Maktub, palavra de origem árabe tatuada no pulso de Samara está associado a algo que tinha que acontecer...

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       Cheguei na redação atrasada, uma série de fotos e folders, além dos escritos se avolumavam em cima da pasta marrom que tentava, em vão, equilibrar em meus braços. A senhorinha do café sorriu e me ajudou, tirando um peso de cima de mim, depois me olhou firme e virou em direção a porta do elevador, não sem antes dizer.

 - A senhora nunca para?, sempre correndo, olha que o jornal fica e nós que trabalhamos aqui vamos todos embora, hein?.

      Depois disso, ela riu na tentativa de suavizar a frase de efeito, e eu?, bom, eu sorri tristemente, o que dizer diante de uma pessoa com total razão?, nada, a não ser acatar a dura realidade, não tinha mesmo tempo para nada que não fosse relacionado ao trabalho. No entanto, essa escolha era totalmente consciente, deixava me avolumar de lidas diárias para de alguma forma esquecer um pouco a vida arrastada que levava em casa.

      Desci com Lola, a senhorinha do café, no mesmo andar e após agradece-la, resolvi que seria simpático chama-la pelo seu nome.

- Bom dia Lola, a gente se vê mais tarde. - Ela sorriu impressionada por minha fala e respondeu educadamente.

-  Claro Samara, pode deixar que eu levo seu cappuccino as três como todos os dias.

       Sim, também era verdade que não dispensava essa bebida as três, aliás, pensei alto e pensei que não sabia em que momento a minha vida tinha se tornando tão pontual, chegava as oito, participava de reuniões, ia pra casa as 18h, ia para faculdade, onde dava aula de 19h as 22h, e, tentava manter o equilíbrio dentro de um casamento que havia finalizado, e que se aproximava imensamente do abusivo, no mais tentava levar o resto do tempo lendo, vendo filmes, saindo com as amigas, fora alguns cainhos sem muita relevância, fora isso, seguia escrevendo alguns rascunhos que se avolumavam em cadernos e que nunca saiam de lá.

- Falaaaaaaaa Samara.

      Olhei de rabo de olho e a amiga estava lá, mãos na cintura, pose indagativa, sorriso aberto.

- Dá bom dia Fuleragem...

- Bom dia Beatrice - Respondi sem interesse algum, ela pegou a cadeira de rodinhas e ficou girando enquanto falava.

- Mas é mal humorada, eu já disse que esse teu pseudo casamento está te detonando, cria coragem amiga, você não tem obrigação de levar esse peso, vocês até terminaram, como permite que a tua ex continue na tua casa, e ainda por cima te infernizando os dias?, ok, você prometeu a mão dela que morreu a quatro anos que cuidaria da filha dela, mas, você cumpriu sua parte com louvor,  e ela?, não vê que Juliana abusa da sua paciência e desse coração mole que tenta a todo custo esconder?.

- Sim, eu sei...

- Sabe, mas, não tem coragem, já seguiu o conselho da Rose e procurou a psicóloga?, alia isso a uma boa mãe de santo, já te disse que na minha humilde opinião, amiga, você tem que despachar esse ebó que ele não é seu...

       Olhei Bia e concordava com tudo que foi dito, tirando a ida a mãe de santo, mas,a verdade é que morria de pena na situação de Juliana, que ao longo dos anos havia se tornado uma pessoa amarga devido suas escolhas erradas.

- Sa, nem foi para isso que eu vim na verdade, mas, não ia perder a chance de falar mal da jacaroua, que você sabe como sou...

-  E o que você quer?.

- Calma amiga, já quer se livrar de mim?.

- Sim Bia, tenho que trabalhar, cheguei atrasada...

- Nossa, vinte minutos...acho que foi a responsável pelo início da III Guerra Mundial...

- Não enche Bia...vai direto ao ponto, sim?

- Amiga, tem uma revista LGBT online que precisa de uns contos lésbicos, você não quer escrever não?, o site é de uma amiga minha...se inscreve ela vai selecionar dez escritoras...

-Quanto vou ganhar?.

- Nada, aliás...vai ganhar leitoras, novas amizades e quem sabe nesse meio você encontra um amor por lá?

- Até parece amiga...quem vai querer uma mulher que ainda divide apartamento com a ex e sem tempo para quase nada?.

- Não se deprecie...você é bonita, é inteligente, bem humorada, isso quando a jacaroua não te tira do sério...amiga, vai pensando em um nick, vai ser bom, assim se distrai, você tem aqueles textos inacabados, porque não tenta?.

- Bom, se for para escrever que seja com meu nome mesmo... Samara Montenegro.

- Isso ai amiga, você é sapa raiz, não tem essa de escrever com pseudônimo...só cuidado com a Dona Aranha, se ela percebe que você está escrevendo ela vai dar um jeito de minguar teu projeto que aquilo não é gente.

- Ai Bia também não é assim.

- Tem razão, não é assim, ela é muito pior do que estou falando e você sabe. Pensa com carinho, vai?.

