Emma sentia que poderia morrer a qualquer momento desde que atendeu o telefonema de sua mãe. Joshua havia sofrido um acidente de ônibus enquanto voltava da escola e estava sendo levado para a emergência. De acordo com o que ela lhe disse, aparentemente um carro cruzou o sinal vermelho e o ônibus acabou batendo de frente com ele, e mesmo que nenhuma morte tenha sido confirmada até então, seu coração infelizmente não conseguia bater de um modo menos desesperado contra seu peito.

O motorista do uber dirigia com certa pressa, afinal, a tensão que ele via no rosto dela através do retrovisor era nítida. Ao chegar no hospital, Emma o pagou e desceu do carro às pressas, abrindo a enorme porta de vidro e indo até a recepção.

一 Emma! 

A garota olhou para o lado direito onde ficava um corredor ao ouvir a voz de seu pai. Ela foi ao seu encontro e segurou em seus braços com força ao mesmo tempo que sentia algumas lágrimas caírem.

一 C-Cadê ele? 一 engoliu em seco. 一 Cadê o meu irmão?

Henry estava tão abatido quanto a própria filha, no entanto, sabia que em situações assim o mais importante era manter a calma.

一 Está sendo atendido. 一 disse puxando-a para um abraço apertado. 

一 Qual é o estado dele? 一 perguntou desvencilhando-se de seus braços para poder fitá-lo alguns instantes depois.

一 Não sabemos ainda, filha... 一 soltou um pesado arfar ao direcionar com a cabeça para a sala de espera, agora cheia de familiares aguardando por notícias assim como eles. 一 Eles chegaram tem meia hora.

一 E a mãe? 

一 Está vindo pra cá.  

一 Quantas crianças?

一 Vinte. 一 disse com certo pesar. 

一 Meu Deus... 一 comprimiu os lábios pelas lágrimas que voltaram a cair, levando a esconder o rosto no peito de seu velho que passou a acariciar seus cabelos.

一 Ele é forte, vai ficar bem. 一 sorriu segurando seu rosto e o erguendo devagar. 一 Joshua tem a quem puxar. 

一 Eu só quero vê-lo. 

一 Eu sei, querida, eu sei. 一 assentiu algumas vezes antes de voltar a abraçá-la.

A cada minuto que se passava parecia ser uma espécie de tortura. Todos dentro daquele hospital estavam começando a ficar cada vez mais tensos, especialmente por conta da correria de alguns médicos para atender todas as crianças e de tentar, quase ao mesmo tempo, controlar alguns pais eufóricos. Emma aproveitou esse tempo para poder avisar Claire uma vez que ela estava no dormitório, caso contrário ela ficaria preocupada com seu sumiço repentino, e também pensou em avisar Ally, contudo, uma voz dentro de seu subconsciente preferiu fechar a janela da conversa antes que ela pudesse mandar a mensagem devido ao fato de estarem sem conversar por alguns dias. Dez minutos se passaram quando sua mãe adentrou o edifício, tão afoita e desesperada que chegou a dar um aperto no peito de Emma, momento que a fez pensar no quanto eles devem ter sofrido quando ela se acidentou. Sua perna direita balançava sem parar enquanto aguardava sentada em uma das cadeiras que seu pai praticamente a obrigou para que ficasse ali já que não conseguia parar de andar de um lado para o outro, e quando pensou em apoiar os cotovelos sobre os joelhos, se colocou de pé rapidamente quando viu em torno de dez médicos aparecerem na sala.

一 Vocês são os parentes das crianças, certo? 一 perguntou ao que parecia ser o médico responsável, e também o mais velho. Provavelmente ele tinha em média sessenta anos. Sua estatura era baixa, tinha os ombros levemente inclinados para frente, cabelos volumosos e grisalhos, pele negra e óculos redondos que deixava seus olhos um pouco menores do que provavelmente, mas com certeza isso era devido ao forte grau que usava.

Todos levantaram e assentiram.

一 Bom, infelizmente a notícia que eu trago não é boa para todos aqui. 一 disse pegando a pasta de um outro médico, desta vez bem mais novo. 一 De vinte crianças, catorze estão estáveis. Eles tiveram ferimentos leves, mas estão fora da zona de perigo, porém, os outros tiveram complicações.

