Capítulo 1 – Os filhos
Depois de um longo e estressante dia de trabalho, Quinn estacionou o carro na entrada da garagem, mas não saiu. Ela queria ter alguns minutos de paz antes de entrar em casa. Por isso ficou ali com o carro desligado, pensando em sua vida e em como chegara naquele ponto.
Logo depois de se formar na faculdade, Quinn viveu a melhor época de sua vida! Ela passou para a escola de direito na University of Pennsylvania e por mais que aquela não fosse sua primeira escolha, era ainda uma das melhores do país. E a permanência dela em Philadelphia, perto de todos que amava, era um bônus.
Além de ter conseguido um emprego como paralegal em uma firma prestigiada da cidade, Quinn utilizou seu tempo fora dos estudos para planejar o casamento perfeito. Ela lembrava com carinho daquela época mágica ao lado de Sophie. As duas se casaram no outono como era o seu sonho e ainda conseguiram aproveitar a lua de mel em uma pequena viagem para Europa que foi presente dos sogros. Foi a primeira vez que Quinn havia saído do país e ela não lembrava de ter se sentido tão feliz.
Os primeiros anos de casamento foram perfeitos! As duas continuaram vivendo no apartamento de Brian, enquanto Quinn estudava e trabalhava, amando a nova fase da sua vida. Enquanto isso, Sophie conseguiu um emprego com a ajuda dos contatos de Brian, no qual era técnica assistente de um time de High School, trabalhando especificamente com os quarterbacks. No entanto, ela rapidamente conseguiu mostrar sua aptidão e um pouco antes de Quinn se formar na faculdade direito, Sophie conseguiu um emprego como técnica principal em uma outra escola de High School em Philadelphia.
Quando Quinn passou na ordem e virou advogada oficialmente, ela teve a sensação de que havia conquistado todos os seus sonhos e que aquela era a maior felicidade do mundo, mas ela estava enganada. Nada que viveu e nenhuma daquelas alegrias, por maiores que fossem, podiam ser comparadas com a sensação que teve quando virou mãe.
Um ano depois de se formar na faculdade de direito, ela e Sophie decidiram que era hora de formarem uma família. Elas já haviam conversado sobre aquele assunto incontáveis vezes desde o casamento e Sophie estava cada vez mais ansiosa para tornarem os planos realidade.
As duas haviam decidido que não queriam engravidar e sim adotar, porém não queriam ficar anos esperando um bebê. As duas queriam fazer parte do sistema de pais temporários e dar lares para crianças e adolescentes que precisavam de uma família. Depois de tudo que viveu com sua mãe, Quinn poderia facilmente ter virado uma daquelas crianças e jovens no sistema e queria poder ajudar da melhor forma como podia. Com o apoio de Adam, que continuou sendo um grande amigo delas por todos aqueles anos, as duas conseguiram uma licença para serem mães temporárias. No entanto, elas sabiam que queriam mesmo é oferecer lares permanentes. E foi assim que Anne chegou!
Quinn e Sophie tinham 27 anos quando Adam levou Anne para morar com elas. A menina de 8 anos já tinha passado por muita coisa em sua vida e Adam era o responsável pelo seu caso. Ela havia precisado sair do último lar que estava, pois a sua mãe temporária estava com câncer e não tinha mais como cuidar de nenhuma criança.
Logo de cara elas se apaixonaram por Anne e Anne por elas e já haviam iniciado o processo de adoção. Decidiram assim sair do apartamento em busca de mais espaço e acabaram indo morar na casa que Sophie crescera. Brian e Helen já não moravam lá há algum tempo, pois foram para um lugar menor na cidade e ficaram felizes em ceder o espaço, que havia sido alugado, para as duas poderem economizar para comprarem a própria casa.
Depois de um ano da chegada de Anne, ela já estava completamente adaptada e Adam confiou nelas para cuidarem de mais uma criança.
Deshaun Oliver Junior, mais conhecido como DJ, teve uma história de vida ainda mais difícil que a de Anne. Depois de nascer foi abandonado por sua mãe e quando completou quatro anos seu pai foi preso, o que fez com que ele fosse para o sistema. Ele passou por vários lares temporários conturbados, não conseguindo ficar em nenhum por mais de 6 meses. Assim que as duas conheceram a história triste do menino de 6 anos, rapidamente decidiram que iram dar a ele o lar permanente e a estabilidade que ele sempre precisou.
As duas acreditaram que seria um processo de adaptação parecido com o de Anne, mas estavam terrivelmente enganadas...
Annie estava com 9 anos e era a filha perfeita! Ela era comportada e respeitosa. Estava sempre disposta a agradar e fazia absolutamente tudo que as duas pediam. Já o DJ, com apenas 6 anos, já havia virado a casa de cabeça para baixo.
