Entropy por ThaisBispo
Capitulo 1
Sexta-Feira, 1º de Setembro 一 09:30
O clima na cidade de Colúmbia, localizada nos Estados Unidos, estava ligeiramente agradável, onde as temperaturas não chegavam a ultrapassar a marca de vinte e seis graus. As árvores já pareciam querer mudar de coloração devido a uma das estações favoritas dos cidadãos: o outono. As folhas vão aderindo diversas cores como o verde vivo, mas também o amarelo e em locais mais específicos o laranja avermelhado, estas localizadas mais perto dos lagos e regiões montanhosas. Era começo de setembro, e isto significava que o ano letivo começava a se iniciar para os estudantes, tanto do Ensino Médio, quanto para os Universitários. Não muito longe de uma das mais famosas da cidade, uma jovem adulta chamada Emma Young encontrava-se sentada no banco de passageiro do carro de seu pai, um professor de rede municipal, assim como sua mãe.
Emma tinha vinte e um anos de idade, mas muitas pessoas tinham a mania de achar que a garota era mais velha por sustentar um semblante mais sério, e até em alguns casos, um tanto quanto apático. Descendente de asiáticos, a garota é dona de um par de olhos com orbes na cor castanho escuro, assim como os seus cabelos compridos e levemente ondulados, onde nas pontas ela preferiu adotar um tom mais claro de castanho e realçando ainda mais sua pele que era um pouco mais bronzeada, herdando esta característica de sua família. Possui pálpebras duplas e cílios longos, boca e nariz pequeno, rosto simétrico e delicado e orelhas preenchidas por quatro piercings, sendo dois de cada lado e um na parte superior enquanto o outro ficava na inferior. Altura em torno de um e sessenta e três e mesmo não sendo fã de esportes e comidas muito saudáveis, ela conseguia manter sem muita dificuldade um corpo "aceitável pela sociedade", mas não é como se ela ligasse para isto de qualquer maneira, tanto para os julgamentos quanto mais para os de quem vem.
一 Tem certeza de que é isso o que você quer?
Emma soltou um longo e pesado suspiro, fechando seus olhos lentamente antes de abri-los e voltar a contemplar a paisagem da estrada que a levaria rumo a Universidade da Carolina do Sul.
一 Sim, pai... 一 disse passando a mão pela franja e a ajeitando atrás de sua orelha. 一 Já falei, o campus é muito longe de casa, vai ser melhor morar por lá.
Henry Young poderia facilmente ser reconhecido como pai de Emma sem muito esforço e por qualquer pessoa visto que as semelhanças e os traços eram muito parecidos, e como ele mesmo dizia: eram a cópia perfeita. Ainda mais por adotar parte de sua personalidade, onde a diferença se encontrava no âmbito social. Enquanto sua filha é uma pessoa introvertida e que realmente detesta estar no meio de uma multidão ou no centro das atenções, seu pai de quarenta e oito anos, mas de aparência jovial, já preferia o contrário uma vez que adorava estar rodeado de pessoas.
一 Só fico preocupado com você, minha filha... 一 sorriu fracamente de canto, lançando-lhe um breve olhar antes de mudar a marcha. 一 Não confio muito nesses jovens, a gente vê tanta coisa na televisão e nas redes sociais que chega a dar medo.
一 Isto não vai ser um problema 一 ela revirou os olhos, passando a cruzar seus braços e se acomodar de uma forma mais confortável no assento. 一 Pretendo manter distância de todos.
一 Não precisa ser tão extrema! 一 protestou ao deixar escapar uma risada nervosa.一 Ter amigos é importante, sabia? Menos um namorado, isso você não precisa.
Emma abafou a risada com a mão ao vê-lo fazer um bico, atitude esta que parecia de um irmão mais velho ciumento, e não de seu próprio pai.
一 Isso é uma coisa que o senhor realmente não deveria se preocupar 一 enfatizou franzindo as sobrancelhas e balançando a cabeça. 一 Não tenho paciência para relacionamentos amorosos, deixo para os filmes.
一 Diz isso porque nunca viveu um. 一 sorriu ele batendo em sua coxa de leve. 一 Quando você se apaixonar vai se sentir outra pessoa, é uma experiência completamente diferente.
一 Tanto faz... 一 deu de ombros. 一 Tenho certeza que se apaixonar por mim seria perda de tempo.
O mais velho bagunçou os cabelos de sua filha, fazendo-a resmungar de imediato, pois sabia que ela detestava quando mexiam nele.
一 Lembre-se que existem coisas e situações que nem sempre podemos controlar. 一 sorriu estreitando os olhos em sua direção ao encostar o carro em frente à um grande prédio branco, rústico e que possuía em torno de dez andares. 一 Vamos, vou te ajudar com as malas.
Emma tirou o cinto e ajeitou o celular no bolso da calça jeans que usava, abrindo a porta em seguida e dando a volta no carro até o porta malas, ajudando-o a tirar pouco a pouco tudo o que precisava, sendo duas malas grandes, uma pequena e, por último, sua mochila, onde havia objetos mais pessoais.
一 Você pegou seu caderno de desenhos? 一 perguntou ele puxando a alça da mala mais pesada e colocando-a em cima da calçada.
一 Sim, mas logo vou precisar de outro 一 comprimiu os lábios ao fazer o mesmo com a outra, tendo um pouco mais de dificuldade. 一 As folhas deste aqui já estão acabando.
