Olá meus queridos, boa tarde!
Que saudade que estava de vocês… Mil desculpas pela demora, mas estou fazendo o possível para conciliar minhas histórias e as publicações na Amazon.
Eu já sabia que esse capítulo me traria problemas e dificuldades para poder desenvolver, só não esperava que ele me deixasse esgotada. Mesmo assim, espero que agrade a todos!
Boa leitura!
Inesperado
Após encarar um enfadonho voo de quase seis horas, Clarisse finalmente estava do outro lado do país, em Los Angeles, centro da indústria de cinema e televisão. Respirou profundamente algumas vezes assim que saiu do aeroporto, poderia ser apenas a ansiedade tomando conta de si, mas não, não era apenas a ansiedade, era também a maldita confusão de sentimentos que cada vez mais minava a sua sanidade. Havia cometido uma falta grave, tentou se enganar achando que aquilo não teria relevância, que se colocasse a cabeça no lugar tudo seguiria bem e foi assim que tomou a iniciativa e seguiu viagem após pedir um tempo breve para o irmão que felizmente não lhe encheu de questionamentos.
Talvez ela realmente fosse a rainha das fugas, como seu irmão gostava de enfatizar, sempre esquivando-se de problemas como se os mesmos não fossem capazes de lhe perseguir, porém não poderia estar mais enganada... Clarisse já se utilizara de tal artifício no passado e os resultados de suas ações culminaram em sua atual realidade. Amava Silena, iria se casar com a atriz, mas era incapaz de negar a existência de sentimentos por Annabeth, sentimentos que estavam lhe arrebatando em uma crescente assustadora.
Olhou para o celular enquanto andava de um lado para o outro, não fazia tanto tempo desde que falou com a sua noiva. Será que aquele era o momento certo? Será que não estava se precipitando? Não, não poderia retroceder agora... Magoaria Silena, mesmo que ela estivesse se mostrando uma pessoa extremamente compreensiva dentro da atual realidade em que se encontravam.
Tentou focar sua atenção em uma distração qualquer que não fossem os aplicativos com mensagens estrategicamente ignoradas e acumuladas. Colocou os fones de ouvido, música era sempre uma boa opção, principalmente quando tentava conter a agitação, contudo a letra da música escolhida de forma aleatória se misturava à insegurança do primeiro encontro que teria com a mãe de Silena, flashs e sensações provocadas pelo beijo caloroso que trocara com sua prima Annabeth a poucos dias.
A indicação de uma mensagem chamou-lhe a atenção e um sorriso de alívio se fez presente no rosto até então fechado e levemente apreensivo. Seus olhos buscaram pela direção indicada e Clarisse tentou não despencar o queixo quando seus olhos pousaram sobre o agressivo, porém elegante Bentley Continental GTC... Apertou a alça da bolsa enquanto caminhava rapidamente em direção ao veículo.
- Você é maluca! - constatou ainda espantada quando adentrou o carro luxuoso, o sorriso incrédulo e preocupado. - Não quero te causar problemas... - A chef estava maravilhada com os detalhes totalmente artesanais, a pele de alta qualidade, a madeira polida e os singelos cromados.
Silena sorriu, pouco se importando se chamaria atenção das pessoas ao redor ou qualquer coisa do tipo por conta do veículo, pousou o dedo sobre os lábios bonitos da chef:
- Não poderia buscar a minha noiva com um carro qualquer. - justificou-se a atriz com um sorriso amplo, ainda não conseguia acreditar que Clarisse estava ali. - Não se preocupe, é a primeira vez que tiro o meu bebezinho da garagem.
Mal teve tempo de completar a frase quando La Rue assaltou-lhe os lábios com uma intensidade que lhe lembrou imediatamente os velhos tempos, sentiu-se momentaneamente zonza com a investida inesperada.
- Senti sua falta... - sussurrou contra os lábios de Beauregard, deslizando o nariz contra os cabelos negros, fechando os olhos ao sentir o perfume delicado.
- Eu também. - Sua voz falhou enquanto dava a partida, era melhor saírem o quanto antes.
**
Silena fez perguntas pontuais enquanto estavam no caminho, ela conhecia Clarisse muito bem e não queria deixá-la ainda mais desconfortável com relação ao tão esperado jantar. Queria ter tempo o suficiente para levar sua chef cafajeste em lugares que com certeza ela adoraria, porém bem sabia que aquela seria uma visita curta, então aproveitaria cada segundo possível... Mas La Rue não estava ajudando.
Não demorou muito para que os lábios da sua querida noiva voltassem a lhe testar, deslizando por seu pescoço, espalhando arrepios por todo o seu corpo; os olhos azuis estavam atentos ao caminho, mas uma de suas mãos deslocou-se até a nuca de Clarisse distribuindo um carinho delicado, estimulando a chef a continuar e bem, sua querida chef prosseguiu de forma deliciosa.