一 Que complicações? 一 perguntou uma moça que agora segurava firmemente o braço do marido.

一 Contusões, fraturas e hemorragias internas. 

O coração de Emma foi até a boca. Seu estado de nervosismo estava tão alto que poderia ter uma síncope a qualquer momento. 

一 Os nomes que eu chamar por favor me acompanhem, os outros em estado mais leve deverão ir com a Doutora Flinch. 一 disse ajeitando o óculos e levantando a prancheta. 一 Michael Davis, Mark Harris, Sophie Moore, Joshua Young, Jennifer Garcia e Alexa Lewis.

一 Não... 一 murmurou Emma voltando a chorar. 一 Não pode ser...

As pernas da garota vacilaram, e se não fosse pelo seu pai, talvez ela tivesse caído de joelhos ali no meio de todas aquelas pessoas. 

 

x-x

 

Quarto 110 一 18:30

 

Ally abriu a porta do quarto tão afoita que levou sua colega a dar um pulo da cadeira, e também não era pra menos, afinal, a garota estava concentrada estudando.

一 Mas que porr*...? 一 a ruiva soltou a caneta em cima do livro e a encarou com o semblante fechado, mas ao ver o dela, logo sua expressão mudou. 一 O que aconteceu?

一 O Joshua sofreu um acidente, estou indo para o hospital. 一 disse tirando a jaqueta às pressas e jogando ela em cima da cama. 

一 Quem? 一 franziu o cenho confusa.

一 O irmão mais novo da Emma.

一 Puta merd*... 一 disse levantando-se. 一 Eu vou com você. 

一 Obrigada, Mag. 

A loira sorriu e logo tratou de pegar uma muda de roupas para que pudesse tomar um banho rápido, saindo de lá cinco minutos depois. Maggie pegou as chaves do carro da mão da garota uma vez que ela encontrava-se muito agitada para dirigir e fez o trajeto até o hospital que eles estariam, informação esta que pegou de Claire. 

一 Você sabe o estado dele? 一 perguntou a ruiva.

一 Não, não faço ideia. 一 balançou a cabeça, apoiando o cotovelo na janela para que pudesse sustentá-la. 一 Espero que ele esteja bem.

一 Quantos anos ele tem?

一 Doze. 一 Ela massageou a testa e fechou os olhos. 一 Céus, a Emma deve estar desesperada.

一 Ele vai ficar bem, tenha fé. 一 assegurou afagando seu ombro. 

一 Tomara...

 

x-x

 

一 Vem, querida, vai ficar tudo bem. 一 Raven acariciou suas costas e começou a empurrá-la gentilmente para que pudesse seguir o médico. 一 Sabe como ele é resistente, então não se preocupe, hm? 

Foram poucas as vezes que Emma sentiu falta de ar, sendo a primeira delas quando teve seu próprio acidente. O segundo? Quando Joshua nasceu. Ela se sentia tão feliz e realizada que ter sido obrigada a ficar em casa com os tios enquanto sua mãe dava a luz se tornou uma tarefa árdua, quase torturante, mas que mais tarde se converteu no melhor dia da sua vida. Entretanto, estar nesse cenário atual só a fazia pensar que tudo isso era apenas um terrível pesadelo que ela não esperava a hora dele acabar. 

Uma ansiedade enorme parecia lhe consumir a cada passo que dava por aqueles corredores. Eles viraram à direita e seguiram adiante até uma outra porta de vidro, e à medida que seus olhos passeavam pelas placas, um nó se formou em sua garganta quando leu a que ela menos queria: UTI.

Os familiares foram parando diante das janelas dos quartos conforme os enfermeiros informavam sobre a situação atual de seus filhos, onde era possível ouvir o choro de todos ali, mesmo que fossem contidos, e isso só a deixava cada vez mais apreensiva.

一 Vocês são a família do Joshua Young? 一 perguntou uma jovem enfermeira ao se aproximar com uma prancheta em mãos. Ela era loira, tinha cabelos curtos e uma aparência jovial, todavia, sua expressão apática e séria fez com que os músculos de Emma ficassem rígidos.

一 Sim. 一 disse Henry. 一 Como ele está?