一 Qualquer coisa me avisa e eu lhe trago na próxima semana. 一 sugeriu ao ligar o alarme do carro e passando a caminhar ao seu lado, arrastando duas de suas malas. 一 Você usa o mesmo modelo, não?
一 Sim, mas estou pensando em pegar aqueles profissionais com o suporte para os lápis... 一 confessou abrindo um pequeno sorriso por imaginar a estrutura do objeto. 一 Seria bom, assim não preciso carregar tanta coisa e nem ocupar muito espaço.
一 Não tem problema, basta me mandar o que quer, e eu ou sua mãe lhe trazemos, o que acha?
一 Ótimo! 一 assentiu jogando seu corpo contra o dele, animada com a ideia.
Por mais que muitos estudantes morassem perto de suas faculdades, era um costume muito grande a maioria preferir usar os dormitórios e as repúblicas que são oferecidas, uma vez que assim poderiam, talvez, ter um pouco mais de privacidade e se sentirem um pouco mais "independentes". Emma era filha de dois professores, e por mais que muitas pessoas achassem que ao escolher Letras fosse por influência dos mesmos, isso não era totalmente verdade, pois a garota sempre admirou todo o universo que envolvia essa parte de humanas. Todavia, diferente deles, ela parecia querer seguir em outro ramo, sendo este de revisão e produção textual, motivo este que a fez escolher cursar mais dois idiomas além da sua, tais como o espanhol e o francês.
一 Aqui parece ser um lugar confortável. 一 disse seu pai ao observar todo o local à sua volta após adentrar por duas portas de vidros, daquelas que não era possível ver com clareza o lado oposto e fechando a mesma atrás de si com cuidado.
一 É... 一 concordou engolindo em seco, sentindo um pequeno arrepio subir pelo seu estômago. 一 Vamos, é por aqui. 一 indicou com a cabeça para o corredor que ficava à sua direita.
Logo ao entrarem no corredor, passaram a caminhar tranquilamente e observando os detalhes. Os quadros da Universidade da Carolina do Sul, os prêmios, indicações, matérias que saíram tanto em jornais quanto nas mídias, rostos de ex-professores, mestres e alunos, além do presidente e fundador da instituição, ou seja, os corredores eram praticamente um guia sobre o histórico do local. À esquerda havia uma sala consideravelmente grande que parecia ser como um hall para que os estudantes pudessem conversar, jogar e ter seu tempo de lazer, tendo por todo o espaço sofás, pufs, uma TV de plasma e várias mesinhas espalhadas. Mais a frente, e ao virar novamente à direita, uma outra sala, mas desta vez de estudos, porém diferente da outra, não havia tantas janelas, talvez para impedir que o pessoal se distraísse menos com a movimentação do lado de fora.
一 E o dormitório dos meninos, onde fica? 一 perguntou ele apertando o botão para o elevador.
一 No fim da rua, é proibido a entrada deles aqui e vice e versa.
一 Menos mal...
Emma segurou o riso, atraindo a atenção de seu velho imediatamente para si.
一 O quê?
一 Digamos que hoje em dia isso não faz mais tanta diferença assim, pai. 一 o fitou com um ar sugestivo.
一 Ah, sim, é verdade... 一 maneou a cabeça pensativo. 一 Nesse caso não teria muito o que fazer, não é mesmo?
一 Acho que não. 一 respondeu adentrando o elevador e puxando as malas. 一 De qualquer forma, é proibido ter relações íntimas aqui.
一 Filha... 一 chamou-a com um tom hesitante, e ao ganhar sua atenção, ponderou por alguns instantes até conseguir expulsar o ar de seus pulmões ao mesmo tempo que a viu arquear uma de suas sobrancelhas. 一 Papai sabe sobre... Você.
Emma arregalou os olhos, atônita com o que acabara de ouvir que precisou inclinar seu corpo para trás, momento que as portas do elevador se abriram após chegarem no quarto andar.
一 D-Do que está falando?! 一 pigarreou demonstrando tamanha surpresa e nervosismo, mas ainda sustentando seu olhar que não aparentava estar nem um pouco alterado, pelo contrário, estes eram diferentes e transmitiam um calor que fazia um bom tempo que não o sentia.
一 Eu sei que você não gosta tanto assim dos garotos, sempre soube, desde quando você era pequena. 一 abriu um sorriso gentil ao soltar as alças das malas e se aproximar dela, colocando ambas as mãos sobre seus ombros. 一 E está tudo bem, sua mãe também já desconfiava, e mesmo tendo sido um pouco resistente no começo quando nós conversamos, eu consegui fazê-la compreender de que você continua sendo nossa filha independente por quem venha a se apaixonar.
O choque fora tão grande e tão inesperado que Emma não conseguiu conter as lágrimas, e ao se dar conta de que ele realmente falava sério, não pensou duas vezes antes de agarrar o corpo de seu pai para poder escondê-las de algumas estudantes que passeavam e interagiam entre si pelo corredor. Ele a abraçou de um modo que transmitia ternura e segurança, apoiando o queixo sobre o topo da cabeça dela e massageando suas costas, permanecendo nesta conexão por alguns segundos, e ao vê-la se afastar aos poucos, segurou-a gentilmente pelas bochechas, agora levemente ruborizadas e molhadas.