O toque já bem conhecido subiu-lhe pela coxa adentrando seu vestido, alcançando sua intimidade enquanto os lábios de Clarisse exerciam uma pressão levemente maior contra o seu pescoço.
- Você só pode estar brincando... - mordeu os lábios reprimindo um gemido.
- Acha que vou deixar barato o que você fez comigo?!
Sentiu novos arrepios com o tom de voz tão característico e o sorriso que se formou contra a sua pele... Clarisse havia levado muito a sério a sua brincadeira pelo telefone quando esteve em New York, agora ela sofreria as doces consequências. Sequer conseguiu acreditar no que seus olhos registraram até ser invadida por uma nova onda de prazer. Os lábios deixaram seu pescoço apenas para serem direcionados até o ponto onde antes estavam os dedos de Clarisse.
- Porr*... - soltou afundando os seus dedos nos cabelos castanhos, se deleitando com aquela doce loucura.
Pisou ainda mais no acelerador, mesmo sabendo que não era nada prudente, mas valia o risco e a excitação... Aquela era a "sua" Clarisse, de quem tanto sentira falta. Seus gemidos se misturavam ao ronco imponente do veículo, sua mão firme no volante enquanto a outra deslizava contra os cabelos de La Rue; aguentou pelo máximo que pôde, mas a prudência lhe levou a estacionar no acostamento.
- O que houve? - questionou Clarisse com a respiração pesada assim que o veículo parou, ainda estavam na estrada, porém bem longe de maiores concentrações.
- Eu quero você, agora... Sem desculpas! - ordenou de forma clara enquanto suas mãos se direcionaram até a calça da morena.
- Podemos ser presas, você sabe disso, não sabe?! - tentou argumentar o óbvio, mas seu corpo parecia pouco se importar, já se rendendo ao toque de Silena.
- Propriedade privada, meu amor... - informou Beauregard enquanto lhe beijava o pescoço e o maxilar com vontade. - Posso fazer o que quiser, como quiser e quando quiser.
Clarisse que já não estava muito disposta a discutir sobre aquilo, só esperava por qualquer desculpa para seguir com a sandice que agora havia acometido as duas. Baixou o banco em que se encontrava e com cuidado seguiu Silena para a parte traseira tentando não chutar ou acionar acidentalmente qualquer botão; o veículo era confortável, mas travava qualquer movimento mais amplo de sua parte.
Postou-se de joelhos no banco logo atrás da atriz, seus lábios alcançaram a nuca, deixando-se embriagar ainda mais pelo cheiro de Silena. Suas mãos desceram com urgência as alças do vestido, expondo os seios para seu completo deleite; beijou a linha da coluna de forma faminta, arrancando mais um gemido da mulher a sua frente assim que suas mãos se apoderaram dos seios desnudos... O quadril roçando contra o seu de forma lenta e sinuosa; precisava de Beauregard, precisava ser intoxicada de todas as formas possíveis, precisava se livrar de todas as sensações e sentimentos indevidos que a dúvida lhe causara.
Continuou a beijar os ombros de Silena enquanto tateava o bolso em busca do preservativo, colocou-o rapidamente, suas unhas rasparam contra as coxas bem torneadas subindo até a intimidade de sua querida noiva, mais um gemido audível quando seus dedos adentraram de forma lenta e firme, estava perfeita.
- Clarisse...
Era uma ordem e às vezes a chef adorava recebê-las de bom grado. Suas mãos elevaram o vestido delicado até acima da cintura, Clarisse mordeu os lábios com uma bela visão. Invadiu-a sem qualquer aviso prévio, fechou os olhos firmemente, seus gemidos agora acompanhavam os de sua amada.
Silena apertou as coxas no intuito de recuperar um fio sequer de controle, mas não foi capaz, Clarisse estocou-lhe ainda mais fundo, se movendo de forma tortuosa ao sair e lhe consumindo forte e rápido. Cravou as unhas na pele que cobria o encosto do banco e empinando ainda mais o quadril.
- Sentiu minha falta, não sentiu?! - A voz rouca contra o seu ouvido fez as pernas da atriz perderem a força, Clarisse envolveu sua cintura e a outra mão tocou-lhe de forma completamente despudorada.
O som sôfrego que saiu da garganta de Beauregard lhe excitou ainda mais, sugou-lhe o pescoço antes de deslizar o rosto contra a leve camada de suor impregnada na pele, aspirando o aroma delicado misturado ao sex*. O corpo de Silena tremeu com a força das novas estocadas e Clarisse teve que se controlar ao máximo para não chegar ao seu ápice antes da noiva tamanha foi a pressão em seu membro... Seu último gemido foi abafado contra os cabelos negros assim que Silena se rendeu aos seus toques.
