O casamento começa a desmoronar
Com o passar dos anos fui conseguindo sustentar a imagem de mulher feliz, austera e forte, mas só Deus sabe o quanto meu coração estava ferido por dentro, saber que o amor da minha vida apenas nutria ódio por mim, mas agora estava na hora de agir, não havia espaço para sentimentalismo e essas bobagens.
--Kathleen, vá agora mesmo ao seu quarto e traga o seu celular, seu tablet e seu notebook. A partir de hoje eles ficarão comigo por tempo indeterminado! -fui logo dizendo após o almoço.
--Qual é, mãe?! Você não pode fazer isso, eles são meus. -Kathleen começou a esbravejar. -Não vou te dar eles.
--Ah é? Acontece que quem comprou foi sua mãe e eu. Se você não vai pegar pra mim, não há problema, eu mesma faço isso. -disse tranquilamente já pegando os equipamentos eletrônicos no quarto da minha filha.
--Eu vou contar tudo pra mamãe quando ela chegar e você vai se arrepender. -nessa altura Kathleen já gritava pela casa toda atraindo a atenção de todos os funcionários. -O que vocês estão olhando seus bestas?! Voltem a trabalhar.
--Tenho certeza de que sua mãe irá adorar saber o que você andou aprontando hoje na escola e a maneira que trata os funcionários, garanto que seu castigo apenas começou. Agora você vai enxugar toda a louça do almoço enquanto a Francisca descansa, você já dá muito trabalho pra ela. -respondi firmemente sem ligar para a cara emburrada de Kat.
--Não é justo, mãezinha! Sou uma criança e lavar essa louça vai me deixar cansada. -Kat já ia querendo me manipular com abraços e beijos quando percebeu que eu falava sério.
--Engraçado que no carro você veio falando que já era uma adulta, mudou rápido de ideia? Francisca, leva a Kat para a cozinha e supervisione o trabalho dela. -disse piscando o olho para a empregada a fim de que a mesma não permitisse que minha filha se machucasse com a louça.
--Você não me ama mais! -ouvi Kat falar e começar a chorar. Claro que me mantive firme com muito custo.
--Muito pelo contrário Kathleen, é justamente por te amar tanto que a partir de hoje teremos limites nessa casa. -disse enquanto a empregada já conduzia minha filha para a cozinha.
A tarde toda se passou com a minha filha de cara fechada, não quis tomar banho por não querer minha ajuda e nem ajuda da babá para lavar os cabelos, Kathleen me via como uma grande inimiga. Agora o jeito era esperar Pietra voltar do trabalho e ver qual era o seu posicionamento sobre a atitude da Kat.
--Passei o dia todo com saudades da minha esposa linda e da minha princesinha! Posso saber por que essas expressões tristes? -Pietra indagou com seu auto astral de sempre, mas ela sabia que algo havia acontecido. -Kat, por que você ainda não tomou seu banho para o jantar?
--Porque você ainda não havia chegado, mamãe, e queria sua ajuda pra lavar o meu cabelo. Senti saudades! -Kat já disse indo encher minha esposa de abraços e beijos, e eu só observava aquela cena patética.
--E por que não pediu ajuda pra sua mãe? Sabe que a Gi ou a Francisca sempre te ajudam no banho.
--Ela não é mais minha mãe, ela é muito chata e não quero a ajuda dela, só a sua. -se a Kathleen tivesse noção do quanto suas palavras me machucavam, com certeza não falaria.
--Não fale assim com a sua mãe, Kathleen! Independente do que tenha acontecido, nós duas te amamos e conversaremos depois do jantar. Agora vá pegar a sua toalha e vamos logo tomar esse banho antes que fique tarde. -Pietra falou de maneira mais autoritária impondo limites.
--Linda, se prepara que a conversa vai ser muito longa, não tenho notícias tão animadoras. -disse no ouvido de Pietra após Kat deixar a sala e em troca recebi um abraço caloroso. Meu cérebro indagava o motivo para não conseguir amar essa mulher, ela era tão perfeita. -Sei que você teve um dia corrido e cansativo no trabalho e não queria te perturbar com certos assuntos, mas é necessário.
--Amor, amo muito você e a nossa filha. Tudo o que diz respeito a vocês duas me interessa. -Pietra disse beijando os meus lábios. -Só vou tomar um banho, ajudar a Kat e depois resolveremos juntas o que quer que seja.