一 Ei... Não precisa chorar! 一 afagou seu rosto com os polegares, enxugando-o. 一 Eu sei que pensou em nos contar, mas ficou com receio, e acredite, também estávamos de comentar sobre o assunto...
一 Pai... 一 murmurou ao comprimir os lábios antes de colocar suas mãos sobre as dele. 一 E-Eu... Vocês tem certeza?
一 Mas é claro, minha filha! 一 a puxou novamente para outro abraço, acariciando seu rosto com sua mão direita. 一 E é exatamente por isso que eu quero que entenda que você pode ser quem quiser aqui.
Emma ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Durante toda a sua adolescência até alguns minutos atrás, decidiu por adotar um estilo de vida que se resumia em camuflar seus próprios sentimentos, especialmente depois de um episódio em específico que passou há dois anos atrás. Não é como se sua personalidade fosse lá muito diferente, ou que tivesse mudado drasticamente por conta deste detalhe, afinal, sempre fora uma pessoa fechada, desconfiada e que prefere estar envolvida com seus próprios pensamentos do que compartilhá-los. No entanto, após ouvir tudo o que seu pai acabara de lhe dizer, foi inevitável não sentir com que um peso enorme fosse arrancado de seus ombros, como se houvesse tido "permissão" para adotar o estilo de vida que quisesse sem ter medo algum.
一 Vamos sentir saudades. 一 ele a afastou devagar, aproveitando para ajustar seus fios rebeldes. 一 O aniversário de seu irmão está chegando e é provável que façamos um jantar para comemorar, então nos veremos em breve.
一 Joshua não quis uma festa?! 一 perguntou passando o dorso de sua mão pelos olhos para poder limpá-los, vendo-o negar. 一 Ainda é estranho um pré adolescente não querer chamar todos os amigos da escola para poder comemorar.
一 Vocês dois são iguais nesse aspecto, nunca foram fãs de festas, independente do tipo. 一 deu de ombros. 一 E ele já me disse que irá sentir sua falta, então troque mensagens com ele, ok?
一 Não se preocupe, somos cúmplices. 一 piscou para seu pai que deixou escapar uma gargalhada gostosa. 一 Bom, o senhor precisa ir, tem aulas para dar ainda hoje, não tem?
一 Tenho sim... 一 suspirou voltando a pegar nas alças e caminhando ao seu lado em direção ao número que indicaria o quarto dela, alcançando-o segundos depois. 一 Qualquer coisa é só nos avisar, tudo bem?
一 Sim, senhor. 一 sorriu assentindo antes de o abraçar novamente. 一 Obrigada, pai.
一 Por nada, querida. 一 retribuiu dando-lhe um beijo no topo de sua cabeça, desvencilhando aos poucos de seu corpo para poder fitá-la. 一 Aproveite para descansar no fim de semana e tenha cuidado.
一 Eu tenho algumas coisas para organizar e metade de um quarto para arrumar, então... 一 disse respirando fundo e soltando o ar devagar. 一 Acho que vai levar um tempo.
一 Haja parede para colar tanto pôster! 一 brincou puxando a mala até achar o quarto no qual ela ficaria 一 Quatrocentos e dois, é aqui.
A porta era de madeira maciça e com um design bem simples, onde bem na frente havia uma pequena placa de metal com o número do quarto e ao lado, pendurado por um suporte, outra placa que mostrava dois nomes, sendo um deles o de Emma.
一 Sim... 一 suspirou assentindo ao buscar a chave dentro do seu bolso frontal. 一 A gente se vê, pai. 一 sorriu abraçando-o mais uma vez e lhe dando um beijo na bochecha.
一 Tchau! 一 acenou enquanto observava ela abrir a porta e colocando as malas dentro.
Emma fez o mesmo e depois de ver seu pai dentro do elevador, logo fechou a porta do quarto. O espaço tinha em torno de vinte metros quadrados, o que significava que era bem largo e confortável, além do fato de que oferecia um banheiro, localizado à sua direita. Ao passear os olhos pôde perceber um pequeno espaço para que os alunos pudessem colocar os sapatos e que era separado do piso do resto do quarto, sendo este todo branco. Ainda na entrada, havia algumas prateleiras que ela julgou ser para colocar os outros pares e, mais acima, alguns cabides.
一 Simples, mas elegante, como sempre. 一 sorriu minimamente ao tirar seu all star e o colocar no canto de forma organizada, dando um passo à frente para poder admirar mais ainda o local. 一 Graças a Deus que não é um beliche...
A garota sentou na ponta de uma das camas que era relativamente alta e comprimiu os lábios como reflexo pelo frio na barriga que percorreu por seu estômago. O fato de ter pedido uma vaga nos dormitórios da Universidade a deixava ansiosa, pois esta seria a primeira vez que estaria sozinha, não que dependesse muito de seus pais, mas queria poder experimentar como é lidar com tudo em um ambiente onde tudo de bom e ruim pode acontecer. À sua frente encontrava-se a segunda cama, tão arrumada quanto a sua, e o que indicava que sua colega de quarto não se encontrava presente, pois não tinha indícios de suas coisas em lugar algum. Ao olhar para a direita, encontrou uma mesa que tinha o formato da metade de um quadrado, ou seja, adaptado para que ambas pudessem usar e dividir o espaço.
一 Pelo menos vai ter parede suficiente para colocar alguns desenhos. 一 disse satisfeita ao passear os olhos pelas paredes brancas. 一 E agora, por onde eu começo?
