Encontro com Bianca

Paula acordou cedo e deu uma geral no seu apartamento, ela sabe o quanto Bianca se preocupa com a saúde de sua mãe adotiva.

Paula tem muita gratidão e admiração por essa mulher que criou sua filha sem esquecer-se de falar sobre ela, de contar os motivos que separaram as duas e no futuro ela quer poder conversar com ela e saber como foi o início da vida de Bianca.

Depois de arrumar tudo tomou um banho e foi trocar de roupa umas três vezes. Acabou colocando um terninho cinza.

 Letícia passou lá para falar sobre um contrato e acalmar sua chefe que estava bem agitada. O bom é que ela conseguiu ajuda-la e escolheu um vestido azul com detalhes brancos, muito charmoso e não formal demais, porque o terninho que estava parecia que ia receber um cliente para o escritório, assim Dra. Paula ficou linda aos olhos de Letícia e casual para quem estava  em seu lar e logo receberia a filha.

As duas almoçaram e logo Letícia se despediu deixando uma caixa de bombons na mesa da sala e disse que se ela sentisse vontade poderia dar a Bianca para marcar o dia desse encontro tão especial. Paula agradeceu e ficou feliz pelo gesto, a caixa era muito bonita, bombons finos que ela comprou.

Uma hora mais tarde Bianca ligou avisando que estava saindo de casa com seu pai e logo chegaria ao apartamento.

Foram os trinta minutos mais demorados da vida de Paula. E então, o interfone tocou:

- Pois não!

- Dra. Paula, uma moça de nome Bianca está aqui para vê-la.

- Certo Senhor Leonardo. Pode mandar subir.

...

Paula abriu a porta  da sala e ouviu o elevador chegar.  O coração dela acelerou, logo saiu uma moça linda com cabelos castanhos nos ombros e claro que o coração ficou inquieto e os olhos marejados pela emoção do momento. Por alguns instantes Paula nem se mexia, apenas observava a moça de calça capri preta e blusa bege com umas flores desenhadas caminhar em sua direção.

Bianca era alta, em torno de 1,77 olhos castanhos, corpo muito bem malhado e um sorriso encantador, a moça estava com um perfume gostoso e um brilho no olhar. Ela é muito seguro e mesmo estando ansiosa não demonstrava.

- Olá! Dra. Paula, eu sou Bianca.

- Dra. Paula... ?

- Olá Bianca, eu estou meio atordoada hoje e vejo que você se tornou uma bela moça. Entre.

- Obrigada, a senhora também é muito bonita, Se me permite vou pegar esse gel da sua bancada, sou um pouco paranoica com isso. E olha não precisa ficar atordoada por minha causa.

- Fique à vontade e eu passarei também. Pode deixar que vou voltar ao normal, é que são muitos anos que penso em como você estava.

- Entendo a senhora, mamãe me falou, mas quero que fique tranquila.

- Eu vou ficar. Mas sente-se.

- Obrigada, meu pai pediu desculpas por não subir, precisava conferir um serviço e ele disse que estou em ótimas mãos.

- Agradecerei a ele depois pela confiança.

- Lá em casa todos adoram a senhora por ter me trazido ao mundo.

- E eu só tenho a agradecer a eles por cuidarem tão bem de você.

- Gostei do seu apartamento.

- Depois te mostro tudo.

- Eu quero um copo com água, por favor.

- Vamos à cozinha.

- Cozinha é um excelente local para conhecer e ver os gostos (risos)

- Gosta de comer?

- Meu pai fica impressionado comigo, eu como bastante, só que eu malho muito.

- E malha em casa?

- Sim, tenho alguns aparelhos na sala de ginastica.

- Eu tenho uma esteira e uma bicicleta aqui.

- É bom para não ter problemas futuros.

- Então somos duas mulheres que gostam de malhar, claro que você parece gostar um pouco mais.

- Eu costumava ir à academia e como esse vírus papai acabou comprando mais equipamento para eu poder malhar em casa.

- E o que gosta de comer?

- Olha é difícil o que eu não gosto, mamãe me criou comendo de tudo um pouco.

- Isso é ótimo Bianca. Eu como quase tudo (risos).

- Não tem nada que eu não coma, não que eu me lembre agora.

- Vamos para sala de TV.

-Vamos. A senhora gosta de filmes? – Tem tantos DVDs.

- Gosto muito, só não tinha tempo de assistir. Agora eu vejo bastante a noite.

- O Trabalho exige muito do seu tempo, não é?

- Sim, exige mesmo. Agora eu estou com uns associados ótimos trabalhando comigo o que me ajuda muito e fico com mais tempo livre, sem falar nessa pandemia.

- Essa pandemia pegou a todos nós de surpresa. Eu estava fazendo faculdade de arquitetura só que no segundo ano desisti e fui fazer artes onde me encontrei. Fiz três anos e veio a pandemia, eu já estou no final do meu curso.

- Então temos uma artista (risos).

- Meu pai disse que quando criança fiz muitas outras artes (risos).

- Não imaginava essas suas artes.

- Toda criança faz uma coisinha ou outra ... Hoje já pinto lindos quadros e quero dar aulas.

- Professora de artes então?

- Sim. E posso fazer algo se quiser. Minha mãe adora e como minha mãe dois pode querer também.

- Claro que vou querer, depois você fica famosa e vai cobrar caro.

- Dá família eu cobro menos.

- Como você está se sentindo nessa situação de duas mães agora.

