Não ousem sair desse maldito carro!
Nosso plano era ótimo, estávamos em maior quantidade e usávamos os equipamentos de comunicação providenciados por Rebeca, mas nos esquecemos de apenas um detalhe: Eduardo não era só um chantagista hipócrita, ele era um criminoso sem escrúpulos. E nós? Bom, nós éramos artistas!
Para apresentar um número novo, ensaiávamos várias horas por dia, repetíamos o mesmo movimento infinitas vezes em busca da perfeição e mesmo assim, em alguns momentos ainda precisávamos improvisar.
Assim que chegaram ao evento, Fernanda percebeu que nada sairia como o planejado e xingava, fazendo sua voz ecoar em nossos fones de ouvido.
— Isso só pode ser brincadeira! Pessoal, esse lixo de partido está lançando Eduardo como candidato a governador, o evento é para oficializar a candidatura. Jonas conseguiu nos colocar para dentro, mas a imprensa fica em uma área afastada e tem seguranças por todos os lados, só Juliana teve permissão para se aproximar dele, achamos que seria mais seguro se ela tirasse os fones e agora ela está incomunicável — Fernanda falou e senti um frio na barriga. — Enquanto não conseguir me aproximar, não sabemos o que vai acontecer. Fiquem atentos!
— Acho melhor irmos até aí — sugeri, preocupada com minha garota. — Talvez possamos ajudar em alguma coisa.
— Não, JP está servindo bebidas em um balcão próximo e está de olho nela, não vamos deixar que ela saia daqui sozinha — Fernanda me tranquilizou. — Fique aí e vigie a casa! Precisamos ter certeza de que não seremos surpreendidas quando chegarmos.
— Nossa primeira missão fora do hospital — desliguei o comunicador e falei para Rebeca, sentada ao meu lado, dentro carro estacionado há alguns metros do condomínio de Eduardo. — Quase tão emocionante quanto as noites de quinta-feira.
— Confesso que estou com saudades de ver a garota das tranças dançar até o chão através da janela do nosso quarto, mas desmascarar um político corrupto e salvar sua namorada é bem mais interessante — ela falou, brincando com a chave da moto de JP. Meu irmão estava mesmo apaixonado, ele considerava aquela chave como um amuleto e nunca o vi entregá-la para ninguém antes.
— Pretende ser globista no “nueva Esperanza”? — brinquei, Rebeca em uma moto era tão surreal quanto eu no Colombo. Espera, eu estou no Colombo, isso significa que ela poderia estar no globo da morte algum dia? É claro que não!
— Quem sabe. Tudo vai depender do meu desempenho hoje — Rebeca respondeu balançando os ombros e me perguntei o que ela queria dizer, mas ela aumentou o volume do som, deixando claro que não queria falar sobre aquilo.
Sorri e ficamos assim por um tempo, relembrando nossos dias na reabilitação e aguardando notícias de alguém do outro lado.
— Gabs — a voz de Renata soou e olhei em volta a procurando, até me dar conta de que ela estava apenas dentro do meu ouvido. Rebeca revirou os olhos, inconformada com minha incompetência tecnológica. — Fernanda conseguiu que Eduardo conceda uma entrevista exclusiva depois da coletiva que está acontecendo agora. Esse cara além de previsível é patético, ela só inflou o ego dele e foi o suficiente, nem precisou insistir para que ele aceitasse.
— Isso é ótimo! — Rebeca e eu comemoramos aliviadas. Pelo menos Juliana não estaria sozinha com Eduardo no mausoléu que ele chamava de casa.
— Bom, a entrevista é para falar sobre os detalhes do casamento — Renata disse com cuidado, temendo minha reação. — Eduardo e Juliana acabaram de ficar noivos. Ele está fazendo uma cena para começar a campanha na frente e sabe da influência dela com os eleitores jovens. Foi horrível, coitada!
— O que? Como Juliana está? — a imaginei com uma aliança no dedo e quis ir até lá enfiá-la garganta abaixo de Eduardo.
— Aparentemente tensa e não quis dar nenhuma declaração para imprensa agora. A coletiva está acabando, fiquem ligadas, em breve estaremos aí — Renata desligou ofegante.
Rebeca e eu nos entreolhamos e voltamos a aguardar em silêncio, até que alguns minutos depois, outra falha no nosso plano aconteceu: agora que Eduardo era oficialmente candidato a governador do estado, a preocupação com sua segurança havia aumentado consideravelmente e só percebemos isso ao notarmos seu carro virando a esquina, e para nosso desespero, cercado de seguranças.
— Merd*! — Rebeca xingou, dando um pequeno toque na orelha para ligar o comunicador, se eu não estivesse tão apreensiva teria achado incrível aquela habilidade, ela parecia ter nascido exatamente para situações daquele tipo. — Alguém aí? Precisamos de atualizações!