一 Por favor me acompanhem. 一 pediu fazendo um sinal com a cabeça, caminhando até o penúltimo quarto do corredor. 一 Ele está estável agora. O garoto teve uma fratura na costela que causou uma hemorragia interna, provavelmente ele terá que passar por cirurgia e preciso que assinem o termo de consentimento para isso.

Emma colocou a mão sobre a janela de vidro e umedeceu os lábios, sentindo agora todas as lágrimas despencarem de seu rosto como uma forte cachoeira. Joshua estava deitado na cama e com um respiradouro, coberto por um edredom branco até a região do peito, respirando tão devagar que por um momento ela duvidou que fosse uma miragem. 

一 Ai meu Deus! 一 Raven tampou a boca com a mão na intenção de segurar o choro, mas fora em vão. 一 A cirurgia é realmente necessária?

一 Sim, seria o indicado, senhora. 

一 Nós iremos assinar. 一 assentiu Henry afagando o braço de sua esposa. 

一 Quantos por cento? 一 perguntou Emma como um sussurro, ainda com os olhos fixados nele. 一 Quantos por cento da cirurgia dar certo? 

一 Mais da metade, não se preocupe. 一 Ela abriu um pequeno sorriso de canto. 一 Agora vou pedir que venham comigo, infelizmente não é possível ficar por tanto tempo aqui, lamento.

一 Eu quero ficar. 一 comprimiu os lábios. 一 Por favor...

一 Temos que ir, filha. 一 Raven foi até seu encontro e beijou a lateral de sua cabeça. 一 Você ouviu a enfermeira, ele está estável.

一 Quando eu posso vir visitá-lo? 

一 Todos os dias, mas dentro dos horários permitidos, ok? 

一 Eu volto amanhã. 一 Ela levou as mãos até o rosto e o enxugou. 一 Por favor cuide bem dele.

一 Farei tudo que estiver ao meu alcance, posso te garantir. 一 disse indo até ela e apoiando a mão em seu ombro. 一 Agora vamos.

Emma balançou a cabeça em sinal positivo, e antes que pudesse voltar a andar, olhou através da janela uma última vez para se assegurar de que seu irmão estava respirando. 

"Eu venho amanhã, tá? Aguente firme." 

Ela encheu o peito de ar e o soltou devagar, caminhando com seus pais agora em direção à recepção do hospital, e no momento que abriu a porta, logo avistou Claire de braços cruzados com o corpo apoiado na parede.

一 Emma! 一 a garota foi até seu encontro e estendeu seus braços, momento que ela os segurou. 一 Como ele está?

一 E-Ele vai ter que fazer uma cirurgia, está internado. 一 disse abaixando a cabeça.

一 Céus, vem cá. 一 suspirou ao lhe puxar de encontro ao seu corpo para um abraço. 一 Ele vai ficar bem, você vai ver.

一 Obrigada por ter vindo, querida. 一 Raven abriu um pequeno sorriso e acariciou seus cabelos.

一 Imagina! É o mínimo que eu posso fazer.

一 Obrigada, Claire. 一 Henry deu dois tapinhas em seu ombro. 一 Agora vamos deixá-las a sós, temos que assinar algumas coisas. Licença.

As duas ficaram um tempo abraçadas até Claire perceber que a garota já se encontrava um pouco mais calma. E ao olhar brevemente para o lado esquerdo, abriu um fraco sorriso quando viu Ally entrar acompanhada de outra garota, e após alguns segundos, a loira finalmente conseguiu pregar os olhos nas duas depois de passá-los por todo o local, momento que Claire assentiu e fez um sinal para que ela se aproximasse e assim ela o fez.

一 Emma, tem alguém aqui querendo te dar um abraço também. 一 disse segurando em seus ombros e a afastando devagar, vendo-a piscar confusa. 

A mais nova acompanhou a trajetória que os olhos dela fizeram e no instante em que eles se encontraram com os de Ally, sua vontade de chorar se fez presente mais uma vez. Claire soltou os braços da garota e caminhou até a porta, passando a conversar com Maggie e fazendo um sinal para que elas ficassem do lado de fora esperando. O contato visual entre as duas era intenso já que haviam tantas coisas que elas queriam dizer mas que no fundo sabiam que este não era o momento e nem o local apropriado para isso.

