Capitulo 82 - Agora você quer ser meu pai?!
Agora você quer ser meu pai?!
-Ele não tem esse direito. - Digo raivosa.
-Lizandra, ele é seu pai.
-Não Madalena! Ele nunca foi e nunca será meu pai.
-Querida... - A mulher mais velha tenta a todo custo me acalmar. –É só uma dança. - Ela diz inocente.
-Não, não é só uma dança Madalena. - Digo olhando-a nos olhos. –Você sabe onde ele estava quando fiz quinze anos? Sabe quem foi que dançou comigo? Sabe o que ele fez no dia seguinte? Então, não, não é só uma dança.
-Liz, o tio Gustavo está tentando. - A garota de olhos escuros me encara sem jeito. –Talvez se você pegar um pouco mais leve. – Prendo o riso no fundo da minha garganta.
-Pegar mais leve? - Pergunto andando em sua direção. Paro na sua frente prendendo os seus olhos com os meus. –Você só pode está de brincadeira.
-Liz... – A garota tenta insistir.
-Agora não Camila! - Digo dando-lhe as costas.
-Filha... - Dr. Gustavo segura o meu pulso antes que eu posso me afastar. –Será que podemos conversar por um minuto? - Puxo com força o meu braço, me soltando do seu toque.
-Não há nada para conversamos. - Digo entre dentes, olhando-o nos olhos, furiosa.
-Lizandra, eu não sei o quer mais tenho que fazer para você me perdoar. - Ele lamenta. –Só... só me deixe ser seu pai, meu amor. Me deixe...
-Agora você que ser meu pai? - Pergunto indignada. –Não acha que está tarde demais pra isso? Então, só me deixe em paz! - Minha voz soa baixa e fria. Meus olhos são atraídos por um par de olhos castanhos amorosos.
-Desculpe vovó. - Digo olhando sem jeito para a senhora que estava parada, apenas observando aquela cena lamentável. –Eu jamais quis estragar a sua festa. - Olho em volta. Todas essas pessoas nos observando me incomoda. “Por que papai tinha que me incomodar logo agora?” Penso revoltada.
Respiro fundo. Dou meia volta. Atravesso o salão até a saída sem olhar para trás uma única vez. Hoje é a festa de aniversario de vovó Catherine. Tudo o que eu menos queria era causar estragos. Mas o digníssimo Dr. Gustavo D’Barriel não me deixa em paz. Eu juro que tentei me segurar. Mas toda vez que ele se aproxima, entro na defensiva. Tudo o que ele diz e faz me causa raiva. É inevitável.
-Linda, não é?! - Uma voz masculina soa ao meu lado. Não preciso me virá para saber de quem se trata.
-Realmente. Maravilhosa. - Digo sem desviar meus olhos da lua cheia logo a minha frente.
-Pensei que já tivesse ido embora. - O homem parado ao meu lado diz cauteloso.
-Sinto muito, vovô. - Abaixo a cabeça envergonhada. –Dr. Gustavo é tão irritante. Eu tenho vontade de soca-lo às vezes.
-Então faça isso. - Sua voz soa calma. –Faça isso se for deixa-la mesmo zangada. - Vovô diz e cai na gargalhada.
-Vovô! - Reclamo sem jeito.
-Gustavo nunca teve medo de muita coisa. - Vovô dá uma longa pausa. Meus olhos então são atraídos por ele. –Mas ser seu pai o deixa amedrontado.
-Ele não é meu pai! - O senhor me dá um sorriso triste.
-Então deixe ele ser. - Vovô diz em tom sério.
-Eu... eu não posso. - Desvio os meus olhos, voltando à posição inicial.
Seguro fortemente as barras de ferro a minha frente. Estou no terraço há quase uma hora. Quando sair do salão de festas não sabia pra onde ir. Meus pés simplesmente me trouxeram até aqui.
-Liz...
-Não vovô! - Interrompo o senhor de olhos escuros. –Ele já teve tempo demais para isso. - Minha voz soa raivosa. –Eu não precisei de um pai no passado. - Trinco os meus dentes. –Eu não preciso de um pai agora.
Sinto um leve toque sobre a minha pele. Vovô segura o meu queixo e vira delicadamente o meu rosto em sua direção. Seus olhos escuros estão marejados.