Ambas demoraram a restabelecer a respiração e os batimentos, permaneceram abraçadas em um silêncio confortador, Silena virou um pouco o rosto recebendo um beijo longo e delicado. Ajeitaram-se de forma mais confortável no banco traseiro, permanecendo por mais alguns minutos trocando carícias.
- Você veio completamente mal intencionada... - acusou a atriz com a voz levemente arrastada e sinuosa.
Clarisse sorriu daquela forma que tanto amava, falsamente inocente, como se não tivesse nenhuma noção do que a outra estava falando. Trocaram mais alguns pequenos selinhos, precisavam seguir caminho, porém desejaram por tanto tempo um momento só delas, sem todos os problemas e pressões, que não se importavam de perder mais alguns minutos daquela forma.
- Ainda não consigo acreditar que está aqui comigo. - confessou a atriz de forma boba enquanto seus dedos traçaram delicadamente os lábios macios da chef. - Quando me ligou para falar sobre o jantar e que estava vindo, eu poderia jurar que era brincadeira ou que provavelmente teria algum imprevisto com o trabalho.
Apesar de fazer uma expressão falsamente ofendida com as palavras da noiva, Clarisse não confirmou nem negou, até aquele momento até mesmo ela não conseguia acreditar que estava em Los Angeles... Não se sentia plenamente pronta para dar um passo tão significativo quanto aquele, porém não poderia simplesmente ignorar que iriam se casar, gostando ou não seria importante conhecer sua sogra antes do casamento e não às vésperas da cerimônia.
~***~
Quando Piper ligou para Percy ela não imaginaria que o seu amigo estaria na sua casa em menos de meia hora depois. Já era tarde, mesmo assim o sommelier não conseguiria colocar a cabeça no travesseiro e esperar até o dia seguinte para tirar aquela história a limpo.
Ele precisava comprovar cara a cara que aquilo não era fruto de sua imaginação e lá estavam os dois, jogados no sofá, um de frente para o outro, em uma desinteressante disputa de quem acertava mais salgadinhos na boca do outro. Piper agradecia por Jason não estar em seu apartamento, por mais que adorasse desfrutar de sua companhia, aquele era um assunto que no máximo dividiria com Jackson.
- Percy, calma, não é nada assim tão grave. - repetiu massageando as têmporas, obviamente já arrependida de ter compartilhado tal situação. - Eu prometi que iria até sua casa e assim o faria, não precisava ter aparecido aqui como um furacão.
- Jamais! - cortou rapidamente. - Se mamãe desconfiasse de algo, já era! Ela nos torturaria até saber o que está acontecendo e sem chance de conversarmos no restaurante, muito trabalho e pouca privacidade, fora que Clarisse me mataria se descobrisse.
- O humor da Annie está péssimo... - soltou o ar como uma bexiga, estava exausta dos últimos dias. - Ela está tentando disfarçar a todo custo, mas está chateada, elas não se falaram desde então e você conhece bem a loirinha, é tão orgulhosa quanto a mãe quando quer.
Percy olhava para um ponto fixo na parede, como se assim fosse capaz de resolver todos os mistérios e problemas do universo. Absorvia mais uma vez todas as informações repassadas pela amiga, estava mais chateado de saber sobre o beijo por Piper do que surpreso pelo ato em si, mas não encheria ainda mais a paciência de McLean.
- É justo, a Annie deu o primeiro passo, baixou a guarda e mostrou o que sente, está nas mãos da minha irmã estúpida saber o que vai fazer agora. - explanou após acertar um salgadinho na bochecha de Piper. Ambos pareciam duas crianças sujas de migalhas. - Estranhei quando ela deu uma de "Carmen Sandiego" completamente do nada, mas depois que você me telefonou, tudo se interligou.
- Onde ela está agora?! - Era a vez de Piper analisar qualquer ponto na parede com extremo interesse, porém atenta a qualquer palavra que seu amigo falasse.
- Los Angeles... Deu a desculpa de que tinha pendências do casamento para resolver. - Ele se ajeitou no sofá e bateu as migalhas de salgadinhos da sua camisa. - Como um sentimento é capaz de resistir a tantos anos?! - desviou o assunto tentando compreender a bola de neve que estava se formando. - Isso é insano!
- Pergunte ao Nico, afinal ele tem muita experiência com isso... - alfinetou recebendo um olhar de reprovação do amigo quase que imediatamente.
- O foco aqui é Claribeth, ok?! - gesticulou de forma expansiva como de costume quando estava agitado. - Temos que saber o que vamos fazer para nossa própria sobrevivência... Se o humor da Annabeth está tão terrível como você disse, o da Clarisse provavelmente não vai estar dos melhores também, principalmente após o resultado desse tal jantar.
