Não é coisa de momento,

raiva passageira

Mania que dá e passa,

feito brincadeira

O amor deixa marcas

que não dá pra apagar

 

~***~

 

Annabeth queria pedir por socorro, as palavras utilizadas por Clarisse ecoavam na sua cabeça, lhe causando alguma espécie de hipnose. Respirou fundo colocando os pensamentos no lugar, enquanto via a morena se afastar até o aparelho de karaokê, Hedge já havia desistido de tentar desligá-lo graças a ilustre apresentação de Percy e Leo e ela duvidava muito que Clarisse voltaria atrás com aquela brincadeira.

 

Não demorou muito para que a batida forte fosse reproduzida, tomando conta do ambiente e mudando repentinamente a atmosfera. Agradecia naquele momento pela luz baixa do ambiente e por Hedge proibir qualquer tipo de filmagem ou foto que pudesse comprometer algum de seus clientes, principalmente se tratando da escritora, mesmo assim suas mãos começaram a suar como as de uma adolescente.

 

Suas bochechas estão coradas?

Você já ficou com medo

de não conseguir esquecer o tipo

Que gruda na sua cabeça

 

Arrependeu-se no mesmo instante de ter instigado a prima a tal atitude assim que a voz tão bem conhecida chegou aos seus ouvidos. Ela não sabia se Clarisse tinha aquele efeito em todos ao seu redor, ou se era algo particular e reservado apenas para aguçar os seus sentidos.

 

Você tem alguma carta na manga?

Você não tem ideia de que é minha obsessão?

Sonhei com você quase

todas as noites esta semana

 

La Rue sabia exatamente o efeito que produzia... Sim, aquele demoniozinho devasso de intensos olhos verdes caminhava em sua direção de forma lenta e olhar fixo, jamais se atrevendo a desviar dos orbes cinzentos de Annabeth. Para a escritora era como se não existisse mais nada além delas duas, da voz levemente rouca e sexy mexendo com algo dentro dela que estava oculto a um longo tempo, adormecido, porém potencialmente perigoso.

 

Quantos segredos você consegue guardar?

Porque esta melodia que encontrei

Me faz pensar em você de alguma forma

 

Mesmo fazendo orações silenciosas para que qualquer deus pudesse interceder por ela de forma urgente, foi algo em vão, Clarisse transformou a distância entre as duas em um mísero nada.

 

E a toco repetidamente

Até cair no sono

Derramando bebidas no meu sofá

 

Tentou adotar uma postura indiferente e apenas aproveitar o momento, mas La Rue parecia empenhada em lhe tirar do ar. Tentou não fechar os olhos quando a ponta dos dedos da morena tocara sua mão e subiram delicadamente à medida que Clarisse rodeava a cadeira onde ela estava sentada... Como uma predadora aguardando a melhor oportunidade. Tentativas falhas e sensações por ela já esquecidas, não achava que seria capaz de se sentir envolvida por um toque tão singelo até aquele momento.

 

Eu quero saber?

Se esse sentimento é recíproco

 

- Não, não, não... - Murmurou Annabeth vezes consecutivas quando a morena parou novamente a sua frente. Sentiu um calafrio na espinha dorsal ao entender quais eram as intenções de La Rue, mas a morena apenas correspondeu com um sorrisinho sacana, tão típico de sua personalidade.

 

Triste ver você partir

Meio que esperava que você ficasse

 

Sem qualquer vontade de apressar suas intenções, a chef extinguiu a distância entre elas, quase sentando sobre o colo da escritora que tentava não fitar os olhos da prima com desejo reprimido... Mas era uma tarefa árdua e quase impossível.

 

Amor, nós dois sabemos

Que as noites foram feitas especialmente

para dizer coisas

Que não podem ser ditas no dia seguinte

 

- Porr*, Clarisse... - Sussurrou quase entredentes quando a morena rebolou lentamente contra o seu quadril. A vontade de tocá-la era quase urgente, mas sabia que seria um caminho sem volta.

 

Estou me arrastando de volta para você

Pensou em ligar

depois de beber algumas?

Porque eu sempre penso

 

Piper olhou desesperada para Percy, Clarisse estava jogando baixo com sua amiga, ela bem sabia que Annabeth sob efeito do álcool poderia fazer coisas impensadas, a racionalidade e seriedade da Chase dava lugar a uma personalidade mais propensa ao seu lado impulsivo. Todavia o sommelier parecia não estar preocupado no que aquilo poderia acarretar, apenas sorriu enquanto fazia a segunda voz, ele afastou o microfone em seguida e sussurrou para a amiga:

 

- O meu ship está vivo... - O sorriso malicioso brincou nos lábios de Jackson com satisfação.

