Capítulo Único - A Mulher misteriosa
Olá Meninas, sejam Bem vindas ao mundo e as Viagens de Anna, lembrando a importância das músicas durante a leitura, claro que é opcional, mas eu garanto que dará um clima especial a algumas cenas marcantes.
Espero que gostem e boa Leitura!!
Playlist
Música 1 - Unfinished Sympathy - Massive Attack
Música 2 - Let's Get lost - Beck and Bat for Lashes
Ela já estava cansada da estrada, Anna viajava em sua motocicleta há pelo menos 9 horas seguidas naquele dia, passando por paisagens desconhecidas até então, o calor era intenso a boca seca e o corpo suado, tudo que via era areia por todos os lados e a visão da estrada sem fim, somente o vapor sobre o asfalto quente distorcia as imagens à frente. Quando menos esperava, estava lá, na beira desta estrada ingrata, uma pequena placa de madeira e bem judiada pelo tempo, ela teve que parar para que conseguisse ler, as letras desgastadas e sujas, enfim surgia uma sensação de alívio, haveria um local para descansar seu corpo e sua alma.
SoulCity, nome sugestivo ou ao menos curioso, ela estava à poucos quilômetros, respirou fundo, abaixou a viseira de seu capacete para que a areia não o invadisse e seguiu viajem, certa de que encontraria descanso. A paisagem não mudara há mais de cinco dias na estrada, seus olhos já lhe pregavam peças, Anna às vezes via coisas que simplesmente não estavam ali e acostumou-se com isso, portanto a cada nova imagem vista além de areia e asfalto não dava muita atenção, até que no horizonte surge uma pequena coloração vermelha destorcida pelo vapor que subia do asfalto, e ao se aproximar desta coloração Anna identifica, é um conversível vermelho parado no acostamento, foi diminuindo a velocidade, mas sem parar, tudo naquele lugar vazio lhe parecia perigoso e estranho e como não podia confiar no que seus olhos viam decidiu apenas passar devagar ao lado deste carro.
Olhou diretamente para dentro do carro e lá estava docemente sentada em bancos de couro branco, uma bela e exuberante mulher, usava uma camisa branca com detalhes em renda, semi aberta onde se podia ver o contorno de seus seios, óculos escuros, cabelos encaracolados e um belo chapéu, Anna ficou por um instante hipnotizada com a visão, mas logo engoliu a saliva, sorriu e pensou:
Isso com certeza é mais uma alucinação, um golpe dos meus olhos, preciso descansar.
E sem olhar no retrovisor seguiu sua viagem, afinal a tal cidade estava próxima, o Sol começa a se esconder atrás das montanhas que se via ao longe, e a sensação de calor começa a diminuir, mas a ansiedade começa a aumentar com a proximidade de mais um lugar desconhecido, Anna já viajava há três anos em busca de seu "eu" perdido, nesta jornada viu de tudo um pouco, lugares maravilhosos e outros sombrios, conheceu pessoas interessantes, algumas estranhas, mas cada pedacinho do que via e cada pessoa com quem falava tinha algo importante e que com certeza ao final de sua viagem, de sua busca, esses detalhes seriam como peças de um grande quebra-cabeça.