Emma cruzou os braços e procurou por um armário, mas não achou nenhum, deduzindo desta forma de que as gavetas ficavam embaixo das camas, e ao colocar o edredom para cima, logo se deparou com quatro delas. A garota virou suas malas para cima e começou a tirar suas roupas, dividindo entre as de frio, calor, casuais e separando apenas dois agasalhos para poder usar durante a próxima semana, afinal, o outono este ano seria bem árduo. Separou seus calçados e os ajeitou nas gavetas perto da porta, colocou alguns itens de higiene pessoal dentro do pequeno armário que ficava embaixo da pia do banheiro, e também deixou seus materiais, notebook, e alguns livros na sua parte da escrivaninha. O tempo passou rápido, não demorando mais do que uma hora para que ela terminasse tudo e se jogasse sobre sua cama, pegando finalmente seu celular em mãos e checando suas redes sociais, sorrindo ao ver uma mensagem de sua mãe onde mostrava a foto de seu irmão mais novo lendo um de seus livros no seu puff favorito que ficava ao lado de sua cama.
"Ele já está com saudades suas, e nós também".
一 Vai acabar devorando todos eles... 一 maneou a cabeça ao soltar uma pequena gargalhada enquanto à respondia.
Emma sempre foi muito próxima de seu irmão, e por terem costumes e manias parecidas, isso impedia que brigas por motivos fúteis pudessem vir a balançar as estruturas da casa, e ao vê-lo tão concentrado, com os olhos presos no primeiro livro do Percy Jackson e todo largado em seu puff, só fazia com que a saudade aumentasse. Joshua, agora prestes a completar doze anos, era um garoto de cabelos negros e rebeldes, sofrendo frequentemente com sua franja que insistia em tampar seus olhos que eram da mesma cor que os seus. Seu rosto era mais rechonchudo, característica esta que adorava em seu irmão, mesmo que ele insistisse em dizer que não o achava bonito. Diferente dela, ele era mais ativo e adorava praticar esportes, especialmente o basquete e atuando como um ótimo armador por ter a baixa estatura como vantagem e um excelente domínio da bola também, não podendo deixar de recordar do dia em que o foi buscar na escola e ele pulou em seus braços todo feliz por ter conseguido passar no teste.
一 Vai ser difícil achar outro livro para te dar, pirralho. 一 sussurrou ao passar a mão pelos seus cabelos, jogando-os para cima do travesseiro. 一 Quem sabe um de época como o Robin Hood? Talvez você goste mais deles do que eu.
Depois de trocar algumas mensagens com sua mãe e mandar uma para seu irmão, a garota se dirigiu até o banheiro para poder tomar uma ducha, saindo de lá dez minutos depois e vestindo um conjunto de moletom cinza escuro com capuz. Ela voltou até a escrivaninha e pegou seu celular, sua carteira e a chave do quarto, saindo do mesmo e o trancando, passando a caminhar sobre o carpete vermelho do corredor e dirigindo-se até o elevador. Após chegar no térreo, rapidamente enfiou as mãos dentro do bolso da calça e se dirigiu até a saída, deixando a cabeça um pouco mais inclinada pro chão para evitar olhar nos rostos das pessoas visto que esse tipo de coisa sempre a deixava incomodada.
Desde que leu um livro na adolescência sobre os sinais e o que o corpo de alguém transmitia, a garota passou a usar mais essa tática do que palavras em si. O corpo fala, mas os olhos entregam. Era esta a frase que nunca mais saiu de dentro de sua cabeça, sendo útil desde então. As pessoas falavam muito, mas nem sempre seus corpos entravam em acordo com elas, e era por conta disso que preferia apenas agir, desta forma conseguia economizar energia para poder investir em seus desenhos.
Ao sair pela porta, automaticamente uma brisa gélida bateu contra seu rosto, fazendo-a agarrar o tecido de sua calça e trincar os dentes.
一 Porcaria! Se eu soubesse que estava tão frio eu teria pego um agasalho mais grosso... 一 murmurou fazendo um bico enquanto se dirigia até a calçada que a levaria até uma pequena loja de conveniências. 一 E se meus pais desconfiarem que vou gastar um terço do dinheiro deles com bugiganga eles vão me matar. 一 abriu um sorriso arteiro por pensar na pequena e indispensável lista que invadiu sua mente.
Emma arrastou seus pés até ver uma pequena placa de vinte e quatro horas e empurrou a porta, procurando meticulosamente por tudo o que precisava levar. A lojinha era pequena, mas sua estrutura era muito bonita e aconchegante, parecendo atender às expectativas dos estudantes uma vez que já havia alguns dentro da loja, parecendo querer fazer um estoque de comida, assim como também pretendia. Passeou seus olhos pelos chocolates, pegando algumas barras, depois se dirigiu até o corredor de salgadinhos, salgados e, por último, algumas bebidas sem teor de álcool, já que é proibido consumi-las dentro do campus e nos dormitórios. Colocou tudo em uma pequena cestinha e se dirigiu ao caixa para poder pagar, aguardando atrás de um casal que vestia o agasalho da Universidade e que conversavam distraidamente.
一 Próximo! 一 chamou o jovem rapaz.
Ela deu um passo à frente e foi colocando as coisas no balcão, guardando aos poucos em uma sacolinha.
一 Trinta e dois dólares.