Piper estreitou o olhar e ficou quieta por alguns instantes, colocando suas engenhosas engrenagens para trabalhar, Percy lhe acompanhava como se a qualquer momento uma ideia fosse pular da cabeça de McLean... Por fim a morena sorriu, levando o amigo a compartilhar do ato, pois bem sabia que ali havia surgido algo concreto.
~***~
Clarisse já esperava encontrar uma propriedade tão luxuosa quanto a que a família Beauregard possuía na França, porém a beleza do imóvel de 10 mil acres em Hollywood Hills com vista para o oceano pacífico era algo inimaginável até mesmo para ela. Seus olhos registravam todas as mínimas maravilhas captadas enquanto Silena apontava em diversas direções e lhe explicava animadamente o que era cada coisa.
Segundo a atriz, a mansão possuía cinco quartos, piscina ao ar livre, uma área de boliche estilo francês, três instalações anexas para hóspedes e um requintado jardim de frutas frescas.
- Quem sabe em breve também teremos uma horta... - completou adentrando o espaço pessoal de Clarisse e lhe roubando um beijo delicado. - Mas tenho que consultar a minha chef primeiro. - finalizou com uma piscadela sugestiva.
A morena de olhos verdes sorriu com a visível animação da noiva, mas também sentiu um calafrio se espalhar por todo o seu corpo. Aquela era uma forma sutil de Silena dizer que "dividiriam o mesmo lar", porém o que seria uma alegria inigualável para alguns era motivo de incertezas para a chef.
O esperado e óbvio era que ambas vivessem juntas, afinal por mais modernos que os casais estivessem se tornando, era comum que desfrutassem de certa proximidade e não que vivessem em lados extremos do país. O problema era que Clarisse havia retornado aos Estados Unidos com uma missão e não poderia simplesmente largar o "Jackson's" justamente agora que o restaurante estava se reerguendo.
Se encaminharam até a área da piscina que também ficava próxima a quadra de tênis. Seus pés lhe levaram automaticamente e ela só esperava que sua feição não estampasse todas as dúvidas internas que pareciam fervilhar como um amontoado de grãos de milho, prontos para estourar.
- Pelos sorrisos nesses rostinhos bonitos e o evidente atraso, só posso constatar que tem sex* envolvido no processo.
A voz tirou Clarisse de seu torpor, os olhos verdes focaram na figura esguia, elegante e bela. Seu sorriso ampliou, assim como o da oriental... Era Drew Tanaka, agente de Silena e uma antiga amiga de ambas. Trocaram um abraço caloroso assim como a saudade de considerável tempo sem se verem.
- Você ainda continua um verdadeiro pedaço de mal caminho, La Rue. - elogiou olhando-a de cima a baixo de forma exagerada, arrancando mais risadas do casal. - Pelos deuses Silena, essa mulher é como vinho, só melhora com o tempo!
- Você anda muito assanhadinha, Srta. Tanaka... - Silena abraçou de forma possessiva a cintura de uma Clarisse que tentava não ser tomada pelo rubor. - Acho que preciso lhe dar alguns dias de folga.
- Ahhhh... Eu preciso mesmo. Quem tem uma cliente como você não tem paz na vida, meu amor! - alfinetou Drew com o olhar estreito, tentando parecer ameaçadora com seus gestos. Adentrou ainda mais o espaço da chef e segurou-lhe o queixo, fitando os olhos bonitos. - Da próxima vez que você fizer a minha garota sumir do mapa deixando todos malucos eu mesma darei um jeito de te sequestrar e aprisionar, entendeu, minha querida chef cafajeste?!
- Sim, senhora! - concordou La Rue com um sorriso largo, duvidava das palavras de Drew, mas não o suficiente para achar que seria uma ameaça em vão, a oriental era a melhor amiga de Silena e como tal faria qualquer coisa para vê-la bem.
**
As três aproveitaram o dia bonito, a temperatura amena e a piscina, colocaram a conversa em dia e Drew estaria presente no jantar, quem sabe assim Clarisse se sentisse menos tensa, acompanhada de alguém que lhe era conhecida, além de Silena.
A chef até quis fugir para a cozinha como de costume, além de ser o seu lugar de refúgio em momentos de confusão, La Rue também não queria confiar o jantar da sua vida nas mãos de qualquer pessoa, mesmo que tal escolha evidentemente fosse extremamente eficiente, afinal era escolha de sua noiva... Porém, Silena lhe deu ordens estritas para não se aproximar do recinto.