A Noite começa a chegar somente uma pequena parte do Sol ainda aparece por traz das montanhas e Anna vê ao longe a cidade se aproximando, diminui a velocidade para que seus olhos não percam um só detalhe deste lugar, avista algumas luzes, fracas e amareladas, toda a cidade fica em uma quase penumbra e se divide nos dois lados da estrada que neste ponto passa a ser tão estreita quanto uma rua, as construções são antigas e em madeira, lembram uma cidade do oeste dos EUA do século XVII, Anna olha atentamente e procura algum lugar que possa pernoitar, tomar um banho demorado, descansar seu corpo cansado e suado. Percorre esta rua com olhar atento e logo à frente, à sua esquerda uma placa luminosa com algumas lâmpadas queimadas onde mal se podia ler o nome Hotel, estacionou sua motocicleta em frente a este "Hotel", o ronco de sua motocicleta chamou a atenção da população que aos poucos foram saindo na porta de suas casas, e estabelecimentos comerciais, parece que eles nunca haviam visto uma motocicleta na vida, ainda de capacete, Anna desce lentamente de sua motocicleta, vestindo uma calça jeans surrada, botas pretas e jaqueta de couro , percebeu então que era o centro das atenções de todos da cidade, lentamente tirou as luvas e na seqüência o capacete, sentiu uma sensação de alívio por ter o rosto livre e sentiu a brisa leve em sua pele, apoiou o capacete no guidão da motocicleta e em sua visão periférica reparou que todos falavam a seu respeito, novamente em sua boca surgiu aquele pequeno sorriso sarcástico, levantou a cabeça e entrou no Hotel.
Na recepção um homem de meia idade e olhar baixo lhe diz: Boa Noite, Anna prontamente lhe retribui e logo pede um quarto para sua pernoite, o homem pede para que ela preencha uns papeis e lhe entrega as chaves do quarto, é um lugar pequeno e simples e parece que faz uns bons anos que ninguém se hospeda ali, Anna pega sua pequena bagagem em sua motocicleta e sobe um lance de escadas, todos os seis quartos deste Hotel ficam no pavimento superior e tem vista para um átrio central com um jardim no centro e uma janela voltada para a rua.
Anna então podia enfim tomar seu banho demorado e descansar seu corpo, o piso do Hotel é de madeira e a cada passo de Anna ele estala como se a qualquer momento fosse se quebrar, pronto quarto n° 04, ao abrir a porta de seu quarto, Anna se depara com uma cama com lençóis brancos e a mesma luz amarelada em uma luminária ao lado da cama, num criado mudo em madeira maciça o quarto cheira a sândalo, as paredes são cinza e uma poltrona de tecido vermelho vivo se destaca do todo, apóia sua bagagem no chão e quando se vira à procura do banheiro, se depara com uma banheira antiga em porcelana branca próxima a Janela com vista para a rua e à sua volta velas iluminando o ambiente.
Anna não pensa muito e rapidamente decide ascender às velas e apagar a luz, faz parte dela a atmosfera misteriosa e atraente, com suas mãos lentamente abre a torneira e começa a encher a banheira, à princípio somente se houve o som da água correndo pela torneira, do lado de fora na misteriosa cidade somente silêncio, ela começa então a tirar sua roupa e desfrutar de seu merecido banho, senta-se a beira da cama e desamarra lentamente o cadarço de sua bota, levanta-se desabotoa o jeans surrado e o desliza pelas pernas, por fim suavemente abre os botões de sua camisa branca de mangas compridas, enfim o peso do dia todo se vai, toca a água da banheira e sente sua temperatura agradável, já nua o contato com a água arrepia todo seu corpo e a sensação de alívio é imediata. O Ambiente apenas iluminado pelas velas ao redor da banheira e o cheiro de Sândalo do quarto vão deixando Anna com sensações inexplicáveis, seu corpo vibra e aquece, ela escorrega pela banheira até que sua cabeça esteja dentro d'água e permanece assim por alguns segundos até emergir, neste momento ouve ao longe uma música que lhe chama a atenção, intrigada percorre todo o quarto com seus olhos para tentar entender de onde vem este som, mas não consegue identificar, logo abre um pouco a cortina que fica na janela bem ao lado da banheira, a rua está deserta e na penumbra somente suas luzes amareladas iluminam um pouco, de repente seus olhos avistam o que parecia impossível, aquele conversível que via na estrada estava ali, estacionado à frente de um casarão antigo, seu coração começa a bater num ritmo alucinante, pois a visão do carro lhe trouxe à memória a imagem da mulher que estava naquele carro parado na estrada, fica ali parada, imóvel por alguns minutos, mas não há nenhum movimento na rua, somente o carro estacionado. Anna agora está impaciente, decide sair de seu banho, levanta da banheira e se enrola em uma toalha branca, novamente vai até a janela:
- O que esse carro está fazendo aqui? Pensei ser uma ilusão na estrada, mas... Eu preciso saber se é real, e aquela mulher? Quem é? Não posso ficar aqui com pensamentos e devaneios apenas, preciso chegar mais perto.
