Já dando spoiler que o próximo capítulo será narrado pela Ágatha.
Leiam as notas finais :)
E assim a vida segue.
Confesso que as próximas semanas tiveram um impacto positivo na minha vida. Ainda no período de férias realizei uma viagem para o Nordeste com a minha filha e Ana Luísa que cada vez mais se mostrava uma amiga e uma amante excepcional. Pode parecer bobagem, mas senti que essa viagem revigorou todas as minhas energias e me rendeu posteriormente mais disposição e vigor mesmo nas atividades mais básicas do dia a dia. É como se aos poucos fosse compreendendo que não poderia ter tudo nessa vida, mas estava me tornando grata por finalmente estar fazendo as coisas de maneira certa depois de desrespeitar os sentimentos alheios por anos e não ser mais uma pessoa egoísta.
Paralelamente à minha evolução como ser humano, iniciei trabalhos voluntários no orfanato que Lulu havia me falado. Concomitantemente pensava na fala de Ágatha sobre o quanto crianças mais velhas eram esquecidas e deixadas de lado, e também me vinha a cabeça os pedidos suplicantes de Kathleen querer ter um irmãozinho ou irmãzinha. Sinceramente não me passava pela cabeça engravidar depois de haver tantas crianças abandonadas pelo mundo buscando o amor de uma família. Se eu estava pensando em adoção? Provavelmente sim, mesmo com todos os meus defeitos sei que teria condição emocional para dar esse grande passo e ser mãe solo, condições financeiras então nem se fala, essa tinha de sobra.
Em um dia qualquer quando já havia retornado à minha rotina de trabalho, tive um dia de folga e aproveitei para ir ao orfanato. Estava entretida brincando com algumas crianças quando senti um toque no meu ombro.
--Giovanna, é você?
Eu me virei para fazer contato visual com a pessoa, apesar de tudo sabia muito bem de quem se tratava. Poderiam passar anos, mas aquela voz sempre seria reconhecível para mim independente do tempo que passasse.
-Olá Nicole, tudo bem?
Era questão de tempo para encontrar novamente com a minha antiga amiga visto que ela era assistente social daquele lugar. Era um misto estranho de sentimentos, felicidade e saudade se completavam ao lembrar de todos os momentos que vivenciamos na infância, adolescência e no início da vida adulta, mas também uma certa chateação pela forma inesperada que nossa amizade terminou. Foi a Nicole que sem meu consentimento falou sobre a minha orientação sexu*l* para a minha família por despeito e inveja já que não havia conseguido chamar a atenção de Pietra, indiretamente foi por culpa dela que fui expulsa de casa, não estava sabendo lidar com tudo isso, pelo menos não naquele momento.
--Estou bem, obrigada. É bom te rever depois de tanto tempo. Espero que um dia você possa me perdoar pelo mal que te causei no passado, naquela época minha imaturidade e a influência que a Débora exercia em mim falaram mais alto do que o meu amor de amiga. -Nicole se adiantou na fala como se lesse meus pensamentos.
--Confesso que nunca havia esperado aquilo de você. Passei por momentos muito complicados devido a sua atitude inconsequente de achar que por algum motivo estava disputando a Pietra contigo. Passei anos sofrendo longe do amor e aconchego dos meus pais, mas naquela época eles também fizeram a escolha que julgaram ser a melhor. Não vai ser fácil, mas espero que a gente consiga deixar esse fato no passado, só quero olhar daqui para frente. -respondi com sinceridade.
--Posso te dar um abraço? -notei que Débora de alguma forma queria reatar a amizade que tínhamos antes, mas não seria algo tão fácil.
--Ainda não estou nessa vyber, Nicole... Quem sabe com o tempo. -respondi dando alguns passos para trás.
--Entendo. A Aninha me adiantou que você está conhecendo melhor a nossa Instituição e já pensa em adoção. Se precisar tirar algum tipo de dúvida é só me perguntar. -a assistente social falou mudando completamente de assunto adquirindo uma postura profissional.
--Confesso que tenho mesmo vários questionamentos. Se o processo de adoção é demorado, se a criança vai se adaptar à minha rotina, além do mais, não sei qual será a faixa etária da criança que adotarei. Também já tenho uma filha, então pra mim é essencial que a Kathleen e a nova criança que for fazer parte de nossa família possam se dar bem. -tinha certeza de que queria ter outro filho, mas como saber a "criança certa" para levar para casa?
--Costumo dizer que não é você que vai escolher a criança, mas são elas que nos escolhem, digo por experiência própria... Minha esposa e eu nunca pensamos que adotaríamos uma criança portadora do vírus HIV e outra criança com hidrocefalia, mas quando conhecemos essas joias raras nos apaixonamos imediatamente e soubemos que queríamos aquelas crianças nas nossas vidas. Dependendo da idade realmente pode levar mais tempo, mas todo esse processo de espera vale a pena.