O jantar transcorreu em absoluto silêncio, Kathleen sabia que teríamos uma conversa séria e acabou comendo menos do que o normal.
--Então Kat, comece me contando o que ocorreu para você está tão chateada com a sua mãe. -Pietra iniciou a conversa com sua fala costumeira.
--Ela tirou meu celular, meu tablet, meu notebook e ainda me obrigou a enxugar a louça da cozinha. -Kat me fitava com ira.
--Agora diga para a sua mãe porque fiz isso. -comentei olhando para minha filha que baixou o olhar e não falou nada.
--Giovanna, parece que a nossa filha ficou muda, então me conte você mesma o que aconteceu. -Pietra me pediu.
Narrei tudo o que havia ocorrido pela parte da manhã, cada detalhe do comportamento vergonhoso da Kat, não escondi nada, assim a Pietra perceberia que não estava exagerando. Percebia o choque no olhar da morena após tudo o que falei.
--Kathleen, você tem noção do quanto magoou a sua amiguinha de turma? Palavras ferem. Estudei muito para ser engenheira e se a sua amiguinha estudar, ela também poderá ser uma brilhante engenheira, até melhor do que eu, minha filha. -Pietra disse pegando nas mãozinhas da nossa filha.
--Ela não é minha amiguinha, mamãe. Eu não gosto dela... -Kathleen rebateu gritando.
--Mude o tom de voz para falar comigo, a autoridade aqui ainda sou eu. -Pietra rebateu, mas sem se alterar. -Por que você não gosta dessa menina? Só por que ela tem uma cor diferente da sua? Responde Kathleen!
--Não sei, apenas não gosto dela e pronto. -Kathleen disse, mas sabe como é coração de mãe? Sentia que havia algum motivo para tamanha antipatia que ia muito além da cor da pele, mas não sabia o que era.
--Kat, tudo bem que você não é obrigada a gostar de todas as pessoas, mas respeito é muito importante. Eu e sua mãe também não gostamos de certas pessoas, mas respeitamos. Percebe a diferença meu amor? -perguntei acocando na frente da minha filha, sabia que ali havia um coração cheio de amor de uma criança de quase seis anos, não uma armadura. -Lembra quando a Paula te tratou muito mal no aniversário dela e você ficou triste? Não faça à Iara ou a qualquer outra criança algo que você sabe que deixará triste! -pela primeira vez notei que minhas palavras haviam sido captadas por aquela cabecinha difícil.
--Isso quer dizer que preciso respeitar a Iara, mas não serei obrigada a ser amiga dela? -não era bem isso que queria transmitir com a minha fala, mas acho que já valeria a pena.
--Exatamente meu amor. Não iremos te obrigar a ser amiga dela, mas respeite. Todo ser humano merece respeito independente da cor de pele. -respondi ainda sendo observada por aqueles olhos azuis atentos.
--Tá certo, não desrespeitarei essa menina, mas não serei amiga dela. -Kat disse com seu posicionamento rígido de antes. -Agora vocês podem devolver meu tablet? Preciso dele pra conversar com as minhas primas e com a Pat.
--É claro que não, Kathleen! Você precisa entender que suas atitudes geraram consequências e terá que responder pelo que fez. A Gi foi muito boazinha por ter apenas tirado seus equipamentos, agora chegou a minha parte do castigo. A partir de amanhã sairá apenas para a escola, balé e seus compromissos profissionais. Seus passeios pra casa da Rafaela e da Natalie, assim como pra qualquer outro lugar estão proibidos. -Pietra completou e fiquei feliz pelo apoio que recebi.
--Mãezinha, sábado a Rafinha vai dar uma festa e eu não vou?! Isso só pode ser brincadeira, né? -Kat perguntava chateada.
--Olha bem pra nossa cara e veja se estamos rindo ou com cara de brincadeira? Agora vá para o seu quarto dormir. Amanhã cedo tem escola. -falei com um tom de voz firme.
--Vão me contar história antes de dormir? -Kathleen fazia uma expressão que derreteria qualquer coração.
--Não Kathleen, ainda estamos muito chateadas. Só mais um aviso, amanhã mesmo... Você vai pedir desculpas para essa menina que você ofendeu. -Pietra disse sem ligar para a cara de insatisfação da nossa filha.