 

Talvez eu esteja muito

ocupado sendo seu para me apaixonar

por outra pessoa

Agora, eu pensei melhor

Estou me arrastando de volta para você

 

Ainda sobre as pernas da escritora, Clarisse pegou uma das mãos de Annabeth e guiou até o seu pescoço. Ambas compartilharam da mesma sensação quando os dedos levemente trêmulos tocaram a região morna da pele, a loira sentiu sua boca secar quando a prima induziu o trajeto por seu corpo, percorrendo o colo, descendo por um dos seios, a cintura e propositalmente pousando contra a sua bunda.

 

Então, você criou coragem?

Fico pensando se seu

coração ainda está aberto

E se estiver, quero saber

que horas fecha

 

- Filha da... - Sussurrou assim que a chef lhe deu uma piscadela, ela estava lhe provocando de propósito.

 

Chase comprimiu os lábios para não soltar um gemido, mesmo que contido, porém não conseguiu resistir à vontade de apertar a região mesmo que discretamente, respirou fundo tentando dispersar o efeito quase que imediato entre suas pernas... Clarisse jamais jogaria com ela daquela forma se tivesse ciência de pelo menos metade dos pensamentos pecaminosos que afloraram no subconsciente da escritora. 

 

Mas não, La Rue só conseguiu piorar ainda mais a sua situação... Respirou aliviada quando a morena soltou sua mão, podia sentir a leve camada de suor em sua testa, mesmo que o ambiente não estivesse quente. Ela alcançou a borda do precipício quando os dedos da morena se embrenharam entre os fios loiros e se fecharam rente à nuca, a força comedida no ato só lhe deixou ainda mais excitada, permitiu que suas mãos corressem pelas coxas bem torneadas, cravando as unhas contra o jeans, fazendo-a desejar um mísero momento a sós com sua ex-namorada. 

 

Acalme-se e prepare seus lábios

Desculpe-me interromper

É que estou constantemente

quase tentando

Beijá-la

 

Para sua frustração ou talvez para manter alguma sanidade, Clarisse deixou seu colo e lhe ofereceu a mão para que levantasse e lhe acompanhasse. Titubeou em sua decisão, o receio de suas pernas bambearem no processo era real, porém ela respirou e aceitou ser conduzida, tentando focar em algo que não fosse a sua excitação que a esse ponto chegava a ser incômoda.

 

Clarisse lhe trouxe para perto do seu corpo, mantendo sua cintura enlaçada pelo braço livre, Annabeth se rendeu ao toque, a voz, ao cheiro e a todas as particularidades que pudesse absorver daquele momento que secretamente desejava ser infindável. Deixou que suas mãos corressem com saudade e sem pudor pelas costas largas, mesmo que fosse apenas por cima da camisa dos Giants que a morena trajava. Desejava que não estivessem ali, desejava ter um momento a sós, sem pressa, que pudessem se tocar sem medo, culpa ou julgamentos... Porque tudo entre elas tinha que ser tão difícil?

 

Descansou o rosto contra o ombro da mais alta, absorvendo o cheiro tão próprio da morena, sentindo-a arrepiar quando seus lábios tocaram o ponto especifico em seu pescoço sem qualquer malícia, apenas como uma doce demonstração de afeto.

 

- Agora você já pode dizer que alguém dançou para você... - Brincou Clarisse, porém sua voz era pesada, toda aquela brincadeira mexera com ela de uma forma que não esperava.

 

Não sei se você

Sente o mesmo que eu

Mas poderíamos ficar juntos

Se você quisesse

 

Piper estava mais tranquila, sabia que ambas não cometeriam qualquer falha que pudesse levá-las ao arrependimento, não pelo ato em si, mas por concretizá-lo por meio do álcool. Percy lhe puxou para mais próximo de si, o microfone já esquecido em algum lugar e Leo roncava na mesa quase atrás deles. A morena deitou sobre o ombro do amigo e avaliava a cena entre Clarisse e Annabeth, novamente envolvidas em uma bolha que infelizmente teria o seu fim.

 

- É uma pena tudo o que aconteceu com elas, não é?! - Sua voz saiu um pouco pesada, como se tal fala lhe fizesse lembrar-se dos anos em que eles eram apenas adolescentes inconsequentes. - Elas ainda se amam... É tão palpável que chega a doer em mim.