Então decide que vai até a rua para entender o que está acontecendo, caminha até sua bagagem para escolher uma roupa, afinal ela poderia se deparar com a mulher misteriosa começa revirar suas roupas, Anna tem um estilo todo pessoal de se vestir, não se incomoda com moda nem opiniões, simplesmente veste-se de acordo com seu estado de espírito, lá está ela novamente, um jeans, camiseta branca, sua bota surrada, no braço direito um bracelete em couro preto e em seu pescoço um cordão em prata com uma pequena placa gravada em ouro com um símbolo misterioso, pinta os olhos apenas com delineador preto e abusa de seu perfume, notas cítricas e madeiradas , um verdadeiro afrodisíaco. Mesmo concentrada em se arrumar Anna sempre dá uma olhada pela janela, somente para conferir se o carro continua ali, parado, respira fundo e decide ir até próximo ao carro ou coisa parecida, abre a porta de seu quarto, desce as escadas que dá acesso à recepção, pergunta ao homem que cuida do Hotel onde ela pode comer algo, o homem sempre de cabeça baixa responde:
- Bem, o único lugar onde se pode comer, beber e se divertir é ali do outro lado da rua.
Ele se levantou e foi em direção à porta para mostrar a Anna de onde é este tal lugar, é um lugar estranho, um casarão antigo, todas as janelas fechadas e não tem sequer uma indicação, que tipo de lugar é esse?
- Ali senhora bem em frente onde aquele carro está parado.
- Novamente Anna ficou paralisada por alguns segundos ao ver o carro, ela agradeceu o homem e resolveu ir até o local...
Lentamente atravessou a rua, deserta, e foi em direção ao casarão, ao aproximar-se ouvia ao longe uma música, era intrigante, agressiva, mas ao mesmo tempo alucinante e sensual, Anna por mais que tentasse não conseguia distinguir que música era e continuou andando e lentamente chegou à porta deste lugar misterioso. Procurou alguma indicação de entrada, mas nada encontrou, a porta era alta e larga, feita em madeira maciça, desgastada pelo tempo, mas isso não tirava a beleza e a imponência desta porta, ficou intrigada com os detalhes entalhados na madeira, como se fossem inscrições de civilizações antigas, alguns símbolos desconhecidos, mas um detalhe lhe chamou a atenção, bem ao centro um símbolo familiar à Anna, este símbolo somente é reconhecido por pessoas "como ela".
Historicamente toda civilização, toda tribo ou sociedade secreta tem seu símbolo, que pode ser identificado por todos de sua convivência e alguns se tornam arquivos históricos, como o símbolo da Maçonaria, ou a Cruz de Malta e até mesmo a suástica, símbolo do Nazismo e tantos outros espalhados pelo mundo.
Anna fica parada em frente à porta olhando atentamente este símbolo e tentando entender o contexto, porque ele estava ali estampado em local de destaque naquele lugar no meio do nada e em conjunto com tantas outras inscrições que ela desconhecia, mas enfim, ele estava lá, lindo em evidência e lhe deu certa segurança, pois apesar de ser um local aparentemente sombrio, ele lhe dava conforto e um pouco de coragem.
Ele é lindo, pensou Anna, é forte e delicado ao mesmo tempo, e com seus dedos percorreu o símbolo estampado em alto relevo na porta de entrada do casarão, é um Machado, com lâminas para os dois Lados, todo feito à mão e cabo longo, símbolo que poucos conhecem, era o instrumento de guerra das Amazonas, originário da ilha de Lesbos, símbolo destas mulheres.