一 Eu me encontrei com a Claire quando estava voltando do parque e ela me contou o que aconteceu... 一 Ally quebrou o silêncio ao dar um passo em sua direção e desviando rapidamente para a sua mão que ela tanto queria segurar agora. 一 Eu queria ter ido até você, mas quando consegui arrumar coragem pra fazer isso, você saiu correndo. Eu sinto muito, Em...

Emma engoliu em seco e abaixou a cabeça.

一 Obrigada por ter vindo. 一 exprimiu as palavras, voltando a levantá-la.

一 Não foi nada... 

Ally deu mais um passo à frente e voltou a encarar sua mão, fazendo-a desviar a atenção para a mesma, e depois de entender o que a garota queria, Emma virou a palma de sua mão esquerda para cima como se estivesse lhe dando permissão, e antes mesmo que a mais velha pudesse segurá-la, Emma tomou a iniciativa de quebrar a distância que ainda tinha entre elas. Ela puxou seu mindinho e em seguida o anelar, até finalmente entrelaçar seus dedos nos dela, e quando isso aconteceu, Ally firmou o contato, voltando a procurar por seus olhos em seguida, e ao que a conexão foi estabelecida novamente, a puxou com calma contra seu corpo para poder abraçá-la com o máximo de ternura e conforto possível.

一 Ele é mais forte do que você pensa. 一 sussurrou em seu ouvido e levando sua mão esquerda até seus cabelos. 一 Mas não precisa carregar toda essa dor sozinha, ok? Eu tô aqui pra dividir ela com você.

As pernas de Emma fraquejaram outra vez. Suas palavras foram tão reconfortantes de ouvir que serviu como uma espécie de válvula para que as lágrimas voltassem a cair de seus olhos. No entanto, Ally a puxou para cima ao soltar sua mão para que pudesse enlaçar sua cintura com firmeza quando sentiu o corpo dela ceder.

一 Não vou te deixar cair, boba. 一 sorriu de canto ao sentir ela passar seus braços em volta de seu pescoço e apoiando a testa em seu ombro direito. 

一 Promete...? 一 sua voz saiu abafada, mas alta o suficiente para que ela conseguisse ouvir.

一 Prometo. 一 acariciou suas costas. 

O abraço durou tempo suficiente para que Emma pudesse se recuperar, e quando conseguiu, foi se afastando do corpo dela aos poucos até voltar a encarar aquele par de olhos cor de mel. 

一 Mais leve? 一 Ally abriu um sorriso.

一 E como... 

一 Você deve estar exausta... 一 disse soltando um pesado suspiro. 一 Você vai com os seus pais? 

一 Não, vou voltar para o dormitório, é mais perto daqui. 一 respondeu passando a mão pelos cabelos. 一 E ele provavelmente vai precisar de doação de sangue por conta da cirurgia.

一 Cirurgia?! 

一 Ele teve uma hemorragia interna, está na UTI. 

一 Céus... 一 Ally expulsou o ar de seus pulmões. 一 Vai dar tudo certo, tenho certeza disso. 

Emma assentiu sem muito ânimo e logo procurou por seus pais, vendo os mesmos terminarem de conversar com um dos médicos e se dirigir para onde estavam. Ally abraçou os dois e os confortou, e após conversarem um pouco sobre o caso de Joshua, eles informaram que ele teria que ser operado amanhã. 

一 Vamos? 一 perguntou Henry estendendo o braço em direção a saída. 一 Você pode levá-la em segurança, Ally? 

一 Claro! 一 disse abrindo um sorriso. 

一 Obrigada pelo apoio meninas, de todas. 一 Raven abraçou uma por uma quando chegaram do lado de fora do hospital. 一 E você, se cuide ok?

一 Eu vou, mãe... 一 assegurou abraçando-a. 一 Voltem em segurança, tá?

一 Fique tranquila. 一 seu pai lhe deu um beijo na testa. 一 Agora vão, vocês precisam descansar.

一 Vamos meninas. 一 Maggie desarmou o alarme do carro da amiga e abriu a porta para que Claire e Emma entrassem. 一 Querem passar em algum lugar? 一 todas negaram.

O senhor e a senhora Young entraram no carro e deram a partida, seguindo para o lado oposto que daria na via expressa. Emma se sentou no banco, colocou o cinto e passou a encarar a placa do hospital até Maggie dar a partida. O silêncio era absoluto onde momento ou outra as meninas lançavam olhares discretos para a mais nova que estava pálida e abatida. 

