E assim como as dores no meu corpo pela noite intensa, a segunda feira se fez presente me deixando daquele jeito, odiando esse bendito dia da semana. Mas com toda coragem me ergue seguindo minha rotina de todos os dias e voltando para empresa já encontrando todos a posto pois me atrasei por causa de um pequeno transito. 

Depois de me instalar, minha secretária me informa sobre a presença de Amizade e seus pais onde os acompanhei mostrando rapidamente a empresa e os deixando no RH que assinou suas carteiras já que todos haviam levado os documentos necessários pois foram informados por João, e no mesmo dia todos começaram os trabalhos. Só Amizade que ficaria mais próximo a mim pois aprenderia alguma coisas com a Marcia minha secretária.

- Bom Amizade, vou te ensinar aos poucos o que fazemos por aqui. Como a demanda esta alta você ficara comigo, já que Mirian me informou que quer diminuir a demanda tanto para mim quanto para ela.  - informa Marcia se sentado a mesa na recepção. 

Como a mesa era grande, a mulher colocou uma cadeira ao seu lado para seu mais novo colega.

- Tudo bem, pra mim não tem problema. Eu prometo me esforçar.  - diz o menino nervoso.

- Eu sei que vai. Se a Mirian te deu essa oportunidade é porque ela sabe que você é uma boa pessoa.

Amizade olha a mulher a seu lado encantado por sua educação e feliz por poder ver a sinceridade em suas palavras.

- Agora de início vou precisar que você pegue alguns folhas de um contrato que coloquei para imprimir. Elas estão na sala de impressão e depois as leve para serem carimbadas pelo João. A sala dele já é próxima a da impressão.  - Marcia desfere as tarefas ainda atenta ao computador logo se ergue e segue para a sala de Mirian ao ver o menino confirmar e sair.

Me dirijo rápido para a sala como foi solicitado por Marcia, e entrando identifico o contrato o organizando e quando segui a procura de um grampeador fui parado por uma moça que me olhou com desdém.

- Quem é você?  O que faz aqui na parte superior ?  - a mulher rude se aproxima do garoto que da alguns passos para trás.

- E- eu vim a pedid...  - ela não me deixou completar, retirou os papéis que eu tinha em mãos.

- Garoto esse contrato não é brincadeira, e essa não é a ala de limpeza. Então ponha se no seu lugar. 

Eu não soube o que falar, estava com medo, vergonha, seu olhar era de puro julgamento.

- Eu não sou da limpeza.  - meus olhos já marejavam.

- E como conseguiu entrar aqui ? Espera, pelo seu porte e forma de se vestir imagino que tenha invadido. Você sabe que pode ser preso não é ? - a mulher se aproxima do menino que tinha os olhos abertos por espanto.

- Mas eu... 

- Não quero saber! Vou chamar a polícia para colocar pessoas como você em seu devido lugar.  - a mulher pega Amizade pelo braço e sai arrastando o menino que mantinha sua cabeça baixa.

- O que está acontecendo aqui Olivia ?  - Marcia estranhou a demora do menino e preocupada com o mesmo, saiu a sua procura porem não contava com a cena a sua frente.

- Esse aprendiz de delinquente conseguiu entrar na empresa e estava com contratos importante na mão. - Olivia olhava orgulhosa para a mulher mais velha.

- Desculpa por isso Amizade.  - Marcia diz se aproximando e retirando o menino já triste dos braços de Olivia.

- Ele não é nenhum delinquente Olivia, é nosso novo estagiário. Se você estivesse na sala de reunião teria visto a Mirian os apresentá-los a todos. E modere suas palavras, não deve julgar ninguém por roupas ou cor da pele. Até porque, as aparências enganam.  - Marcia à olha Olivia dos pés a cabeça com raiva vendo a mulher se assustar com a informação passada.

- Desculpa, eu não sabia. - diz com um falso arrependimento.

- Não é a mim que você deve desculpas.  - a mulher abraço o menino ainda cabisbaixo já com algumas lágrimas em seu rosto.

- Desculpa garoto, não foi minha intenção te ofender. Também não sabia que Mirian contratava pessoas como você.

- Olivia! 

- A Marcia, estou falando a verdade, agora preciso trabalhar.  - a mulher empurra o contrato contra o peito de Marcia e sai com queixo erguido em direção a sua sala.

- Desculpas por isso Amizade. Não dê ouvidos ao que Olivia falou, ela é amarga e má. - Marcia abraça Amizade que retribui se entregando as lagrimas.

- Tudo bem, já passei por isso. Infelizmente acho que muitos já passaram, mas vou me esforça para ser melhor que ela.  - o menino ainda abraçado Marcia que olha firme para o corredor onde Olivia passou.

