O juiz batia o seu martelo tentando pôr ordem no murmurinho e pedidos de justiça que se espalhara pela sala do julgamento. - Silêncio ou essa sessão será fechada.- Disse o homem e todos obedeceram.- Doutora Thompson,continue. - Sem mais perguntas,excelência.- Falou Lex. - Senhora promotora? - Já ouvi o suficiente.- Respondeu a mulher de meia idade. - Senhor advogado de defesa? - Eu gostaria de fazer umas perguntas .- Henry levantou-se e se aproximou da testemunha.- Doutor Jones,o senhor é um médico renomado,um dos melhores do estado.- Sorriu mas o homem permaneceu sério.- Disse que conhece a suposta vítima e a família dela há anos? - Sim. - Seria então muito fácil ,senhores jurados,para esse homem emitir fatos e fazer de tudo para favorecer uma velha amizade. Peço que o testemunho dele seja desconsiderado. - Protesto.- Falou Lex.- O senhor advogado de defesa está tentando denegrir o caráter da testemunha que veio aqui para dar somente o seu parecer profissional do que ele presenciou. - Protesto aceito.- Disse o juiz.- O testemunho do doutor Jones será mantido. - Pois bem.- Henry lançou um olhar de raiva para Lex.- O doutor Jones afirma que a moça apareceu machucada,violentada,mas em momento algum eu o ouvi citar ou dizer que a "vítima" citou o nome do meu cliente,do senhor David Newton. O que ouvi ele dizer foi que,segundo a senhorita Cooper,o agressor vinha de uma família influente.- Ele deu uma pausa.- Estamos em Nova York senhoras e senhores,grande parte das famílias que residem aqui são influentes. Pode ter sido qualquer um. - Não foi qualquer um,foi ele. Foi David Newton.- Lindsay Cooper quase gritou com o rosto banhado em lágrimas. - Acalme-se senhorita ou será retirada.- Falou o juiz. - Senhor juiz,senhora promotora,senhores jurados,como disse a doutora Thompson,aqui trabalhamos com provas e no caso da senhorita Cooper,eles não tem nenhuma.- Henry falou e Lex sorriu,sabia que ele diria aquilo. - Na verdade,temos sim.- O doutor Peter Jones se manifestou chamando a atenção de todos. - Como disse? - Perguntou Henry. - Quando a senhorita Cooper apareceu na minha porta naquele estado deplorável,não pude chamar a polícia a pedido dela mas eu sabia que isso viria à tona algum dia e que precisaríamos de provas contra o culpado. Foi por isso que coletei e guardei amostras do material genético que estavam espalhados por todo o corpo dela. David de repente começou a demonstrar sinais de nervosismo. - E onde está essa prova? - Quis saber a promotora. - Enviei para o laboratório criminal para análise. O resultado chegou pouco antes de eu entrar aqui.- O doutor Jones retirou um envelope dobrado de dentro de seu terno e o passou à um rapaz que o entregou ao juiz. - Aqui diz que o material genético coletado pelo doutor Jones na vítima é compatível com o DNA de David Newton.- O juiz falou e as pessoas começaram a gritar por justiça.- Declaro essa sessão fechada,voltaremos em trinta minutos. ********************************************************* - Samantha,tudo bem? Você está muito quieta e distante.- Dominique perguntou aproximando-se da ruiva. - Sim,só estou pensando que o que aconteceu comigo foi um nada perto do que ele fez com as outras meninas. - Elas passaram por algo terrível mas você também sofreu um trauma que por sorte não foi pior. - Graças à você que apareceu na hora certa,como sempre. Dominique esboçou um sorriso mas voltou a ficar séria assim que Lex se aproximou. - Samantha,vejo que está mais relaxada.- Disse a loira. - Estou sim. - Que bom,você estava mais nervosa que as outras meninas,e olha que elas passaram por uma situação pior que a sua. Ainda bem que a Dominique apareceu para evitar que você tivesse um treco.- Lex falou pois não gostara nada de ver Dominique cheia de sorrisos para a ruiva. - Vou procurar a Ianny.- Samantha disse e afastou-se. - Você não precisava ter dito aquilo.- Dominique não gostou da atitude de Lex. - Por quê? É a verdade, ela estava sendo dramática. - Ela é sensível. - Ou muito mimada. - O que aconteceu com você? porque não estou te reconhecendo. - Eu... - Lex se deu conta do modo como estava agindo.- Me desculpa,ando um pouco estressada nesses últimos dias. -Eu melhor que ninguém sei como é fácil jogar a frustração e a raiva pra cima dos outros,só toma cuidado porque isso nem sempre tem volta.- A morena ia afastar-se quando Lex segurou o seu braço. - Será que podemos conversar mais tarde? - Estarei em casa.- Dominique disse antes de desvencilhar-se e voltar à sala para o reinício do julgamento. ************************************************ A sessão foi reaberta,Lex apresentou as outras vítimas e as provas que ainda restavam. Henry mostrou vários laudos médicos constando todas as fraturas que David sofreu na surra que levara e o coágulo sanguíneo que se formou em uma parte delicada de seu cérebro. - Como podem ver - Disse ele - O senhor Newton já recebeu uma terrível punição por seus supostos atos. Perdeu o controle quase completo do lado direito de seu corpo,depende da ajuda e boa vontade dos outros e de constante cuidado médico. Ele também é uma vítima dos seus próprios impulsos e quem aqui nunca errou que atire a primeira pedra.