POV THEODORA

Na Segunda feira cedo, minha mãe e eu já estávamos discutindo, ela simplesmente decidiu que as fotos seriam feitas hoje, porém eu não estava nem um pouco afim.

-Fizemos um trato, Theodora. – Malvina juntava suas coisas organizando em sua bolsa. – Mas se você quiser eu cancelo o estágio da sua amiga e você não precisa fazer as fotos.

-Eu disse que farei as fotos, mas não hoje. – Eu não dormi direito, tive insonia e fiquei ansiosa a noite toda e isso me deixou mal humorada.

-Eu quero que as fotos sejam feitas hoje. – Minha mãe disse incisiva.

-Desisto, você nunca vai conseguir me compreender. – Peguei minha mochila e sai.

Eu já estava atrasada, mas também pouco me importava, se dependesse de mim eu nem iria nessa merd* de faculdade. Se não fosse por Catarina, eu sairia hoje e Malvina não veria minha cara. Entrei na sala depois da Silvia, mas como ela era mais uma das pessoas que tinha medo de Malvina, ela não se importou. Me sentei lá no fundo, não estava afim de assistir  aula naquela manhã. A aula passou arrastada, apenas revirei os olhos quando Layla tentou alfinetar Catarina, nem ouvi direito os anúncios de Silvia, só sei que ela e Tassiano estavam programando uma excursão pra Belo Horizonte.

-Oi, está tudo bem? – Catarina se aproximou e eu me toquei que nem tinha cumprimentado ela. – Aconteceu alguma coisa?

-Malvina, essa é a única pessoa responsável por toda a minha infelicidade. – Falei me lembrando da discussão mais cedo. – Mas deixa isso pra lá, você vai pra BH?

-Ainda não sei, preciso me organizar. – Cat respondeu dando os ombros, e se ela for eu irei também.

-Só irei se você for. – Falei sorrindo. 

-Nossa Theodoraaa, tomou chá de sumiço? – Isis entrou falando alto e eu me assustei. – Te liguei ontem o dia todo.

-Ontem eu passei o dia ocupada, não vi suas ligações. – Na verdade eu fiquei tão envolvida estudando com Cat, que nem me lembrei do meu celular. 

-Vocês vão pra Malvina's agora? – Isis perguntou e eu respirei fundo.

-Eu já estou indo, minha sessão de fotos é hoje. – Eu achei que essas fotos iriam demorar a acontecer.

-Sessão de fotos? – Cat me perguntou e eu apenas acenei com a cabeça.

-Longa história. – Eu vou falar com Catarina que é algum castigo, não irei dizer que é pela vaga do estágio.

-Então vamos.

Chegamos ao ateliê e o caos estava instalado, todos estavam alvoroçados, minha mãe daria uma entrevista à uma revista internacional e nada poderia dar errado, ou cabeças iriam rolar. Mal cheguei e o puxa saco do Rogerio veio até mim, me avisando que o estúdio estava pronto.

-Cat? – A chamei e ela me encarou. –Você pode ficar lá dentro comigo?

-Claro Theo. – Isis também iria fotografar, mas eu me sentia mais segura com Catarina lá dentro.

Rapidamente alguns maquiadores e stylists começaram a me produzir, eu estava achando tudo um saco e Isis parecia ter nascido pra fazer aquilo, Catarina passou a ajudar o stylist e eu admirava como ela entendia tudo. 

-Theo, se posiciona ali no meio do Chroma. – Rogerio é o gerente criativo da minha mãe e era o responsável por tudo ali. – O Tiago vai começar as fotos, e eu quero que você seja você mesma.

-Até porque não tem como eu ser outra pessoa, né? – Revirei os olhos e vi Catarina rindo no fundo.

O fotógrafo começou os cliques e eu tentei me soltar, foquei que estava fazendo aquilo pela Cat e não pela minha mãe. Catarina começou a me incentivar e me deu dicas de algumas poses, no fim conseguimos boas fotos e Rogerio me deu alguns minutos pra descansar.

-As fotos estão ficando lindas, Theo. – Catarina me segurava pelos ombros enquanto víamos as fotos pelo monitor. – Você está linda!

-Obrigada, Cat. – Agradeci a abraçando de lado.

-Tá linda mesmo! – Malvina entrou no estúdio acompanhada da equipe da tal revista ignoranodo a existência das outras pessoas. – Beatrice, essa é Theodora, minha filha e herdeira do meu império.

-Muito prazer Theodora. – A mulher se aproximou e pegou em minha mão. – Você está belíssima.

-Obrigada. – Agradeci com meio sorriso, vi minha mãe cochichar algo no ouvido de Rogerio.

-Pessoal, uma pausa de vinte minutos. – Cat e Isis me deram tchau e saíram acompanhadas da equipe.

