Parte 2
Olívia se abaixou, mas não sentiu os dedos encostarem no objeto reluzente (não sentiu mais os dedos, na verdade). Porque se fundiu a ele, de alguma forma. Se tivesse esse conhecimento, ela diria que o efeito se assemelhava a quando se toma doce: o LSD pode fazer parecer que as coisas todas se derretem de algum jeito, se fundem, se mesclam. Dançam diante dos olhos, te chamam para bailar! Olívia se sentiu numa festa! Numa balada psicodélica com mil luzes piscantes e cores que ela nem imaginava que existiam.
A sensação era igual àquelas segundos antes de se desmaiar, quando a consciência vai se esvaindo, e as amarras do corpo, que nos prendem sob a gravidade, vão se desprendendo, devagarzinho (mas também numa velocidade impressionante; o tempo muda!). E a pessoa vai se entregando ao todo, a tudo. Ela se entregava, porque era irresistível, e porque na ausência do medo a gente topa qualquer parada.
Olívia perdeu a consciência, porque ganhou uma nova: a coletiva. Passou a fazer parte de tudo: ela era chave, era chuva, era chão. Passou a ter uma noção ampliada da vida, dela própria: passou a ter acesso à fonte geradora de tudo e ela sentiu o amor, sublime, lhe invadir o corpo, lhe banhar a alma, e antes de perceber, já era amor também. Sempre fora, mas estava esquecida. Como uma gota, apenas, num oceano inteiro, mas parte daquilo, ainda assim.
Sentiu alívio. Era quase o oposto ao seu nome, à sua rotina, aos pesos que carregava – de maneira consciente e inconscientemente também. E nesse instante percebeu que não era ninguém, especificamente, porque era todos. Ela era uma luz fracionada em pequenos frasquinhos, em coraçõezinhos se experimentando em vidas diferentes. Era homem, mulher, criança, velho. E era também a árvore ali da esquina, era as raízes encostando no lençol freático, era toda a terra ali embaixo de tudo; era tudo.
E constatar isso a deixou tão leve que se sentiu flutuando. Não porque voasse; ela era o ar. Ela era o céu. E se sentiu expansiva, expandida. Poderosa! Brilhou como o sol acima daquelas nuvens.
Extasiada, se deixou ir. Se desapegou dela. Como se tivesse concluído sua missão, ou encontrado com algum tipo de atalho.
Naquele dia, Olívia não voltou da caminhada. Ninguém reclamou de mau cheiro porque ela se conscientizou também de que era aqueles aromas que vêm de repente, trazidos por alguma brisa. E não havia corpo, não havia carne – tudo o que havia era aquela chave, quase não vista por ninguém.
Dizem que a vida nos testa, às vezes colocando pelo nosso caminho esses objetos, tão comuns. Poucos são os que acatam e, entre estes, nenhum fica para contar história.
Fim do capítulo
Espero que essa história volte à sua mente quando você encontrar alguma chave no chão!
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Aja Rocha
Em: 18/08/2020
hahaha, esse conto é bom de ler em voz alto.
que viageeeem o.o
depois dessa eu espero nunca me deparar com chave nenhuma, se achar eu não pego hahahahah #medrosa.
vem, aqui vem, vou te contar uma coisa.
hoje enviei o link do "conto" pra algumas amigas, porque conheço o gosto delas e acho que elas vão dar boas risadas com a historinha deliciosa.
tem outra coisa mas depois eu conto, daqui pro final da semana. hahaha.
Resposta do autor:
hahaha
Uma viagem MESMO!
E tudo começou pq eu vi uma chave na rua rsrs
Olha, vc me dá ingredientes ótimos para compor uma personagem: ascente em gêmeos, indecisa, medrosa rsrs Leitora!!
É isso. Meu próximo conto!
Que ótimo saber que vc compartilhou o link!! Vou acompanhar nas visitações rs
Espero que suas amigas sejam gentis que nem vc, e me deixem recados tb rsrs
Me conta mais!!rsrs
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