Emma lhe deu o dinheiro e sorriu como forma de agradecimento depois de pegar o troco, voltando a caminhar em direção ao dormitório, agradecendo aos céus por ter um pequeno frigobar no quarto para poder guardar tudo sem se preocupar das suas coisas estragarem. Ao pegar o elevador e ir em direção ao seu quarto, franziu o cenho ao perceber que a porta não estava trancada, e ao empurrá-la devagar, logo avistou sua colega de quarto arrumando suas coisas.
一 Oi... 一 disse dando duas batidas para poder chamar sua atenção, adentrando o quarto e fechando a porta atrás de si.
一 Ah! Você deve ser a Emma! 一 sorriu largamente antes de caminhar em sua direção e lhe estender a mão. 一 Eu sou a Claire, prazer em te conhecer!
Claire era uma garota de cabelos castanho claros cacheados e curtos, estes presos em um coque alto. Seus olhos eram verdes, mas que adotavam um tom mais escuro. Sua pele era mais clara e a julgar pelas queimaduras do sol, era o tipo de pessoa que provavelmente tinha dificuldades de pegar um bronzeado e tinha um corpo um pouco mais robusto e também ganhava de Emma por alguns poucos centímetros.
一 Sou... 一 sorriu apertando sua mão e a soltando logo após.
一 Legal! O que você cursa? 一 perguntou voltando até sua cama e se ajoelhando de frente para sua mala, observando-a sentar em sua cama.
一 Letras, estou no primeiro ano, e você? 一 disse largando a sacola ao seu lado e colocando suas mãos sobre o colo.
一 Relações internacionais, estou no segundo ano. 一 respondeu pegando algumas roupas dobradas, ajeitando uma por uma na gaveta. 一 Quando você chegou?
一 Há uma hora... 一 Deu de ombros. 一 Eu decidi vir antes para poder conhecer melhor aqui.
一 Ah, sim! 一 concordou animada. 一 E o que achou até agora?
一 Grande. 一 suspirou pesadamente, ouvindo-a soltar uma risadinha. 一 E bonito, muito bonito.
一 É verdade, mas acho que me acostumei com a grandeza desse lugar, durante os dias de aula é tão corrido que às vezes parece menor, você vai ver. 一 tentou lhe confortar, sorrindo de um modo divertido ao vê-la fazer uma careta. 一 Deixa eu adivinhar, detesta multidões?
一 E como... 一 enfatizou ao passar a mão pelos cabelos, cruzando suas pernas em cima do colchão. 一 Felizmente tenho o dom divino de conseguir me manter longe de aglomerações, então não tenho muito com o que me preocupar, pelo menos eu espero...
一 Não gosta nem de sociais? 一 a viu negar. 一 Uma noite entre amigos? 一 sugeriu curiosa, abrindo outro sorriso ao que ela ponderou. 一 Menos mal, então!
一 É, mas eu não conheço ninguém aqui ainda, e cá entre nós, você vai perceber que eu sou uma pessoa neutra.
一 Como assim? 一 franziu a testa ao parar o que estava fazendo.
一 Digamos que eu não sou uma pessoa interessante ao ponto de alguém querer me ter por perto por muito tempo, sabe? 一 disse tranquilamente. 一 E eu prefiro assim, não sou boa com pessoas e também não tenho muita paciência para tentar entendê-las.
一 Interessante... 一 estreitou os olhos de uma forma divertida. 一 Se me permite um conselho, Emma...
一 Vá em frente.
一 Nós sempre iremos ser interessantes para alguém mesmo que às vezes a gente ache um absurdo 一 disse se levantando e sentando-se na cama. 一 Não se trata sobre quantidade, e sim qualidade, entende?
一 Acho que sim...
一 Eu tenho poucos amigos aqui e nem do mesmo curso somos, e eu acho que é isso o que torna mais bacana. 一 admitiu inclinando o corpo para frente e dando dois tapinhas em seu joelho direito. 一 Quando a gente se coloca em uma bolha, automaticamente impedimos que os outros se aproximem, e sejamos condizentes, como iremos descobrir a índole delas se não dermos uma brecha?
Emma abriu a boca para tentar argumentar, mas nada saiu, tendo que voltar a fechá-la e fazendo ela cair na gargalhada.
一 De qualquer forma 一 indagou colocando-se de pé e pegando uma toalha de dentro da sua mala. 一 Você pode contar comigo pro que precisar, estarei ao seu dispor, menos em época de provas, nesses dias você não conte comigo para absolutamente nada.
一 Vou me lembrar disso. 一 segurou o riso com a careta que ela fez. 一 Obrigada, Claire.
一 Por nada, Emma. 一 assentiu brevemente antes de se dirigir até o banheiro.