-Sua mãe disse que você responderia algumas pergutas. – Encarei minha mãe e ela pediu que eu não criasse caso. – Vamos começar?  O que você espera do futuro?

-Espero estar bem longe disso aqui. – Respondi com um sorriso debochado e minha mãe travou a mandíbula de tanta fúria.

-Como assim? Você não pretende seguir os passos da sua mãe? – Beatrice me perguntou e minha mãe se aproximou. 

-Não mesmo, eu quero ser advogada. – Respondi confiante.

-Theodora é brincalhona assim mesmo, Beatrice. – Minha mãe veio até mim e me segurou pelo braço.

-Escuta aqui garota, eu estou sendo muito paciente com você. – Ela dizia entre os dentes e eu via a fúria em seus olhos. – Se você continuar com essa gracinhas, eu juro por Deus Theodora, que nunca mais você verá seus amigos, ou o seu pai novamente.

-V..você não pode fazer isso. – Até gaguejei, pois Malvina era a própria personificação do mal.

-Tenta a sorte. – Ela soltou meu braço e o choro travou em minha garganta. – Podemos recomeçar, Beatrice?

A mulher recomeçou as perguntas e eu respondia tudo no automático, eu não aguentava mais isso, minha mãe estava passando dos limites. O clima do estúdio pesou e eu só pensava em terminar aquilo logo e poder abraçar Catarina.

-Muito obrigada Theo, te desejo toda a sorte do mundo. – Beatrice pegou em minha mão novamente.

Minha mãe se despediu da mulher e a equipe dela se retirou, me sentei e coloquei a mão no rosto, tentando não deixar as lágrimas rolarem. Malvina saiu da sala sem ao menos perguntar se eu estava bem.

-Theo?  – Isis entrou no estudio. – Está tudo bem?

Balancei a cabeça em negação e comecei a chorar, Isis se ajoelhou em minha frente e tentava me consolar.

–Me fala o que aconteceu, meu bem. – Ela alisava meu rosto.

-Minha mãe, como sempre. – Respondi limpando meu rosto. – Cadê a Cat?

-O Rogerio pediu para ela buscar algumas peças na loja do Iguatemi. – Isis respondeu ainda ajoelhada em minha frente. – Vem, vamos lavar o rosto.

Isis me levantou e fomos até o banheiro, lavei meu rosto e contei o que tinha acontecido dentro do estúdio.

-Poxa Theo, sua mãe é o cão. – Ela me abraçava pela cintura. – Não acredito que ela te ameaçou a fazer isso.

-Pois é.

-Mas porque você aceitou fazer essas fotos?

-Isis, eu fiz isso pela Catarina. – Isis me olhou com as sobrancelhas espremidas. – Minha mãe ameaçou tirar ela do estágio, e eu não posso deixar minha mãe fazer isso.

Isis não disse nada, apenas ficou me encarando tentando processar o que eu tinha dito.

-Theo? – Por fim ela respirou fundo antes de falar. – Você gosta dela?

Aquela pergunta fez meu coração parar por alguns segundos, pois eu ando confusa com os meu sentimentos, ontem quando Catarina foi embora, eu parei pra refletir sobre nós duas, as reações que ela me causava, o bem que ela me fazia apenas com um abraço, eu não sei bem explicar o que acontece, não sei explicar a vontade louca que eu tenho de beijá-la, a vontade que eu tenho de cuidar dela.

-Isis... – Eu não conseguia responder.

-Eu não estou aqui pra julgar você, eu nunca faria isso. – Isis fez um carinho no meu rosto. – Eu gosto de você.

-Eu também gosto de você, Isis. – Suspirei e abaixei o rosto.

-Mas está apaixonada por ela. – Isis disse com um sorriso, e ouvir aquilo em voz alta me deixou espantada.

-Isis, eu não estou apaixonada. – Falei tão baixo que quase não saiu. – Ela é hetero.

-Se permita sentir. – Isis me colocou de pé e segurou meu rosto entre as mãos. – Eu também era, até beijar a Bia.

-Você já beijou a Bia? – Fingi cara de nojo e ela gargalhou.

-Já, e beijaria de novo. – Isis era uma pessoa que levantava o astral de qualquer um. – Olha so, eu estava gostando de ficar com você, mas se você gosta dela, deixa ela saber disso, corre atras.

-Eu não sei, eu ainda nem sei o que realmente sinto. – Eu estava confusa demais.

-Se permita. – Isis olhou em meus olhos e deixou um selinho demorado em meus lábios.

-Theo?  – Ouvi a voz de Catarina e rapidamente nos desgrudamos. – Desculpa, eu não queria atrapalhar.

Fim do capítulo