Os dias que Aline ficou longe, serviu para que eu colocasse a cabeça no lugar, pensei e repensei inúmeras vezes sobre a conversa que eu tive com o Dr. Igor, e eu só chegava a uma conclusão, que ela não tinha noção de quem ele realmente é, e que essa história obscura que envolvia o ex namorada dela era algo muito sério.

Aproveitei o fato de estar desempregada novamente, e organizei algumas coisas em casa, aproveitei para refazer o meu currículo, e enviei para algumas empresas. De imediato recebi uma proposta de uma construtora de Vila Velha, mas o trabalho seria no Rio de Janeiro, e por enquanto essa possibilidade estava descartada.

Na sexta arrumei o cafofo, e fiz compras, pensando na possibilidade de trazer a Aline para passar o final de semana aqui na barra. Era o melhor lugar pra conversar com ela com calma, e contar tudo que havia acontecido, iria aproveitar para cuidar um pouquinho dela, passear, fazer um jantar e matar a saudade.

No final da tarde, passei no shopping para comprar algo para ela, alianças era precoce demais, então decidi comprar algo mais simbólico, e acabei comprando duas gargantilhas exatamente iguais, independente do resultado da nossa conversa queria que ela guardasse algo que lembrasse de mim. Sai do shopping já estava anoitecendo, e enquanto eu pilotava a moto, sentia o meu celular vibrar dentro do bolso da calça, e quando parei em um semáforo peguei o celular para olhar se era a Aline, vi que era uma mensagem de um numero desconhecido, e não tive tempo de abrir o arquivo em anexo, porque o sinal abriu.

Em casa, tomei um banho e guardei o presente, e quando peguei o celular, fiquei tentando lembrar se conhecia aquele número, e quando abri o anexo, era uma foto, nela eu só conhecia o Rick e a Aline, o homem e a mulher que estavam com eles, eu não fazia a mínima ideia de quem era. Mas um detalhe chamou a minha atenção e me deixou paralisada, a mulher estava ao lado da Aline, e segurava com firmeza a cintura dela, fiquei tão desconcertada que não consegui olhar a foto novamente.

Passei a noite inteira sem conseguir dormir, na minha cabeça só vinha um pensamento, quem era aquela mulher que tinha intimidade ao ponto de posar para uma foto segurando a cintura dela. Nessas horas a mente parece que se apossa de tudo que você acredita, e só resta a insegurança. A mulher da foto era espetacular, uma beleza que poucas vezes vi, um sorriso que parecia iluminar tudo a sua volta.

E para piorar a situação, não falei com a Aline aquela noite, parecia que tudo conspirava contra, e quando os primeiros raios de sol começaram a surgir, levantei e decidi correr na praia, talvez a exaustão me ajudasse a conter os meus impulsos. Depois iria esperar ela me ligar, a pegaria no aeroporto, e resolveríamos todas as questões.

Estava sentada na areia, o pensamento longe, um aperto no peito, quando senti que alguém se aproximava por trás de mim e antes que eu pudesse virar, a pessoa tapou os meus olhos, não permitindo que eu virasse para ver quem era. Mesmo de olhos fechados, eu sabia que era a Aline, mas como, ela deveria estar em São Paulo uma hora daquelas, provavelmente dormindo.

_Oi! _ela soltou o meu rosto, deu a volta  e agachou na minha frente, colocando os joelhos na areia.

_Oi, aconteceu alguma coisa, achei que só chegaria a noite?

_Não consegui ficar nem mais um minuto longe de você, larguei tudo lá, e vim correndo de ver.

_Largou tudo lá? Até a sua amiga?

_Não entendi, pode me explicar porque está tão fria. De que amiga você está falando, eu viajei apenas com o Rick, e ele ficou lá.

_Essa_ falei tirando o celular do bolso e mostrando a foto a ela.

_Quando ela viu a foto, ficou sem reação.

_Onde conseguiu essa foto?

_Isso é o que menos importa, o que importa é você tirar uma você foto com essa mulher grudada em você. Olha onde a mão dela está

_Calma, você tá me acusando de que exatamente.

_Quer saber, deixa pra lá, talvez todos tenham razão, é provável que eu seja apenas o seu brinquedinho.

_Você está sendo injusta, precipitada, infantil, é muito fácil acusar sem deixar o outro se explicar, sem ouvir.

_Agora a errada sou eu?

_Não existem culpados, porque não aconteceu absolutamente nada.

_Imagina se tivesse acontecido_ falei rindo

_Não faz isso, me escuta. Acha mesmo que se tivesse acontecido alguma coisa eu estaria aqui, que teria vindo embora de madrugada, que teria largado o Rick lá. Essa mulher é uma médica, essa foto foi tirada no penúltimo dia do congresso.

_Mesmo sem conhecer a pessoa deixa que elas te abracem dessa forma pra tirar foto, é sempre assim, com essa intimidade?

_Já vi que não vamos conseguir conversar_ falou com os olhos cheios de lágrima _deixei minhas coisas com um vizinho seu, preciso chamar um táxi e ir pra casa, estou muito cansada.

_Eu te levo em casa, vamos, vou pegar o carro.