Desde o momento que chegara, o menino havia se mostrado resistente para fazer parte da família. Nunca participava de nada e vivia desrespeitando todos, incluindo Anne. Na escola seu comportamento era semelhante e ele já havia arranjado algumas brigas. Constantemente Sophie era chamada para conversar com o diretor e ele já havia ameaçado expulsão mais de uma vez.
Nada que tentavam parecia fazer nenhum efeito e DJ continuava com suas enormes barreiras.
Depois de seis meses com DJ em casa, Quinn e Sophie, pela primeira vez, não estavam na mesma página. As duas brigavam constantemente sobre a melhor maneira de lidar com a situação. Enquanto Quinn acreditava que a melhor forma era ter paciência, Sophie achava que elas precisavam ser mais firmes e mostrar a DJ as consequências de seus atos.
Adam ajudava como podia com dicas e inclusive havia recomendado um grupo de apoio para elas frequentarem, assim como uma terapeuta para DJ, porém nada ainda fazia efeito e o menino, apesar de ser obrigado a comparecer em todas as sessões, nunca falava nada.
– O que você está fazendo aí? – Sophie assustou-a aparecendo na garagem – Eu vi você chegando há 10 minutos – disse irritada.
Quinn respirou fundo antes de sair do carro finalmente.
– Já estou indo...
– Precisamos conversar – falou estressada.
– O que aconteceu?
– Ele foi expulso.
– O que? – Quinn perguntou surpresa – O que aconteceu?
– O que você acha que aconteceu? – falou sem paciência – Outra briga!
– Ele está machucado? – perguntou preocupada.
– Ele está bem – desmereceu Sophie – O outro menino nem tanto... Vários hematomas...
– Meu Deus! – Quinn massageou a cabeça, ela não queria lidar com mais aquilo – Não tem nada que possamos fazer para reverter isso? Uma expulsão é um pouco drástico.
– É a terceira briga dele na escola – Sophie argumentou.
– Mas essa é uma situação delicada! Você não conversou com o diretor?
Sophie irritou-se com o comentário.
– Eu conversei com o diretor! Todas as vezes que ele se encrencou eu falei com o diretor!
– Eu sei, mas não tem como pedir mais uma chance?
– Quinn, eu não tenho nem mais cara de pau de pedir nada para o diretor! E o DJ precisa aprender que as ações dele têm consequências.
– Ele precisa de estabilidade – argumentou – Talvez a gente ainda consiga falar com diretor.
Sophie ficou claramente muito irritada.
– Talvez você tivesse conseguido convencer ele se estivesse presente em pelo menos uma das milhares de vezes que fomos chamadas para falar com o diretor – falou e saiu da garagem sem esperar a resposta.
Quinn respirou fundo, tensa, antes de finalmente entrar em casa.
– Oi, mãe – Anne recebeu-a com um abraço carinhoso.
– Tudo bem, meu amor?
– Tudo. Já terminei o meu dever de casa – falou sorridente – A gente pode assistir filme depois da janta?
– Claro! Como combinamos! – falou dando um beijo grande na sua bochecha.
– O jantar está pronto – Sophie falou tentando esconder um pouco do mau humor, mas em vão.
– Só vou tomar um banho rápido e já venho – Quinn falou.
– Aproveita e chama o DJ quando voltar. Ele está no quarto desde que chegou.
Apesar de tomar um banho quente e colocar uma roupa confortável, Quinn não ficou nem um pouco relaxada. Estava até sentindo um pouco da falta do tumulto do escritório.
Ela virou a maçaneta da porta do quarto de DJ, mas a porta estava trancada.
– Querido, – chamou, mas não obteve resposta – Abre a porta, por favor.
Ela ouvia o silêncio enorme vindo do quarto e teve que insistir mais algumas vezes até ouvir a resposta.
– Vai embora! – ele gritou.
– Deixa eu entrar. Vamos conversar!
– Eu não quero conversar!
– DJ, abre a porta – falou um pouco mais séria.
– Vai embora!
Respirou fundo mais uma vez.
– Vamos jantar e conversar depois sobre o que houve, tudo bem?
– Eu não vou! – ele continuou.
Ouvindo o que estava acontecendo, Sophie foi até a porta e bateu de forma violenta.
– Abre essa porta, agora! – falou irritada.
– Não vou abrir! – ele gritou mais irritado – Vai embora! Eu não quero falar com você! – gritou e as duas passaram a ouvir o barulho de algum objeto sendo jogado ao chão.
– Você tem dez segundos para abrir essa porta ou eu vou arrombar! – Sophie falou sem paciência.
– Calma – Quinn tentou falar, mas aquilo só deixou a esposa mais irritada.