       Depois que Bia saiu fiquei pensando na sua ideia, escrever semanalmente em uma revista lésbica, poderia ser interessante, não pensei muito e me inscrevi, enviei um conto curto que estava dentro do pendrive, que estava tão inacabado como a minha vida, mas, a história de suspense me pareceu ser uma boa ideia e enviei sem expectativa nenhuma de dar certo. Cheguei em casa tarde, os gatos se enroscavam em minha perna querendo carinho, sentei no sofá e os três se aproximaram, não demorou muito e minha ex chegou.

- Chegou tarde hein?.

- Estava trabalhando...

-E você faz outra coisa além disso?, ah, faz...você sai com aquelas amigas insuportáveis, aliás, uma dela passou por aqui atrás de você. Só a otária aqui fica em casa dias e dias há anos, sem trabalho e dependendo totalmente de você, isso não é vida...deixei de sair com meus amigos para viver em sua função, então, olha o que ganho, um término sem nenhuma explicação e essa convivência insossa...

     Quis retrucar que tudo isso aconteceu devido as escolhas que ela tinha feito na vida, mas, achei melhor nem falar nada e sai para tomar banho e comer alguma coisa, isso tudo com Juliana no meu encalço.

- Não vai falar nada?.

- Acho que não vale a pena, você quer que me destempere e dessa vez, não vai conseguir.

- Ah, tadinha, não vai chorar?, nem ligar para as amiguinhs?, tampouco vai se morder de nervoso?.

- Por favor Juliana, me deixa em paz, estou perdendo a paciência contigo...

- E vai fazer o que?, me bater?.

- Nunca, jamais faria isso com você, nunca fiz, só estou dizendo que estou chegando perto do meu limite...

- Você é uma menina mimada, criada no Leite Ninho, por isso cresceu assim...

      O grito de "chega" fez com que os gatos saíssem correndo, tadinhos, não foi minha intenção. Juliana colocou as mão na cintura e falou.

- Sabia que isso tudo é uma forma de ameaça?.

       Meu peito arfou, estava quase hiperventilando de tão mal que estava passando, apenas tomei um copo com água e entrei no meu quarto, onde eu errei?, o que fiz com essa criatura para ela tentar me enlouquecer diariamente?.

         No outro dia acordei com um cheiro de café e de bolo

- Bom dia Samara, fiz um bolinho cedinho, aquele de leite de baunilha, feito da fava, acho que vai gostar.

      Ela tentou beijar meus cabelos, mas, não deixei, só pensei "caraio, essa mulher é bipolar, só pode?, será que Angélica, uma das amigas onde leciono tem razão e ela faz oração na minha comida para me acalmar?". Sabe-se lá...Sentei e comi o bolo em silêncio.

 - Samara, você podia ligar para o Marcelinho, dá uns conselhos a ele. - Sabia que aquele tratamento não era a toa...

- Juliana, você é mãe, ele tem que escutar você, não queira terceirizar sua obrigação.

- Mas você tem uma ligação com ele....

- Não força, eu ajudava por ele ser teu filho, nada mais do que isso....

- Eu acho que vocês devem ser amigos de outras vidas, ele te escuta tanto...

       Dei de ombros e suspirei, dessa vez ela não ia me obrigar, terminei o café, fiz carinho nos gatos e deixei Juliana para trás. A semana passou rápido e fui notificada na quinta que tinha sido selecionada para escrever meus contos na revista, liguei para o ramal de Beatrice e comuniquei, saímos juntas para comemorar. em um almoço descontraído.

- Eu não disse que você conseguia?...parabéns amiga, qual o próximo passo?.

 - Tenho que ir a Sampa no lançamento da revista , você vai comigo?.

- Lógico, assim a jacaroua não vai desconfiar, hoje mesmo vou a sua casa preparar a cama.

- Como?.

- Vou fazer com que Juliana pense que vamos viajar a trabalho...

- Entendi...

      A noite enquanto comíamos a pizza em companhia de Juliana, Beatrice soltou despretensiosa.

- Amiga, tenho que me organizar melhor para a reunião de São Paulo. - Olhei esquecendo completamente do combinado.

- Que reunião Bia?.

- Esqueceu da reportagem que vamos fazer sobre a cidade?.

- Nossa é mesmo, tinha esquecido até.

      Juliana abocanhou um pedaço e falou de boca cheia.

- Vai viajar e nem me avisa?.

- Não sei se percebeu...mas, Beatrice acabou de me lembrar...

- Tudo bem, até parece que não fico sozinha aqui.

      Minha amiga suspirou falando em seguir

- Porque quer né Ju, você podia muito bem sair com seus amigos...

- Com que dinheiro?

- Tenta arrumar um trabalho, vai te fazer muito bem.

- Você fala como se fosse fácil, o mundo de quem restaura é muito restrito.

- Pois mude, nunca é tarde.