-Você sempre mereceu mais. - Sua voz é chorosa. –Sinto muito por não ter te protegido com mais intensidade. Sinto muito meu amor. - Vê aquele homem que eu admirava tanto daquele jeito me partia o coração. –Eu deveria ter lutado mais por você. Deveria ter feito de tudo para não deixar ninguém macular o seu mundo. - E então ele acaricia meu rosto delicadamente. –Nem mesmo meu próprio filho.
-Isso é tão difícil, vovô. - Digo me jogando entre os seus braços. Vovô apenas me acolhe em seu abraço protetor.
Ficamos assim por longos minutos. Vovô Bernardo sempre esteve ali por mim. Foi ele quem me ensinou a andar a cavalo, quem me ensinou a nadar e a andar de bicicleta. Era ele quem ia as minhas reuniões da escola, as festas do dia dos pais. Era ele quem me dava bronca, e quem me aplaudia. Era ele quem me levava para acampar, quem me ensinou a ser alguém melhor. Ele me ensinou ater princípios e respeito ao próximo. Ele me fez sentir amada todos os dias. Vovô Bernardo foi o pai que eu nunca tive.
-Juro que pensei que você o mataria ali mesmo. - Vovô sussurra quebrando o silêncio e se afastando. –Gustavo parecia um garotinho amedrontado. Tenho certeza que ele pensou que você não fosse recursar de forma tão rude o seu convite. Não na frente de tanta gente.
-Então pensou errado. - Digo fazendo bico.
-Eu entendo sabe... - Vovô Bernardo diz mansamente. –Eu também iria querer dançar com a mulher mais linda da festa. - O homem de olhos escuros dá uma pequena pausa. -Logo depois de sua avó é claro.
-São seus olhos meu bom senhor. - Digo fazendo charme. Mas não resisto por muito tempo e lhe sorrio amorosa.
-Você se tornou uma mulher deslumbrante, Lizandra. - Vovô diz agora sério. –Quando olho pra você, eu vejo a sua mãe. Você é uma copia fiel de Lívia. Os mesmos olhos. O mesmo tom de pele, tirando esses rabiscos. - Vovô faz uma careta engraçada antes de continuar. –Os mesmos cabelos acobreados, todas essas sardas. - Ele diz é toca a ponta de meu nariz. Agora quem faz uma careta sou eu. –Você possui o mesmo magnetismo irresistível. A algo em você que atrai de uma forma tão profunda. – Ele fica em silêncio por alguns segundos. E então seus olhos se aprofundam em minha superfície ainda mais. –Não digo que é só o físico. Você herdou mais do que isso dela. – Eu não me atrevo a interrompe-lo em momento algum. –Você herdou as mesmas paixões tanto pela vida quanto pela música. - Vovô Bernardo segura delicadamente a minha mão esquerda e a leva até seus lábios. Beijando-a com carinho. Meu coração acelera. Meus olhos nublam com o seu gesto. –Então nunca se desculpe por ser você mesma. - Ele sussurra baixinho. Soltando a minha mão.
-Obrigada vovô. - Digo emocionada.
-Há também muitas diferenças entre vocês duas. - Ele continua falando. Nunca ninguém além de vovó Rúbia falou tão abertamente sobre mamãe. E eu estava adorando tudo aquilo.
Conhece-la através de outras pessoas nunca foi o que eu desejei. Mas era a única coisa que eu tinha. Pequenos rastros seus na existência de terceiros. Pequenos fragmentos de quem ela foi um dia. Do que ela representou de tantas formas diferentes na vida de quem ela deixou pra trás em sua partida. Eu sou a única que jamais conhecerá seus pequenos detalhes intimamente.
Sou a única que jamais saberá os tons de suas diferentes risadas. Ou as infinitas variações de seus olhos azuis. Nunca saberei se ela seria a minha fã número 1. Se ela sentiria orgulho da mulher que eu me tornei. Nunca saberei como é ser elogiada, mimada ou protegida por ela. Nunca seremos como mãe e filha. Não quando ela já não está aqui para fazer o seu papel.
Vovô Bernardo me contou varias coisas sobre mamãe. Sobre a sua personalidade, seus gostos e manias. Eu apenas lhe ouvia encantada. Eu estava conhecendo a sua versão dela. Eu só queria saber como seria a minha se eu tivesse a conhecido.
Vovô falou por tanto tempo. E eu absolvia tudo o que eu podia sobre ela. Me arisquei a fazer algumas perguntas. Vovô Bernardo respondia tudo o que podia. Tinha algo que eu queria saber. Mas estava um pouco receosa em perguntar.
