Capitulo 1 - No meu sonho
São 00h55min e estou há mais de duas horas virando nessa cama, buscando entender porque aconteceu dessa maneira. Como uma tempestade você veio, me encharcou e se foi. Eu afogada nas minhas lágrimas e na tua chuva, permaneço atônita e insegura, sentindo cada pedacinho de mim em carne viva, ferida aberta e arregaçada.
O casal mais lindo, cheio de elogios por onde quer que passássemos. As pessoas nos paravam na rua para dizer que éramos lindas juntas, eu e você nos olhávamos, agradecíamos e por dentro eu pensava, oh, mais um sinal, o amor da minha vida, eu encontrei.
Mais um dos tantos sinais que encontrei para justificar todo amor profundo e verdadeiro que encontrei dentro de mim, desejando você. O primeiro foi aquele dia, aquele que pedi seu numero.
Pedi seu número porque queria te mandar áudio, pela plataforma que te conheci, era chato, eu disse. Dei um tiro no escuro, não sabia se você riria e daria seu número, já que aleguei que meu dia estava bom, mas ficaria melhor ainda se tivesse teu número.
Você me deu e eu te chamei, era tarde já, mais cedo que essas horas de agora, mas meu dia era corrido, saía as 7hs voltava as 22h. Mandei áudio, não sei o que eu falei, não lembro. Trocamos algumas mensagens, depois boa noite, boa noite.
Foi nos meus sonhos que você apareceu.
Curioso, que eu só tinha te visto por foto, mas no sonho você similar ao que és na realidade. Você surgiu numa nuvem de vapor, sorria. Não conversei, só te admirava e sentia o cheiro seu, o cheiro que eu projetava ser seu... Que não chegava nem aos pés do teu cheiro de verdade. Ericei, desejei e rapidamente o sonho mudou.
Pela manhã acordei e tirei uma foto de eu levantando, em preto e branco, mandei pra você. Disse bom dia. Não falei do sonho. Nem falaria tão cedo. Eu sabia que naquele lugar onde eu estava indo, residia algo mais. Por isso mandei bom dia, por isso a foto, pensei que sorte que eu terei se conseguir encontrar essa mina, vai que ela é parecida com o sonho, e eu, no auge da minha lúxuria, desejava a imagem do sonho.
Eu te desejava com luxúria porque era o que eu tinha no momento, eu pensava na minha vida atribulada, trabalho, faculdade, academia, partido, família, bichinhos e já caminhei tanto pelas trilhas do relacionamento que já estava ciente do quanto de energia é necessário para viver um presente a dois e construir um futuro comum. Eu não tinha esse tempo, estava numa seca há meses, entrei no tal aplicativo só para encontrar umas minas maneiras, trocar uns amassos, sem compromisso, passar o tempo e era para ser só isso.
O sonho atiçou a vontade de te ver, mas ainda não sabia nada de você. Eu disse que você respondeu a foto? Mandou outra, na cama, sem blusa, sem mostrar os seios, mandando beijo. Já disse que seus lábios em formato de coração prenderam meu olhar? Penso que não disse isso. Uma pena, passou da hora. Eu arrepiei, disse que o dia era longo para mim.
Passamos o dia sem nos falar, a noite te chamei, perguntei sobre seu sotaque, você disse que era de lá, do outro estado. Perguntei o que você conhecia daqui e você me respondeu um áudio de 6 minutos e 40 segundos relatando todas as trilhas, praias e passeios que tinha feito por aqui. Avacalhou com todos os possíveis planos que eu tinha feito para te mostrar essa cidade, você já conhecia tudo! Eu falei isso pra você, você riu.
Expliquei para você que tinha um artigo para entregar em alguns dias, também era final de semestre e eu viajaria para Belo Horizonte no próximo final de semana, mas que, tão logo isso passasse eu queria sair contigo em um lugar maneiro, que ia bolar algo diferente para nos vermos. Você topou.
Enquanto conversávamos, eu mantinha contato com outras meninas do aplicativo, que eu tinha visto já, antes de você me notar. Uma tinha sido uma experiência boa no tato, horrível no trato, sem perspectiva nenhuma. Outra, também boa no tato, infelizmente, não sabia muito bem o que queria, e eu sabia bem o que eu queria, queria só me divertir. A terceira era magnética, tínhamos personalidades parecidas, ambas levemente dominantes, gateiras e cachaceiras, era um passeio rápido à perdição, mas se era mesmo só para se divertir, a diversão já virava loucura em alguns minutos.
No puro jogo da sedução, já estava ficando satisfeita para o que eu queria ali no aplicativo, não precisava mais cavar nenhuma mina, continuei ali somente para perder tempo. Na verdade, foi questão de um par de dias para que todos os rolês e conversas com essas minas perdessem a graça, afinal, meu maior passatempo era imaginar qual programa eu faria com a menina que surgiu nos meus sonhos?
Nessas horas já conversávamos dia e noite, sempre que eu encontrava uma brecha, conferia lá no aplicativo se você tinha dado alguma notícia. Sempre tinha algo. Você sempre foi tão atenciosa nessas conversas à distância.