Ainda fiquei por mais um tempo conversando com minha antiga amiga e atualmente assistente social sobre todos os trâmites burocráticos necessários para um futuro processo de adoção. Observava as crianças brincando divertidamente de pula corda no pátio do orfanato, sentia vontade de levar todas para casa, mas tratei de colocar a cabeça no lugar e simplesmente deixaria o tempo escolher quem seria o irmão ou irmã da minha filha. Por falar nisso, ainda precisaria levar a Kat na Instituição mais vezes e perceber se ela criaria laço com alguma criança daquele lugar.
Com o passar do tempo, percebia que Kat e Ana Luísa estavam cada vez mais próximas ao ponto de que em algumas ocasiões a administradora buscava a minha filha na escola quando Pietra ou eu estávamos muito ocupadas com o trabalho, problemas familiares ou qualquer outro assunto.
Foi em uma dessas ocasiões em que não pude apanhar minha filha na escola pois minha avó havia adoecido e fiquei responsável por cuidar dela que algo estranho aconteceu. Lu e Kat chegaram caladas e sérias em casa para o meu total espanto, vindo delas isso era inacreditável visto que sempre chegavam no meio de longas gargalhadas e sorrisos amistosos repletos de cumplicidade.
Kat me cumprimentou ainda calada e se retirou indo tomar um banho.
--Lu, aconteceu alguma coisa? Tô sentindo peso de algo no ar.
-- Ai Giovanna... Não queria falar muito sobre isso, mas realmente houve uma situação embaraçosa. -percebi a indecisão de Luísa se deveria ou não prosseguir com o assunto, mas assenti, assim ela iniciou o discurso. -Por causa do congestionamento cheguei atrasada na escola da Kathleen. Quando cheguei ela estava conversando animadamente com uma criança e com a mãe dela, uma moça muito bela por sinal. A moça educadamente me cumprimentou e indagou se eu era alguma amiga da família, de forma brincalhona falei que era sua namorada... Digamos que na mesma hora a Kat fechou a cara e a mãe da outra criança também não parecia nada feliz. -será que essa moça era quem estava pensando? Provavelmente não, não seria possível.
--Ana Luísa, nós não combinamos que não teríamos um envolvimento mais sério? Pensei que as coisas estavam acertadas entre nós nesse sentido. A Kat é muito ciumenta, deve ser por isso que pode ter ficado chateada...
--Giovanna, já disse que falei brincando, em outras ocasiões a Kat ficaria muito feliz com essa notícia.
--Vai ver ela não esperava que você falasse isso na frente da mãe de uma amiguinha. Aliás, você falou isso para a mãe de qual amiga da Kat? Foi para a mãe da Claudinha?
--Não sei o nome da criança, mas a criança é negra e muito fofinha , tem o cabelo crespo e parece ser muito amiga da Kat. Acho que a reação da mãe dela foi por algum tipo de homofobia... -Ana Luísa não parava de falar, e na minha cabeça foi mais do que óbvio de que ela estava se referindo à Ágatha, só que isso não fazia muito sentido. A Ágatha não deveria estar vivendo com a Sabrina? E por que a minha filha ficou tão chateada? Era isso que tentaria descobrir.
Ao final da tarde quando Luísa foi embora finalmente decidi conversar com a minha filha.
--Cadê a minha filha mais linda do mundo todo? -disse com voz engraçada tentando deixar o clima mais ameno.
--Isso não vale, mãe... Sou sua única filha. -Kat já estava mais animada e dava alguns sorrisos.
--A filha mais linda, inteligente, fofa, carinhosa, a minha princesinha. -dizia enchendo Kathleen de beijos enquanto ela tentava se esquivar.
--Para, mãe! Tô babada de tanto beijo...
Depois de mais algum tempo brincando com Kat senti que já poderíamos conversar sobre o que havia ocorrido mais cedo.
--Filha, você sabe que precisamos conversar, né? -pensava qual seria a melhor forma por onde poderia abordar esse assunto.
--É sobre a Ágatha, mãezinha? -Kat indagou curiosa.
--Também minha filha, mas quero que a gente comece pelo início. Você e a tia Ana Luísa se dão tão bem. Por que brigaram hoje? -indaguei como se não soubesse o que a minha amiga havia falado.
--A tia Lu disse na frente da Ágatha que vocês estavam namorando e vi que ela ficou muito triste, não gostei disso. É verdade que vocês estão namorando?
