Narrador,

Rafaela estava muito preocupada com uma criança que foi ao seu consultório, ela pediu vários exames porque não conseguiu chegar a um diagnostico possível, nada que pudesse lhe parecer o certo a dizer a seus pais, muitas vezes ela tem uma ideia que consegue acalmar os pais, só que eram tantos sintomas e nada que parecesse formar uma causa provável.

O maior conforto para Rafaela era saber que Cecília era a única capaz de acalmar seu coração e entender tudo que ela sentia naquele momento. Logo depois que tomou seu banho foi ao apartamento dela onde o colo necessitado estava pronto, ela deitou e dormiu nos braços de seu amor que fazia carinho enquanto ela descansava.

Cecília sabia o quanto Rafaela amava seus pequenos pacientes e por isso não a forçava a comer, ela esperava o tempo de sua amada relaxar e poder se alimentar. Elas haviam conversado muito sobre o amor que Rafa sente por sua profissão, e principalmente por gostar de cuidar de suas crianças, desde que elas falaram sobre adoção Cecília tem sonhado com a possibilidade e quer muito conhecer o abrigo que Rafa falou. Ela já fez dois desenhos de quarto para os filhos que ainda não possuem.

Umas duas horas depois Rafaela acordou e Cecília foi colocar o jantar à mesa para alimentar seu amor. As duas conversaram e Rafa teve uma luz em seu caso que iria colocar em prática no dia seguinte. Ela chegou a brincar com Cecília que iria leva-la com ela para o hospital, assim, sempre que precisasse ela estaria por perto. Cecília disse que ela estava todos os dias trabalhando com ela, que ficava dentro do peito, bem no coração e que muitas vezes a correria do dia a dia a fazia esquecer. Rafaela teve que concordar.

Depois do jantar as duas foram arrumar a cozinha, Cecília queria distrair Rafaela e contou sobre seu trabalho. A empresa não pensa em abrir esse mês estão criando novas rotinas o que vai permitir maior flexibilidade em seus horários, pois vão trabalhar por metas, o salário ainda será menor, porém, nada absurdo e do jeito que o pais anda é uma sorte ter emprego.

Sobre os apartamentos ela continua gostando dessa rotina da Rafa tirar a roupa do hospital no dela e vir após o banho, apenas está combinando com Rosa para ela voltar a fazer a organização dos dois porque tem alguns projetos que acabam cansando a mente e ela sabe que Rosa quer muito voltar, combinou dois dias por semana, isso daqui 15 dias.

Rafaela gostou pelo fato de Cecília não ter que arrumar dois apartamentos e ficar pesado pra ela, apenas não sabe se as coisas estarão mais tranquilas, pois parece que a nova rotina irá continuar por algum tempo ainda.

Cecília também combinou com Rafaela de colocar em pratica a reforma do quarto de hospedes dela e acertaram tudo para o próximo mês, principalmente porque seus sogros já avisaram que assim que for possível virão ficar uns dias em Brasília.

(...)

Cecília não chegou a comentar com Rafa por ser surpresa, mas sua sobrinha estava vindo para o Brasil e ela queria arrumar o quarto de hospedes para ela. E claro que a ideia de terem uma menininha delas também estava deixando Cecília animada, nesse momento não ia falar, apenas começou a ver o que era necessário para adoção.

Rafa foi mexer nos desenhos de Cecília e viu uns que achou interessante, logo perguntou o que eram.

- Baby o que são esses rack’s aqui?

- Rafa! Já está mexendo nos meus desenhos?

- Eu amo ver como você projeta seus trabalhos antes de colocar no sistema da sua empresa.

- Se não fosse para você ver hein!

- Aí você teria escondido, sabe que eu mexo aqui.

- Verdade. Curiosa!

- Fala logo amor meu.

- Eu estou projetando esses rack’s para a nova rotina, são práticos e feitos sob medida. Espaço para os calçados, roupas, bolsas e coisas que trazemos da rua. Hoje usados por causa da pandemia e no futuro por organização e podendo ser colocado na área de serviço para deixar cada coisa em seu lugar. Ficaria impressionada em saber o número de pessoas que gosta de separar tudo que traz da rua.