Ao ouvi-la bater a porta, rapidamente deixou um arfar curto, mas ainda assim pesado, escapar de sua boca. Por mais que soubesse que sua nova colega de quarto tinha razão, ela ainda tinha a crença de que as pessoas aqui, assim como a maioria que passou pela sua vida, perderiam o interesse em poucos dias. Para tentar distrair um pouco sua cabeça de memórias que ainda tinha uma certa vergonha de trazer a tona, se dirigiu até sua mochila que repousava na sua cadeira, tirando de lá uma pasta preta de capa dura e a abrindo em cima da mesa, revelando na primeira folha o desenho de um lobo em formato geométrico, um dos primeiros que construiu e também o que mais tinha carinho. Havia somente os traços de seu rosto, localizado bem no centro da folha, e só por observá-lo por poucos segundos, já conseguia sentir a frieza e ameaça que ele transmitia. Ao virar a página, um de paisagem automaticamente a fez sorrir de imediato. Este era em formato de retrato, onde dentro de um triângulo 一 que não era fechado 一, abrigada uma casa localizada no meio de algumas árvores, onde mais atrás podia-se ver claramente as montanhas, um local muito conhecido por ela e sua família, afinal, sempre passavam o natal e a virada do ano naquele local. A garota continuou a folhear calmamente as outras folhas, tendo que se sentar para que pudesse admirar suas próprias com atenção, e atenção esta que nunca chegou a dar tanta ênfase.
一 Acho que é a saudade batendo no peito já... 一 sussurrou apoiando a cabeça sobre a mão e o cotovelo na mesa.
一 Uau!
Emma deu um pequeno pulo da cadeira ao perceber que Claire estava parada ao seu lado, com a boca aberta e os olhos arregalados, completamente vidrados no desenho.
一 Que susto! 一 a morena colocou a mão sobre o peito.
一 Desculpe... 一 sorriu sem graça. 一 São seus?
Ela assentiu em resposta, sentindo suas bochechas ruborizarem.
一 São incríveis, Emma, sério! 一 balbuciou ao cruzar os braços e ajeitar a postura. 一 Será que eu poderia...?
一 Claro... 一 disse lhe entregando a pasta, engolindo em seco ao que ela puxava a cadeira para perto de si, sentando-se em seguida e passando a folhear as páginas, esboçando diversas reações que era praticamente impossível não rir de cada uma delas. 一 Não são nada demais, é apenas um hobbie... 一 deu de ombros.
一 Está louca?! 一 protestou lhe lançando um olhar incrédulo. 一 Você tem que participar da exposição que vai ter de arte e cultura daqui, você é muito talentosa!
一 Não sei não... 一 comprimiu os lábios insegura. 一 Eu nem consegui dar um nome pra eles.
一 E precisa?
Emma ficou alguns segundos em silêncio.
一 Sim... 一 suspirou pesadamente. 一 Mas eu nunca consigo pensar em um que seja bom o suficiente.
一 O que você sente quando olha pra essa figura aqui? 一 perguntou indicando um desenho onde mostrava a silhueta da cabeça de uma garota, onde dentro dela existia outra criança segurando vários balões coloridos dentro.
一 Presa. 一 disse em um fio de voz, e ao perceber que ela ainda a fitava, respirou fundo para poder continuar. 一 É pessoal, mas... É como se ela estivesse com medo de falar o que realmente quer, mas por ter medo dos julgamentos, prefere guardar para si, pois só ela mesma a compreenderia.
一 Talvez devesse pensar por esse lado. 一 Claire lhe devolveu a pasta, colocando o dedo indicador sobre um dos balões coloridos. 一 O título pode ser um sentimento ou uma sensação, a obra é sua, você pode fazer o que quiser com ela.
Emma piscou algumas vezes ao ouvir aquelas palavras bateram contra seu corpo como uma onda em um rochedo, clareando desta forma sua mente de uma forma que nunca chegou a imaginar que seria possível.
一 Sintonia... 一 exprimiu as palavras.
一 O quê?
一 É como uma sintonia... 一 sorriu de canto ao passar a ponta de seus dedos sobre o papel. 一 Funciona de certa forma como uma reciprocidade, certo?
一 Sim.
一 Sendo assim, há a simpatia que ela própria lhe oferece por saber que talvez as pessoas não a proporcionem isso.
一 E você se sentiria mal agora caso recebesse algo negativo em troca?
一 Não... 一 deixou escapar uma risada soprada, mas sincera. 一 Não preciso delas, porque ninguém tem o direito de julgar nossos próprios pensamentos, somente nosso eu interior que está em contato direto com eles.
一 Boa garota. 一 sorriu afagando seu ombro. 一 Bom, está quase na hora do almoço, se quiser podemos sair para comer em algum lugar, você escolhe!
一 Devo informar que eu não sou uma pessoa com hábitos alimentares muito saudáveis, sabe? 一 ergueu a mão e fechou os olhos, ouvindo-a rir. 一 E você parece que é atleta, então não quero estragar sua dieta.
一 Você tem uma boa intuição, estou admirada. 一 cruzou os braços. 一 Eu jogo vôlei pela Universidade.
一 Pensei que para fazer esse esporte as pessoas teriam que ser altas...
一 Não o líbero, engraçadinha! 一 rolou os olhos ao balançar a cabeça. 一 Vamos, o que mais tem é lanchonete aqui por perto.
一 Vou te dedurar pro seu técnico! 一 disse levantando-se e indo até sua mochila, tirando a carteira de dentro e colocando-a no bolso do moletom.
一 Nem ouse pensar nisso! 一 protestou passando a mão pelos cabelos. 一 Segunda feira vai ser o dia da minha morte, quero nem pensar.
一 Vou te dar meu apoio moral, esportes não é comigo.
一 Você pode ir assistir um dos jogos, seria legal. 一 sorriu pegando sua jaqueta de couro com capuz e a vestindo, abrindo a porta em seguida e dando passagem para ela. 一 Apesar que você odeia multidões, né? E em época de competição esse lugar fica um inferno, parece um pandemônio.