- Sei que minha mãe adoraria apreciar os seus dons culinários, mas hoje quero apenas a minha noiva e não a chef La Rue. - argumentou da forma mais convincente possível. Clarisse partiria logo no dia seguinte e Silena desejava aproveitar cada singelo segundo da melhor forma possível. - Você está linda... - comentou lhe dando um breve beijo nos lábios. - Não se preocupe, vai dar tudo certo... Você está linda! - elogiou mais uma vez. Clarisse combinava perfeitamente com o mix de alfaiataria elegante e peças esportivas.
Se dirigiram até uma área reservada ao ar livre com uma magnífica vista para o mar, haviam dois sofás de design rústicos, porém elegantes, uma mesa de centro que seguia a mesma linha - traços simples e belos - e uma lareira, tornando o ambiente único e aconchegante.
Adele, Chiara e Drew compartilharam de alguns drinks antes que a presença dos convidados fosse oficialmente anunciada. A chef levantou-se em prontidão, deixando sua taça de lado e alisando o tailleur de tom escuro.
- Silena, você não me disse que sua mãe estava namorando um cara super gostoso... - comentou Drew no tom mais baixo possível, mas a expressão de surpresa era impagável.
- É a primeira vez que vejo ele também, lembra?! - rebateu disfarçadamente.
Clarisse sentiu os músculos tencionarem automaticamente assim que seus olhos pousaram sobre o casal recém chegado, Silena passou o braço pelo seu e entrelaçou seus dedos como se pressentisse sua inquietude.
A jovem atriz cumprimentou sua genitora calorosamente, trocaram algumas rápidas palavras em francês e depois dirigiu-se ao acompanhante de sua mãe. La Rue não conseguiu decifrar as palavras, seu coração martelava descontrolado, incapaz de ordenar seus pensamentos de forma coerente... Precisou respirar fundo para se recompor e manter a máscara que havia vestido.
- Finalmente poderei compartilhar da ilustre companhia daquela que flechou o tão inalcançável coração de minha filha. - A voz da mulher era melodiosa, acolhedora, mas seus olhos eram como os de sua companheira, carregados de beleza e uma intensidade quase voraz.
Sabia que a Sra. Beauregard era uma mulher estonteante, conhecia bem sua futura sogra graças a sua noiva que sempre adorava compartilhar das mais diversas histórias daquela que tinha como seu maior exemplo. Esperava encontrar uma mulher tão bonita e elegante quanto Silena, mas contemplá-la com os próprios olhos era surreal, não havia expectativas capazes de atender a tamanha beleza.
- O prazer é meu, estou realmente sem palavras por finalmente conhecer a mulher que trouxe ao mundo alguém tão especial como Silena. - Clarisse foi surpreendida com um abraço caloroso por parte da matriarca.
- Certamente minha filha já havia me advertido de seus encantos, mas creio que não serei capaz de resistir. - brincou dando uma breve piscadela para a filha. - Pelo visto Silena também partilha do mesmo gosto refinado, Srta. La Rue.
Afrodite fez um gesto delicado ao acariciar o queixo do homem postado ao seu lado, ele deu um sorriso mínimo em concordância, porém parecendo mais pálido que minutos antes.
- Mamãe... - advertiu Silena, bem sabia o quanto a mais velha apreciava o rubor causado por suas palavras.
- Ares. - A chef dirigiu-se ao homem de forma firme e estendendo-lhe a mão. O olhar escuro e intrigado lhe analisava com ainda mais curiosidade. - Clarisse La Rue, não se lembra de mim? - enfatizou seu sobrenome.
- Não me diga que vocês já se conhecem?! - Afrodite parecia realmente maravilhada com tal possibilidade, Silena e Drew se entreolharam como se estivessem tão perdidas quanto.
- Ares foi um grande amigo do meu pai no exército. - completou Clarisse com o seu falso teatro antes que pudesse estragar alguma coisa.
- Sim, claro... - limpou a voz antes de compactuar com a encenação. - Você está muito diferente, Clarisse, quase não lhe reconheci.
Finalmente seu pai havia lhe reconhecido, os olhos escuros do ex-militar lhe fitaram com ainda mais intensidade e uma leve chispa de apreensão que Clarisse reconheceu como medo, medo de ser desmascarado em frente à uma mulher que definitivamente alguém como ele não deveria merecer... Em todos esses anos ela jamais pensou em como seria e qual seria sua reação caso encontrasse o seu pai e agora que estavam frente à frente ela só pensava em manter-se no controle pelo tempo que fosse necessário.
**
O pequeno grupo se encaminhou para o aconchego da mansão onde compartilharam de bebidas e relatos, menos Clarisse, a chef se conteve com a ingestão de álcool, tinha receio de qual poderia ser seu comportamento movido pela quebra de certos limites regidos pela sobriedade.