— Está acontecendo uma manifestação contra a candidatura de Eduardo aqui em frente, fecharam todas as entradas do salão, estamos presos no evento — Lipe foi o primeiro a responder.
— Onde estão os outros?
— Jonas e JP estão procurando uma saída.
— E as garotas? — perguntei, sentindo que ele estava escondendo algo.
— Gabs, não encontramos a Juliana. Eduardo saiu às pressas, achamos que ela pode estar com ele — Fernanda falou com urgência na voz. — Não faça nenhuma idiotice, está me ouvindo? Vamos encontrar um jeito de sair daqui e readaptar o plano.
O carro de Eduardo parou e um segurança desceu para se identificar na portaria do condomínio então me dei conta de que não tínhamos muito tempo. Eu precisava salvar Juliana.
— Rebeca, vocês estão me ouvindo? Não ousem sair desse maldito carro! — Fernanda repetiu e eu desliguei meu comunicador.
— Tem certeza disso? — Rebeca ignorou Fernanda e me perguntou, confirmei com um aceno de cabeça e então ela também desligou o seu comunicador, deixando Fernanda falando sozinha do outro lado. — O que faremos agora?
— Vou entrar — disse, sem saber exatamente como faria aquilo.
— Tudo bem, eu distraio os seguranças — Rebeca fechou o zíper do casaco e pulou para fora do carro. — O que você está esperando? Vamos logo.
Desci do carro e me escondi atrás de uma árvore próxima, ainda pensava nos meus próximos passos quando ouvi os gritos de Rebeca.
— Ei! Por que fugiu da manifestação? Você não é o macho alfa? Onde está sua pose arrogante agora? — Rebeca tinha um jeito peculiar de fazer as coisas, certa vez no hospital, a encontrei tirando o cadarço dos seus tênis e amarrando uns aos outros, criando uma corda imensa para descer um bilhete pela janela até uma senhora que estava internada em um quarto no térreo. Quando perguntei porque ela simplesmente não pegava o elevador e ia pessoalmente conversar com a mulher, ela balançou os ombros e me respondeu que preferia fazer as coisas com emoção. E irritar os seguranças de Eduardo era parte do seu jeitinho de resolver as coisas. — O que foi, está com medinho? Não tem nenhuma câmera aqui para você se aparecer?
— Rebeca! — sussurrei exasperada, tentando chamar sua atenção. — Ficou maluca? Eles vão acabar com você.
— Agora é sua chance, vai!
Rebeca pegou algumas pedras e as jogou na direção da portaria, quando uma delas atingiu o vidro, todos os seguranças imediatamente saíram do carro e correram atrás dela, e para nossa sorte, até o porteiro deixou a guarita para ver o que diabos estava acontecendo.
Eu deveria correr e passar pela portaria, mas não podia deixar minha amiga ser perseguida por seis brutamontes com o dobro do tamanho dela.
— O que você está fazendo? Entra! — ela me perguntou pelo comunicador, ao ver que eu continuava parada sem acreditar no que estava acontecendo. — Vai logo, eu tenho um plano.
Assim que as palavras saíram de sua boca, Rebeca se enfiou em um beco sem saída.
— Maravilha de plano — falei em pânico.
O porteiro estava prestes a perder o interesse no que estava acontecendo, o carro de Eduardo havia passado e o portão começava a se fechar, eu precisava entrar naquele momento ou não teria outra chance.
Decidi ignorar meus instintos, confiei em Rebeca e corri para entrar, o porteiro pareceu sentir minha presença atrás dele, mas o barulho que vinha de fora novamente o distraiu. Me escondi atrás de uma lixeira e em alguns segundos, que pareceram uma eternidade, Rebeca provou que realmente tinha um plano e subiu a rua acelerando nada menos do que a moto de JP.
— Você é incrível, garota! — respirei aliviada, enquanto ela fugia deixando os seguranças confusos para trás.
— Eu sei — ela respondeu convencida. — Vou dar algumas voltas até despistá-los, depois volto com o carro para pegar vocês.
— Obrigada, Beca.
— Gabs — ela chamou.
— Oi.
— Você tem um plano?
— Acabar com Eduardo — respondi, ao vê-lo violentamente empurrar Juliana para dentro da casa.
— Parece um ótimo plano.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Mille
Em: 13/10/2020
E o coração como fica??? Nas mãos.
Ai ai e agora Gabs é contigo. Salva tua namorada e dar um golpe no Eduardo que ele não vai saber quem o atingiu. Bjus e até o próximo capÃtulo
Resposta do autor:
haha! Pois é, Mille! No capítulo anterior as coisas começaram a se resolver e agora é só alegria hehehe
Beeijos, até o próximo ^^
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