--Não princesinha, a Luísa falou na brincadeira... -nem terminei de falar e minha filha me interrompeu.
--Não achei uma brincadeira legal, a gente não deve brincar com sentimentos, ainda mais perto da outra pessoa que se ama. -Kat falou me deixando impressionada. Como essa menina estava crescendo e entendendo as coisas tão rápido me deixando de boca aberta?
--Filha, confesso que tô surpresa com a sua atitude, nunca me imaginei te ver defendendo a Ágatha. Além do mais, ela está se relacionando há muito tempo com outra pessoa meu amor, você mesma me disse que a Iara vai ter um irmãozinho, então mesmo que eu estivesse namorando de verdade a Ana Luísa ou qualquer outra pessoa, a mãe da Iara não teria motivos para ficar triste.
--Mãezinha, eu gosto da Ágatha, só não gostava antes porque pensava que ela era a responsável por separar você e a mamãe Pietra, e que se ela morasse com a gente você ia gostar mais da Iara do que de mim. Parece que a Ágatha tá sozinha, não tem mais bebê... Não sei como funcionam essas coisas de adultos, mas a Iara me diz que a mãe dela chora muito todo dia. -nesse instante fiquei sem reação. Eram muitas informações para serem processadas.
--Filha, as coisas não são tão simples assim. A Ágatha e eu passamos por muitas coisas difíceis que você sendo uma criança não entenderia... -tentava em vão explicar quando Kathleen me cortou abruptamente.
--Não sei porque vocês adultos amam complicar as coisas. Você tá com a tia Luísa, mas não ama ela, e a mãe da Iara também tá sofrendo, mas vocês não fazem as pazes.
Naquela noite confesso que não consegui dormir nenhum pouco. Os dias foram passando vagarosamente e eu evitava ao máximo encontrar com a Ana Luísa em outros ambientes que não fosse o local de trabalho. Não estava a fim de pensar na Ágatha, em Ana Luísa, mas era inevitável.
Não demorou para que o aniversário da Dani estivesse próximo. Enquanto passeávamos em uma tarde de folga no shopping, foi inevitável minha amiga não perceber o quanto estava longe mentalmente, só meu corpo se fazia presente na praça de alimentação.
Contei durante alguns minutos tudo o que estava acontecendo por alguns minutos e torcendo para que minha amiga fosse compreensiva e tivesse paciência para me aconselhar.
--Acho que a Kat e a Iara são as pessoas mais sensatas dessa história toda. Elas enxergam o óbvio, mas vocês duas fazem questão de permaneceram estacionadas no mesmo lugar, enquanto isso esquecem que a vida é curta e o tempo está passando.
--Daniela, o que você quer que eu faça? Eu fiz o que pude. Fui sincera com a Ágatha, mas mesmo assim ela preferiu permanecer com a Sabrina. Tinha a esperança de que ao voltar de viagem após o meu divórcio nos acertaríamos, mas não foi o que aconteceu. Depois veio a questão da gravidez, a Ágatha ia ter um filho com aquela sem sal, mas não comigo, então eu simplesmente cansei e resolvi tocar minha vida. -Dani me ouvia atentamente, mas parecia não acreditar nas coisas que eu dizia, como se eu fosse mentirosa ou doida varrida.
--Giovanna, eu não sei o que está havendo, mas posso te garantir que a Ágatha se separou da Sabrina algumas semanas antes de você viajar com a Pietra para os EUA inclusive, também não faço ideia de que bebê seria esse... Acho que passaram por uma grande falha de comunicação e mais do que urgentemente precisam conversar.
Acho que a Dani havia pirado de vez. Quando retornei de viagem fui direto ao apartamento da Ágatha, tentei conversar e a Sabrina estava lá. Como as duas não estavam mais juntas? Nada faz sentido nessa história.
Fim do capítulo
Olá meninas! Tem alguém aí ainda?Brincadeiras a parte, sei que talvez muitas leitoras nem queiram mais ler a continuação de nosso estranho amor por todo atrasos nas postagens e estejam até mesmo com raiva.Apesar de tudo, estou aqui me desculpando e pedindo para que não desistam da história se não for pedir muito.Eu passei mais de um ano sem postar devido a problemas pessoais bem sérios, precisei desse tempo para organizar minha vida. Depois de tanto tempo finalmente voltei, e dessa vez garanto que será para ficar e finalizar a história. Inicialmente pretendo postar duas vezes na semana, toda quinta-feira e domingo, mas sempre que der vou liberar capítulos extas.Gostaram desse retorno da Giovanna mais madura e segura de si?Não esqueçam que o próximo capítulo será narrado pela Ágatha.Um grande beijo no coração de todas e até quinta-feira.
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