 

Jackson fez um sinal positivo com a cabeça enquanto depositava um breve carinho nos cabelos de McLean... Por mais que o ex-casal tivesse muitas palavras a serem trocadas, era inegável o quanto elas combinavam, se entendiam apenas com um olhar e ainda se amavam, por mais que tentassem miseravelmente esconder tal sentimento. Ele limpou uma lágrima que insistentemente se fez presente, Deus, o destino, ou quem quer que estivesse por trás dos acontecimentos envolvendo sua irmã e sua prima, não fora nada generoso com as duas, mas agora ambas eram diferentes, mais maduras, carregavam suas cicatrizes, porém aprenderam a crescer com elas... Quem sabe uma segunda chance não fosse algo tão inalcançável assim.

 

- Eu duvido muito que Clarisse continue com essa ideia de casamento por muito tempo. - Declarou apontando para o casal que ainda dançava mais ao centro, mesmo que a música já tivesse chegado ao seu fim, assim como os aplausos dos demais que ocupavam o bar. - É melhor você apertar o cinto McLean...

 

- Eu sei... - Sua voz parecia cansada só de imaginar o que poderia estar por vir. - Em algum momento elas não vão suportar essa tensão, temos que ser fortes, certo? - Ela levantou um dos punhos, para logo receber um toque do amigo.

 

- Estaremos ao lado delas. - Ele confirmou enquanto virava mais um copo, bem sabia das proporções de um possível envolvimento entre as duas.

 

~***~

 

Aconteceu como Clarisse suspeitou, todos estavam alegres demais para poder sair por aí dirigindo e ela obviamente precisaria de reforços, já que era a única com alguma sobriedade entre os demais. Com algum custo ela convencera Nico a buscar Percy e Leo, enquanto ela levaria o carro de Annabeth com Piper.

 

- Eu sou plenamente capaz de conduzir o meu próprio veículo, Srta. La Rue. - Annabeth tentou parecer autoritária ao reportasse, mas tudo o que conseguiu foi arrancar uma boa gargalhada de Percy quando facilmente Clarisse neutralizou suas investidas em tentar pegar suas chaves de volta. 

 

- Mas não existe qualquer possibilidade de você pegar um carro nas condições que você se encontra, está me ouvindo, Annabeth Chase?! - Foi a vez de Piper  elevar a voz, como uma mãe superprotetora, fazendo a loira se encolher contra o corpo da prima que ainda lhe tinha presa aos seus braços. - Você nunca mais vai fazer isso! - Ela quis manter o tom, mas tudo o que conseguiu foi começar a fungar e se esforçar para não chorar.

 

A loira apenas olhou para os próprios pés como se a amiga tivesse lhe ganhado no argumento, pelo menos uma vez na vida. Clarisse só esperava que Nico não demorasse tanto tempo, ela não tinha emocional para lidar com quatro pessoas alcoolizadas ao mesmo tempo.

 

- Nossa parece que a situação é bem pior do que você descreveu...

 

A voz tranquila e sóbria que se fez presente deixou a chef mais aliviada, Piper e Annabeth transitavam de humor em um piscar de olhos, em um ocasião uma queria tirar a roupa, no outro momento tinha que impedir a escritora de roubar-lhe a chave do carro - mesmo sabendo que ela não daria sequer cinco passos sem cambalear - em outro, Piper começava a chorar com saudade do namorado.

 

- Não queria que você desistisse pelo telefone... - Brincou Clarisse com um meio sorriso que foi compartilhado pelo amigo. - Hedge e eu conseguimos fazê-los ingerir um pouco de café e comer alguma coisa, então... Acho que não teremos grandes problemas.

 

- Acho que eu bebi demais... Tô até alucinando com o Nico. - Resmungou Percy semicerrando os olhos no intuito de focar sua visão no recém-chegado. - Olá bonitão. - Tentou se aproximar, mas tropeçou no próprio pé e Nico teve de se adiantar para segurá-lo antes que caísse. - Tem até o mesmo cheiro do Nico.

 

- Vai ficar me devendo uma, La Rue. - Resmungou o ítalo-americano suspirando fundo, a noite certamente seria longa.

 

- Espero que não seja com juros nem correções monetárias... - Ela passou o braço pela cintura de Annabeth e Piper no intuito de guiá-las até o estacionamento sem qualquer gracinha por parte das duas. 

 

- Tem certeza? - Fez um singelo sinal indicando as duas amigas. Poucas palavras, mas para a chef seria o suficiente para um leque de possibilidades. 

 

- Acho que consigo mantê-las sob controle... - Afirmou, porém sem tanta certeza. - Me ligue se precisar de ajuda com o cabeça-de-alga.

 

- Você também vai me manter sob controle? - Pronunciou-se Percy sugestivamente, fazendo Nico pressionar os lábios e contar até três antes de realmente lhe dar alguma resposta. 