A verdade é que havia pensado que o jantar seria um verdadeiro terror, tivera experiências ruins o suficiente com sua tia Athena e tal relação refletiu em sempre esperar o pior. Silena e Drew sabiam muito bem que não estavam juntas por interesse, por mais que sua noiva tivesse uma condição visivelmente mais abastada, Clarisse também vinha de uma boa família, construiu uma carreira sólida, tinha seu prestígio - por mais que preferisse estar fora do foco dos holofotes -, mas tal certeza se estendia a matriarca da família?!
Qualquer um acharia que Clarisse era uma aproveitadora, com uma tacada de sorte se casaria com a única herdeira de uma família rica, influente e poderosa... E esse era um dos principais pontos para que até então o relacionamento estivesse sob "panos quentes". Não julgaria se Afrodite estivesse analisando todas as possibilidades, pois ela mesma faria o possível para cuidar de Silena se a mesma fosse sua filha.
Porém o jantar seguiu de forma estranhamente tranquila.
- Tudo bem? - A voz de Silena trouxe a chef novamente à realidade, juntamente com o toque morno em sua mão sobre a mesa.
- Sim... - confirmou com discrição, esperava que nenhuma pergunta tivesse sido direcionada a ela enquanto esteve fora do ar.
Seus dedos se entrelaçaram aos da atriz e com uma singela troca de olhar tranquilizou sua companheira, estava bem na medida do possível. Clarisse procurou interagir e ser simpática, reconheceu na Beauregard mais velha alguns trejeitos de sua noiva e também um dom peculiar de chamar a atenção das pessoas ao redor. Não sabia o que Silena havia relatado sobre elas, mas Afrodite conduzira a ocasião de forma incrivelmente leve e divertida, evitando assuntos que definitivamente poderiam colocar a chef em uma situação delicada... Sorriu de forma ampla e verdadeira por inúmeras vezes, algo raro, e flagrou Silena lhe fitando de uma forma boba e apaixonada, algo nada típico da mulher sempre forte, intensa e sedutora.
Estava tudo seguindo de forma perfeita, perfeita até ter que lidar com a voz insuportável de seu pai, respirou fundo por diversas vezes, concentrou-se no cálice de água, nos detalhes da prataria, mas a cada palavra que saía da boca de Ares sua raiva seguia ainda mais palpável... Tinha o dever de suportar sua presença e mentiras até o final do jantar.
Como alguém poderia ser tão dissimulado?!
Clarisse não era exatamente uma pessoa desacreditada de mudanças, mas vindo de seu pai ela só conseguia pensar na pior das opções. Quantas mentiras ele contara até chegar ao patamar em que se encontrava?! Quantas mulheres já tiveram o desprazer de serem enganadas por aquele maldito sorriso?!
Mais um gole de água, sua mão estava ligeiramente trêmula... Seus pensamentos vagavam por todo o sofrimento que o homem sentado à sua frente havia proporcionado a sua mãe e a Sally Jackson, sua madrasta. Será que alguma vez ele contou a Afrodite que tinha dois filhos? Que espancou o mais velho por ser homossexual e que a filha mais nova carregava uma cicatriz que até hoje lhe servia como bilhete de como ele era um crápula?!
Seu celular vibrou, era quase como um sinal divino para que Clarisse pudesse empurrar todos aqueles sentimentos para o mais profundo de seu ser.
- Com licença... Meu irmão. - explicou-se rapidamente enquanto se distanciava da companhia dos demais. Na verdade não era Percy, mas achou mais adequado dizer que era o irmão na linha para poder se afastar um pouco e tomar o fôlego necessário para poder voltar.
A brisa que vinha do pacífico lhe trouxe alguma calmaria, ela pôde notar algumas risadas, provavelmente estavam se deslocando para a sala de estar.
- Piper... - sua voz soou levemente cansada assim que chamou pela amiga, mas não se importou, sabia que pelo menos com ela não precisava fingir.
Clarisse não era ingênua, uma ligação inesperada da Srta. McLean àquela altura só poderia significar uma coisa... Ela sabia sobre o beijo e mesmo que tentasse lhe enganar com certas firulas e rodeios a ligação se referia a Annabeth.
Passou a mão pelos cabelos, massageando brevemente o couro cabeludo próximo a nuca, estava psicologicamente exausta, não seria capaz de entrar em uma discussão com Piper, todavia duvidava que tal ligação chegasse a tal indesejável ponto.
Um convite... Parou para pensar por consideráveis segundos, provavelmente sua amiga só não desligou pois ainda conseguia escutar sua respiração.
- Eu não sei ao certo... - deveria ter negado a proposta, mas simplesmente não conseguiu. Lembrava-se de uma vaga promessa que fizera, negar o convite seria mais uma forma de fugir e sinceramente ela já estava cansada. - Me manda uma mensagem com o horário, não posso garantir nada no momento, mas posso tentar.