一 Céus... 一 resmungou deixando escapar uma careta. 一 Eu faço isso antes dele, é melhor.
一 Tudo bem, eu aceito! 一 sorriu trombando em seu braço antes de trancar a porta. 一 Vamos!
As duas jovens caminharam tranquilamente até o elevador e depois até a saída do prédio, e à medida que iam se aproximando da Universidade, Claire fazia questão de mostrar tudo o que podia e o que tinha dentro de cada prédio.
一 E aqui é a biblioteca. 一 disse ela parando em frente à um pequeno prédio que ficava de frente para uma enorme fonte.
一 Meu lugar favorito... 一 sussurrou abrindo um largo sorriso ao observar pelas janelas de vidro à estrutura lá dentro. 一 E esse chafariz aqui na frente só destaca ainda mais a beleza desse lugar.
一 É verdade. 一 assentiu passeando seus olhos pelo lugar já familiarizado por ela. 一 Vamos indo?
Emma desviou sua atenção para ela que lhe aguardava alguns passos à frente, indo ao seu encontro e passando a caminhar ao seu lado até se afastarem um pouco mais do quarteirão onde ficava a Universidade. Claire parou em frente à uma pequena e simples lanchonete que os estudantes costumavam almoçar quando não tinham muito intervalo de uma aula para a outra, onde ao adentrarem o local, logo escolheram uma mesa perto da janela e fizeram seus pedidos.
一 Então, Emma... 一 Claire a chamou, apoiando seus cotovelos sobre a mesa para poder sustentar seu rosto, fitando-a diretamente. 一 Qual é a sua história?
一 Hm? 一 tombou a cabeça confusa, atitude esta que arrancou uma risadinha da outra por imitar exatamente o que os cachorros fazem quando não entendem seus donos. 一 Eu não tenho uma...
一 Qual é! 一 protestou rolando os olhos. 一 Todos nós temos uma.
一 Então me conte a sua primeiro. 一 pediu entrelaçando os dedos sobre a mesa.
一 Se é assim que deseja, por que não? 一 deu de ombros ao abrir os braços e inclinar seu corpo para trás até encostar no assento. 一 Bom, eu me mudei pra cá tem uns quatro anos, viemos de Georgia. Meu pai tem uma firma de produção de sapatos que meu avô construiu do zero nos anos setenta.
一 Caramba, ele era bem novo, eu imagino.
一 Sim, ele tinha nossa idade na época. 一 disse concluindo sua linha de pensamento. 一 Meu pai sempre trabalhou desde que era novo e isso se estende até os dias de hoje, e cerca de uns vinte anos atrás, a empresa cresceu tanto que se expandiu e agora tem mais algumas filiais. Contudo, meu avô começou a adoecer até vir a falecer em dois mil e dezoito.
一 Sinto muito...
一 É, ele já estava bem debilitado. 一 sorriu fracamente ao passar o indicador sobre a mesa. 一 No fim das contas, papai achou melhor que nos mudássemos para cá pela cidade ser maior e ter um bom comércio. Eu tenho duas irmãs mais novas, uma com quinze e outra com dezessete. Minha mãe é corretora de imóveis e graças a Deus conseguiu achar algo rápido por aqui, e acho que é isso. 一 riu sem graça ao lhe encarar.
一 E você?
一 O que tem eu?
一 Quem é você?
Claire franziu o cenho de um modo divertido, fazendo com que Emma inclinasse um pouco seu corpo para trás.
一 Desculpe, eu...
一 Tudo bem! 一 interrompeu-a fazendo um sinal negativo com a mão, ainda sustentando um sorriso de canto. 一 Você me pegou de surpresa.
一 Por que? 一 voltou a relaxar os ombros.
一 Acho que é a primeira vez que alguém me faz essa pergunta, tirando a da entrevista da Universidade, é claro. 一 admitiu desviando seus olhos dos dela para o garçom que trazia agora seus pedidos.
一 Fui muito direta?
一 Talvez? 一 alargou o sorriso ao arrumar sua bandeja, e ao ver que a garota voltou a ficar tensa, logo agarrou sua mão como reflexo. 一 Estou brincando, boba! Foi uma boa pergunta, você é uma pessoa curiosa e autêntica, eu gosto disso.
一 É difícil falar sobre si mesma, não é? 一 perguntou enquanto desembalava seu hambúrguer, vendo-a assentir repetidas vezes.
一 Bom 一 começou ao pegar uma das batatas e levando até a boca. 一 Meu Deus, isso aqui é maravilhoso. 一 murchou os ombros e abaixou a cabeça.
一 Aproveite porque em dois dias as coisas vão ficar feias pro seu lado! 一 provocou contendo o riso depois de a ver fechar a cara. 一 Prossiga.
一 Vamos ver, me chamo Claire Brown, tenho vinte e três anos, me considero uma pessoa um pouco reservada? 一 indagou semicerrando os olhos. 一 Digamos que sou um pouco parecida com você, centrada, focada, e também não curto muito multidões e essas coisas, mas uma social sempre é bem vinda. Jogo no time de vôlei como você já sabe, coisa que faço desde que eu tinha meus oito anos, sou completamente apaixonada por esse esporte.
一 Isso é bem perceptível, você deveria ser a capitã do time.
Claire acabou por se engasgar com seu refrigerante, tendo que tossir algumas vezes até conseguir se recompor.