(Play na música 1)
Enquanto Anna sentia na ponta de seus dedos o relevo deste machado, a porta começa a se abrir, ela pode sentir o cheiro de sândalo que vem de dentro do casarão, mesmo cheiro que sentiu enquanto tomava seu banho no quarto do hotel, o som da música começa a ficar mais alto, suas mãos estão suadas, seu coração bate num ritmo alucinante, a porta ainda entre aberta não revela muito do interior, Anna tem que decidir se vai realmente entrar neste local, sua boca está seca, ela tenta engolir a saliva em vão e por um momento tudo fica em câmera lenta, ela se vira, olha novamente o conversível parado na porta e a imagem da mulher misteriosa volta a sua mente e a curiosidade de vê-la é maior, respira fundo e com suas mãos suadas empurra a porta suavemente, Anna está paralisada, só conseguiu dar o primeiro passo para dentro do casarão e em suas costas a porta se fecha.
Não tinha mais como escapar, ali estava Anna em meio a um salão grande, todas as paredes são de madeira como o restante do casarão, do lado esquerdo deste salão existem sofás e poltronas formando pequenas salas, todos revestidos em tecido cinza, cada um de um tom diferente, do mais claro, quase prata, ao mais escuro, cor de grafite, as mesas de apoio brilham, parecem feitas de vidro preto e as almofadas são vermelhas, em tecido de veludo, macio, do outro lado algumas mesas com cadeiras, somente para duas pessoas, também são pretas de vidro e as cadeiras com assentos no mesmo tecido cinza, ao fundo um bar, com banquetas à frente do balcão. A Iluminação é fraca propositalmente para criar a sensação de mistério e sensualidade.
Anna percebe que só tem mulheres neste local, mas não estranha, afinal o que o símbolo de Lesbos faria na porta de entrada? Nota que algumas olham para ela, e sorriem discretamente, como se a reconhecessem, algumas fazem comentários, mas a princípio tudo bem, ela se dirige ao fundo do casarão onde está o bar, senta em uma banqueta, ainda deslocada, se vira e, à sua frente dentro do bar uma mulher morena, com cabelos lisos e longos e com uma camisa preta justa ao corpo a olha como se aguardasse seu pedido, Anna sem graça pede sua bebida predileta, Campari com bastante gelo e suco de limão, ela adora o contraste do sabor amargo da bebida com o azedo do limão, recebe sua bebida e como num ritual enrola ao redor do copo um guardanapo para que ao derreter o gelo suas mãos não fiquem molhadas, o suco de limão ainda permanece inerte no fundo do copo e com seu dedo indicador o mergulha na bebida de cor vermelho carmim e mexe em movimentos circulares, até que o suco esteja misturado por completo, retirando o dedo e levando-o à boca. Agora sim, ela está um pouco mais segura e começa a prestar atenção em outros detalhes daquele lugar, conseguiu identificar a música que toca, percebeu que o cheiro de sândalo vem de um grande réchaud onde se queima a própria madeira de sândalo juntamente com alguns óleos essenciais e neste momento ela se lembra do conversível na porta e pensa, onde estará àquela mulher, não a tinha visto em nenhum canto daquele lugar.
Vira-se de costas para o salão e de frente para o bar, em uma de suas prateleiras existem pequenos vidros cheios de líquido colorido, cada um de uma cor diferente e fica vidrada naquela imagem, bebendo seu drink, parece que o mundo parou, somente sente aquele cheiro excitante e a música instigante ao fundo, de repente sente em seu ombro pousar uma mão quente e levemente pressionada, Anna começa a tremer da cabeça aos pés, ela sentiu um perfume levemente adocicado com notas amadeiradas, ela tinha certeza que era a tal mulher do conversível, mas não conseguiu se virar, ficou estática e chegou a engasgar levemente com a bebida, uma voz grave, meio rouca sussurra em seu ouvido: " Eu estava te esperando"...