Marquei com você um rolê, para dois finais de semana à frente, num pico que você conhecia quase nada. Dois finais de semana para frente porque eu teria que ir a Belo Horizonte no próximo e no outro já daria para nos vermos. Você topou, mas eu não tinha decido exatamente o que faríamos.
Pensei nas águas termais, eu olhei as fotos das piscinas e banheiras do local e imaginava nós duas na água, projetando como seria nosso primeiro beijo. Imaginei que seria assim, depois de muito conversar, mergulhadas na água quentinha das termas, um frio de congelar do lado de fora e nós duas quentes. Eu fervendo... De tesão, provavelmente.
Liguei para saber do esquema, de como seria para ir lá, o preço, os horários, eles tinham café colonial também, peguei os preços. Perguntei das banheiras, soube que elas eram individuais, perdi a vontade de ir, afinal, sozinhas não teria beijo e miaria meus projetos de beijo cinematográfico. Perguntei da piscina, tudo funcionando, não teríamos privacidade, mas convenhamos... Ninguém iria mergulhar, além de nós, naquele frio de dez graus. Fiz os cálculos, poderia ser um bom encontro.
Também sabia que lá tinha muitas cachoeiras, pesquisei algumas que poderíamos ir, caso você preferisse. Eu sabia de uma que era pública, mas não sabia exatamente onde era, poderíamos descobrir nós duas juntas, fazer uma caça à cachoeira, talvez fosse divertido. Mais natural, sem tanta encenação como o encontro das águas termais, sem plateia também.
Neste meio tempo, mantive um encontro rápido com a terceira, a magnética, em um encaixe de tempo livre que teria na quinta feira, antes do fatídico dia do nosso primeiro encontro. Eu não quis te encontrar num encaixe desses porque queria seguir meu coração e ele dizia que eu tinha que propor algo mais completo com você, onde eu tivesse tempo para desenvolver o beijo que eu queria te dar. Eu nem percebi, em uma semana estava apaixonada por você. Melhor, estava apaixonada por uma imagem de você, minha projeção.
Eis que nessa mesma semana, antes de ir viajar, eu estava em casa pois a aula daquele dia tinha acabado e tinha o horário livre, não tive que ir para faculdade. Você me mandou um vídeo seu saindo do trabalho, estava muito frio, ventando demais e você falou que o frio assou seu nariz.
Eu falei que tinha vários produtos que poderia te ajudar, tinha pomada e outros ainda. Mandei fotos de todos e falei brincando que eu podia levar para ti, já que estava com aquela janela de aula em aberto. Você topou. Eu pensei “merd*!” e agora, olha meu estado, eu estava bem largada em casa depois do dia de trabalho.
Mas, como não tinha mais como desfazer a brincadeira, coloquei uma roupa quente, passei um perfume, peguei todos os produtos e saí para te encontrar, você estava a poucos minutos da minha casa, de carro.
Combinei de te encontrar do lado do seu trampo, eu encostaria o carro, veria qual produto você queria e, se aceitasse, podíamos ir num bar tomar uma cerveja. Eu tremia de nervoso, queria ver a menina que apareceu nos meus sonhos, queria ver se era parecida, se tinha o mesmo cheiro.
Estava um trânsito do cão, mal consegui encostar o carro perto da entrada do terminal, olhei em volta e não te vi. Peguei o celular, avisei que cheguei e logo ouvi a batida na janela. Era você.
Você é linda. Muito mais linda do que no sonho! Você estava com uma roupa de frio aventureira, colete, lenço, jaqueta, bota, mochila. Você abriu a porta do carro e simplesmente entrou, sentou no caroneiro, sorriu e me beijou.
Na boca.
Deu pane no meu sistema nervoso central, olhei você e enrubesci, minha cabeça aqueceu e senti suor nas palmas. Pensei "que menina!", esqueci completamente dos hidratantes de lábios e te convidei pro bar. Você disse que não bebia, mas que iria e tomaria um suco ou água. Manobrei para sair de lá, manobrei mal, ainda completamente atormentada pelo beijo inesperado, joguei o carro para a esquerda e recebi uns buzinassos. Por segundos esqueci até o caminho pro bar, logo eu!
Quando chegamos ao bar eu me lembrei do proposito do encontro as pressas, todo atravessado, e ofereci os hidratantes. Você escolheu a pomada. Aproveitou e passou na boca também, que estava ferida, seus lábios de coração, brilhosos pelo produto, me dando vários beijinhos estralados, ainda teriam tantos. Sinto falta de todos os outros que ainda teríamos.
Depois do bar te levei para sua casa, num lugar bem longe, nos beijamos com furor dentro do carro, os vidros embaçaram e eu aproveitei para sentir teu cheiro... Você tem cheiro de manhã de sol misturado com tesão e com um toque de feitiço. Eu me acabei naquele cheiro, aproveitei para sentir ele bem atrás da sua orelha, você se arrepiou e eu senti minha calcinha encharcar.
Demos fim ao encontro às pressas, eu tinha que acordar muito cedo no dia seguinte. Você também. Dirigi os mais de 10km embriagada por você. Me joguei na cama e mandei mensagem para minha amiga informando que eu acreditava que eu tinha encontrado o amor da minha vida.
Fim do capítulo
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