一 Em... 一 Ally a chamou. 一 Que horas é a cirurgia amanhã?

一 As nove. 一 sussurrou jogando a cabeça para trás.

一 Iremos fazer companhia pra você, tudo bem? 一 perguntou virando seu corpo para poder fitá-la. 一 Você pode, Claire?

一 Sem dúvida!

一 Eu também posso vir.

Emma abriu um sorriso e fechou os olhos ao sentir uma lágrima escorrer de seu olho.

一 Não chore... 一 pediu a loira segurando seu joelho.

一 Olha quem fala... 一 murmurou Maggie.

一 Que que é? 一 Ela encarou a amiga e fechou a cara.

Claire abafou o riso com a mão e Emma fez o mesmo.

一 Você é mais chorona entre nós aqui. 一 provocou Emma, e quando ela a encarou incrédula, a garota abriu um sorriso e soltou uma risadinha. 

一 Como pode me acusar desse jeito e ainda rir da minha cara?

一 Porque eu não vejo isso como um defeito. 一 deu de ombros e voltou a fechar os olhos, sustentando um singelo sorriso de canto.

Claire olhou para Maggie, que olhou para Claire e que juntas olharam para Ally que agora tinha as bochechas levemente ruborizadas. 

一 Quer uma água, amiga? 一 Maggie comprimiu os lábios.

一 Quieta. 一 grunhiu lhe dando um leve tapa no braço e voltando a se sentar. 

Depois dessa leve descontraída para tirar a tensão do ar, as meninas finalmente chegaram à Universidade e após combinarem o horário para o dia de amanhã, elas se despediram e seguiram para seus devidos quartos para que pudessem descansar. No dia seguinte, o clima voltou a ficar tenso, e ao chegarem no hospital a situação só se tornou mais complicada uma vez que Emma parecia uma pilha de nervos. 

一 Que demora... 一 a morena passou a mão pelos cabelos e permitiu apoiar os cotovelos sobre as pernas. 一 Já faz uma hora.

Maggie que estava sentada no banco de frente para a garota, cutucou Ally que encontrava-se ao seu lado de olho nela, e quando sua amiga desviou a atenção para si após perceber que estava sendo observada, a ruiva fez um sinal para que ela fosse até lá. A loira soltou um pesado suspiro e se sentou ao lado dela.

一 Ei... 一 sussurrou inclinando levemente seu corpo para frente. 一 Sei que é difícil, mas tenha fé, Em.

一 Estou com medo. 一 disse em um fio de voz ao entrelaçar os próprios dedos.

一 Eu sei... 一 assentiu ao levar sua mão direita até o seu braço e percorrendo pelo meio deles na intenção de separá-los. Emma a fitou brevemente antes de voltar a olhar para suas mãos, abrindo as mesmas para que ela pudesse segurá-la. 一 Posso?

一 P-Pode. 一 engoliu em seco ao sentir ela entrelaçar seus dedos com os dela. 

Mais alguns minutos se passaram quando o médico abriu a porta, agora tirando a máscara e as luvas com certo alívio e abrindo um pequeno sorriso após passear a atenção por todos ali presente. 

一 E então? 一 Henry deu um passo em sua direção. 

一 A cirurgia foi um sucesso, ele está bem. 

O suspiro de alívio ecoou pelo corredor. Henry abraçou a esposa que chorava em seus braços, Claire e Maggie largaram seus corpos nas cadeiras e Emma começou a chorar de soluçar. 

一 Já passou, viu? Ele está bem. 一 Ally soltou sua mão e a abraçou.

一 Nós podemos vê-lo? 一 perguntou Claire. 

一 Sim, mas por favor sejam rápidos, ele precisa descansar. 

Todos passaram a segui-lo até o quarto onde o garoto encontrava-se dormindo com um semblante tão calmo que quem olhasse de fora, não imaginaria o que ele passou.

一 Quando ele poderá ir pra casa? 一 perguntou Emma que tinha a mão sobre a janela.

一 Precisamos esperar um pouco para ver como ele irá reagir. 一 disse o médico analisando a sua ficha. 一 O deixaremos em observação por alguns dias, mas ele já está fora de perigo, fiquem tranquilos.

