Há muitos anos me pergunto qual é o som do silêncio. Porque há, né. Mesmo na mais profunda calmaria tem sempre um zumbido persistente – não sei se da Terra se movendo, ou se de algum som provocado incessantemente pelo meu labirinto, no ouvido. É aquele tal silêncio da meditação, tão permeado de pensamentos aleatórios, que também evocam sons.

Quem dera se eu viesse aqui hoje falar disso. Há muito que meu silêncio ruidoso só é ouvido à noite – e olha lá! Eu tenho quase certeza de que há um som noturno por aqui, um vrummm constante que embala meu sono todas as noites. Já associei ao elevador, mas não estou certa se mesmo em desuso ele faz algum barulho. Preciso me lembrar de ouvir (ou não) na próxima vez que acabar a luz.

Mas hoje meu relato é de um som que não sei do que é. Som das horas comerciais, som dos dias úteis. Parece aspirador de pó e furadeira, e tem um zunido fino junto. De onde vem, não se sabe, mas se cessa sempre perto do fim do dia – quando toca a sirene do bosque, pontualmente às 17h40 (essa toca também aos finais de semana e feriados). Ou seja, o barulho acaba quando eu também já estou esgotada.

Havia uma piada interna na minha casa, quando eu era criança, que envolvia o meu avô, o seu Zezinho. Meu avô era meio surdo, e sempre colocava o som da tevê no talo, no máximo, no último. Depois, quando ele não estava por perto (meus avós moravam no Rio, e nós em São Paulo) e eventualmente o som estava alto, alguém sempre perguntava “Zezinho chegou?”.

Mano, virei o Zezinho! E hoje super entendo o meu avô. Tem hora que é tanto barulho que a gente fica meio zureta mesmo, além de surdo parece que a gente também quer contribuir com a poluição sonora, sei lá. Eu gosto de identificar o meu som no som dos sons!

No fundo, sempre soube que um dia me pareceria com os mais velhos da minha família, que eu tanto observava quando era mais nova. Só não imaginei que os seguiria, inclusive, no quesito rabugice.

Fim do capítulo