_Então vai ser assim?

_Talvez seja melhor.

_É uma escolha sua...

Ajudei Aline a levantar, e seguimos lado a lado até a minha casa. O silêncio era uma tortura, mas se tentássemos conversar naquele momento, com certeza seria pior. Eu tenho a personalidade muito forte, e um defeito que eu tinha e não conseguia mudar era a impulsividade. Muitas vezes tive atitudes que me arrependi por não conseguir parar pra pensar e decidir com calma. E mais uma vez esse meu lado com certeza faria com que eu me arrependesse.

Quando chegamos no portão da minha casa, o Paulinho estava lavando o carro em frente a casa dele, provavelmente, de longe ele já percebeu que algo não estava bem, se aproximou trazendo a mala dela e os sapatos. Disse poucas palavras e quando ia se afastar, eu pedi o carro emprestado mais uma vez e ele prontamente estendeu a chave e saiu.

_Preciso tomar uma água, pode pegar pra mim.

_Vamos entrar, eu só vou colocar a sua mala no carro e já subo.

_Prometo que não demoro, e só uma água mesmo.

Ela subiu enquanto eu fechava o carro, e quando eu entrei em casa, ela estava sentada no sofá, com a cabeça apoiada e estava de olhos fechados.

_Se quiser dormir um pouco, mais tarde eu te levo.

_Eu só quero entender.

_´Descansa um pouco, toma um banho morno, vou pegar uma roupa pra você, e enquanto você dorme eu vou correr.

_Que droga, qual é o seu problema? _Por que está fazendo isso com a gente.?

_Eu estou fazendo? _Você viaja, e do nada eu recebo uma foto daquela, e sou eu que estraguei tudo.

_Eu já falei que não aconteceu nada. Ela até tentou, mas eu jamais trairia você e...

_Eu sabia!

_Amor calma, ela só me deu uma cantada, mas eu deixei claro que sou comprometida, que sou apaixonada por você, e ela não insistiu. Se observar, ela também esta abraçando o Felipe, foi algo natural.

_Amor...

_Sim amor, meu amor, a mulher por quem eu sou apaixonada, que eu quero pra sempre na minha vida...por que você resiste tanto?

_Medo, você é linda, é rica, bem sucedida, pode ter quem você quiser.

_Eu quero você, Nicole eu te amo_ falou enquanto as lágrimas caiam sem controle.

_Não faz isso!

_Eu sei que é pouco tempo, mas nunca tive tanta certeza de algo. Eu amo você _falou se aproximando e encostando a testa na minha.

_Esse vestido ficou lindo em você, não é a toa que foi assediada.

_Para, não parei de pensar em você um só minuto _Aline estava mais dengosa do que nunca.

_Por que veio embora de madrugada, deve estar exausta.

_Eu precisava de te ver.

_Mas era só esperar um pouquinho... Aconteceu mais alguma coisa, você beijou ela, saíram juntas _o bichinho do ciúmes atacava mais uma vez.

_Caramba, eu queria te ver, só pensava em você, e quando ela tentou ficar comigo, insinuou que estava a fim de mim, eu só queria ter você por perto, eu só sentia necessidade de olhar no teu olho e dizer o quanto eu sou apaixonada por você, o quanto você mudou a minha, trouxe mais cor _Aline falou me puxando pra sentar no sofá.

_Espera _falei e me afastei dela e fui em direção do quarto.

Quando voltei tinha nas mãos uma caixinha vermelha e ela me olhou surpresa.

_Eu comprei ontem, muitas coisas aconteceram depois que você viajou, mas vamos falar sobre isso outra hora. Fui no shopping ontem, e queria algo que nos duas pudéssemos usar, procurei algo que uma pudesse estar sempre perto da outra de alguma forma, não é uma joia cara, é apenas simbólico_ abri a caixa e virei pra ela

_Amor é lindo, nunca ganhei nada tão especial.

_Eu chamo você de anjo desde a primeira vez que ficamos, e você de fato é um anjo lindo que me faz feliz todos os dias.

_Os pingentes são iguais ,exatamente iguais. Me ajude a colocar_ ela virou de costas para que pudesse colocar a gargantilha no pescoço dela e eu virei pra ela colocar o meu.

_Ficaram lindos, dois anjinhos sentados na lua, é impressionante a riqueza dos detalhes.

_O pouco tempo que estamos juntas, foram o suficientes para saber que eu preciso de você na minha vida, que eu te amo, e quero cuidar de você a minha vida inteira. Dra. Aline, a senhorita quer namorar comigo?

_Meu amor, me apaixonei por você desde a primeira vez que te vi. Claro que aceito namorar com você. Não sabia que o pedido tinha que ser de ambas as partes. _Aline falou gargalhando.

_Eu apenas formalizei agora.

_Eu estou descabelada, precisando de um banho, mas poderia me dar um beijo.