Anna por um instante não consegue se mexer parece que o tempo parou, não ouve mais a música e nem as pessoas conversando, somente aquele sussurro fica ecoando em sua mente, mas ela decide se virar, afinal, de certa maneira era o que ela queria, encontrar a tal mulher misteriosa. E então ela se vira e fica frente a frente com a mulher, neste instante Anna começa a observar todos os detalhes, e em sua mente a cada parte do corpo que olha a imagem fica registrada.
Ela tem a pele clara, os olhos é a primeira coisa que lhe chama a atenção eles são claros, mas não são verdes e nem azuis, são cor de mel e brilhantes, a sobrancelha delineada, levemente arqueada o que dá uma sensação de seriedade, os cabelos são negros e encaracolados, este contraste da pele clara com a cor dos cabelos e olhos à deixam com um ar de mistério, ela está em um vestido preto, longo mas o decote evidenciam seu colo e seios e a abertura na lateral deixam suas pernas amostra.
Anna não consegue pronunciar uma só palavra, apenas lhe dá um sorriso discreto e sempre fixado no seu olhar, elas se olham por alguns minutos, sem dizer nenhuma palavra, parece que basta, o olhar é intenso e diz quase tudo que se quer saber, como se houvesse uma conexão entre as duas almas. De repente o silencio é quebrado e novamente Anna pode ouvir a voz rouca, "Helena", diz a mulher misteriosa, lhe estendendo a mão, como se a convidasse a se levantar daquela banqueta de bar, Anna lhe dá a mão, se levanta da banqueta, se aproxima de Helena e da mesma maneira sussurra em seu ouvido: "Anna".
Helena então a leva pelas mãos a subir a escadaria quase que escondida ao lado do bar, Anna não consegue ter nenhuma reação, simplesmente se deixa levar por Helena, e nem sequer olha para traz, chegando ao andar superior do casarão, um local reservado há uma sala grande totalmente iluminada por velas brancas, elas são quadradas, retangulares, cada uma de um tamanho e uma altura diferente, mas todas estão dispostas ao redor desta sala, no chão, o cheiro de Sândalo permanece, há uma janela bem à frente, com uma cortina em voil branco que tem uma transparência agradável, um grande tapete branco, parece feito com algodão puro, macio, algumas almofadas espalhas pelo chão em vários tons de vermelho, ao fundo um grande sofá de linhas retas e sóbrias, vermelho com almofadas brancas e com inscrições que lembram as inscrições da porta de entrada, na parede também existem quadros com inscrições e símbolos, em papel amarelado, parecem ser antigos e Anna fica com a sensação de que contam alguma história, ou a saga de alguma tribo ou clã.
Helena então solta de sua mão vai até um aparador do lado esquerdo, e volta em direção à Anna com um copo longo e fino com um líquido vermelho, entrega à Anna e diz:
- Creio que seja sua bebida predileta, amarga...
(Play na música 2)
Anna não entende bem a observação e nem o como Helena sabe que esta realmente é sua bebida predileta, estende a mão para alcançar o copo e toca suavemente à mão de Helena e por instantes elas ficam com as mãos segurando o copo e novamente os olhares se fixam, Anna sente como se seus olhos esquentassem, chega a cair uma lágrima de ardência, um calafrio intenso toma conta de seu corpo neste instante e de repente uma música começa a tocar naquele ambiente místico ela é fascinante, envolvente e deixa Anna hipnotizada, sem perceber Anna e Helena começam a apertar o copo cada vez com mais força, e não conseguem parar de se olhar, até que acontece o inevitável, a força foi tanta que o copo se quebra na mão de Anna, pode-se ouvir um som estridente do vidro se partindo em vários pedaços e tudo parece ficar em câmera lenta, os cacos de vidros vão caindo em direção ao tapete branco enquanto o líquido vermelho sobe como resultado da forte pressão no copo e logo também começa a cair, Anna observa o líquido vermelho caindo sobre a superfície branca do tapete, sua mão está fechada e ela começa a sentir um contraste entre o gelado da bebida e uma sensação de calor na palma da mão e decide abri-la, na verdade são dois líquidos vermelhos, a bebida gelada e seu sangue quente, vindo de um corte em sua mão esquerda, bem ao centro de sua palma, Anna levanta a cabeça e olha para Helena que está à sua frente com um sorriso sarcástico e atraente, ela pega a mão de Anna e à leva em direção à sua boca, Anna fica estática pensando o que será que Helena iria fazer, mas o que Anna não podia imaginar é que ficaria imóvel, não conseguia mexer uma só parte de seu corpo, então Helena trás a palma da mão de Anna próxima à sua boca, lhe olha nos olhos e sussurra:
- Não tenha medo, feche os olhos.