- Isso mesmo, sempre podemos ser melhores. Mas, vai lavar o rosto que termino isso. Tá bom?   - Marcia observa o menino concordar e logo se distância.

Ela achou a atitude de Mirian linda por dar oportunidade tanto ao garoto quanto aos seus familiares. Já tinha percebido que se tratava de uma familia humilde, mas nem por isso a mulher os julgou da mesma forma que foi feito por Olivia. E com certeza contaria tudo para Mirian, pois não era a primeira vez que Marcia recebia reclamações a respeito das atitudes de Olivia, porem ao presenciar, pode ver o quão feliz a mulher ficou ao deixar o menino naquele estado. Então tomaria ela uma atitude para por fim nisso.

Ao levar os documentos a sala de João, e contato ao mesmo o ocorrido Marica levou os papeis a Mirian que também foi informada a respeito e logo chamou Amizade para sua sala.

- Amizade fiquei sabendo do que aconteceu no sala de impressão. E queria não só em nome da empresa, mas em nome de todos, te pedir desculpas pela atitude da minha funcionária. Não é da nossa politica esse tipo de comportamento mais infelizmente não conhecemos as pessoas.  - o menino a princípio me olhou com espanto porém logo a magoa passou por seu olhar me deixando em alerta.

- Como eu falei a senhora Marcia, não tem problema. Realmente não controlamos as pessoas, e por muitas vezes achamos que a conhecemos, mas ai tudo desmorona após poucas palavras ou atitudes. Não tenho nada contra você ou qualquer outra pessoa, mas também não posso disser que não fiquei ofendido pois estaria mentindo. Porém, o que aquela moça falou sérvio de uma péssima forma como degrau para que eu possa estar sempre a cima dela. Não em relação a dinheiro ou poder, mas, em relação a ser humano. Ela sentiu prazer em me humilhar, e eu apesar de triste, senti pena dela. Eu só quero o melhor para mim e minha família, não afetando a eles ela pode fazer o que quiser.  - desabafo para Mirian que me abraça junto a Marcia.

- Se depender de mim isso não ira mais acontecer com você, e se ocorrer, você é uma pessoa maravilhosa e dará uma resposta a altura. - beijo o topo da sua cabeça saindo do abraço.

- Se sente bem em continuar o trabalho ? - me sento e logo pergunto ao menino

- Sim, não vou parar de andar por ter um pequeno buraco no caminho. Ou a gente enfrenta ou desvia.  - vejo Mirian sorrir e logo concordar.

- Bom, mais esse empecilho seu já será retirado. A demissão de Olivia foi assinada, apesar de ser um ótima profissional seu caráter soube que era péssimo.  - olho para Marcia que logo concorda e sorrir.

- Você demitiu ela ?  - pergunto espantado.

- Sim. Como falei para você, a nossa politica nesta empresa é a boa convivência e respeito, e que seja um bom ambiente de  trabalho para todos, e a atitude da Olivia não condiz com isso.  - olho para meu monitor onde mostra a chegada de um novo e-mail.

- Mas já foi tudo resolvido, podem voltar ao trabalho.  - vejo ambos se despedirem e sair.

Ao sairmos da sala e me sentar em minha cadeira ao lado de Marcia, uma duvida me surge. Como Mirian ficou sabendo ?

- Foi você não foi ? Que contou para ela ? - a mulher mais velha me olha e sorrir como se não houvesse nenhum erro em seu ato.

- Sim, mas não só por ela ter feito isso a você. Mas com outras pessoas também que infelizmente não tiveram tempo de reclamar. - diz Márcia.

- Ela os matou ? - pergunto um pouco assustado.

- Não! Ela os demitia antes de falarem com Mirian, João ou Matheus. - diz Márcia.

Amizade solta um suspiro de alivio e olha para a mulher que deixa um sorriso leve em seu rosto causando uma certa calma no menino que logo foi incumbido de fazer algumas tarefas.

E apesar do ocorrido o seu primeiro dia de emprego foi calmo, e até um pouco divertido após o menino conhecer seus outros colegas, alguns até da sua idade, já que a empresa tinha espaço para dar oportunidades ao jovens que demonstravam sua dedicação e esforço na qualidade do seu trabalho.

Já no final do dia peguei as crianças na escola. Eu estava um pouco cansada, não que fosse alguma novidade mas, as atitudes de Olivia, e ao pensar que pessoas ainda agiam da mesma forma que ela, fez meu ombro pesar um pouco, pois já imaginaria o que meus filhos passariam. 

Eu sei que para alguns seriam condições diferentes mas, esquecemos que o preconceito independente de que seja, esta em todo lugar, e mesmo tentando proteger a quem amamos não podemos evitar alguns respingos dessa falha da sociedade.

Fim do capítulo