一 Graças a Deus! 一 Raven juntou as mãos e colocou sobre o peito. 

一 E quanto as outras crianças? 一 Henry parecia preocupado. 

一 Todas estão bem, a maioria já está em casa. 

一 Que alívio... 一 disse Maggie. 

一 Agora temos que ir. 一 ele fez um sinal para que se dirigissem à porta. 

一 Fica bem logo, campeão. 一 Claire deu um sorriso e afagou o ombro de Emma que soltou uma risada soprada. 

一 Falando em campeão... 一 a morena virou o corpo procurando por seus pais. 一 E o campeonato?

一 Estamos tentando negociar sobre isso na escola 一 Henry cruzou os braços e fez uma careta. 一 Mas o conselho está meio resistente.

一 Que idiotas, não custa nada eles adiarem pelo menos um mês o campeonato escolar. 一 Ally fez uma careta.

一 Al... 一 Emma a chamou.

一 Hm?

一 Minha mãe faz parte do conselho.

A garota abriu a boca e a tapou com as mãos, mas quando direcionou o olhar para a mulher, arqueou a sobrancelha quando a viu balançar a cabeça, fazendo-a voltar a encarar Emma que agora ria em silêncio.

一 Ora sua... 一 ela lhe deu uma leve jogada de corpo, situação que fez todos caírem no riso, inclusive o médico. 一 Não tem graça, ok?

一 Ah, tem sim! 一 disse ela mordendo o lábio, porém a mais velha cruzou os braços e lhe deu as costas. 一 Vai virar a cara pra mim mesmo? É assim?

一 Céus, parecem um casal... 一 sussurrou Claire para Maggie. 

一 Não é?! 

一 Vamos indo meninas. 一 Henry as chamou.

一 Você não vem? 一 perguntou Emma ainda sorrindo por ver que ela estava tentando lhe ignorar.

一 Não fala comigo até amanhã.

一 Aish... 一 a morena se aproximou e segurou em seus braços, descruzando os mesmos. 一 Para com isso.

Ally semicerrou seus olhos e armou um bico nos lábios, mas ao olhar para baixo, seu coração deu um salto quando viu que ela tinha a palma da mão direita virada para cima. A garota colocou a dela por cima alguns segundos depois, levando Emma a abrir um sorriso satisfeito, no entanto, ela flexionou o braço e deixou com que a sua ficasse por cima da dela, e juntas elas caminharam rumo a saída.

 

Segunda-Feira, 13 de Novembro 一 12:00

 

Após todo o sufoco em relação a situação de Joshua passar, parece que tudo tinha voltado ao normal, ou pelo menos era o que esperavam que acontecesse, porque na realidade, tirando esse incidente do garoto, tudo continuou igual. Emma teve de faltar à aula no período da manhã para poder ir ao hospital uma vez que seu irmão estava precisando de doação de sangue, mas que ainda assim continuava fora da zona de perigo. Contudo, seu corpo encontrava-se em um estado deplorável. A fadiga e o mal estar pareciam ser como uma espécie de buraco negro que fazia questão de lhe puxar cada vez mais suas energias. 

Ao chegar na Universidade, Emma mandou uma mensagem para seus pais avisando que estava tudo bem e que já tinha chego, em seguida, a garota se dirigiu para dentro da instituição, arrastando seus pés em direção ao refeitório, contudo, o azar parecia fazer questão de lhe seguir como uma sombra, especialmente quando por ela se chamar Brian Smith.

一 Olha só o que temos aqui. 

O garoto abriu um sorriso torto ao se colocar na sua frente, colocando as mãos dentro do seu bolso da calça. 

一 Eu vim te dar os parabéns, Emma. 一 disse passando a mão pelo queixo e fechando os olhos. 一 Graças a sua existência eu acabei sendo suspenso do time de futebol.

Emma soltou um pesado suspiro e ergueu a cabeça, olhando-o com tamanho desinteresse que chegava a ser cômico. A garota deu um passo para o lado na intenção de ignorá-lo, mas ele a impediu.

一 Me dá licença, fazendo favor? 一 pediu dando dois passos para trás.

一 Eu vim te dar um único aviso, garota. 一 disse inclinando seu corpo para frente até ficar próximo de seu rosto. 一 Fique longe dela, ou eu farei com que você também perca a sua bolsa.