– Acabou o tempo! – falou enquanto ouvia os gritos descontrolados do filho do outro lado da porta.
– Eu tenho outra chave – Quinn falou dirigindo-se a sua cabeceira para pegar a chave reserva e abrir o quarto.
– Você perdeu o direito de usar a sua chave! – Sophie falou indo pegá-la, mas ela não estava mais na porta, estava na mão dele.
– Não vou te dar! – ele gritou.
Sophie nem se deu ao trabalho de responder e foi até o filho para pegar a chave a força. Ele se debateu algumas vezes, gritando “não” e chutando-a, mas ela acabou conseguindo pegar depois de certo esforço.
– Essa porta não fica mais trancada! – Sophie falou séria, antes de sair do quarto para guardar as chaves.
Quinn aproximou-se calma.
– Vamos jantar? – falou com carinho.
– Não estou com fome – ele falou emburrado.
Ela respirou fundo e sentou-se no chão ao seu lado.
– O que aconteceu na escola?
– Ele era um idiota!
– Já conversamos que não se resolve nada com briga – ela lembrou e ele ficou em silêncio – Você está bem?
Ele continuou sem responder e levantou-se para deitar na cama.
– Vou dormir.
– Vamos jantar? – chamou, mas ele não respondeu.
Quinn respirou fundo e deu-se por vencida.
– A gente conversa melhor amanhã – falou apagando a luz e saindo do quarto.
Anne estava calada sentada à mesa do jantar quando ela chegou. Claramente estava sem graça com a situação e o clima na janta ficou tenso, mas Quinn tentou amenizar perguntando a Anne sobre o seu dia na escola.
As três depois assistiram ao filme prometido com a filha antes de irem dormir e DJ continuou em seu quarto.
– Não esquece que amanhã já temos que deixar as malas das crianças prontas porque meus pais vão passar aqui sexta cedinho – Sophie falou enquanto trocava de roupa e colocava seu pijama.
– O que? – Quinn falou automaticamente, sem se lembrar do que a esposa falava.
– A reunião de 10 anos, você esqueceu? É nesse fim de semana.
– Ah sim – falou lembrando-se – A gente vai mesmo?
– Claro! Já compramos a passagem há meses!
– Eu sei, eu sei, mas você acha que é uma boa deixarmos as crianças agora? DJ acabou de ser expulso!
– É uma viagem curta e vai começar o recesso de primavera mesmo. Vamos voltar e ainda ter alguns dias para achar uma nova escola.
– Mesmo assim é uma situação delicada. Acho que devemos estar perto dele nesse momento.
– São apenas dois dias! – argumentou.
– É só uma reunião chata... Você quer mesmo ir para Ohio? – Quinn falou.
– Sim! – Sophie respondeu de forma enfática – Eu realmente quero ir! É a reunião de 10 anos! Já confirmei com o Kevin que a gente vai!
– Kevin vai entender. Nós precisamos estar aqui agora! DJ precisa saber que estamos do lado dele!
Sophie perdeu a paciência.
– Mas você nunca está aqui. Você está sempre trabalhando! Eu fico aqui lidando com os problemas do DJ todo dia.
– Você não está sozinha! – Quinn falou de forma amena, tentando acalmar a esposa.
– Mas parece que estou! Quantas vezes você já foi no grupo de apoio que o Adam sugeriu?
– É bem no meio da tarde! Eu estou no trabalho! – argumentou.
– Eu também trabalho...
– Suas horas de trabalho são diferentes das minhas e você sabe...
– Mas você precisa arranjar tempo para isso também! – argumentou – Eu estou exausta! Você sabe quantas vezes ele me bateu só essa semana? Eu levei no mínimo uns quatro chutes e dois tapas na cara! – falou irritada – Ele tem crises de raiva quase que diariamente! E aí você chega e quer tirar ele do castigo que eu coloquei e piora tudo!
– Ele passou por muita coisa... – tentou argumentar.
– Eu sei! Mas ele está totalmente descontrolado! E você não lida com as crises! Eu lido!
– Eu quero estar mais presente! Justamente por isso que eu não quero viajar agora – explicou.
– Mas eu preciso disso! – Sophie falou séria – Eu preciso de um descanso.
– Amor... – Quinn tentou se aproximar, mas Sophie afastou-se.
– Eu vou no encontro – falou firme – Se você não quer ir, então você fica. Eu vou! – disse antes de sair do quarto, deixando Quinn sozinha com seus pensamentos.
Fim do capítulo
Oi, meninas!
Sophie e Quinn voltaram!
Toda semana vou postar um capítulo!
Espero que gostem!
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Marta Andrade dos Santos
Em: 24/04/2022
Eita de ruim.
Resposta do autor:
Pois é... elas tao em crise...
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