-Vamos lá Lizandra. - Vovô me incentiva. –Seja uma garota corajosa. - O senhor dá uma pequena pausa . -O quer mais você gostaria de saber sobre ela? É só me perguntar. Farei de tudo para responder da melhor formar possível. - Seus olhos escuros me encaram amorosos.
-Não sei se quero saber a resposta. - Dou um suspiro, abaixando a cabeça.
-Tente. Você nunca saberá se tiver medo.
-O que será que ela sentiria em ter uma filha como eu? - Pergunto voltado a olhar para frente.
-Como assim? - Ele me questiona sem entender.
-Alguém que se relaciona com pessoas do mesmo sex*. - Meus olhos procuram os seus por alguns segundos. –Será que ela sentiria repulsa?
-Nunca mais diga isso! - Vovô me repreende sério.
-Dr. Gustavo uma vez me disse que mamãe estaria decepcionada em me ter como filha. – Minha voz embarga em minha garganta. -Então eu penso se ela realmente me amaria por eu ser quem eu sou e por amar quem eu amo.
-Ela diria que não tem nada de errado em amar pessoas. - Vovô diz calmamente. –Como disse antes... - Vovô Bernardo me sorrir de lado. -Você se parece muito com ela. Não estou me referindo apenas no físico. Como já disso antes. Lívia tinha uma alma bondosa e gentil. Ela já te amava tanto mesmo antes de você vim ao mundo. Então pode ter certeza que ela seria sua maior fã. Ela amaria cada pedacinho que faz você ser quem é. Nunca duvide disso.
Houve um silêncio agradável depois disso. Vovô como sempre me conhecia tão bem. Ele me deu espaço para que eu pudesse pensar sobre tudo o que conversamos. E então ficamos ali, curtindo a companhia um do outro. Como senti saudade disso. Sempre fizemos isso quando eu era mais nova. Quando eu estava chateada ou triste. Quando eu estava com raiva. Vovô estava ali, do meu lado como agora.
-E Samantha? - Vovô pergunta momentos depois mudando completamente de assunto. –Ela virá?
-Ouve uma emergência. Ela falou que se atrasaria. - Digo sem olha-lo.
-Como vocês duas estão? - O senhor ao meu lado pergunta cauteloso.
-Não sei dizer vovô. - Dou um suspiro fechando os meus olhos por alguns segundos. –Eu a amo, sabe. – Digo voltando a olhar para a lua cheia. –Eu prometi pra ela que não fugiria.
-Isso já é alguma coisa. - Vovô Bernardo brinca.
-Sim. - Digo sorrindo. –Já é alguma coisa.
-Você ainda pretende ir embora agora? - Meus olhos se voltam em sua direção. –É que... é que você disse que iria depois do aniversario de sua avó. Então eu pensei... eu pensei que... - Vovô se enrola. –Esquece. - Ele diz e se volta pra frente.
-Talvez eu fique um pouco mais. - Sussurro baixinho.
-Isso seria bom. - O homem a minha frente diz emocionado abaixando a cabeça.
-É, seria.
Fim do capítulo
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Manuella Gomes
Em: 09/01/2021
Detesto gente que só faz coisa ruim e depois quer fingir que nada aconteceu.
Rain
Em: 11/09/2020
Oi!
É complicado para Liz ter que perdoar o pai dela. Ele nunca foi pai, nem alguem que lhe mostrou amor, nem ao menos gentil como ela, ele era. É difícil perdoar um pai que deveria ser seu protetor e ao invés disso se tornou a pessoa que destruia cada dia de sua vida como palavras e olhares maldosos. Mesmo que Liz perdoe, mesmo que ela der uma chance a ele. No fundo ela vai olhar para Gustavo e ver que nunca teve nenhuma memória bointa como ele, ver que tudo que traz olhando para ele é dor, mesmo que construa memórias bonita. Então, não agora em pleno os 25 anos dela que ele vai tentar ser um pai. Afinal, ele já perdeu muito da vida dela.
Séria bom a Luz fica e se não for ficar que volte para Nova York, carregando a Samantha junto. Kkk
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lis
Em: 10/09/2020
Boa noite Luah, tudo bem? Como é bom entrar e ver que tem atualização sua hehe, poxa realmente é complicado pra Liz pois doutor Gustavo nunca foi um pai, fez tudo errado no passado e agora quer que ela trate ele como se nada tivesse acontecido, pelo que ela descreve nesse capitulo quem foi um pai pra ela foi o seu avó, pode ser que seja tarde demais para o doutor reclamar esse titulo na vida dela.
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