Emma fechou o semblante e trincou o maxilar, o que o fez sorrir vitorioso.

一 Acho que peguei no ponto fraco de alguém... 一 voltou a endireitar a coluna. 一 E antes que pergunte, sim, eu consigo fazer isso se eu quiser.

Uma vertigem repentina invadiu o corpo da garota que por pouco não a levou a perder o equilíbrio. 

一 Sai da frente, Brian, eu não tenho nada para tratar com você. 一 disse ofegante.

 

Enquanto isso...

 

一 Sua mãe ficou brava? 一 perguntou Maggie que agora caminhava ao lado da amiga em direção à saída do prédio.

一 Com o quê? 

一 Ally, você não contou pra ela?

A garota fechou um dos olhos e fez uma careta, fazendo-a rolar os olhos.

一 Eu não consegui, tá ok? 一 disse com certo desespero. 一 É muita coisa na minha cabeça!

一 O que disse então para fugir do compromisso? 

一 A verdade. 一 deu de ombros. 一 Falei que o irmão de uma amiga tinha sofrido um acidente e que eu fui para dar apoio porque ele iria passar por uma cirurgia.

一 A Emma ficou desesperada, né? Deu até uma dor de vê-la naquele estado...

一 Nem me fale...

As duas seguiram conversando pelo campus até perto do pátio principal quando Maggie avistou uma cena que ela não desejava ver tão cedo.

一 Que foi? 一 perguntou Ally franzindo o cenho por ela ter parado.

一 O que esse filho da puta está fazendo?!

A loira começou a procurar o que ela estava olhando e quando achou, deu um passo à frente, porém Maggie a segurou.

一 Espera. 

一 Como "espera"?! Ficou louca, Mag?!

一 Se controla! 一 disse firme, olhando dentro de seus olhos, o que a fez engolir em seco. 一 Não esquece que você também pode se meter em encrencas ao afrontá-lo aqui dentro.

一 E o que você quer que eu faça?! 

一 Quero que mantenha a calma... 一 soltou o seu antebraço. 一 Eu cuido disso, confia em mim.

Maggie bufou e começou a caminhar de encontro até os dois, e ao se aproximar, puxou Brian pelo braço ao ponto dele ficar de frente para ela, já Ally foi até Emma.

一 O que pensa que está fazendo? 一 perguntou ríspida.

一 Não se meta. 一 ele fez menção de voltar a encarar Emma, mas a ruiva se colocou na frente.

一 Você não aprendeu nada com o seu irmão, não é?

一 Meu irmão é um idiota, só falta lamber o chão que você pisa. 一 soltou uma risada irônica. 一 Ele é uma piada.

一 Ele é um homem, não um moleque como você. 一 sorriu de um modo convencido, o que o fez torcer o nariz. 一 Agora deixe-a em paz, já tô cansada de te ver causando problema na vida das pessoas.

Ally deu as costas para a amiga e abaixou a cabeça para procurar os olhos de Emma, mas ao vê-la cambalear para o lado, rapidamente segurou seus braços. 

一 Ei, Em... Você está bem? 一 se aproximou de seu corpo.

A garota tremia dos pés à cabeça e parecia colocar o peso sobre ela, o que deixava-a ainda mais preocupada. Ela ergueu o queixo devagar e tentou abrir a boca para responder, mas antes que conseguisse fazer isso, sua visão ficou turva para então escurecer completamente.

一 Emma! 一 Ally segurou a cabeça dela contra seu peito e passou a outra por sua cintura. Ela havia desmaiado. 一 Hey, Emma! 

Maggie olhou para trás e de imediato foi ao encontro das duas. Ela ajudou Ally a deitar Emma no chão com cuidado e rapidamente passeou os olhos pelo lugar à procura de alguém que pudesse ajudar.

一 E-Ela tá branca... 一 Ally segurou o rosto da garota com cuidado e em seguida olhou para Brian com raiva. 一 O que você fez?!

一 Eu não fiz nada! 一 ele elevou o tom de voz visivelmente irritado. 

一 Merda... 一 a loira segurou a cabeça dela e com calma colocou em cima de seu colo. 一 Temos que levá-la pra enfermaria.