Piper parecia mais animada com a sua resposta e se ela estava satisfeita Clarisse também estava.
- Tudo bem com o seu irmão?
A voz grave chamou a atenção de Clarisse assim que encerrou a ligação, o sorriso sarcástico se fez presente e ela acreditava que só poderia estar delirando.
- Se você realmente se importasse com o SEU filho, teria entrado em contato alguma vez após espancá-lo como um animal irracional. - tentou conter ao máximo tudo o que estava engasgado até então, mas seu tom ainda saiu ríspido e arredio.
Ares deu alguns passos cautelosos, gesticulou levemente as mãos como um pedido silencioso de calma, diminuindo a distância entre os dois, mas até mesmo alguém como ele sabia reconhecer limites e o olhar da sua filha indicava que se arrependeria de qualquer passo a mais.
- Você está diferente... - comentou vagamente enquanto analisava os traços mais maduros de Clarisse. - está cada vez mais parecida com a sua mãe.
La Rue travou o maxilar no momento, ele não merecia falar qualquer coisa referente a sua mãe... Repetiu um mantra qualquer, se fez de indiferente, sentiu um aperto incômodo no peito.
- Vim aqui apenas para lhe agradecer. - pigarreou antes de continuar, não era algo de seu feitio. - Obrigado, por não ter contado a verdade.
- Não se engane, não fiz isso com algum apreço por você, fiz por Silena. - rebateu desviando os olhos do homem alto e de beleza peculiar. - Não faria nada capaz de magoá-la, mesmo que isso implique em ter que lidar com a sua companhia.
Mais um momento de silêncio entre os dois, porém não tão constrangedor como La Rue poderia prever. Eles nunca foram de conversas, Ares nunca soube o que significava ser um pai de verdade, a falta de tato para o momento era algo "normal".
- Eu não sou especialista em relacionamentos, mas a julgar pelo seu namoro de adolescência sempre desconfiei que se um dia chegasse a se casar, seria com a loirinha. - comentou vagamente enquanto entornava o resto da bebida ainda contida em sua taça.
Clarisse não esboçou nenhuma reação, sequer voltou a olhá-lo, não precisava ser um gênio para saber que ele estava se referindo a sua prima Annabeth... Escutou os passos indicando que o mais velho estava se afastando, provavelmente estaria voltando para a companhia de Afrodite, Drew e Silena, ela deveria fazer o mesmo.
Respirou fundo, passou a mão pelos cabelos e encheu o pulmão com a brisa reconfortante mais uma vez. Poderia mentir para si em não concordar com Ares, mas silenciosamente, em seu íntimo, ela pensara o mesmo por todos os anos que se seguiram.
~***~
Já era tarde quando Silena e Clarisse se dirigiram até os aposentos da atriz. O jantar correu melhor que suas expectativas, sua mãe havia adorado sua futura nora e tudo correu bem... Porém Silena Beauregard não era apenas uma mulher bonita, Silena era também inteligente e muito perspicaz. Por mais que tivesse desempenhado um exímio papel sabia que sua querida chef estava incomodada com algo.
Clarisse estava desabotoando a camisa quando sentiu sua aproximação, rodeou sua cintura, deslizando os dedos pelo abdômen firme.
- Vai me contar o que tentou esconder por toda a noite?! - sentiu La Rue tencionar sobre o seu toque, aproveitou o silêncio e a distração para retirar a camisa que ela trajava, jogando-a em seguida sobre a cama. - Tenho certeza que não deve ser algo relacionado a ligação, por mais que esteja curiosa sobre qual assunto meu cunhado queria tratar com tanta urgência.
- Você sabia... - Clarisse tentou conter a raiva que ainda fluía por suas veias e poros, não queria descontar o que estava sentindo em Silena; queria muito acreditar que sua noiva nada sabia, que aquilo não era uma tentativa de aproximação após tudo o que havia confidenciais a atriz. - Você sabia que aquele homem é o meu pai? - sentiu o toque até então delicado e confortador tencionar sobre sua pele.
Silena lhe virou segurando em seus ombros, queria estar cara a cara ao responder o questionamento de Clarisse; os olhos verdes transbordavam todas as dúvidas e anseios que tentava ocultar. Segurou-lhe o rosto e diminuiu a distância entre elas:
- Amor, eu juro que sequer suspeitava. - esclareceu com toda a leveza de sua inocência. - Mas devo confessar que comecei a desconfiar pela forma que você o olhava e bem... Você gostando ou não, existem semelhanças evidentes.
Clarisse rolou os olhos, como se tal comentário fosse quase como uma sentença de morte... Todavia, uma verdade quase que absoluta. Não era a primeira vez que escutava aquilo, mas desejava com todas as suas forças que fosse a última. Era difícil ser comparada a pessoa que mais detestava.