- Henry fez uma pausa.- Devido ao delicado estado de saúde do meu cliente que se quer pode sair de casa direito,peço à esse tribunal e ao júri que todas as acusações que pesam contra David Newton sejam arquivadas. O murmurinho das pessoas recomeçou,o juiz batia o seu martelo com irritação. Uma das moças,vítima de David cochichou algo para Lex que foi até a bancada do juiz. - Meretíssimo,a senhorita Jéssica Flores gostaria de dizer algumas palavras.- Falou e ele assentiu. Agora no banco das testemunhas,a mulher com seus trinta anos,cabelos e olhos negros encarou o homem sentado na cadeira de rodas. - O que gostaria de dizer,senhorita? - Perguntou a promotora. - Depois que ele fez o que queria comigo,fui pra casa. Não tenho família ou amigos com quem eu possa contar,então me viro sozinha. Ninguém acreditaria se eu dissesse que o sobrinho do prefeito havia feito aquelas atrocidades comigo.- A moça agora tinha o olhar perdido.- Liguei o chuveiro,vi a água carregando o sangue que escorria do meu rosto,do meio das minhas pernas. Tudo doía e eu fiquei ali por horas na tentativa de tirar a sensação dos toques dele pelo o meu corpo. Claro que não resolveu,não importava o quanto eu me lavasse,ainda assim me sentia suja.- Limpou uma lágrima que escorreu por seu rosto.- Fiquei dias sem sair de casa com medo que ele me encontrasse novamente. Os pesadelos? É,eles ainda acontecem. Eu não consigo nem me olhar no espelho e por muitas vezes estive perto de cometer suicídio. - Sinto muito que você tenha e esteja passando por tudo isso.- Disse a promotora imaginando se fosse a sua filha no lugar daquela moça. - Não sou do tipo que deseja mal aos outros.- Continuou Jéssica.- Quando eu soube que David Newton havia sido espancado e que o responsável por isso não foi identificado,eu pensei.. Que pena. Pena que não sabemos quem é essa pessoa porque eu gostaria muito de enviar flores à ela. Não me levem a mal mas o que aconteceu com esse monstro foi pouco. Ele acha que está sofrendo? Nós,as vítimas dele é que estamos sofrendo. Ele não pode continuar por aí para ter a oportunidade de cometer esse crime novamente,talvez até contra uma filha,irmã,mãe,esposa de algum de vocês que estão aqui. - Ela respirou fundo.- Em nome de todas as mulheres eu imploro à esse tribunal que David Newton não saia impune de seus atos. Aclamada em palmas a moça retornou ao seu lugar. - Chamo agora ao banco das testemunhas o réu,David Newton.- Falou a promotora. Com certa dificuldade David foi colocado de frente para todos naquela sala. - Senhor Newton,você se considera um maníaco sexual? - Não. - Possui algum distúrbio ou compulsão? - Não. - Conhece essas mulheres que o estão acusando? - Só a ruiva.- Disse para protesto das outras moças. - Se não as conhece,como explica o seu material genético ter sido encontrado no copo de algumas delas? - Não faço ideia. Algumas noites foram bem agitadas e não me lembro de muita coisa.- Sorriu e Henry passou a mão no rosto balançando a cabeça negativamente. - Agitadas a ponto do senhor sair por aí abusando de várias mulheres? - A promotora perguntou e o homem nada respondeu.- Vai dizer agora que também não se lembra disso? - Falou e David deu de ombros.- É o suficiente pra mim meretíssimo,sem mais perguntas. Antes que o réu fosse levado de volta ao seu canto,ele avistou um rosto conhecido no meio das várias pessoas ali presentes. Seu olhar cruzou diretamente com o de Ianny que esboçou um sorriso e piscou. O homem começou a tremer aterrorizado até que soltou um gemido alto e caiu de sua cadeira sofrendo uma convulsão. O enfermeiro e o doutor Jones correram para ajudá-lo e o levaram à outra sala enquanto as pessoas comentavam assustadas. - O juiz,a promotora e o júri vão se retirar por alguns momentos.- Anunciou o rapaz magricela. - Meu Deus,ele está mal mesmo.- Falou Samantha.- Reparou como ele ficou pálido antes de gritar e cair? - Parece que viu um fantasma.- Disse Lex e Dominique nada falou,sabia bem quem é que David havia visto. Passaram-se cerca de dez minutos até que o juiz e os outros retornaram à sala. - O júri chegou a um veredicto.- Disse ele.- Depois de tudo o que foi ouvido e visto aqui hoje,David Newton foi considerado culpado de todas as acusações. Os gritos e palmas ecoaram por todo o local. - No entanto - Continuou o juiz - Devido ao estado de saúde do réu,ele ficará em prisão domiciliar até que esteja em condições de ser transferido à um presídio onde deverá cumprir a pena de onze anos e sete meses de prisão em regime fechado. O condenado não terá mordomias em sua casa,será vigiado vinte e quatro horas por dia e monitorado por um médico designado por esse tribunal. Essa sessão está encerrada.

Fim do capítulo