Helena então começa a beber o sangue da mão de Anna e em seu rosto Anna vê a satisfação de Helena, mas a sensação é boa e tão envolvente que decide fechar os olhos e apenas sentir, parece que seu corpo está se renovando ela sente uma energia que sobe pela sola dos pés e aos poucos toma conta do corpo todo, aquela música continua tocando e atormentando, Anna ainda de olhos fechados sente o corpo de Helena se aproximar do seu, sente uma das mãos de Helena tocar suavemente sua nuca, e para de sentir a boca de Helena em sua mão, para num instante senti-la em sua boca, é alucinante e Anna segura os cabelos de Helena pela nuca e o beijo não para, vai ficando cada vez mais intenso, pode-se ouvir gemidos junto ao beijo fulgaz, ardente e excitante...
Não havia mais como escapar do desejo que tomava conta das duas, por mais que Anna tentasse resistir era impossível, a atração por Helena era maior que qualquer pudor, tabu ou culpa, ela se sentia enfeitiçada por Helena, sua boca fica seca, suas mãos tremulas e nada consegue afastá-las. E então aquele beijo se prolonga, Helena está com o corpo quente e Anna S. não consegue resistir, vai levando Helena em direção as almofadas que estão ao chão, rodeadas por velas, à vira de costas e começa a abrir cada um dos botões que mantinham o vestido preto cobrindo o corpo de Helena, ao terminar de abrir o último botão, Anna toca as costas de Helena com a palma de suas mãos e vai subindo até encontrar seus ombros largos, onde suas mãos entram por baixo do vestido fazendo com que ele cai de seu corpo lentamente, e sua boca se aproxima da nuca de Helena, que num gesto delicado inclina a cabeça para que Anna tivesse toda a liberdade, como se ela estivesse lhe oferecendo seu corpo, sua alma. Enquanto Anna beija seu pescoço o som que se pode ouvir são os gemidos de Helena e sua respiração ofegante, ela buscava o ar ao seu redor, mas parecia impossível de respirar com seu corpo todo em colapso, num gesto abrupto, Helena se vira em direção a Anna e não resiste, com fervor começa arrancar-lhe a roupa com uma das mãos enquanto a outra segurava com força seus cabelos curtos atrás da nuca, Anna sentia dor, mas aquela dor estava lhe causando muito prazer, algo que jamais havia sentido antes, e num instante as duas estavam completamente nuas, seus corpos quentes, suados exalam um odor de desejo e paixão e de repente os dois corpos estavam ao chão envolto pelas almofadas vermelhas e a luz das velas, Anna se deita sobre o corpo alvo de Helena e pode enfim sentir seus seios em contato com os seus, as pernas se entrelaçando o beijo excitante, os sussurros de Helena em seu ouvido, Anna sente vontade de gritar de tanto prazer, jamais havia sentido todas estas sensações de uma única vez, nenhuma mulher havia despertado nela todos os sentidos de uma única só vez, Helena sussurrava em seu ouvido palavras obscenas, e lhe deixava cada vez mais excitada, Helena então morde intensamente seus ombros e novamente Anna sente um prazer inexplicável com a dor causada, Helena morde o outro ombro, pode-se ver a marca de seus dentes quase perfurando a pele de Anna que não consegue pedir que Helena pare, mas num ímpeto também violento Anna vira o corpo de Helena e a deixa de costas, rasga sua camiseta branca e usa como venda para cobrir os olhos de Alícia, segura em seus cabelos e fala bem próximo ao seu ouvido:
- Não tenha medo, confie em mim.
