunhe entre os dentes – me tira do sério.

— Elas são mais velhas do que você?

— Sim – ela levanta as sobrancelhas – a mais velha é quinze anos mais velha do que eu. Loiras platinadas cheias de botox e cirurgia estética que saem com homens por interesse...

— Elas se dariam bem com a Isolda, então.

Não faço o comentário com esse tom, mas Raquel começa a rir de um jeito que ainda não tinha visto, do tipo que seus olhos somem mediante o sorriso que ela dá.

— Sua irmã é tão ruim assim?

— Ela não é cheia de botox ou cirurgia, mas ela sempre saiu com as pessoas por interesse e tem o cabelo platinado, então... – dom com os ombros, piscando como se assentisse.

— Deveriam se unir e formar uma seita, então.

— Isso se já não fazem isso sem sabermos...

Pelo que entendo durante a nossa conversa, ela é filha do segundo casamento do pai, que se divorciou da primeira mulher e pouco tempo depois, conheceu sua mãe em uma viagem de negócios. A relação entre eles sempre fora conturbada, seja do pai com as filhas do primeiro casamento, seja com ela, ou ela com a mãe, ou o pai com a ex-mulher, a ex-mulher com a mãe dela, ela com a ex-mulher, ou seja, todos brigam entre si, mas ela briga menos com o pai.

Digo por alto que, nesse caso, quem se casou novamente fora minha mãe, mas que, mesmo assim, ela não teve sorte em nenhuma das escolhas, o que acaba trazendo à tona onde estão os parentescos de nossas famílias. Como eu digo que eles fingem que a gente não existe sem dizer isso?

— Só não somos muito próximos – por escolha deles, e depois nossa.

— Eu finjo que a família do meu pai não existe – ela diz assim que chega nosso lanche – mas com a da minha mãe não tenho problemas. De vez em quando vou em alguma reunião de família.

Está aí uma coisa a qual não vou há mais tempo do sair pra comer um lanche, que a propósito... Está divino, tanto que quando o como, até esqueço de falar.

Quando terminamos de comer, nos levantamos e mais uma vez, a discussão em que paga a conta.

— Por que você sempre insiste em pagar? – digo assim que guardo minha carteira.

— Porque se eu convido, eu pago, não é assim? – ela dá com os ombros.

— Não, se as duas pessoas comem, o justo é dividir.

O que me faz perguntar como Isabela está indo com a tal guria. Andamos para o lado de fora, e o vento frio faz o meu corpo arrepiar. Não sei como ela consegue ficar tranquila com um clima desses.

— É... – Raquel diz entre os dentes, guardando o telefone – então... Até a próxima?

Não respondo. Minha cabeça é invadida por só uma coisa: será que, a cada decisão tomada em sua vida, por menor que seja, te dá infinitas possibilidades do que pode acontecer contigo ou não no decorrer da sua vida?

— Morgana? – ela levanta uma das sobrancelhas, mas não dou nenhuma resposta.

Sei que minha vida está longe de ser uma dessas belas ficções onde há personagens decididos e que não tem receio de viver aventuras ou lutar pelo que acreditam – ou até mesmo por quem amam, não importam as circunstâncias – mas...

E se, pelo menos por um dia, ou melhor, por uma noite, eu pudesse ser que nem eles?

Ela acena e dá as costas, como se meu silêncio fosse a resposta, pegando um caminho contrário à onde estávamos.

Não sei que rumo minha vida tomaria se eu tivesse pensado diferente do que penso agora, mas... Não quero pensar no que pode ou não acontecer se eu continuar a vendo dar as costas para mim, sem dizer o que realmente quero.

— Ei.

Ela deve ter dado em torno de seis passos quando parou e olhou pra trás, se perguntando se tinha ouvido isso vindo de mim mesmo.

— Você... – na teoria é fácil, mas na prática eu acabo me enrolando um pouco. Respiro fundo e continuo – Não quer ficar mais um pouco?

Fim do capítulo


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Comentários para 15 - Só por um dia:
Marta Andrade dos Santos
Marta Andrade dos Santos

Em: 21/10/2022

Coragem Morgana!

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