一 Eu disse algo errado?
一 Como você consegue fazer isso?!
一 Fazer o quê? 一 arqueou a sobrancelha, visivelmente confusa.
一 Ser tão intuitiva! 一 ressaltou cruzando os braços. 一 Você acertou, eu sou a capitã.
一 Ah... Eu não sei, é natural, se é que posso dizer assim. 一 levou a mão direita até a nuca e a coçou. 一 E o que você gosta de fazer no tempo livre?
一 Depende muito do meu humor, sabe? Se eu estiver em um dia bom, eu vou usar esse tempo para poder colocar minhas séries em dia, agora se eu estiver cansada, provavelmente irei dormir por longas horas com os fones de ouvido no último volume. Se for um dia como esse, mais neutro, eu prefiro estar na companhia de pessoas que eu gosto. E quanto a você? O que gosta de fazer além de desenhar?
一 Ler. 一 respondeu rapidamente, soltando uma risada sem graça. 一 Eu trouxe alguns comigo, mas deixei a maioria para o meu irmão caçula, ele é viciado assim como eu. 一 disse pegando o celular do bolso e mostrando-lhe sua foto.
一 Meu Deus, vocês são muito parecidos! 一 Claire alternava o olhar entre o aparelho e ela. 一 Quantos anos ele tem?
一 Vai fazer doze em três semanas. 一 falou voltando a guardá-lo. 一 Mas não somos tão parecidos assim, digo, temos os mesmos olhos, mas o cabelo dele é mais escuro que o meu por ter puxado minha mãe.
一 Imagino que já esteja com saudades dele, porque só pelo modo como você fala, seus olhos chegam até a brilhar.
一 É... 一 abriu um sorriso bobo. 一 Mas ele vai ficar bem, e eu pretendo visitá-lo com frequência também.
一 Sem dúvidas! 一 garantiu confiante. 一 E o que mais? Qual é o seu gênero favorito de filme?
一 Terror, óbvio!
一 Argh! Que treva! 一 rolou os olhos. 一 Comédia romântica é muito melhor e nem te deixa paranoico!
一 Você que pensa! E a maioria dos filmes de comédia romântica são bem... 一 ela tentou continuar, mas logo se calou, substituindo sua expressão por uma careta.
一 Clichês?
一 Também. 一 concordou. 一 Mas são bem fantasiosos, eu gosto mais do que é real.
一 Mas a intenção é justamente essa, Emma. 一 disse chamando sua atenção. 一 Fugir da realidade.
一 Definitivamente romance não é pra mim. 一 sussurrou desviando o olhar para a janela, observando o pouco movimento nas ruas. 一 Não consigo acreditar em algo que nunca vivi, seria hipocrisia.
一 Oh... 一 Claire maneou a cabeça enquanto a observava. 一 E você estaria disposta a querer viver um?
一 O que quer dizer? 一 questionou voltando a lhe fitar.
一 Você não acha que é uma escolha querer amar?
一 Não sei, nunca pensei nisso...
一 Nunca se apaixonou?
Emma suspirou fundo e fechou os olhos, desviando sua atenção para seu hambúrguer e o pegando em mãos para então dar uma boa mordida, elas estavam conversando tanto que a comida já havia esfriado.
一 Uma vez. 一 murmurou de boca cheia. 一 Mas prefiro fingir que nunca nem aconteceu.
一 Ele te magoou? 一 perguntou com certa cautela.
一 Ela. 一 corrigiu entre dentes, erguendo a cabeça aos poucos e segurando o riso ao ver sua cara de surpresa. 一 Ela me magoou.
一 Cassetada... 一 Claire mordeu o lábio. 一 Desculpe, acho que me intrometi demais.
一 Não se preocupe. 一 balançou a cabeça e logo após indicando para que ela voltasse a comer. 一 Não me incomoda falar sobre isso, não mais. 一 sorriu de canto ao se lembrar do diálogo com seu pai horas antes.
一 Sei como é. 一 disse insinuativa antes de procurar seus olhos. 一 Mas se você se sente bem da forma que está, continue nesse caminho.
一 É o que eu pretendo.
Claire a observou por mais alguns instantes antes de voltar a se concentrar em seu lanche, imaginando dentro de sua cabeça como seria este ano agora com uma colega de quarto tão misteriosa, mas ao mesmo tempo tão transparente.
"Tenho a sensação de que 2023 vai ser um ano bem agitado..." Pensou com grandes expectativas.
Fim do capítulo
Até o próximo =)
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ThaisBispo Autora da história
Em: 20/01/2021
Obrigada pelo carinho! Eu me vejo um pouco na Emma, mas a Claire é dos esportes e eu também, então haha
Atualizarei já já!
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Rain
Em: 20/01/2021
Olá!
Eu estou supresa e ao mesmo tempo admirada por Emma se parece tanto comigo. Tirando a parte de ser séria e gostar de filme de terror kkk séria eu não sou... Talvez um pouco kkk Já terror eu não gosto, nisso acho me parecia com a Claire ficou paranóica. Kkk
Mas, o resto sou parecido com a Emma, amo desenhar é uma carreia que pretendo seguir, sou muito introvertida e odeio multidões.
Gostei da história, acho que vai me ensinar muito. Além de envolver arte. Já amei... Continue por favor.
Até breve, autora. Abraços.
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