- Nossa Baby! Muito legal.

A conversa fluiu e logo foram ver um pouco de tv antes de dormir.

(...)

No apartamento da Dra. Paula...

Paula acordou cedo, combinou com Letícia de conversarem com Sonia no escritório, iria falar sobre Mônica, antes Letícia ligou para uma amiga que é enfermeira no HRAN e pegou as informações do dia.

Logo ao chegar ao edifício avisou Paula que desceu e foram ao escritório. Sonia não demorou a chegar e foi acompanhada da amiga Poliana que é madrinha de Mônica.

Ao iniciar a conversa Paula tentou ser o mais delicada, muito embora a mãe sinta que o assunto seria a saúde da filha, ela já havia sido avisada que ela foi internada, e Poliana foi justamente para poder ser o apoio da amiga. Não teve outra maneira de dizer que o estado de Mônica era grave e Sonia logo quis ir ao hospital, só que a filha está isolada como os outros pacientes com o COVID19, Poliana perguntou se não seria o caso de transferi-la para outro hospital, e Letícia disse que estava acompanhando desde o início e o HRAN está preparado para o melhor atendimento em relação a esse coronavirus. O problema é que por ser um vírus novo ainda é muito difícil tratar e saber como será a evolução do quadro.

Sonia olhou bem para Paula e disse que a filha havia se afastado e ela deixou porque Mônica não admitia seus erros e ela não concordava com as atitudes dela, que mesmo sem a conhecer ela viu algumas notícias sobre ela e o escritório, não concordava em ela ter agido de forma errada com sua ex-mulher, só que nunca desejou nada de ruim a ela ou a filha, tinha esperança de ver a filha mudar e seguir um caminho melhor, o que infelizmente não aconteceu.

- D. Sonia, eu errei muito nessa vida, só que quando me uni a sua filha eu queria construir uma família e não imaginava que os desejos de Mônica fossem diferentes dos meus. Eu comentei com Letícia que queria ter conhecido melhor a senhora, só que sua filha não achava necessário e no meio de nossa relação acabei percebendo que erramos muito diferentes. Enfim, não estamos aqui para discutir o que passou, eu realmente estou torcendo para que ela se recupere, lhe chamei porque Letícia tem acompanhado o quadro dela e temos que estar preparadas para tudo.

- Vocês fazem um bonito casal, tem uma luz em vocês duas, eu agradeço por me avisarem e irei pedir a Deus que faça o melhor para minha filha.

- D. Sonia! Nós não somos um casal, nós trabalhamos juntas.

- Digo que estão perdendo tempo.

Poliana concordou.

- Olha, eu concordo com Sonia, vocês deviam aproveitar essa energia boa que as envolve.

Letícia ficou vermelha.

- Bom eu estou me separando da sua filha ainda, no futuro quem sabe essa jovem queira sair porque atualmente estamos todas  reféns dessa pandemia. (Paula tentou descontrair, mesmo sentindo algo diferente ao ouvir as duas falando sobre o casal).

Sonia disse que ficará pronta para receber sua filha, se ela precisar poderá ficar junto comigo, nós reformamos a área da piscina e Poliana me convenceu a morar nela, então tenho toda estrutura para cuidar dela, sei que será por pouco tempo porque minha menina é uma mulher do mundo e não se prende a sentimentos, quem sabe depois desse COVID19 ela mude pra Deus nada é impossível.

As duas senhoras logo se despediram e Paula podia notar nos olhos marejados de D. Sonia que ela desejava muito a mudança da filha.

As doutoras estavam meio desconfiadas pela conversa das belas senhoras, porém nada foi dito, logo Paula foi para seu computador e Letícia fez o mesmo, elas deram uma olhada no andamento dos processos e Letícia conseguiu falar com o pai de Bianca que estava perto em um condomínio que ele está dando manutenção no noroeste. Paula ficou incontrolável e logo confirmou o encontro para uns 20 min no máximo.

Letícia que dirigia até o local, ia conversando com Paula para que ela não atacasse o homem e assustasse-o. Paula concordou só que falou que era difícil controlar a emoção, ela ia estar a um passo de saber sobre sua filha.