Como resistir a um pedido daqueles. Segurei Aline pela cintura, e a puxei de encontro ao meu corpo, a saudades da boca, do corpo  dela era tanta que chegava a doer. Passei a língua nos meus lábios, pra deixar ela com mais vontade ainda e encostei meus lábios nos dela, bem de leve, queria que ela sentisse a minha respiração. Mas antes que eu tentasse provoca-la, ela tomou a minha boca em um beijo faminto. Enquanto me beijava, deslizando a língua de forma ousada pela minha boca, apertava as minhas costas, fazendo meu corpo grudar no dela. Quando ela parou para respirar, se afastou o suficiente para olhar nos meus olhos.

_Nunca mais duvide do meu amor por você, da minha fidelidade, cada palavra sua parecia uma faca afiada retalhando minha pele, meu coração. Se algum dia eu deixar de amar você, será a primeira pessoa a saber, pode ter certeza.

_Me perdoe, eu fiquei desnorteada quando vi aquela foto. Tive tanto medo, fiquei apavorada.

_O medo é natural, o que não é natural, é a desconfiança, se alguém te magoou, eu sinto muito por não conseguir dar um passo a frente, se o erro não foi seu se liberte. Mas não pode usar um relacionamento passado como espelho para o nosso namoro. Eu posso ter todos os defeitos do mundo, sou chata, dengosa, sou tão impulsiva quanto você, a prova disso é que viajei no meio da noite pra vir te ver, tenho meus traumas, medos, mas o dia que eu não estiver feliz do seu lado, coloco um ponto final, jamais, em hipótese alguma vou trair você. Duas coisas que eu tenho que absolutamente ninguém vai tirar de mim, o meu caráter e a minha palavra.

_Eu sei meu anjo, prometo que sempre vou conversar antes de qualquer coisa.

_Espero Dra. Nicole, espero que não se repita mais. Mas, agora que eu já ganhei um beijo da namorada mais gostosa do mundo, preciso de um banho e um café da manhã.

_Vou pegar a tua mala, vai ficar o final de semana comigo. Não esquece de avisar a Lu. E depois vou comprar algumas coisas para o nosso café da manhã.

Desci para pegar a mala no carro, e ela ficou no banho, quando voltei avisei que a mala estava no quarto e que iria voltar logo. Fui o caminho inteiro pensando em tudo que havia acontecido desde que ela chegou. Por pouco nosso namoro não foi por água abaixo. Eu precisa me policiar, para evitar que coisas desse tipo acontecessem, fui imatura, impulsiva, a magoei sem ter certeza de nada. A impulsividade sempre foi um problema na minha vida, várias vezes já fiz coisas sem pensar, na hora da raiva, agia por impulso e sempre me arrependia, e se eu quisesse a Aline do meu lado, teria que mudar, procurar ajuda de um especialista, fazer uma terapia, ou qualquer outro tratamento que me ensinasse a segurar esse meu lado, que me ensinasse a pensar duas vezes antes até mesmo de abrir a boca.

Fui a padaria e supermercado, e quando estava tentando abrir o portão de casa, as meninas abriram, me dando passagem.

_E aí delicia caiu da cama?_ Karina e suas gracinhas.

_Acordei cedo pra correr, mas acabei desistindo.

_Vai fazer o nosso café da manhã?_ falou tentando ver as sacolas_ Estamos indo encontrar a turma, vamos jogar?

_Sem chance, Aline chegou de viagem, veio direto pra cá.

Mal fechei a boca e ela apareceu no alto da escada, enrolada na toalha.

_Bom dia meninas! Por que não sobem pra tomar café conosco.

_Vamos aceitar Dra. Gos...Quer dizer, Dra. Aline. 

_Ótimo, subam.

_Perdeu a noção do perigo garota_ Falei dando um peteleco na cabeça da Karina.

_Credo que mal humor.

_Liga não nick ela quando acorda é mais sem noção do que quando vai dormir. Agradece o convite da Aline, mais tarde podemos fazer alguma coisa, agora o pessoal tá esperando na praia _ ao contrário da Karina, a Flavia era o bom senso em pessoa.

_Eu não vou porque estamos com pressa, mas tá ligada, que quem manda é a Aline.

_1.2.3...

_Chata, mas eu te amo.

_Cadê as meninas amor?

_Foram para a praia, mas tarde vamos sair um pouco, se você não estiver muito cansada.

_Estou precisando sair um pouco mesmo, nós nunca saímos juntas como casal, só aquele dia do shopping.

_Deita um pouco quando o café estiver pronto eu te chamo- falei dando um selinho nela.

_Quer ajuda, não sou muito boa na cozinha, mas o que vale é a intenção.

_Apronto tudo rapidinho.

Aline deitou no sofá, enquanto eu preparava o nosso café da manha. Quando a mesa estava posta, eu chamei, mas ela não respondeu e quando eu cheguei na sala, ela estava em um sono tão gostoso que deu pena de acordar, mas ela precisava se alimentar.

_Meu anjo, vem comer alguma coisa_ falei beijando de leve o rosto dela.

_Desculpa, eu acabei dormindo.

_Vem depois eu te levo pra cama, precisa dormir.

Com muito esforço ela conseguiu comer, mas era visível o cansaço e o sono, coloquei a louça na pia e voltei pra perto da mesa. Abaixei o suficiente pra pegar ela no colo e fui em direção do quarto com ela aninhada em meus braços.

Fim do capítulo