 

- Na pior das hipóteses eu te amarro até amanhã... Vamos ver se você vai continuar com esse sorrisinho. - Nico deu um sorriso de lado, como se a possibilidade lhe agradasse. Adoraria ver a cara assustada de Percy quando acordasse, sem saber o que havia acontecido para estar amarrado.

 

- Eu não quero que ele me amarre chef... - Leo agarrou-se a camisa de Clarisse como uma criança que necessitava de proteção.

 

A semana sequer havia começado e ela já perdera qualquer resquício de paciência para a longa jornada de trabalho que a aguardava.

 

~***~

 

A ida até a residência de Annabeth foi bem mais tranquila do que esperava. Piper e a escritora pararam de discutir sobre os perigos de dirigir sob efeito do álcool e agora dividiam o banco traseiro, conversando sobre algum assunto aleatório enquanto Clarisse tinha total atenção ao trânsito. Era melhor assim, além de se manterem acordadas, ela poderia se dedicar plenamente no caminho, mesmo que àquela hora o movimento fosse consideravelmente menor que nos outros dias.

 

- Srta. Chase, você está bem? - A voz bondosa interceptou as três mulheres que se fizeram presentes na portaria.

 

- Boa noite, Rupert! - Respondeu a escritora com um sorriso largo. - Estou ótima e você?  - Annabeth se desvencilhou dos braços de Clarisse e Piper e andou até o balcão onde se encontrava o senhor de cabelos ralos e bigode cheio como onde uma morsa, porem de fios muito bem alinhados.

 

- Parece que se divertiu muito no jogo de hoje, fico feliz. - Comentou com entusiasmo em sua voz pomposa. Era difícil ver a jovem escritora de forma tão descontraída e contente. - Vejo que tem uma nova companhia hoje além da Srta. McLean... - Direcionou os olhos pequenos a figura alta e desconhecida até então.

 

- Rup... Essa bela dama se chama Clarisse La Rue. - Disse apoiando os cotovelos no balcão e direcionando os olhos para a mulher em questão. - Ela é linda, não é... - Sorriu de forma boba ao ver a prima desviar o olhar com o rosto corado.

 

- Certamente... - Confirmou o senhor sorrindo abertamente com a interação entre as duas.

 

- Sabe o que é pior? - Ela olhou para o porteiro como se fosse confessar um segredo, baixando o tom de voz. - Ela vai se casar... E não é comigo. - Fez uma breve careta com a realidade nada agradável. - Porque eu fui idiota ao ponto de deixá-la partir. - Seus olhos cruzaram com os de Clarisse mais uma vez e ela não conseguiu identificar o que se passava em seu olhar naquele momento... Talvez eles espelhassem a mesma dor que sentia.

 

- Ok! Acho que já conversamos demais com o Rupert por hoje. - Adiantou-se Piper antes que Annabeth se arrependesse amargamente por cada palavra que saía de sua boca. - Sinto muito Rup, tenha um ótimo trabalho.

 

- Tenham uma boa noite, senhoritas. - Desejou o senhor enquanto as meninas guiavam uma Annabeth resmungona que se queixava para continuar na companhia do homem. 

 

As três caminharam até a área onde ficavam os elevadores sociais, Piper acionou o botão e esperou por breves instantes, Clarisse ficou inquieta, transferindo o peso de uma perna para a outra. McLean achou que poderia ser desconforto devido à fala de Annabeth, mas sua amiga sanou suas dúvidas no momento seguinte:

 

- Elevadores ainda te incomodam? - Questionou Chase com a voz baixa, porém o tom era sóbrio o suficiente para que a prima não achasse que fosse alguma brincadeira.

 

A morena apenas confirmou com a cabeça, tentando focar em alguma coisa que não fosse aquela caixa claustrofóbica, odiava elevadores. Porém a chef foi surpreendida pelos braços delicados em volta de sua cintura, como se fosse uma forma de lhe proteger, ou dar força.

 

- Eu senti tanto sua falta... - Confessou com a voz baixa, tão baixa que até mesmo Clarisse teve dificuldade de identificar.

 

A morena apenas sorriu e lhe aninhou melhor em seu corpo, depositando um beijo breve em seus cabelos ondulados, agora presos em um rabo de cavalo.

 

Fizeram um revezamento assim que finalmente chegaram à cobertura. Mesmo cambaleante Piper se adiantou em abrir a porta enquanto Clarisse, a contragosto, colocou Annabeth em seus braços.

 

- Estou com sono... - Resmungou a escritora se aninhando no pescoço da morena.

 

- Se você não me falasse não iria adivinhar... - resmungou Clarisse levemente sarcástica.