Letícia chamou a doutora, a advogada, aquela que quer ganhar causa, e para isso precisa saber como argumentar e principalmente estar centrada. Paula concordou e buscou respirar fundo.

Quando chegaram ao condomínio, um rapaz as recebeu e encaminhou ao escritório da obra. Humberto não precisou de apresentações, ele olhou e logo reconheceu:

- Paulinha, que bom te ver.

- O senhor lembra-se de mim?

- Eu sou seu padrinho Paula, não lembra?

- Na verdade eu não lembro.

- Boa tarde! Sr, Humberto eu sou Letícia a advogada que ligou para o senhor.

- Como vai Letícia?

- Bem, obrigada.

- Bom, acho que sei bem o que te traz aqui Paula. Quer saber sobre Bianca correto?

- Sim, o senhor lembra-se do que meu pai fez comigo.

- Paula, o Arnaldo era um homem doente, o álcool é uma doença minha filha, eu não sou um homem ruim, eu tentei ajudar seu pai na época, e a maneira que Bianca foi gerada foi um absurdo muito grande. Sendo bem sincero nunca achei que fosse querer conhece-la.

- Mais eu não queria vender minha filha, meu pai me obrigou e eu nem entendia muito sobre os meus direitos na época.

- Sr. Humberto, a Dra. Paula quer saber sobre a filha que teve, ela não quer trazer problemas ao senhor ou sua esposa, apenas saber da filha e quem sabe conhece-la.

- Tudo bem Paula, a Bianca conhece parte da história de vida dela e da mãe biológica, eu não quis contar sobre seu pai que pediu o dinheiro por ela, ou dizer que ele vendeu a filha para um animal, porque o que aquele amigo do seu pai fez foi um crime Paula.

- Mas então ela sabe que foi adotada e como ela absorveu tudo isso?

- Minha esposa é uma mulher incrível, ela teve que retirar o útero por causa de um câncer e por isso pedi a seu pai para adotar a sua filha, eu nunca quis comprar ela Paula, só que se eu não desse dinheiro a ele, não poderia adotar a Bianca. Minha esposa sempre cotou a Bianca que ela foi gerada no coração e que um anjo a trouxe ao mundo.

- O senhor não queria comprar a menina?

- Nunca Paula, eu vi o sofrimento seu e de seus irmãos, quis muito ajudar, só que seu pai só pensava em ganhar dinheiro com vocês, ele jamais permitiu que vocês tivessem ajuda de outras pessoas, ele queria o poder para usar cada filho. Depois que adotei Bianca eu denunciei ele ao conselho e foi por isso que ele liberou a escola, foi obrigado, só que descobriu o que fiz e tive que ficar longe ou ele disse que me mataria.

- Meu Deus, meu pai era um monstro.

- Como disse antes, um doente.

- Sr. Humberto e a Paula poderá conhecer a Bianca?

- Sim, com toda certeza, acho que será bom. Minha esposa luta há anos contra o câncer e acho que logo irá nos deixar, será bom para ela ter você por perto. Agora aviso que o gênio é seu, o que acho que sabe ser forte e muito inteligente minha menina.

- Eu nem sei o que dizer.

- Com essa pandemia no mundo os cuidados estão redobrados e Bianca tem muito receio por causa da minha esposa, elas são muito amigas e companheiras, vou falar com ela hoje a noite e ligo para Dra. Leticia.

- Obrigada senhor Humberto, ficarei aguardando sua ligação.

- Eu lhe agradeço muito por ter falado tudo a ela, meu medo era ela não entender porque não fiquei com ela.

- Quando conhecer minha esposa verá que em meu lar a verdade sempre.

- Vocês só têm ela?

- Sim, foi e sempre será nossa benção. A irmã de minha esposa mora conosco e cuida dela e de Bianca. Você vai conhecer todos assim que possível.

(...)

Depois de uma conversa esclarecedora Paula estava aliviada e muito feliz em saber que o senhor Humberto era um bom homem e que não concordava com seu pai, que morreu há uns cinco anos para dar paz a todos.

Letícia falou que estava com muita fome e as duas foram ao apartamento dela e pediram pizza.

A noite promete ser agradável.

Fim do capítulo