Silena lhe beijou os lábios, uma, duas, três vezes, quantas foram necessárias para lhe fazer esquecer aquele pequeno detalhe da noite agradável que desfrutaram.
- Ainda podemos aproveitar um pouco mais? - sugeriu levando as mãos da chef até o fecho do seu vestido.
~***~
Seus dedos correram pela pele negra exposta com delicadeza, já era madrugada, mas diferentemente de Silena, o sono não lhe fez companhia e os pensamentos estavam acelerados. Levantou-se da cama cuidadosamente e se vestiu, não se preocupando em abotoar a camisa, dificilmente alguém estaria acordado naquela hora.
Caminhou pelo corredor como um gato - silenciosa e despreocupada - refez o caminho que levava até a aconchegante área ao ar livre que desfrutara mais cedo com Drew e sua noiva, passando antes no bar para pegar uma garrafa de vinho e uma taça, Silena dificilmente se importaria.
Se serviu de uma dose mais generosa que de costume e bebeu um gole tão generoso quanto, caminhou pelo ambiente sem nenhum sentido concreto, os olhos se perdendo entre o mar ao longe e a imensidão estrelada e majestosa acima de si... Massageou a fronte, Clarisse não conseguia classificar o que está a sentindo, os sentimentos e atuais eventos em sua vida estavam mexendo consigo de uma forma que dificilmente conseguiria tomar as rédeas.
Mais um gole, e tal ato lhe fez lembrar dos beijos de Annabeth, era doce, intoxicante, e aquecia o seu corpo... Havia sentido falta de tal sensação mesmo que tivesse enterrado no mais íntimo do seu ser e agora seu corpo arrepiava só de lembrar.
- Também não consegue dormir?
Seus olhos se voltaram para a figura bela que trajava apenas uma peça delicada e fina sobre o corpo, era Afrodite.
- Sra. Beauregard... - Se sentiu desconcertada por ter sido descoberta em sua fuga noturna. Sua sogra também seria adepta a devaneios em horários inapropriados?
A mulher se aproximou com a classe de um felino e sorriu de forma cúmplice:
- Posso?! - fez um leve gesto indicando a taça que La Rue portava. Prontamente Clarisse lhe entregou e ficou a lhe observar enquanto apreciava a bebida.
Permaneceram em um silêncio confortador por um curto tempo, até que Afrodite fez menção de se pronunciar. Clarisse respirou fundo, entendia que aquele era o momento da conversa real entre elas, onde as cartas seriam colocadas sobre a mesa.
- Quanto tempo acha que vai durar? - questionou de forma segura, simples e sem rodeios. O olhar da jovem sobre si tornou-se ainda mais intenso e enigmático. - Não me entenda mal, por favor, mas acredito que ambas conhecemos bem Silena, suas qualidades e defeitos... Pessoas ricas ficam entediadas com facilidades, você conhece esse mundo e sabe que minha filha não é muito diferente.
Clarisse pegou a taça da mão da mulher e bebeu mais um pouco mais, dando tempo para tentar formular alguma resposta boa, convivente o suficiente e coerente, mas não possuía... Apenas a verdade nua e crua.
- Conhecemos bem os defeitos e qualidades que possuímos, sabemos o que esperar, já partilhamos muitos momentos... Bons, felizes, tristes, decadentes. - desviou dos olhos intensos que a matriarca também possuía. - Sei onde estou me metendo, Sra. Beauregard, não sou ingênua, tampouco quero me aproveitar de sua filha.
- Claro... Eu sei quem você é Clarisse La Rue. - tomou mais um gole, sorrindo com tranquilidade em seguida. - Quem mais seria capaz de fazer minha filha se apaixonar e atravessar o continente? Quem mais seria altruísta o suficiente para fazê-la cair em si e se afastar quando poderia ter levado ela à ruína?
Afrodite lhe afagou o braço e apertou delicadamente sua mão como uma forma de tranquilizar a chef, seus olhos se tornaram turvos em segundos e ela quase conseguia entender o que se passava naquele turbilhão de pensamentos.
- Eu sei sobre o abuso de drogas e o relacionamento com a Cassie. - confessou tranquilamente. - Cassandra era como uma filha... - foi a vez de Afrodite se perder em meio aos pensamentos. - Você não precisou de muito para demonstrar que é uma boa pessoa, Clarisse, pense se realmente está fazendo o que é certo.
Clarisse sentia o corpo tremer, a mais velha despediu-se depositando um beijo terno e delicado em seu rosto antes de se retirar novamente para os seus aposentos.
Fim do capítulo
E então, o que acharam?
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Vejo vocês em breve!
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