Anna pode sentir que Helena respirou fundo, mas a vontade de sentir tudo com Anna era maior, então Anna pegou uma das velas que estavam ao redor e lentamente foi derrubando cera derretida nas costas de Helena, que gemia de dor e prazer, queria pedir para Anna parar, mas não conseguia, pois ao mesmo tempo em que a cerra quente lhe causava dor também lhe causava um prazer excitante e incontrolável, seus gemidos começam a ficar mais altos e intensos, quase gritos, Anna sente muito prazer em ver a excitação de Helena, aquele lugar, aquela música, o cheiro de sândalo misturado ao odor dos fluídos de Helena, a chama das velas como a cortina branca que levemente era deslocada pela brisa que vinha de fora, tudo fazia parte deste momento alucinante. E toda esta loucura durou a noite toda, o prazer era tão intenso e as experiências compartilhadas eram como sonhos que as duas não queriam chegar ao ápice do prazer para que pudesse ficar muito tempo ali, compartilhando estas sensações, mordidas, arranhões, beijos, boca, língua, líquidos, gostos, cheiros e dor...
Anna e Helena então adormecem os corpos nus lado a lado, após o inebriante prazer que sentiram...
O sol aponta e então Anna é acordada pelo calor do sol tocando seu corpo, lentamente vai abrindo os olhos, tateando ao seu redor à procura de Helena, mas não a encontra, se assusta e seu coração dispara, olha ao redor e vê o seu quarto de hotel, rapidamente se levanta assustada e desesperada e nota que está ainda envolta em sua toalha branca, a mesma que havia colocado para sair da banheira após seu banho, começa a andar de um lado para o outro no quarto, sem saber o que estava acontecendo, então se lembra do casarão, e de Helena, corre em direção à janela e avista o casarão do outro lado da rua, mas o conversível não estava mais lá, Anna em seu desespero coloca uma roupa rapidamente, sai do quarto e desce as escadas como num só passo, o homem da recepção a olha como se nunca houvesse visto uma pessoa tão perturbada, ela abre a porta e sai correndo em direção ao casarão, mas ao chegar à porta vê que está abandonado, que não existe nada ali, abre a porta e se depara com um local estranho, as coisas estão no mesmo lugar, mas tudo sujo parece que fazem pelo menos uns dez anos que ninguém entra ali, inconformada Anna sobe a escada que dá acesso ao 1° pavimento, onde havia supostamente passado a noite inteira com Helena, mas estava também do mesmo jeito abandonado, a cortina estava rasgada e a janela batia com o vento, Anna fica parada no meio da sala e começa a girar, a olhar para todos os lados, ela não estava acreditando no que seus olhos estavam vendo, restos de velas pelo chão, almofadas e sofá empoeirados e sem vida, Anna em seu desespero não sabe se chora ou se ri, está com seu emocional descontrolado, perto do tapete vidro quebrado e o tapete manchado de sangue, mas a mancha também é antiga, não é recente, imediatamente olha para sua mão esquerda, a qual tinha cortado quando o copo se quebrou na noite anterior, mas ali somente uma cicatriz, mas que lhe parecia antiga e não da noite passada, e uma cicatriz que ela não tinha até à noite anterior, Anna cai ajoelhada no chão, e então não contem seu choro de desespero, ela não se conformava, aquilo não podia ser real, aquele lugar abandonado, não é possível.