A essa altura do campeonato várias pessoas assistiam a cena e, como sempre, cochichavam entre si, até que um garoto moreno se aproximou das meninas.

一 Oi, eu posso carregar ela até lá, se quiserem. 

一 Isso Isaac, obrigada! 一 Maggie afagou o ombro do seu colega de turma que era um pouco mais alto que ela, porém forte, e ele retribuiu com um sorriso. Ele segurou Emma com firmeza e com a ajuda de Ally ele a ergueu do chão, aninhando-a em seus braços. 

一 O que diabos você ainda está fazendo aqui?! 一 ela o encarou de cima a baixo, e quando ele fez menção de responder, o interrompeu. 一 Vá embora. 

一 Eu vou levar o almoço pra vocês, me esperem lá, ok? 一 pediu Maggie.

Ally assentiu e logo começou a acompanhar Isaac até a enfermaria que ficava no outro campus, o que dava em torno de uns cinco minutos de caminhada. Ao chegarem lá, rapidamente foram atendidos por uma senhora enfermeira que os guiou para dentro da pequena sala.

一 Deite ela aqui, meu jovem. 一 pediu a senhora com um sorriso acolhedor. 一 O que aconteceu?

一 E-Eu não sei, ela simplesmente desmaiou. 一 Ally gesticulava com as mãos, estava nervosa. 

一 Sabe se ela tem se alimentado direito ultimamente? Se tem anemia? 一 perguntou examinando-a. 

一 Não, ela não é anêmica. 

一 Bom, eu já vou, espero que ela fique bem. 一 disse Isaac.

一 Muito obrigada, sério. 一 ela o abraçou.

一 Não foi nada! 

Ally observava a mulher examiná-la com cuidado. Ela tirou sua temperatura, checou os batimentos e tudo parecia normal, todavia, ao erguer as mangas da garota, seus olhos foram de encontro ao curativo no meio de seu braço.

一 Parece que ela fez exame de sangue hoje. 

一 Não, não foi exame. 一 Ally suspirou aliviada. 一 Ela foi doar para o irmão que passou por uma cirurgia.

一 Bom, nesse caso, ela só precisa descansar e se alimentar depois. 一 informou pegando uma cadeira e colocando ao lado da maca. 一 Pra você. Imagino que irá esperar ela acordar, não?

一 Eu posso ficar?

一 Pode sim.

一 Obrigada... 

A sala da enfermaria era simples, mas tinha o necessário para poder fazer os primeiros socorros a qualquer um que precisasse na instituição. Ally se acomodou na cadeira e passou a observar o rosto da mais nova com atenção, tão abatido que nem parecia a garota que a segurou nos braços quando caíram de uma ladeira de mais de quatro metros. A mais velha colocou a mão sobre o colchão e foi se aproximando até que seus dedos ficassem por cima dos dela. Uma sensação incomum parecia crescer dentro de seu âmago cada vez mais, sensação esta que fazia questão de empurrá-la cada vez mais para perto do corpo dela, e era tão forte que tentar resistir contra provavelmente lhe cansaria. 

一 Cheguei. 一 Maggie entrou na sala ofegante e abriu um sorriso para a senhora que lhe deu permissão para entrar. 一 Trouxe dois sanduíches pra vocês. Como ela está?

一 Ela foi doar sangue para o Joshua hoje, por isso desmaiou. 一 disse pegando as sacolas e colocando sobre o colo. 一 Obrigada, amiga.

一 Não foi nada. 一 afagou seus cabelos. 一 Ela não irá fugir, então você pode soltar a mão dela, mulher. 一 riu.

一 Esse é o problema... 一 Ally comprimiu os lábios. 一 Eu não sei se quero soltá-la...

Maggie arqueou a sobrancelha de um modo divertido, mas sabia que se fizesse contato visual com ela agora, poderia deixar ela com vergonha.

一 O que quer dizer?

Ela se remexeu na cadeira e cruzou as pernas, parecia distante dali enquanto ainda a observava com zelo.

一 Estou com medo, Mag.

一 Eu sei... 一 a ruiva apoiou seu queixo sobre a cabeça dela. 一 Mas você tem que ouvir o seu coração. O que ele está lhe dizendo?

一 Que eu deveria dar uma chance. 

 

 

 

Fim do capítulo