- Dra. Paula eu sempre tive as duas só não lhe conhecia antes, mamãe tem a péssima mania de dizer que pode morrer a qualquer momento e que eu precisava saber que tinha outra mãe, então eu sempre tive essa consciência de duas mães.

- Olha seus pais são maravilhosos porque você tem uma facilidade para entender as coisas e viver tudo isso de forma natural, confesso que antes de você chegar aqui eu estava bem nervosa.

- Olha, eu não digo que é supernormal, só que fui preparada e quero lhe conhecer melhor, quero que me conheça porque meu pai diz que meu gênio é todo seu e não sou muito calma não, sou educada, agora se alguém mexer com meus pais ou com algo que eu não concorde é melhor sair da frente porque eu entro na briga mesmo.

- Nesse caso eu diria que sua personalidade é um pouco da minha, só que eu às vezes me deixo enganar facilmente.

- Nos seus casos de trabalho?

- Não! Eu digo no pessoal.

- Ah! Isso tem explicação por causa de fatores que viveu. Eu sei disso por causa da terapia que faço e como conheço sua história eu sabia exatamente como poderia ter algumas dificuldades. E eu respeito muito sua história de vida e de luta para se manter e conquistar seu espaço.

- Olha! Eu quero ter uma terapia dessa sua.

- Pode dizer o dia que agendo, minha terapeuta disse que seria ótimo levar a senhora lá.

- Vejo que você já tem tudo resolvido para nós hein!

- Desculpe se sou direta demais, meu pai reclama comigo, só que se é minha mãe deve me conhecer por inteiro e eu sou direta mesmo. Se não tivesse gostado da senhora eu lhe diria e iria embora logo.

- Bianca! Você ia fazer isso comigo?

- Se eu não tivesse gostado da senhora e eu simpatizei ao telefone e não me arrependi de ter vindo.

- Fico feliz então, porque eu não tinha essa sua segurança não. Quando chegou eu estava bem nervosa.

- E agora já se senti melhor?

- Sim, a sua espontaneidade foi me deixando tranquila.

- E então o que quer saber sobre mim?

- Nossa são tantas coisas.

- Certo vou te falar sobre mim e a senhora depois fala sobre as coisas que quiser me contar.

- Combinado, aos poucos iremos nos conhecendo, então vamos para cozinha que colocarei alguns tira-gostos enquanto você me conta sobre você.

- OK.

Bianca foi falando de coisas que lembrava quando era criança, de como caiu de bicicleta até aprender a andar, cotou que brigou algumas vezes na escola, falou que teve apenas um namorado sério até hoje porque pra ela relacionamento é algo importante e não vai perder tempo  brincando com o coração de ninguém.

- E por que terminou o namoro?

Olha eu sou uma mulher que sabe exatamente o que quer, posso até ter errado no curso que escolhi antes mas agora me encontrei, e o Fabinho não queria nada com a vida, até hoje não terminou a faculdade, só faz free lance e nada de trabalhar e eu não quero alguém assim ao meu lado, quero alguém que tenha um objetivo na vida.

Bianca contou que em casa ela que cuida de tudo, ela controla as compras, os remédios da mãe, as consultas e organiza as roupas. Ela recebe uma mesada do pai para ser responsável pela casa e elas tem uma diarista que agora vai quinzenalmente por causa dessa covid19 então ela e a tia cuidam de tudo, cozinhar é mais a tia, porém ela sabe fazer muitos pratos e lanches. Antes da pandemia ela dava aulas de reforço para ganhar um extra.

...

Após um breve relato Bianca disse que quer saber da doutora agora.

Paula ainda sentia seu coração pulsar acelerado, mais calma, porém ansiosa e respirou fundo antes de iniciar seu relato de vida;

Paula contou que não foi fácil ser criada sem a mãe, que sofreu muito nas mãos do pai e que uma coisa ela concorda com a filha, é preciso ser determinado na vida e quando ela conseguiu  voltar a estudar, batalhou bastante para se formar e foi quando conheceu a primeira esposa que foi um anjo na sua vida. Contou que infelizmente errou com a Rafaela e acabou se envolvendo com uma pessoa que parecia ter vindo acabar com sua paz, mas enfim ela estava resolvendo esse lado e o melhor de tudo era poder conhecer a ela, sua filha que de acordo com sua terapeuta era algo que faria toda diferença em seus dias.

Bianca olhou bem para Dra Paula que ela até assustou.:

- A senhora é minha segunda mãe e eu acredito que vamos ter uma boa relação, da minha parte estou confortável, agora vai ter que me ouvir sobre essas suas namoradas porque isso não é brincadeira e como não teve estrutura familiar eu posso lhe ajudar e minha mãe também pode.

Paula ouvia a filha falar e pensava que o correto era ela orientar e não ser orientada. Agora a menina tinha toda razão porque ela só cometeu erros nesse quesito.

- Bianca eu te dou carta branca, só quero ter direito de escolha porque quem vai casar sou eu.

- Podemos pensar na hora, se fizer a escolha certa. Seu passado não lhe ajuda muito...

(risos)

As duas foram conversando e se conhecendo, depois Paula mostrou o apartamento e Bianca quis ver até as roupas da sua mãe dois. Paula acabou descontraindo e mesmo com o coração inquieto pela felicidade que sentia ela conseguiu curtir bem à tarde.

Quando perceberam o pai de Bianca já estava ao telefone avisando que passaria para busca-la em 40 (quarenta) minutos

Fim do capítulo