 

Estancou assim que cruzou a porta da entrada, não que fosse o lugar mais luxuoso que já estivera, a decoração era clássica, em tons claros e revestimentos sofisticados, todavia o que lhe chamara real atenção fora a vista... Definitivamente Annabeth tinha ao seu dispor a mais bela vista de New York, não tinha dúvidas disso.

 

Piper se jogou contra o sofá de dois lugares que ficava de frente para uma das paredes de vidro... A mesma vista que havia hipnotizado a chef assim que entrou com Annabeth em seus braços.

 

- Final do corredor, última porta à direita... - Informou a agente retirando os sapatos e massageando os pés em busca de algum alívio.

 

Clarisse apenas seguiu a indicação, ajeitou Annabeth em seu colo e seguiu, passando pela cozinha integrada. Abriu a porta com alguma dificuldade, mas aparentemente não acordara a loira no processo, ela teria admirado um pouco mais a paisagem que intercalava mais paredes com uma visão de tirar o fôlego, mas realmente precisava colocar Annabeth na cama.

 

Voltou até a entrada, precisava que Piper lhe ajudasse com Annabeth, mas para sua sorte a amiga já estava completamente desacordada no sofá.

 

- Que ótimo... - Resmungou sem acreditar naquilo, respirou fundo e caminhou de volta ao quarto da sua prima. - Você consegue Clarisse.

 

Aproximou-se da cama e observou por alguns instantes a feição tranquila da escritora. Primeiro ela retirou-lhe os tênis, deixando-os próximos já que não tinha noção do que fazer com eles, depois se questionou sobre qual peça retiraria, o short ou a camiseta... Nenhuma lhe parecia uma boa opção. Decidiu por fazer aquele processo de olhos fechados, poderia ser algo infantil de sua parte, mas saberia que Chase ficaria constrangida quando soubesse. 

 

Foi uma tarefa mais difícil do havia imaginado, não porque estava de olhos fechados em todo o processo, mas todos os efeitos que aquilo estava lhe causando... Deveria ser efeito da bebida, nada mais que isso. Clarisse não estava lhe tocando com qualquer malícia, ela jamais faria qualquer coisa do tipo, porém mesmo com o passar dos anos, ainda estava impressa em suas digitais a última vez que tocara o corpo de Annabeth e a sensação dos seus dedos roçando contra a pele que tão bem conhecia estava lhe deixando confusa, o tato estava lhe trazendo lembranças que tanto lutou para esquecer.

 

- Não há nada aqui que você já não tenha visto antes...

 

Clarisse sentiu o coração acelerar ao escutar a voz levemente arrastada de Annabeth. Se valendo de uma mesma frase que a chef disparou quando a mesma lhe pegou trocando de roupa no restaurante.

 

Mesmo com a "permissão" concedida ela não foi indiscreta, arrumou sua postura ao sentar-se na borda da cama, mantendo-se de costas para a loira.

 

- Se você sorrisse com as minhas palavras, eu poderia continuar a levar como uma simples brincadeira entre nós duas, mas... - Ela limpou um pouco a voz antes de continuar. - Mas você sempre fica nervosa sou se esquiva, refletindo os sentimentos que tenta ocultar.

 

- Annie... - Clarisse sorriu de forma descrente, como se a loira não tivesse dimensão do que estava falando, porém Annabeth continuou com o seu discurso da forma mais firme que conseguia ao lutar contra o peso em seus olhos.

 

- Eu estou enganada todas as vezes que seus olhos buscam pelos meus? Ou quando sua respiração muda quando me aproximo? - Questionou a loira de forma breve e limpa.

 

Clarisse sentiu sua garganta seca, ela não possuía palavras consistentes o suficiente para bater de frente com Annabeth, nem o faria no estado em que ambas se encontravam. Passaram-se alguns instantes e nenhuma das duas se pronunciou, até que receosa, a morena de olhos verdes fitou a escritora que novamente dormia profundamente, como se nada tivesse acontecido.

 

Clarisse cobriu o corpo alvo mantendo seus olhos fechados como antes, ela não queria guardar a imagem de Annabeth adormecida e seminua em sua mente... Era pedir demais que ela não tivesse devaneios com tal registro. Limitou-se em lhe tocar carinhosamente o rosto, decorando novamente com a ponta dos dedos pequenos detalhes que se perderam com o tempo.

 

Deixou que o polegar deslizasse sutilmente contra os lábios bem desenhados, lutando contra a vontade de tomá-los novamente para si.

 

- Eu também senti sua falta... - Confessou baixinho, depositando um beijo casto, porém demorado contra a testa da loira.

 

 

Fim do capítulo