       Comemos o resto da pizza em silêncio, e a semana voou, embarcamos para São Paulo e eu cheia de expectativas, fui recebida por Christine uma das sócias da Revista Eletrônica Lesbus e só nesse instante percebi que iriamos contar nossa história de vida para algumas jornalistas, futuras leitoras e entre outras coisas devíamos falar um pouco da nossa trajetória e estilo de escrita, teríamos cada qual quinze minutos, já que eram 10 escritoras não podia haver muito floreio. Estava conversando com a outra sócia quando a secretária avisou.

- Oi, infelizmente a escritora Romana Wolf não pode comparecer, sua filha teve uma indisposição e apesar de já estar bem pediu para desculpar sua ausência.

      Aquele nome ficou preso em minha memória, mas, o dia me dez esquece-lo...

      Três meses se passaram após o lançamento da revista, em pouco tempo tinha escrito três livros e alguns contos, foi quando uma das leitoras me escreveu um comentário: "você tem um estilo tão parecido com a de Romana, deviam escrever juntas".

     Movida pela curiosidade, abri o site da revista e li suas histórias, gostei, um tanto hot, mas, as histórias eram bem sensuais e bem escritas, quando percebi estava entre excitada e curiosa, deixei meus comentários e ela logo respondeu, imediatamente passamos a conversar por e-mails, amei seu jeito cativante, bem humorado, realmente tínhamos muito em comum, apesar de algumas diferenças, rsrsrs...só sei que quando percebi estava ansiosa esperando suas respostas. 

    Meio sem entender o motivo dos meus dias ganharem novo colorido passei a sorrir mais, sentindo meu rosto doer até, lembrei da Vandinhas Addams e a semelhança com a personagem me fez rir sozinha.  Estava tão bem que mesmo caxias como sempre fui, um dia, bem no meio da tarde resolvi convidar Bia para um lanche da padaria.

- Então amiga, a Romana é muito legal, bom papo, divertida, realmente essa revista me trouxe uma boa amiga...ela é inteligente, sabe?, estou gostando muito de conversar com ela, ficamos até mais tarde..e...

       Bia, riu alto para dizer em seguida

- Fala sério que você está babando por essa mulher, gente, para quem disse que não queria mulher nenhuma, estou te achando muito animada com essa Romana, cuidado que você vai se apaixonar, hein?. Hahahahah...ficou vermelha, que bonitinha amiga...

- Mas eu nem sei como ela é Beatrice, deixa de onda...

- E até parece que sapatão tem isso, sapatão se apaixona pela essência...

- Ai amiga, para né?.

     Voltamos ao trabalho e respondi sorrindo os e-mails de Romana que se multiplicavam na minha caixa de entrada, continuei nossas conversas, só faltava ver uma foto, que veio um dia aleatório, ela me mandou algumas, a que gostei mais era uma foto casual, em casa, gostei do seu rosto, da sua boca e dos olhos escuros expressivos,do seu jeito de mulher, bem diferente do meu jeito de menina, e com vergonha enviei as minhas fotos...e foi a partir dai que nossas conversas mudaram, conversávamos pelas madrugadas, eram tantos assuntos, estava encantada com o seu jeito envolvente, sedutor e mesmo sem forçar a barra, aos poucos, a danadinha ocupou meu coração, me fazendo sonhar acordada, até que um dia ela disse que estava percebendo que tínhamos uma conexão diferente, como senti que estávamos próximas, e que o meu coração estava feliz a pedi em namoro, e mesmo com todas as minhas complicações ela aceitou, e meu coração disparou  de novo dentro do peito.

      Nosso primeiro encontro foi em São Paulo, fui direto para o hotel e fiquei esperando a sua chegada, meu coração batia apressado e quando abri a porta não acreditei, seu rosto, seu corpo, seus olhinhos de jabuticaba estavam ali bem a minha frente...o coração parecia que ia pular pela boca

- Não vai me convidar para entrar menininha?.

- Claro...des...desculpe. Aceita alguma coisa...uma água, um suco?, quer comer alguma coisa?, posso pedir...

      Mas ela não parecia disposta a tomar nada e muito menos comer, apenas me encostou na parede e me beijou com intensidade.

- Estou pensando se vai fazer pessoalmente tudo que me disse no telefone...

      Eu tremi, o suor escorregando pelas costas, me senti entregue e apaixonada...

- Ai que mulher deliciosa...

- Ainda não me provou.... - Disse sorrindo de sua forma cativante.

- Eu já disse que te adoro?.

- Muitas vezes...mas, quero sentir que me adora de fato...em minha pele, me devora, vai...

     Tirei sua roupa com pressa, estava ansiosa, depois de alguns meses namorando pelo virtual tudo o que mais queria era sentir aquelas sensações todas que me despertava...a arrastei para cama e sentei em seu colo, puxando pela nuca para beija-la intensamente...ela gemia e rebol*va ansiosa em meu colo, gem*ndo a cada toque.

- Não para menininha, não para, me faz sua...

    E fiz, marquei seu corpo com meu suor, com meus fluidos e muito mais...com todo o meu amor...

Fim do capítulo