--Mãe, não vou e...
--Nós não estamos pedindo, isso é uma ordem, e eu vou me certificar se fez ou não o que sua mãe falou. -disse apoiando minha esposa.
--Vou fazer poque estão me obrigando, mas não é um arrependimento sincero. Boa noite! -Kathleen disse nos deixando de boca aberta e indo para o quarto.
Era incrível a conexão existente entre Pietra e eu, quando nos recolhemos para o nosso quarto, ela entendeu perfeitamente que não havia falado tudo o que aconteceu na frente da loirinha.
--Pinguim, você ainda tá me escondendo algo. O que não teve coragem de dizer? -Pietra estava muito cansada do dia corrido no escritório. Kat ainda dava dor de cabeça. Hoje entendo melhor o posicionamento da Ágatha quando naquela época não queria ter filhos, mas logo tratei de afastar esse pensamento.
--A diretora quer que a nossa filha vá estudar no terceiro ano, acha que será melhor. O que mais me preocupa é que a mãe dessa Iara vai querer fazer de tudo pra ferrar com a nossa vida, mas já conversei com a Bianca e ela disse que podemos contar com ela... -aos poucos fui inteirando minha esposa de todos os acontecimentos.
--De jeito nenhum, nossa loirinha não irá para turmas de crianças mais velhas, a escola precisa fazer algo pra que a Kat seja inserida. Não quero briga com a mãe dessa menina, mas se ela pensa em prejudicar minha filha, faço questão de levar esse processo até o fim, e ela que vai se dar mal. Aliás, quem é essa mulher que tá se met*ndo a besta? -era agora que precisava falar a verdade, não podia adiar.
--Quem tá por detrás de todo esse processo é a Ágatha, a Kathleen mexeu com a filha dela. -falei tudo de uma vez só.
--É sério que com tanto colégio nessa cidade, a Kat tinha que ser da mesma escola e da mesma turma da filha dessa mulher? Ainda não entendi como a Ágatha conseguiu ser mãe, esse papel não combina com ela. Mudei de ideia, vamos falar com a diretora e a Kat será transferida o mais rápido possível para a turma do terceiro ano. Minha filha não será amiga dessa garota, ela não quer e eu muito menos. -Pietra falava transtornada tomada pelos ciúmes.
--Pietra, você mudou completamente de ideia só por descobrir que a Ágatha é mãe dessa menina, e quer colocar a Kathleen em outra turma. Não esqueça que nossa filha foi racista e a Iara não parece ser má criança... -nem pude terminar de falar e tive minha fala cortada.
--Agora você tá colocando essa menina que você nem conhece como vítima e nossa filha como carrasca. Tudo isso por que ela é filha do grande amor da sua vida? Espero que essa volta para o Brasil não traga problemas para o nosso casamento. -minha esposa comentava furiosa.
--Você que tá colocando palavras na minha boca, Pietra. Estou sendo racional e não colocando minhas emoções a prova. Agora quero dormir, a Kathleen é uma irresponsável que me fez sair mais cedo do trabalho, tô morrendo de dor de cabeça e amanhã ainda tenho que chegar mais cedo pra colocar meus relatórios em dia. Você também tá cansada, deveria ir dormir também ao invés de querer brigar.
--Olha só o que tá falando, chamando minha filha de irresponsável, ela é apenas uma criança maravilhosa que precisa de cuidados e ser educada. Mas, você não quer aceitar a verdade, vamos dormir. Boa noite, Giovanna.
Fim do capítulo
Oi meninas. Como prometido estou de volta com mais um capítulo. Parece que a Pietra se irritou e a partir de agora a relação da Gi e da DJ estará mais complicada. O que acham que está por vir? Conto com as ideias, críticas, comentários e sugestões de todas. Beijos e até terça-feira.
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diasana377
Em: 17/10/2020
Ja passou da hora de acabar. Não ha como ter casamento sendo que o amor é unilateral. Na verdade esse casamento não era pra ter acontecido.
Resposta do autor:
Gi casou para fugir da Ágatha. Pietra casou achando que reconquistaria a Gi... Não foi um casamento por amor, então não tinha como dar certo rs.
Beijos.
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