Anna desolada, sai do casarão e caminha novamente em direção ao Hotel, sobe as escadas lentamente com a cabeça baixa, desconsolada, junta suas coisas e decide ir embora daquele lugar, sobe em sua moto e quando levanta os braços para colocar seu capacete, sente seus ombros doloridos, apóia o capacete no retrovisor levanta a manga de sua camiseta branca surrada e vê as marcas dos dentes de Helena, rapidamente levanta a outra manga e novamente a mordida, ela não sabe se sorri, se coloca o capacete, novamente olha ao redor mas nada vê, a cidade está deserta e então Anna decide que nunca mais na sua vida irá descansar enquanto não encontrar Helena, ela sabia em seu íntimo que ela existia e iria encontrá-la um dia.
Anna ligou sua moto e partiu em busca de Helena, nem que isso levasse uma vida toda e consumisse toda a sua juventude e vida, apenas o que importava era encontrar Helena, um dia.
"Não importa o que aconteceu eu vou te encontrar, um dia... Helena. Pode ter certeza..."
Fim do capítulo
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Jackie Olivier
Em: 05/09/2020
Oi Ana!!
Fiquei intrigada pelo mistério que envolveu essa história.
Fiquei imginando se a persongam foi baseada em você,
Beijos.
Resposta do autor:
Olá Jackie,
De fato este conto foi escrito a muitos anos atráz onde eu realmente fiz uma longa viagem de motocicleta pelo país.
Claro que os acontecimentos são ficção, mas a inspiração desta viagem está presente sim, já que de fato a minha intenção nesta viagem que durou três anos foi me fazer enchergar a vida de outra maneira e todas as experiência vividas foram e são extremamente importantes no que sou hoje.
A idéia é passar em contos nesta série mais experiências vividas nesta viagem misturando realidade com ficção.
Bjo.
rhina
Em: 18/07/2020
Oi Anna.
Boa tarde.
Propósito.!
Quem tem um tem Tudo. Tem Vida e sabe viver.
Perambular pelos dias, meses, anos não é a mesma coisa que viver. E quando não se tem um Propósito é desse jeito que ficamos. Mas não é fácil saber disso......nem notar que estamos assim.....as vezes se morre e não dá conta que não viveu apenas existiu.
Mas quando vc descobre que o modo que está não basta. Não satisfaz. Que está vazio e que nada o preenche. Descobre que Viver não é apenas colocar os pés para fora da cama todos os dias.
Mas daí vem o desespero.....o desespero por não ter um Propósito ..... Não saber seu propósito. Se antes vivia no automático , o agora precisa de sentido. Mas vc não twm um!!
Começa então sua luta interna. É batalha sangrenta.
Então se vc tem um Propósito, vc tem tudo.
Sem querer ser banal......Sou Anna no momento mas ainda não encontrei meu Propósito.
Acredite estou nesta luta interminável e dolorosa.
Fique bem Autora.
Rhina
Resposta do autor:
Olá Rhina,
É fato que propósito seja tudo, mas o próposito nos alcança inivitavelmente em algum momento da vida... colocar os pés para fora da cama por mais simples que seja ainda sim é um propósito.
Foco na vida, ela é bela apesar de tudo... a vida sim é uma grande dádiva e um grande propósito, os outros propósitos são consequências do viver...
E tenho certeza que encontrará o seu em breve!!!
Bjo.
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rhina
Em: 17/07/2020
Oi
Bom dia.
Propósito.
Quando todo resto falhou. Quando viajar sem rumo e direção já não bastava. Quando o passado perdeu de vez seu peso e evaporado como cinza levado pela brisa de um final de tarde.......
Ela enfim encontra um propósito.
E cada manhã e este que a fara pular da cama disposta com um sorriso no rosto e sair......
Sair em busca do seu propósito.
Rhina
Resposta do autor:
E não seria o propósito a única razão que se pode ter?
Que após tantos anos em busca de algo sublime, perfeito e surreal a faria enlouquecer?
Algo maior a faria mudar o rumo de sua vida até alcançar o essencial, isso parecia tão inatingível quanto real em sua mente.
Obrigada pelo comentário perfeito, absorvendo a essência do conto...
Bjo.
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